O Trevo do Dragão escrita por Ginger


Capítulo 3
A Ira do Dragão


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Desculpa pela demora pra liberar esse capítulo, porém eu fiquei doente e tive que parar de fazer completamente tudo para poder me recuperar.
Mas agora estou bem e retornando à escrita!

Bom capítulo para vocês!



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Porto Real mantinha-se sob aviso para o retorno da Rainha Rhaenys, seu dragão e seu exército para trazer boas novas sobre a tomada de Dorne.

O bravo e solitário Rei Aegon punha-se agitado desde a partida de sua rainha, e a ansiedade tornava-se mais severa com a falta de notícias. Não foram mandados corvos desde então e nenhum de seus soldados da Guarda Real havia retornado.

Sentado em seu Trono de Ferro feito pelo próprio rei que ordenou a construção de um Trono com as espadas fundidas dos inimigos que venceu. Cerca de mil lâminas foram utilizadas, aquecidas pelo fogo soprado por seu dragão Balerion e sua forja levou cinquenta e nove dias. O Trono localiza-se numa alta plataforma na Sala do Trono da Fortaleza Vermelha, construída pelo próprio Rei em Porto Real.

Por haver espetos, bordas afiadas e metais retorcidos, sentar-se naquele trono não era uma tarefa fácil, ainda mais para as angústias que assolavam O Conquistador, que mexia-se constantemente por ali, buscando por  certa comodidade.

— Por que não paras quieto? – questiona a Rainha Visenya ao seu rei, posta em pé à sua frente com preocupação pela inquietude de Aegon enquanto estavam na companhia um do outro no enorme salão real.

— Sabes que um rei nunca deve sentar-se confortavelmente em seu trono. Um rei deve sempre saber as consequências dele – refletia o rei que fitava o chão, emergido em seus pensamentos. O Rei Conquistador era alto, de ombros largos, e poderosos em aparência com seus olhos roxos e um curto cabelo prateado e dourado.

— Tens de manter a calma, Aegon. Quantas vezes Rhaenys sobrevoou Dorne e retornou? – questionava Visenya a seu irmão e marido como forma de alento para a alma ansiosa de seu Rei. Porém sua voz saía um tanto ríspida, demonstrando sua personalidade firme e inabalável. A Rainha Visenya possuía olhos violeta escuro e cabelos prateados, mantinha-os trançados e presos com anéis e vestia-se como uma guerreira, reafirmando sua personalidade obscura por trás de toda sensualidade de seu corpo.

— Isto não a salva de nada, Visenya. Os malditos dorneses já tiveram experiências com os dragões antes... – refletia o Rei que apoiava sua cabeça em sua grande mão em desespero, levando seus dedos indicador e polegar para sua testa, massageando-a – Eu deveria tê-la acompanhado. Estes dornenses estão me dando muitos problemas.

— Acalme-se – dizia Visenya que se aproximava de seu marido, levando sua mão da forma mais delicada possível para os cabelos prateados dele, afagando-os da melhor forma que podia.

O Rei aceitava de bom grado os afagos de sua esposa e então, naquele momento, os dois irmãos guerreiros abriam mão de sua rispidez e dureza de alma para procurar alento um no outro, esperando aflitos por notícias de sua irmã mais nova, que até então não havia retornado.

Um bálsamo aconchegante e confortante pairava ao entorno dos dois assim que Aegon apanhava as mãos delicadas e repletas de cicatrizes e calos de sua mulher guerreira e as puxava para mais perto de si, erguendo seu rosto e encontrando o de Visenya.

Os dois se entreolhavam em um silêncio confortável para ambos. Aegon e Visenya eram de poucas palavras e não sentiam necessidade de comunicar-se por palavras. Eram espontaneamente comunicativos apenas pela troca de seus olhares cor de violeta.

— Vossa Alteza Real – Sor Corlys Velaryon, o comandante da Guarda Real, pedia por licença enquanto entrava respeitosamente na Sala do Trono, retirando Aegon e Visenya de seu transe momentâneo de afeto.

— Notícias de Dorne, Sor Velaryon? – questionava Aegon aflito, levantando de seu trono no mesmo instante, descendo as escadas do trono e indo em direção ao seu comandante.

