W escrita por Kim Jin Hee


Capítulo 1
Prólogo — O Desconhecido no Telhado


Notas iniciais do capítulo

Esse é o iniciozinho, qualquer dúvida podem perguntar, por mp ou review, ficarei felicíssima em responder.



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Hospital Saint Mungus — Hogsmeade, Londres, agosto de 2016

Um barulho insistente perturbava o sono de Lily Evans. Seus olhos se recusavam a ficar abertos, mas o celular de Remus tocando a impedia de continuar dormindo. O dono do celular, por outro lado, roncava alto na beliche de cima.

— Remus — ela resmungou chutando o colchão do amigo. — Atenda o seu celular. — Remus apenas resmungou, mexendo-se na cama e voltando a roncar.

Irritada, Lily se levantou com os olhos semiabertos, e pegou o celular do amigo. O nome “Malévola” que aparecia na tela fez seus olhos abrirem. Sentiu-se vingada dos roncos de Remus apenas com aquela ligação.

— Minerva está te ligando. — ela jogou o celular em cima de Remus, que abriu os olhos assustado. — Vou montar seu funeral. — sorriu falsamente quando o amigo olhou assustado, do celular para ela.

Deitou-se novamente, feliz por finalmente poder aproveitar seus minutos de sono. Mas algo a parou a meio caminho de colocar o travesseiro sobre a cabeça.

— … Lily? Sim, sim, ela está aqui. Vou dizer a ela para que lhe encontre. — Remus falava de maneira falsa e doce, ainda ao telefone. Os olhos de Lily se arregalaram. — Prepararei meu melhor terno. — Remus deitou-se e jogou o corpo para baixo, após desligar a ligação. Claramente, fazia menção ao funeral da própria Lily. — Malévola — ele usou o apelido pejorativo da professora — está te procurando. Disse que ligou para você, mas você a está ignorando.

Lily procurou o celular entre os lençóis, assustada. Seu celular estava no silencioso e haviam 10 chamadas perdidas. Ela, com certeza, estava morta.

Minerva McGonnagal era conhecida por sua postura rígida e por sua implicância clara a Lily. Era sua professora há dois anos, e tanto Lily quanto Remus, haviam aprendido com menos de uma semana de convivência que não seriam anos fáceis na residência. Ela conseguia ser pior do que a personagem Miranda Bailey, de Grey's Anatomy, que era chamada de nazista.

A ruiva corria pelo hospital, tentando descobrir onde a professora estava. Chegou à emergência arfando e deixou o corpo cair sobre o balcão de informações.

— Onde está a McGonnagal? O que aconteceu? — mexeu no cabelo, tirando-o da testa suada.

— Ela não está aqui. Não temos nenhuma emergência na cardiologia, no momento.

Lily estranhou o fato. Por qual outro motivo McGonnagal a ligaria tão insistentemente? Ela estava mais do que morta, com toda certeza.

Continuou atrás da professora, na ala pediátrica, na ortopedia, e quase correu até a psiquiatria, mas optou pelo consultório de Minerva primeiro. Uma enfermeira saía da sala e fechou a porta antes que Lily pudesse checar se a mulher estava do lado de dentro.

— McGonnagal está lá dentro?

— Sim. — a mulher a olhava de um jeito estranho. — Você tem baba... aqui. — apontou para o canto da própria boca.

Lily ignorou o comentário e limpou a boca com a manga do jaleco. Amarrou os cabelos decentemente e verificou a roupa. Respirando fundo, deu duas batidas na porta, esperando pela bronca. Após ouvir o “entre” educado que McGonnagal disse, Lily abriu a porta, e antes que a professora pudesse dizer alguma coisa, se desculpou.

— Me desculpe, meu celular estava no silencioso... Remus não me disse onde a senhora estaria, então eu corri por todo hospital e...

— Srta. Evans. — a professora a interrompeu, severa. — Quero apenas lhe fazer uma pergunta. — Lily assentiu, pronta para a humilhação. — Ouvi dizer que você é filha de Clark Evans... isso é verdade?

Lily sentiu vontade de rir. O que o pai dela tinha a ver com aquela história? McGonnagal nunca tinha demonstrado interesse em sua vida pessoal, e Lily agradecia por isso, então por quê de repente aquela pergunta?

— Sim... — respondeu incerta. Será que McGonnagal havia descoberto que seu pai era solteiro e queria um encontro? Lily não suportaria uma madrasta como ela.

— Seu pai é Clark Evans, escritor de W, o webtoon mais famoso atualmente? — ela parecia animada e quase sorriu quando Lily balançou a cabeça confirmando. — Pode me dizer quem é o vilão?

