Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 33
A Batalha - Parte 3




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**Pensamentos da Mal**

Sempre que uso a minha magia é como se eu tivesse tomado um energético super potente, porque eu sinto todo o meu corpo se agitar, é uma das sensações mais maravilhosas que existem. Quando eu morava na ilha, não conseguia fazer praticamente nenhum feitiço por conta da barreira e, quando tentava, me sentia extremamente fraca, como se tivesse feito um grande esforço.

Então, a medida que fui crescendo, eu deixei de praticar, porque a frustração é a maior inimiga de quem está tentando aprender alguma coisa. Minha mãe me disse que eu já nasci com a magia, que não foi algo que veio pra mim com o tempo, já nasceu comigo, e a barreira começou a me machucar a partir do momento que eu dei o primeiro choro, me deixando mais e mais fraca a cada dia. Foi quando ela resolveu fazer um acordo com Rumplestiltskin e trocar a chance de viver com Diaval para que eu não morresse, uma das provas de amor mais lindas que já vi e que espero poder fazer o mesmo por meu filho um dia.

Não fazia muito tempo que eu havia sido tirada contra a minha vontade da batalha, mas foi o suficiente para que muitas pessoas morressem, de ambos os lados, e a culpada de tudo aquilo estava bem na minha frente. Naquele momento, eu não me importava se iria sobreviver ou não, se iria voltar para me casar com Benjamin ou não, a única coisa da qual tinha certeza é que ela iria pagar por tudo o que estava fazendo.

Quando o raio de magia que saiu do meu peito atingiu o céu, pintou todas as nuvens de verde, o que iluminou a escuridão que a madrugada estava. Olhei para Uma e ela estava em sua forma de polvo, exatamente como a mãe, com uns sete metros de altura.

— Você pode ter vencido essa luta ridícula, mas você nunca vai me vencer! - ela gritou - Nunca!

— E como tem tanta certeza disso?! - retruquei

— É só olhar pra você! Veja no que Auradon te tornou! Não passa de uma princesinha assustada! - Uma respondeu - E agora está sozinha!

— Não, ela não está! - outra pessoa a interrompeu, quando olhei para o lado, vi que se tratava de Bernice - A Mal nunca esteve sozinha - ela disse me olhando também

— Nós vamos lutar! - Steven gritou logo atrás de mim

Nina também se aproximou, meus amigos estavam dispostos a dar a vida para me ajudar e eu não conseguia acreditar no quão sortuda era por ter pessoas tão maravilhosas em minha vida. De fato, eu não estava sozinha, meus amigos estavam comigo.

— Como é que é Mal?! Você vai acabar logo com ela ou não?! - uma voz diferente protestou logo atrás de mim

Eu conhecia o dono daquela voz e meu coração começou a bater mais rápido no momento que a escutei, olhei para trás e Carlos estava me observando com um sorriso nos lábios. Era ele, ele havia finalmente havia voltado, depois de tanto tempo. Jay e Evie estavam logo atrás dele, me transmitindo confiança.

Estava tão feliz de estar rodeada pelos meus amigos, os novos e os antigos, que - por um momento - esqueci que estávamos no meio de uma guerra. Mas Uma não deixou que aquilo se perdurasse por muito tempo, ela logo esticou um de seus tentáculos nojentos e o bateu com tudo na água, levantando uma onda enorme que se dirigia em alta velocidade para a costa.

Nina direcionou as mãos para o mar e fez força, franzindo a testa e fazendo com que a onda diminuísse gradativamente, antes que chegasse até onde estávamos. Em seguida foi a vez de Steven, que fez surgir uma enorme bola de fogo e a direcionou para Uma, que encolheu seus tentáculos, se protegendo. Ela olhou para a costa com uma raiva descomunal no olhar, estava prestes a aniquilar todos nós e, levando em conta a drástica diferença de tamanho, era bem provável que isso acontecesse.