Preocupada, Visenya permanecia na plataforma do trono, observando atenta à conversa dos dois. A Rainha Guerreira era muito observadora, característica que puxara de seu irmão mais velho Aegon.

— Trago más notícias Majestade – Sor Velaryon vacilava ao proferir suas palavras ao seu temido rei – O que sobrou da frota da Rainha Rhaenys retornou aos farrapos e alegaram que os Martell derrubaram Meraxes.

— Meraxes caiu?! – exclamou bravamente o Rei com seu olhar feroz e sua voz imponente que faziam estremecer as estruturas das pilastras que sustentavam o enorme salão do trono.

 - Sim, Vossa Graça. Não se sabe o que houve com a Rainha Rhaenys, mas suspeitam que, pela brusca queda, ela não tenha resistido – relatava Sor Corlys de uma vez para terminar com a árdua tarefa de entregar-lhe tal devastadora notícia.

— Malditos! – esbravejava Aegon com toda sua raiva, apertando fortemente suas mãos. O corpo de Aegon estremecia em fúria e seus olhos violeta escureciam, tornando-se o mais puro cinza que poderia cortar mais do que qualquer aço valeriano existente.

A Rainha Visenya, ao ouvir atenta à notícia de Sor Velaryon, descia rapidamente as escadas do trono de modo a alcançar seu marido o mais rápido que podia e, quando chegava aos arredores de Aegon, segurava as mãos de seu Rei tentando abri-las. Ela sabia que seu irmão chegava a perfurar suas próprias mãos com tamanha força que as apertava em momento de grande revolta.

— Solte-me Visenya! – a voz de Aegon ecoava pelo salão enquanto livrava-se dos domínios de sua irmã, olhando-na dentro dos olhos com ira flamejante – Dorne vai arder! Eles irão pagar!

No mesmo instante, o Rei apanhava e vestia sua armadura negra com o símbolo dos Targaryen cravejado de rubis em seu peito e com uma enorme capa de veludo vermelho e vestia seu elmo e a bainha de Blackfyre, sua espada de Aço Valeriano.

Visenya com os movimentos do irmão já sabia muito bem o que devia ser feito. Apanhava juntamente com seu irmão sua armadura e a bainha de Irmã Negra, sua espada do mesmo material de Valíria, porém foi forjada por mãos femininas. A Rainha Guerreira não usava elmo, pois julgava que ele o dificultava nas batalhas.

A Irmã Negra era um belo retrato de Visenya: a irmã que subestimou a linhagem Targaryen ao se permitir envolver com um Dothraki. A irmã que negou os estereótipos de dama cortesã para ser uma guerreira. Visenya era a própria Irmã Negra.

Aegon, ao lado de Visenya, caminharam juntos em silêncio em direção ao Fosso dos Dragões, onde Balerion, O Terror Negro e Vhagar, O Esverdeado foram montados e levados aos céus, onde se colocavam em voo de ataque em direção ao sul rumo à Dorne.

Ao longe, Visenya podia sentir a ira de seu irmão ao saber da morte de Rhaenys, afinal ela era sua preferida. Para cada dez vezes que Aegon se deitava com Rhaenys, deitava-se apenas uma com Visenya. E além do mais, Rhaenys havia dado a luz à Aenys, que seria o sucessor de Aegon no comando dos Sete Reinos.

Aegon culpava Visenya profundamente por ter se deitado com Khal Dhako e dado à luz a Hegal, mesmo que isso tivesse sido antes do casamento do Rei com suas irmãs. Por todos os anos próxima ao seu filho, Visenya nunca havia conseguido demonstrar amor e afeto à criança devido ao grande fardo que carregava por ter permitido que tal bastardo nascesse. E, por ter nascido em terras livres, o jovem era considerado um Targaryen legítimo, o que Visenya sabia que seria uma ameaça para seu irmão e marido. Deste modo, tomou a difícil decisão de deixa-lo sob os cuidados de seu pai antes de deixar Essos e partir para a conquista de Westeros ao lado de seus irmãos.

Não era que Visenya não estava triste pela morte de sua irmã, mas ela sentia-se finalmente favorecida. Ela jamais poderia superar a fidelidade e os encantos de sua irmã mais nova. O que Visenya tinha de dura e temperamental, Rhaenys tinha de encantadora e misteriosa. A Rainha Guerreira tinha agora a oportunidade de demonstrar suas qualidades, se destacar e dar um herdeiro ao seu Rei.