Ela falava sério? Lily não conseguia acreditar que a mulher a estava perguntando sobre um webtoon quando podia estar ensinando sobre as várias cirurgias que um coração poderia precisar.

Lily respirou fundo, tentando não rir da professora. Ela queria saber sobre W. Mais precisamente, ela queria saber quem era o vilão de W.

Lily não fazia ideia.

A identidade do vilão era um segredo que seu pai mantinha a sete chaves, até mesmo de Peter, Dorcas e Marlene, seus assistentes. Lily, que também era fã do webtoon — e não só por seu pai ser o criador —, tinha essa curiosidade, assim como todos os fãs do desenho. O que a deixava ainda mais chateada era que ela não tinha nem ao menos um suspeito.

— Eu não sei. Meu pai se recusa e me dar qualquer dica sobre o assunto. — ela sorriu frustrada.

— Você já esteve em um transplante, Srta. Evans? — a médica severa perguntou de repente.

Lily negou com a cabeça, confusa com o rumo da conversa.

— Consiga o nome do vilão para mim e você estará em um.

Lily saiu do consultório ainda sem entender o que tinha acontecido. Ela entraria em um transplante de coração se conseguisse o nome do vilão de W. Ela conseguiria a cirurgia de sua vida por causa do webtoon de seu pai.

Só tinha um problema.

Ela não sabia o nome do vilão e seu pai brigava com ela toda vez que tocava no assunto.

Será que ele entenderia? Ele tinha que entender, afinal, era o futuro da filha dele que estava em jogo. Não era?

Resolveu ligar para o escritório dele, a fim de sondar sobre o assunto. Antes que o primeiro toque pudesse se completar, Peter Pettigrew atendeu.

— Lily? — a voz dele estava ofegante. — Eu estava com o telefone na mão para te ligar agora mesmo.

— Pete, oi. O que aconteceu?

— Seu pai desapareceu. — ele disse e fungou, estava claro que estava chorando.

Lily precisou respirar fundo para clarear os pensamentos. Seu pai não sumiria do nada. Ele não era assim.

— Pete, calma. Ele deve ter saído pra beber com os amigos, sabe que ele está trabalhando demais, deve ter precisado tomar um ar fresco...

— Lily, me ouça. — a voz de Peter estava mais forte agora. — O carro ainda está na garagem, o celular e as chaves estão sobre a mesa e a porta continua trancada. Ninguém o viu sair e... — ele hesitou. Lily esperou. — Ele estava muito estranho ultimamente.

— Estranho como?

— Ele estava trabalhando feito um louco. E disse que esse seria o último capítulo de W. — Peter respirou fundo, como se fosse dar a notícia de uma tragédia. — Ele matou o James.

Lily mordeu o lábio, sentindo o telefone tremer nas mãos. Sem se importar em se despedir, desligou o telefone e o enfiou no bolso do jaleco, descendo quatro andares de escada, não tendo paciência para esperar pelo elevador. Quando chegou a recepção, Remus a olhou assustado.

— Está fugindo da Malévola?

— Se McGonnagal perguntar por mim, diga que tive um problema. — ela gritou ainda correndo para a garagem do hospital.

Ela sabia que deveria dirigir com mais cuidado, mas precisava chegar na casa do pai rapidamente.

Apertou o volante, torcendo para que Peter estivesse apenas exagerando. Ela seria capaz de lidar com os surtos de Peter, mas não conseguiria suportar que alguma coisa tivesse acontecido ao seu pai. Para sua raiva, o trânsito parecia ter resolvido parar completamente, fazendo-a se segurar para não gritar. Seu celular apitou e ela tateou o banco do carone, procurando o aparelho entre o jaleco que tinha tirado. Uma mensagem de Remus aparecia na tela.

te salvei da Malévola, me deve uma”

Colocou o celular no bolso traseiro quando viu o sinal ficar verde e então acelerou o máximo que conseguia e, finalmente, avistou a casa que eu pai usava como escritório.

Bateu a porta do carro e entrou pelo portão, encontrando Peter sentado na soleira da porta, com as mãos nos cabelos.

— Ele deu alguma notícia? — ela perguntou quando o garoto a olhou.

Peter era cinco anos mais novo que Lily, mas às vezes parecia apenas um garoto do ensino médio. Seus cabelos loiros e seus olhos grandes e azuis o davam um ar de inocência. Lily gostava disso. Era como ter um irmão mais novo.