— Quando quiser Mal - Bernice disse ao meu lado

Fiz positivo com a cabeça e me concentrei, não poderia ser tão difícil, só tinha feito uma vez, mas com certeza fazer de novo era mais fácil. Fechei os olhos e senti a magia fluindo no meu corpo, quando os abri novamente já estavam verdes feito chamas, aos poucos senti a transformação acontecer. Agora a guerra seria justa.

** Pensamentos de Evie **

Quando Mal saiu em disparada com o cavalo, os guardas foram todos atrás dela, afinal, proteger a futura rainha era mais importante do que proteger a mim e ao Jay. Mas, enquanto estávamos distraídos olhando para eles correndo atrás do cavalo cinza, duas pessoas se aproximaram de nós por trás, correndo o mais rápido que suas pernas permitiam.

Quando vi Carlos na minha frente foi como se o mundo parasse, eu simplesmente não conseguia acreditar que era ele, não depois de todos aqueles dias que passamos o procurando. Ao lado dele estava uma pessoa diferente, que eu nunca tinha visto antes, pelo menos era o que eu acreditava no começo, porque quando o olhei melhor, acabei reconhecendo que se tratava de Harry Hook, filho do Capitão Gancho e o primeiro namorado da Mal.

Carlos ficou parado, encarando a gente, enquanto isso Harry tentou passar por nós correndo para alcançar a luta, mas Jay foi pra cima dele e o segurou. Nenhum dos dois tem magia, mas sabem lutar muito bem. O que eu não esperava era que, enquanto eles estivessem lutando, Carlos faria o que fez.

Distraída olhando Jay e Harry lutarem, tudo que vi quando Carlos veio pra cima de mim e me deu um murro, foi apenas um vulto. Eu não estava esperando e ele é muito forte, então caí no chão com tudo, arranhando minhas mãos e meus joelhos nas pedras grossas e pontiagudas. Não era ele, aquele não era o Carlos.

Olhei pra cima assustada e, com uma expressão vazia e assustadora, ele já se aproximava de mim com a mão fechada novamente. Mas antes que ele me atacasse, o que faria sem qualquer dificuldade já que eu estava anestesia diante de toda aquela cena, Jay largou Harry e se meteu entre nós dois, segurando os braços de Carlos e o empurrando para trás.

Me levantei depressa, ficando um pouco atrás de Jay, que estava tão perplexo quanto eu, mas também com raiva, por ele ter me batido. Meu rosto estava latejando e ardendo.

— É um deles agora?! - Jay gritou apontando para onde a guerra acontecia

Carlos não respondeu aquilo, mas não como se quisesse nos ignorar, parecia mais que ele não estava sequer nos ouvindo. Sua postura era estranhamente reta e imóvel, e a não ser por um leve movimento do peito, não parecia sequer que estava vivo, como se fosse um robô.

— Você não estava perdido, estava?! - Jay gritou novamente - Nos abandonou pra se juntar a eles!

Nesse momento, Carlos fechou o punho novamente e partiu pra cima de Jay, que de primeira ficou completamente sem reação, já que os dois são melhores amigos e jamais - pelo menos era o que ele pensava - se machucariam. Mas, para não levar um murro igual ao que eu tinha levado, Jay teve que se defender das investidas de Carlos, fazendo de tudo para não machucar o amigo, que claramente não estava no controle de si, mas estava ficando cada vez mais difícil.

Carlos estava tão determinado em nos machucar que Jay precisou segura-lo por trás, enquanto o mesmo se debatia, para controla-lo um pouco.

— Ele não tá normal - Jay disse - fizeram alguma coisa com ele

Jay tinha razão, aquele não era o Carlos, não era nosso amigo de infância. Uma deveria ter feito alguma coisa com ele, talvez esse seja um dos poderes dela, por isso todos os perdidos estavam tão elétricos e brutais durante a luta, talvez ela tenha feito o mesmo com todos eles.

— Uma fez alguma coisa com ele - respondi - eu tenho certeza!