Aegon, montado em Balerion, voava longe de Visenya de forma solitária, porém a podia ver ao longe e a acompanhava. O Rei havia se isolado para sofrer a morte de sua amada rainha e irmã. Ele era fascinado por Rhaenys e a amava de todo coração. Era difícil para ele amar Visenya quando esta havia tido uma história de amor com o Rei dos Dothraki. Aegon sentia-se traído já que sua família mantinha a tradição incestuosa para prevalecer a linhagem valeriana pura. Admirava sua irmã Visenya por outros motivos, estes quais a via como uma mulher de personalidade forte e de conduta inabalável, uma verdadeira guerreira, e tais atributos faziam Aegon identificar-se, porém davam a impressão de sua irmã ser um tanto frígida.

Tomados por pensamentos isolados e compartilhando do mesmo silêncio, Aegon e Visenya aproximavam-se dos campos arenosos de Dorne que se misturava com as torres da mesma cor e o céu que de tão quente, tornava-se alaranjado.

Balerion, de tão imenso, chegava a escurecer o céu, escondendo o sol atrás de sua carcaça negra ao descer das nuvens, trazendo o terror para o povo dornense que comemorava orgulhosamente sua vitória.

— Malditos! – esbravejou Aegon – Dracarys! – comandava Balerion que, ao ouvir seu domador, propagava chamas intensas que iam de sua garganta até o solo arenoso, queimando e devastando tudo o que havia pela frente – Vais arder em minha fúria!

Visenya acompanhava a fúria de seu Rei Dragão montada em Vhagar, que brilhava no céu como esmeralda, e o comandava, fazendo-o expelir fogo para todos os lados. As torres de Dorne ardiam no mais puro fogo, destruindo aquelas terras pela honra de Rhaenys.

Soldados dornenses eram pegos desprevenidos, porém estavam treinados para ataques surpresas que tanto assolavam aquelas terras desde que Aegon atravessou o Mar Estreito. Corriam mais do que depressa para esconder-se nos abrigos para proteger-se da fúria de Aegon. Os mais treinados subiam às torres para arremessar arpões aos céus na tentativa de acertar mais um dragão.

Arpões vinham na direção de Balerion, que desviava dos mesmos aos comandos de seu domador e cuspia fogo naquelas torres ao se aproximar e pairar sobre elas, fazendo com que os dornenses recuassem o ataque.

Enquanto Balerion pairava sob as torres tomadas por chamas, Aegon dava uma boa olhada naquele povo que havia ferido sua rainha. Povo aquele que juraria naquele instante destruir.

Distraído, Balerion era acertado por uma mísera flecha que vinha não das torres, e sim do solo, pegando de raspão o ombro esquerdo do animal. Aegon, ao ouvir o protesto pelo rugido de seu dragão, percebia que havia ficado vulnerável ao pairar por ali e, no mesmo instante, retomava o voo em direção ao solo para destruir quem havia ferido seu dragão.

Ao se aproximar do solo, Aegon podia ver ao longe cabelos negros e olhos brilhantes, os quais não lhe eram estranhos. Enquanto mais se aproximava, mais certeza tinha do que estava vendo.

Montado em um alazão, um homem de cabelos negros e traços fortes comuns dos desertos de Essos, seus olhos violeta brilhavam e acusavam seu sangue valeriano e uma expressão dura e valente herdado de Visenya. Naquele momento não restavam dúvidas. Aegon tinha a certeza de quem se tratava.

— Hegal! – rugia o Rei Dragão ao encarar os olhos de seu sobrinho e, em um instante, retomava altitude para mirar-lhe bem. Aegon acabaria com aquela traição de uma vez por todas.

Hegal, por sua vez, observava atentamente o seu tio com um olhar firme, deixando com que ele se aproximasse novamente. O garoto tinha a certeza de que aquele era o momento de provar ao tio seu sangue e sua descendência. Saberia que isso o desestabilizaria.

O Garoto Dragão desfazia-se de seu arco e flecha, descia do cavalo e o espantava, fazendo-o correr para longe. Em seguida, se punha firmemente de pé, observando o Terror Negro se aproximar enquanto perdia altitude propositalmente.

