Águamorta escrita por Iggy Nord


Capítulo 1
único


Notas iniciais do capítulo

Olha só, o prazo e o limite de palavras não colaboraram... Pelo menos eu acho que poderia estar melhor. Apreciem (ou ao menos tentem), amo vocês rapaziada

[esse conto foi escrito para o desafio de escrita mensal da Panelinha da Limonada, um grupo do facebook onde o pessoal é super gente boa: https://www.facebook.com/groups/1496203540645612/



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Aos baixios do Rio Schwerz formava-se o infame pântano da Águamorta. Havia se tornado casa de filhos do demônio, onde se manifestavam os espíritos maus, através de fulgurantes fogos-fátuos, quando vinham à superfície do mundo dos viventes. Os ventos que por aquelas paragens pairavam, súbitos e intensos, carregavam consigo o hálito gélido das águas do Rio, fazendo com que os cedros, únicos que ali haviam logrado, suspirassem em uníssono. Era um mundo à parte, destacando-se na região do vale Ruhl como mofo surgido em um pão doce. Os aldeões que ali buscavam a turfa a muito haviam deixado de fazê-lo.

A aldeia dali mais próxima, Javine, era constantemente atormentada pela vilania da criatura que havia para si clamado o pântano. Dessa vez um wyvern-das-sombras incendiara as casas, com seu fogo negro que queimava com o dobro da rapidez. De maneira tragicamente cômica, o wyvern faminto devastara o armazém deixando intacto apenas um cacho de uvas. O conselho local reunira-se no que sobrara da praça central, sob a luz de tochas revoltadas e ao som de mulheres chorosas, e resolvera, pela terceira vez, convocar um herói.

“Ermengarda e Elizabeta, desaparecidas. O incêndio foi uma distração. Tinham por volta de 11 anos. Bruxas gostam de raptar meninas próximas à menarca, pois esse sangue tem propriedades especiais. Alguns aldeões dizem ter visto a suspeita. Encapuzada, alta, levava as gêmeas pelas mãos, sem relutância, como se fosse uma mãe; deviam estar dopadas por algum encantamento... Espero retornar antes da aurora de amanhã. Tenha-me em suas preces.”

Tobiah franziu as sobrancelhas ruivas, duvidoso. Entre seus cachos de cobre luzia a argola dourada do sacerdócio.

“Você prestou atenção na parte sobre o wyvern, não é, Edmont? A porra da bruxa consegue invocar um wyvern. Bruxas que raptam garotinhas por sangue de menarca têm sempre os mais nefastos propósitos. Dois tentaram. Dois morreram.”

“Você é o pior sacerdote que conheci, Tobiah. É dever do sacerdote infundir a esperança nos corações dos filhos de Walkinn. Não acho que esteja fazendo isso. Javine está desamparada. Os outros foram travar maiores embates.”  

Edmont Desatria, filho do conde de Fairhorn, jovem como folha primaveril. A experiência lhe faltava, porém tinha o brio. Sua espada, quase imaculada, carecia de histórias a contar.

 O sacerdote entregou a lasca de chifre; nela havia respingado três gotas do seu sangue sacro*.

“Isso é tudo o que posso fazer.”

 Edmont havia se instruído na caça ao mal. O Mal estava no Demônio e em seus filhos nefastos, e o Bem era Walkinn e tudo por ele acolhido. Era o Único, e os heróis eram os escolhidos para lutar pelo seu reino, livrando-o dos vermes.

Desceu a campina em direção às terras úmidas. O pentágono de Walkinn* e o amuleto de Tobiah preenchiam seu peito com frágil segurança, e o rarefeito Sol refletia-se nos metais de sua armadura leve. Um caminho tortuoso, alto e seco em relação aos arredores, acarpetado de relvapreta, abria caminho através do solo inundado; em meio aos cedros que fincavam-se no chão lodoso, um rústico chalé erguia-se sobre uma firme base de pedra, a chaminé vermelha cuspindo fumaça doce que contrastava com o odor pungente de matéria orgânica apodrecendo. Era o aroma do chá do lusco-fusco, feito com erva-de-dragão e cerejas pretas, agradável bebida que, para feiticeiros e bruxas, deveria ser obrigatoriamente consumida ao entardecer. Era o horário em que estavam vulneráveis. Solitários em suas cabanas, realizando o secular ritual. Escritura alguma explanava tal coisa.

A espada de Edmont começou a sussurrar. As lâminas-lua, forjadas em açopreto e prata, faziam isso ao sentir alguma presença demoníaca. Era uma voz de metal contra metal. Seus sussurros, apesar de inteligíveis, representavam alertas. O mal ali fazia casa; ele reparou nas janelas, onde a erva crescia esparramando-se. Runas de proteção brilhavam nas molduras das janelas e porta.

O açopreto de sua lâmina quebrava encantos protetores. A prata impedia que as criaturas renascessem. Estavam sempre ressurgindo depois de morrer, tal qual ervas daninhas.

“Águamorta é mais vivo do que parece. Até o mais repulsivo pântano tem um coração que pulsa. Bem vindo, Edmont Desatria, Terceiro. Três é um bom número. Estive esperando. Sou Sybil Bran, e minha alma reside em Águamorta.”

Decerto ele, pois a espada logo se pôs a sibilar ensurdecedoramente, clamando por sangue. Um feiticeiro. Não eram muito comuns.

“Filho do demônio, eu te esconjuro. Devolva o que não é teu...”

A espada foi ao chão, emudecida, quando a mão de Edmont foi atingida por um espasmo. O olhar do bruxo, ao mesmo tempo gélido e ígneo, seduzira-o.

“Cabelo encaracolado, castanho, tocando os ombros. Olhos grandes, brilhantes demais para um herói. Não vejo frieza, mas empatia. É exatamente você o homem de minhas visões. Edmont Desatria! Não tomei Ermengarda e Elizabeta da aldeia por um copo de sangue de menarca. Eu as adotei já há dois anos; são as únicas companheiras desse bruxo sem família. Ninguém perguntou se as duas estavam bem, quando estavam em suas famílias humanas. Perseguem tanto a nós que esqueceram-se da maldade contida em si próprios... Herói, procure-a nos lugares certos.”   

As gêmeas usavam tranças louras e tinham olhos de gelo, e pacificamente permaneciam ao lado de Sybil, com leves sorrisos de satisfação em seus infantis lábios rosados. Eram lindas garotas.

Deixando a espada no mesmo lugar onde caíra, ele adentrou o chalé com o feiticeiro e as duas meninas. Era a hora do chá do lusco-fusco, e o céu arroxeava-se como um hematoma.


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Notas finais do capítulo

A conclusão está ruim? Sim. Talvez essa história sequer atenda aos critérios do desafio? Sim... Mas eu tentei. Pretendo continuar, pois como é meio "observável" eu criei todo um mundo novo só pra contextualizar esse conto.
Beijinhos e até a próxima, cambada do meu coração :3

PS: eu sei que feiticeiro não é sinônimo de bruxo. Foi a pressa, meu bem. Muitos deslizes nessa história (acredito que eles estejam aí) foram devido à pressa. O que importa é não vacilar de novo, né...