— E tem como reverter? - Jay perguntou enquanto segurava Carlos, que tentava se soltar a qualquer custo

— Já li sobre isso uma vez, mas se eu estiver errada, nós podemos acabar machucando ele de verdade

Nesse momento, Carlos rugiu e se debateu com mais força, quase conseguindo se soltar, mas Jay conseguiu continuar o segurando, mesmo que com dificuldade.

— É a nossa melhor opção agora! - ele disse - O que nós temos que fazer?!

— Precisamos fazer uma recalibração cerebral

— Na minha língua, por favor - Jay reclamou

— Precisamos bater com força na cabeça dele - expliquei

** Pensamentos da Mal **

Não me lembrava que me transformar em dragão era tão desconfortável, uma dor excruciante na verdade, mas no final do processo tudo acaba valendo a pena, a sensação de poder e magia é indescritível, mas fiquei com medo de atingir Joseph de alguma forma, só que ele estava bem, eu o sentia bem e seguro dentro de mim, o que só me encheu de mais forças para enfrentar aquilo que estava por vir.

Uma disse que eu jamais ganharia por estar sozinha, afinal, o exército da coroa havia sido massacrado e apenas poucos restaram, muitos destes gravemente feridos. Mas mesmo assim ela estava errada, pois eu não estava sozinha, meus amigos estavam ao meu lado e eu tinha certeza que, juntos, iríamos vencer aquilo.

Uma esticou um de seus tentáculos e tentou me atingir, mas eu desviei e rugi para ela. Nesse momento, uma onda enorme se levantou, virei a cabeça para a costa e vi Nina com as mãos direcionadas para o mar, quando olhei para Uma novamente, a água a atingiu com tudo, a levando para o fundo.

Assim que a onda passou, Uma emergiu da água como um grito, visivelmente brava com o golpe que havia recebido. Ela esticou novamente um dos tentáculos e desse vez conseguiu me atingir, a dor me fez rugir e soltar uma grande quantidade de fogo pela boca, o qual a atingiu, fazendo a mesma se encolher na água.

Nesse momento, escutei Bernice me chamar da areia da costa, voei até ela e pousei na praia, a mesma subiu nas minhas costas e pediu para que eu fosse para o alto, o mais próximo das nuvens que conseguisse, então foi o que eu fiz.

Quando já estávamos perto o suficiente, Bernice pediu para que euparasse e então ergueu ambas as mãos para o céu e eu pude perceber que ela estava se concentrando. Em pouco tempo uma explosão de raios violenta iluminou as nuvens, parecia até que tudo iria desabar a qualquer momento, mas era só a neta do Deus mais poderoso que existe nos dando uma ajudinha.

Raios de todas as direções atingiram o mar em volta de Uma, fazendo a mesma gritar de dor e tentar se defender, mas era inútil, já que os raios caíam em todo canto e não havia lugar onde ela pudesse se esconder. Baixei o vôo para mais perto da água, os raios cessaram e deram lugar a trovões e uma chuva grossa.

Uma então direcionou os tentáculos para um dos barcos - com os quais os perdidos chegaram para a luta - e o esmagou com se fosse uma simples folha de papel. Ela lançou um pedaço de madeira enorme em minha direção, por pouco não fui atingida, tive que desviar rapidamente, o que quase fez com que Bernice caísse, eu a senti escorregando para o lado, mas ela conseguiu se segurar e se manteve firme. De uma altura daquelas, jamais sobreviveria.

Bernice direcionou a mão para o céu novamente e fez com que mais raios atingissem a água, aquela guerra estava ficando cada vez mais violenta e eu já não estava mais tão certa sobre qual destino ela teria. Meu coração também estava aflito por Benjamin, por não saber se ele estava bem ou não, mas para poder me concentrar na luta, preferi acreditar que ele estava seguro e lutando contra os inimigos que ainda restavam.

** Pensamentos da Evie **

— TÁ BOM JAY! - gritei - Você vai acabar matando ele!

Jay soltou Carlos e o deixou sentado no chão, com as costas apoiadas em uma pedra. Olhei para ele e seu olho estava vermelho e inchado, saía tanto sangue de seu nariz que fez meu coração apertar, rasguei um pedaço da minha blusa e usei para tentar estancar.