— Não. Eu liguei para os amigos dele e fui ao Três Vassouras, mas disseram que ninguém o viu. — Peter tinha os olhos vermelhos. — Ele nos dispensou hoje mais cedo, disse que essa era a última noite de trabalho. Trabalhamos até as 19h, e eu percebi que ele não tinha comido nada o dia todo. Quando entrei no escritório, ele estava concentrado, então perguntei se ele queria comer alguma coisa. Ele disse que queria um chá, então eu saí e quando voltei dez minutos depois ele não estava mais lá. Eu estava o tempo todo na cozinha Lily, não teria como ele sair sem passar por mim.

— O que ele estava desenhando?

Peter não respondeu, apenas entrou na casa, pedindo para que Lily o seguisse. Passaram pela cozinha e Lily viu a xícara de chá sobre a mesa, provavelmente fria agora. Peter abriu a porta do escritório e Lily entrou sentindo o cheiro do perfume do pai misturado com whisky embriagar o ambiente.

Exceto pelo cheiro de bebida, tudo naquele quarto estava como Lily se lembrava. A cama de casal separada por uma parede de tijolos vazados, a escrivaninha no canto de frente para a parede, a estante ao lado da escrivaninha abarrotada de caixas separadas e organizadas pelo ano de lançamento de W, o computador e o tablet de desenho sobre a mesa, junto com alguns papéis bagunçados.

Lily foi até o tablet, assustando-se com o desenho brutal. Nele, James Potter sangrava. Não como alguém que corta o dedo, mas sim como alguém que está a beira da morte. A tela estava tingida de vermelho vivo, e Lily se perguntou porquê o pai daria um final tão injusto para o personagem.

— Não podemos ligar para a polícia ainda... Vamos ter que esperar. — Peter respirou fundo, sua feição preocupada. — Está com fome? Vou fazer um sanduíche. — após a afirmativa da ruiva, Peter saiu para a cozinha, fechando a porta atrás de si.

Lily virou-se para o quadro de avisos que estava atrás de si, ficando de costas para a escrivaninha. Nele, alguns desenhos e anotações estavam colados, inclusive um foto do que parecia um demônio. No verso, uma frase escrita com a caligrafia do pai.

prefiro devorá-lo, antes que ele me devore”

Lily não entendeu aquela frase, mas não pôde pensar muito nela porquê sentiu seu casaco preso em algo. Olhou para trás, com medo de ter prendido em algum prego da mesa e acabar rasgando seu blazer favorito, mas não era um prego que a prendia à escrivaninha antiga. Era uma mão ensaguentada.

Uma mão que saía do tablet de seu pai.

Hotel Marine — Hogsmeade, Londres, agosto de 2016 (W)

Lily tinha certeza de que não tinha saído da casa do pai. Tinha certeza de que não estava bêbada e nem nada do tipo. Mas por quê então, de repente, ela estava ali, no telhado de algum lugar que ela nem ao menos conhecia?

Um gemido baixo atrás dela chamou sua atenção. Um homem estava caído, seu corpo coberto de sangue. Lily correu até ele, verificando sua pulsação no pescoço. O coração parecia fraco, mas ainda batia. Levantou sua camisa branca e viu dois cortes em sua barriga, sangrando abertamente.

— Por... favor — o homem disse com dificuldade. — Me... ajude. — ele fez um careta de dor.

— O que eu faço? — ela se assustou. Nunca tinha feito aquilo sozinha. No hospital sempre tinha alguém por perto, alguém ajudando para que ficasse calma. Respirou fundo, ouvindo a voz severa de McGonnagal em sua cabeça.

“Você vai deixá-lo morrer, Evans?”

Não. Ela não podia.

— Consegue pressionar aqui? — ela colocou a mão dele sobre os ferimentos, recebendo um leve aceno de cabeça. — Eu vou procurar alguém para ajudar e vou chamar uma ambulância. Espere um pouco, por favor, aguente firme.

Ela desceu as escadas correndo, encontrando a cozinha três andares abaixo. Entrou em um rompante e as pessoas se assustaram.

— Tem um homem ferido no telhado. — ela gritou. — Por favor chamem uma ambulância.

As pessoas da cozinha a olhavam como se ela fosse louca. Irritada, agarrou um pano de prato que um garçom segurava e correu escada acima, ouvindo alguém segui-la.

Quando chegou novamente até o desconhecido, ele parecia pior. Seus olhos estavam fechados e sua cabeça tinha caído de lado.

