Tudo estava confuso, tão confuso que as teclas do piano borravam. Não via as notas que estavam a minha frente, apenas imagens do passado e de um futuro que era mais negro que minhas próprias lembranças.

Mas então algo contornou, ou melhor, perfurou, ultrapassou todo aquele negror e me atingiu, com tanta força que olhei para o lado, decidindo se ficava confuso ou chateado com um estranho invadindo minha mente.

—Oppa! Eu te chamei muitas vezes, estava sonhando acordado?

Não respondi, virei de costas e peguei um dos cigarros do bolso, mas a estranha tomou de mim o que iria acender e aliviar minha tensão. Ela juntou os lábios em uma linha fina e balançou a cabeça em uma negação, não antes de escrever no isqueiro aquelas letras... Depois levou pra longe de mim.

Olhei para a parede logo a frente da estranha e falei, com uma voz quase mecânica.

—“Não venha perto de mim, você vai se machucar”.

A estranha olhou por sobre o ombro e apenas riu, riu grande, desses risos que mostravam os dentes. Eu a odiava por isso.