Balerion voava com toda velocidade em direção ao garoto enquanto tio e sobrinho trocavam olhares ferozes e brilhantes.

— Dracarys! – comandava Aegon sem perder tempo na intenção de destruir Hegal que mantinha-se parado no mesmo lugar, confiando em seu sangue valeriano.

Quando o dragão negro preparava-se para atender ao comando de Aegon, podia sentir o cheiro do sangue de Hegal, reconhecendo-o como seu possível domador, um Targaryen. Então, Balerion desviava do garoto, levantando voo novamente, deixando-o viver, desobedecendo às ordens dadas a ele.

O Rei Aegon sentia seu interior ser tomado por uma enorme desconfiança enquanto sua respiração tornava-se pesada. O pensamento de que o bastardo de sua irmã pudesse reivindicar o trono o deixava preocupado e irado. Aliás, não haveriam outros motivos para que ele estivesse lutando ao lado dos dorneses e contra sua própria família.

A ordem desobedecida de Balerion causava inquietude e insegurança no Rei e deixara o animal confuso e receoso em prosseguir os ataques, forçando Aegon a recuar.

Visenya observava tudo ao longe e sentia-se orgulhosa por seu filho ter provado a si mesmo ao Rei. Mas temia pelo que poderia acontecer ao seu Hegal após esse impasse. Sentia-se surpresa por seu filho estar em Westeros e lutando contra a submissão dornesa. Visenya sabia que era só uma questão de tempo até que Aegon colocasse um preço em sua cabeça, assim como colocaria preços nas cabeças dos Martell.

Hegal observava seu tio afastar-se com a desestabilidade de Balerion, direcionando seu olhar para o brilhante Vhagar até encontrar os olhos incógnitos de sua mãe. O Garoto Dragão fazia uma referência respeitosa à sua mãe, demonstrando apreço e cortesia à sua pessoa. Apesar de todos os desencontros e negligências, Visenya lhe deu a vida e lhe permitiu existir.

A Rainha Guerreira ao perceber aquele gesto de estima, era tomada por um sentimento materno, fazendo-a tomar uma atitude apreciativa à luta do filho. Visenya desprendia a fivela de sua bainha que circulava sua cintura com o emblema dos Targaryen esculpido em rubi e deixava com que a Irmã Negra caísse do céu como presente para seu filho.

Hegal observava o gesto da mãe que voava para longe enquanto sua bainha despencava e chocava-se contra o solo arenoso daquele campo, trazendo consigo aquele símbolo que era passado de pai para filho quando merecido.

O garoto corria em direção ao presente dado por sua mãe e o observava atentamente. A bainha era feita de couro escuro fervido com um brasão dos Targaryen em sua fivela. Ao retirar a espada da bainha, podia-se perceber sua lâmina delgada e esculpida por uma valeriana guerreira.

— É a Irmã Negra... – dizia Hegal a si mesmo, convencendo-se daquele gesto significativo. Era conhecido que para ter a posse de uma dessas armas tão almejadas, era necessário merecer. Ter a posse dessa arma é mais importante do que heranças ou títulos. Para portar uma espada de aço valiriano, é necessário ser digno.

Visenya, a Irmã Negra dos Targaryen, entregava ao seu filho seu maior motivo de ser considerada a Rainha Guerreira e o símbolo de sua valentia. Um presente carregado de importância e de esmero que estabelecia o laço entre mãe e filho.

 

~*~

 

— O que este bastardo faz em Westeros? – vociferava Aegon ao pousar ao lado de Visenya em Porto Real.

— Temos que nos comunicar com nosso pai, Aegon – dizia Visenya com certo desdém.

— Eu sempre soube que Hegal era um problema, Visenya! Eu sempre lhe disse isso! É sua culpa! – rugia o Rei Dragão em fúria, descendo de Balerion e caminhando em direção à sua irmã segurando-a pelo braço.

— Eu era jovem e apaixonada, Aegon! Era uma garota tola e medíocre! Mas hoje estou aqui ao seu lado lutando para a submissão de Westeros! E solte meu braço agora! – Visenya falava a altura de Aegon, puxando seu braço, libertando-o do domínio das mãos firmes de seu irmão.

— Não percebes o que aquele garoto quer aqui? Ele quer reivindicar o trono! Quer tomar posse de tudo que conquistamos! – prosseguia Aegon com sua voz imponente.