Quando toquei seu rosto, ele desviou o olhar do vazio e finalmente olhou para mim, naquele momento eu tive a certeza de que era ele novamente, tive a certeza de que me amigo havia voltado.

— Evie? - ele perguntou com a testa franzida e uma voz rouca

Meus olhos marejaram e eu o abracei apertado, sentindo seu cheiro e chorando, pois acreditava que nunca mais iria o ver novamente. Jay se ajoelhou uma nosso lado e também estava emocionado, ele nos abraçou e ficamos os três juntos por algum tempo, apenas aproveitando aquele momento que há muito tempo não acontecia. Nós somos como irmãos.

— Gente... - Carlos disse quando nos soltamos - onde é que tá a Mal?

Jay e eu nos entreolhamos com aquela pergunta. A verdade é que não fazíamos a menor ideia de como ela estava naquele momento, já que nem sabíamos do que se tratava aquele estrondo que havíamos ouvido pouco antes de ela correr de volta para a guerra. A verdade, é que não sabíamos sequer se nossa amiga estava viva.

** Pensamentos da Princesa Isabel **

A dor em meu peito era tanta que eu chegava a ficar sem ar, uma pressão enorme que não ia embora e olhar para Agui morto em meus braços só piorava tudo. Eu também sentia que estava ficando cada vez mais fraca, o escudo que protegia nós dois logo logo cederia e os inimigos que restavam conseguiriam entrar, eu tinha que permanecer forte por mais tempo.

Tirei os olhos da guerra que acontecia lá fora e olhei para Aguidar novamente, passei a mão por seu rosto não mais tão frio e acariciei seus cabelos, agora já não mais tão brancos. Era como se ele tivesse realmente ido embora, como se sua alma já não habitasse mais aquele corpo. Eu não podia permitir isso, não conseguia aceitar aquilo.

Mas também não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento, Agui estava morto e nada e nem ninguém podia mudar aquilo. Então tudo o que fiz foi abraça-lo, encostando seu rosto no meu e cantando uma velha canção que minha mãe me ensinou, uma tentativa de acalmar a mim mesma naquela situação tão angustiante.

"Brilha linda flor...

Teu poder venceu...

Traz de volta já

O que uma vez foi meu..."

Nesse momento eu senti uma coisa diferente dentro de mim, como se algo se aquecesse, talvez fosse a música fazendo efeito. Então resolvi continuar cantando, enquanto passava os dedos por seu rosto e admirava sua beleza, antes que eu já não pudesse mais fazer isso.

"Cura o que se feriu

Salva o que se perdeu...

Traz de volta já

O que uma vez foi meu..."

Nessa parte, abaixei o rosto e dei um beijo demorado em seus lábios. O choro já estava sendo inevitável e isso só provocou mais lágrimas, senti uma delas escorrer pela ponta do meu nariz e a vi cair dentre os lábios dele, passei os dedos nos mesmos e completei a canção, mas já não mais cantando e sim falando.

— O que uma vez... foi meu— concluí

A crise de choro me atingiu novamente e eu apenas levantei mais seu corpo e o abracei apertado, sentindo seu cheiro e a textura de sua pele, tentando gravar tudo na memória, para nunca mais esquecer de como ele era, com cheiro de orvalhado e uma pele macia como a neve. Nesse momento, uma luz intensa e forte como o sol saiu do peito dele, como se o mesmo fosse um farol que havia acabado de ligar, e eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Toda aquela luminosidade fez até com que eu fechasse um pouco os olhos e afastasse seu corpo de leve.

Mas essa luz não durou muito tempo, logo ela foi diminuindo de intensidade até cessar por completo, deixando o mesmo corpo de antes morto em meu colo. Eu tive até esperanças de que aquilo fosse a magia me dando uma segundo chance, nos dando uma segunda chance, mas eu estava errada, Aguidar continuava ali, mas a sua vida não.