Por favor, não esteja morto, ela pensou mordendo o lábio e se aproximando. Checou novamente o pulso e estava mais fraco agora. Rasgou o pano de prato em dois e dobrou os pedaços, pressionando-os em cima dos ferimentos. O garçom chegou até ela, assustado.

— Faça pressão aqui, por favor. — ela pediu e quando as mãos dele ocuparam o lugar das dela, ela juntou as mãos e começou uma massagem cardíaca. — Alguém chamou uma ambulância?

O garçom assentiu, ainda assustado.

Ela parou a massagem, voltando ao ferimento enquanto o garçom apertava algo no crachá. Parecia estar chamando alguém.

— O que é isso? — ela perguntou, desviando os olhos do rosto branco do desconhecido.

— Botão de emergência. — o garçom respondeu com a voz trêmula. — Geralmente é usado para problemas com assalto, mas serve...

A fala dele foi interrompida pelo som da respiração dificultosa do homem ferido. Lily tirou as mãos dos ferimentos, rasgando a camisa dele e liberando o tórax. Um grande hematoma cobria o peito branco.

Lily não sabia o que fazer. Seu cérebro trabalhava rápido demais, estava nervosa demais. Novamente, a voz de McGonnagal surgiu em seus pensamentos. Dessa vez, uma lembrança.

“O pneumotórax pode ocorrer espontaneamente em pessoas saudáveis, mas ele é mais comum após traumas torácicos, em fumantes ou em pessoas com doenças pulmonares...”

Traumas torácicos.

— O que ele tem? — o garçom se assustou.

— Pneumotórax. — ela respondeu mecanicamente, sua voz tremendo. — O ar entra no tórax por causa de uma lesão nas membranas que o protegem. Conforme ele respira, o ar que chega vai diretamente para o tórax, pressionando o pulmão.

— O que você vai fazer? Faça alguma coisa, ele vai morrer.

— Eu não sei! — Lily gritou assustada, sentindo os olhos marejarem. — Se eu fizer algo errado ele pode morrer, mas se eu não fizer nada ele vai morrer também...

Uma caneta no bolso do garçom chamou sua atenção. Pegou e tirou o tubo de tinta, jogando-o longe. O tubo transparente parecia pesar em sua mão, tão grande era seu medo. O desconhecido ainda respirava com dificuldade, ficando cada vez pior.

Não vou te deixar morrer, ela pensou, criando coragem e em seguida, perfurando o tórax do homem com a caneta vazia. Ele puxou o ar profundamente, sua cabeça se levantando e seus olhos se abriram. Lily sorriu aliviada e o homem apenas virou a cabeça lentamente e fechou os olhos. Sua respiração estava ofegante e ele fazia algumas caretas, mas seu coração — como Lily percebeu ao colocar a mão em seu peito — batia mais forte agora.

— Eu consegui. — ela disse, ainda sorrindo.

Poucos minutos depois, os bombeiros e a polícia chegaram, e Lily se afastou, deixando os paramédicos trabalharem. Um homem que devia ter a idade de seu pai caminhou até ela, pigarreando e chamando sua atenção.

— Não sabemos o que teria acontecido se não fosse pela senhorita. — ele sorriu, sincero. — Se algo tivesse acontecido ao Sr. Potter, eu nem posso imaginar...

— Desculpe... — Lily interrompeu confusa. — A quem?

— Ao Sr. Potter. — ele repetiu, não parecendo notar a confusão na voz dela. — A propósito, a polícia vai precisar do seu depoimento... Como disse que se chamava mesmo?

Lily não respondeu de imediato. Ainda olhava o homem que estava sendo atendido pelo médicos de emergência. Era uma coincidência muito grande que ele tivesse o mesmo sobrenome que o personagem principal do webtoon de seu pai.

— Senhorita? — o homem chamou sua atenção.

— Me desculpe... Me chamo Lily Evans. — ela enfiou a mão do bolso da calça. — Aqui está meu cartão.

O homem agradeceu e colocou o cartão no bolso do paletó. Afastando-se em seguida.

Os paramédicos colocaram o homem — que agora Lily sabia ao menos o sobrenome, Potter — na maca e o levantaram, prontos para o colocarem no helicóptero. Potter estava com os olhos abertos agora, embora ainda estivesse com a cabeça deitada de lado, e os olhos dele prenderam-se no de Lily.

A ruiva desviou os olhos ao ouvir um barulho ao seu lado, como uma caneta rabiscando papel. Ela se assustou ao ver uma palavra sendo escrita no ar, com letras brancas com um brilho azulado:

Continua...


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que tenham gostado :)
Deixa sua opinião ai embaixo. Continuo?



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