— Você está exaltado pela morte de Rhaenys ou está nervoso porque Balerion reconheceu Hegal como Targaryen legítimo? – questionava Visenya, colocando o dedo nas feridas de Aegon de forma indelicada.

— Dorne vai pagar pela morte de nossa irmã e Hegal vai morrer se tentar tirar o trono de mim! – Aegon finalizava a discussão ali, caminhando em direção à Fortaleza Vermelha.

 

~*~

 

Em poucos dias, Aerion Targaryen desembarcava em Porto Real e era recebido com muito respeito pelos nobres na corte real.

Um jantar era oferecido por sua chegada, mas este carregava um ambiente fúnebre devido à morte de Rhaenys Targaryen.

Pai e fihos jantavam em silêncio. Aegon sentava-se na ponta da mesa enquanto Visenya sentava à direita dele e Aerion à esquerda.

— Rhaenys costumava sentar-se aí – comentava Aegon olhando para o pai, quebrando o silêncio daquela refeição.

— Sinto pela morte de minha filha, Aegon. Quando tive conhecimento, deixei Pentos e naveguei para cá no mesmo instante – dizia Aerion com pesar na voz.

— Se sente pela morte de sua filha, como pode permitir a vinda de Hegal para Westeros? Ainda mais para Dorne! Onde sua filha foi morta! – esbravejava Aegon, levando sua pesada mão contra a mesa, fazendo os pratos tremerem com sua raiva.

— Meu neto é um guerreiro e queria aprimorar-se na luta dornesa. Os Martell se mostraram solícitos em recebê-lo, coisa que nem você e nem suas irmãs fizeram. Se o tivessem mantido sob sua tutela, ele estaria lutando por você hoje. Quem sabe não estaria montado em um dragão...

— Ele não é meu filho e muito menos está sob minha responsabilidade! – interrompeu Aegon furioso.

— Nosso pai está certo, Aegon. Se tivéssemos cuidado do menino, ele poderia estar ao nosso lado agora. Mas seu ciúmes pelos meus erros o impedem de ver a verdade – dizia Visenya em um tom empoderado como a mulher poderosa que era.

— Isso já não importa mais! Se aquele bastardo me afrontar, eu juro que o mato! – decidia Aegon, levantando-se da mesa de jantar, deixando seu pai e sua rainha a sós.

Mas ao cruzar a enorme porta de acesso ao salão de banquetes, Orys Baratheon, mão do rei, aparecia dominado por fúria.

— Aegon, temos visitas, e tenho que dizer que tive que me controlar para não matá-la!

— Quem chegou à fortaleza? – questionava Aegon curioso.

— Deria Martell, filha de Nymor, aquele desgraçado que me sequestrou e cortou a porra da minha mão! – esbravejada o veado com sua fúria.

Ao ouvir o que diziam Orys e Aegon, Visenya levantava-se no mesmo instante da mesa de jantar, caminhando apressadamente em direção ao seu marido, que já se movimentava em direção à sala do trono.

 

~*~

 

Aegon se punha sentado em seu Trono de Ferro e ao seu lado esquerdo Visenya se punha em pé o acompanhando no palanque real da sala. Ao seu lado direito, Orys Baratheon observava a pequena dornesa com raiva em seus olhos. Toda a corte real estava presente no grande salão para tomar conhecimento daquela atitude ousada dos dornenses.

Deria Martell, com traços de seu pai e roupas de cetim, se colocava de pé em frente ao trono escoltada por alguns de seus soldados, e todos não se curvavam ao trono. Traziam consigo um enorme conteúdo depositado numa superfície de madeira escondido por um pano denso, e o formato que o pano tomava com o objeto escondido intrigava Visenya, que o observava atenta.

— Desobedeceu o seu pai que foi mandada para morrer, pequena Martell? – questionava Orys com deboche.

— Fui enviada como emissária da paz pelo meu pai Nymor Martell, príncipe de Dorne.

— Querem paz após matar minha rainha? – Aegon questionava seguindo o mesmo tom debochado de sua mão.

— Vim dizer a todos que meu pai está farto deste conflito que não nos leva a lugar algum. O povo de Dorne nunca irá aceitar um rei estrangeiro e destruidor de terras. Por isso estou aqui, para conquistar a paz para meu povo para que sangue inocente não seja mais derramado.

Todos os presentes da corte se entreolharam com soberba como se as palavras de Deria Martell fossem absurdas, convencidos de que um dia Dorne teria que se submeter à Aegon.

— E o que te faz pensar que eu lhes darei a paz? – perguntava Aegon com um sorriso sínico em seus lábios.

— Meu pai enviou-lhe dois motivos para aceitar o acordo de paz. Um deles é isto aqui – dizia Deria ao puxar o pano do enorme conteúdo escondido, revelando o crânio de Meraxes.

A corte real se abalou com aquela visão, sentindo-se irados com o maior símbolo de poder dos Targaryen e que todos viram vivo e forte, sucumbido aos Martell. A visão do crânio enfureceu muitos na corte, principalmente Orys e Visenya.

Orys carregava um tremendo ódio dos Martell e de toda Dorne desde que foi capturado em uma batalha, foi mantido refém e devolvido com sua mão direita amputada. Tal atitude era de tremenda ofensa para ele.

Visenya era muito ligada aos dragões e ao ver o crânio de Meraxes à mercê e totalmente indefeso, causou nela um sentimento de fúria. Os dragões partilhavam do mesmo sangue que o dela e faziam parte de sua família.

— Estás louca de vir aqui e nos trazer o crânio de um de nossos dragões?! – Visenya interrogava Deria, falando com os dentes rangendo de raiva.

O Rei Aegon segurava fortemente os braços do trono, fazendo sua mão começar a sangrar de tanta revolta ao ver o crânio do dragão de sua amada esposa daquela forma. Tudo que Aegon conseguia pensar era em Rhaenys, pois a via naquele crânio.

— Os Martell querem paz de dois reinos, não mais em guerra, mas também não a paz entre um vassalo e seu senhor – dizia sabiamente a princesa Deria caminhando pelo salão, fazendo sua voz ser ouvida por todos da corte, que começaram a vociferar para que Aegon não aceitasse as condições e que não haveria nenhuma paz sem submissão.

— Teu reino me subestima em pensar que lhes darei paz após trazer-me o crânio do dragão de minha amada Rhaenys – dizia Aegon com revolta para a princesa.

— Além do crânio, lhe trago também uma carta de meu pai, Príncipe Nymor, que pode lhe fazer mudar de ideia... – dizia Deria com calma enquanto subia as escadas do trono até alcançar Aegon, direcionando-lhe o envelope selado com o emblema dos Martell.

Sentado no Trono de Ferro, Aegon, com suas mãos sangrando, segurava a carta e a abria com certa soberba, mas ao começar a ler, sua feição mudou completamente. Enquanto lia a carta, o Rei apertou os braços do Trono tão fortemente que o sangue jorrou de sua mão e escorreu pelo ferro até tocar o chão.

Todos no recinto ficaram em um solene silêncio carregado de suspense, esperando pela decisão de seu Rei.

Aegon levantava de seu trono enquanto rasgava aquele papel com suas mãos repletas de sangue e caminhava até a enorme lareira do salão, jogando os pedaços ali, mantendo o clima de suspense.

Descendo as escadas e andando em direção à Deria Martell, Aegon tinha seus olhos violetas tornando-se cinzas de puro ódio. Mas em seguida sua expressão tornava-se desesperançosa.

— Se teu reino quer paz, ele terá – ao ouvir as palavras do Rei, a corte ficou espantada com a mudança repentina de atitude – Faremos um acordo pela manhã e então vocês poderão ir.

— Que assim seja – diz Deria Martell com um sorriso nos lábios, muito satisfeita por ter alcançado seu objetivo.

— Mas... – dizia Aegon aos sussurros enquanto toda a corte murmurava em revolta – Diga à Hegal que eu estou à sua procura, e essa busca não deve ser interferida pelo reino de Dorne.

Após sussurrar, Aegon caminhava salão afora, deixando para trás a inconformidade de sua corte que estava exaltada com sua decisão. E estavam ainda mais intrigados por não saberem do conteúdo daquela carta que jamais seria do conhecimento de ninguém.


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Notas finais do capítulo

Então? Quais foram os pontos mais interessantes do capítulo para vocês?
O que mais emocionou vocês e o que os deixaram mais intrigados?