O puxei para mais perto e o abracei novamente, pois sabia que aquele seria um de nossos últimos abraços. Mas enquanto o segurava colado ao meu corpo, algo inusitado aconteceu.

— Isabel? - uma voz, que eu conhecia muito bem, me chamou

Meu coração acelerou depressa, quase saindo pela boca, e afastei o corpo de Aguidar para poder olhar seu rosto. Quase morri quando percebi que ele também estava me olhando, com seus grandes olhos azuis entreabertos, ele me olhava com um sorriso cansado.

— Agui? - o chamei entre lágrimas

— Foi você Isabel - ele respondeu com uma certa dificuldade, levantando a mão e tocando a lateral do meu rosto, o que fez com que eu me arrepiasse - você me trouxe de volta, meu amor

O puxei e beijei seus lábios novamente, extremamente feliz e agradecida por o ter de volta em minha vida, por ter conseguido essa segunda chance dos deuses, do universo, da mãe natureza ou de quem quer que seja. Quando o soltei, nós dois começamos a rir como duas crianças e uma centena de flocos de neve branquinhos começaram a cair do céu, como se comemorassem a vida de Agui.

Eu o ajudei a se levantar e percebemos que o meu escudo já havia se desfeito, mas não havíamos sido atacados por ninguém, parecia que a guerra havia sido controlada e, as poucas pessoa que ainda estavam ali, estavam admiradas com neve que caia do céu e começava a cobrir o chão.

— Ei vocês! - uma mulher de cabelos pretos acompanhada de outra loira nos chamou - Venham nos ajudar com o rei! Ele está ferido!

Agui e eu nos entreolhamos e em seguida corremos até o local para prestar ajuda.

** Pensamentos da Mal **

A chuva que antes caia forte e incessante, parou de uma hora para outra, sem diminuir de intensidade, simplesmente parou, como quando fechamos uma torneira. Olhei para os céus e pequenos flocos de neve começaram a cair dele, o frio tomou conta de tudo.

— É o Aguidar! - Bernice gritou, a mesma ainda estava em minhas costas - Ele está vivo!

Meu coração se alegrou com aquele notícia, Aguidar é uma pessoa maravilhosa, que leva alegria a todos á sua volta. Sua magia é poderosa e aquele frio cortante não parecia ter a menor intensão de acabar tão cedo, logo logo o mar também estaria congelado.

Olhei para baixo e Uma parecia perdida e com medo, resolvi voar até uma enorme pedra que divida espaço com as águas do mar, esperei que Bernice descesse e ali voltei a minha forma humana, atraindo a atenção de Uma, que nadou até nós.

** Pensamentos do Harry Hook **

Quando adentrei na batalha estava preparado para lutar até o fim, mas o que encontrei foi bem diferente do que eu esperava. A areia da praia estava coberta de neve e sangue, corpos sem vida se espalhavam por todo canto e a maioria eu reconheci como moradores da Ilha, simplesmente não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo.

Quando concordei em fazer aquilo sabia exatamente de tudo o que poderia acontecer se o plano de Uma de fato se concretizasse, mas jamais imaginei que seriam tantas mortes, tantas vidas acabadas. Fiz isso por meu filho, desde o momento que vim para Auradon até agora, foi tudo por ele, porque ele era uma criança inocente e que não merecia passar por tudo o que passava, por toda dor que aguentava quando na capital existiam médicos que o poderiam ajudar.

Mas quando vi aquela cena na costa, fiquei me perguntando se havia realmente feito as escolhas certas, afinal, que tipo de princípios eu estava passando para o meu filho?

De longe, avistei *Gil lutando contra um soldado do rei, corri até lá - roubando uma espada de um dos corpos que encontrei pelo caminho - e o ajudei, nós derrubamos o cara em pouco tempo.

*Filho do Gaston e amigo de infância de Harry e Uma

— Onde você estava?! - ele perguntou - Nosso exército está morrendo!

— Eu estava fazendo o feitiço que permitiu que você saíssem da Ilha! - respondi - Vim o mais rápido que pude

Gil se abaixou e colocou as mãos no joelhos, respirando fundo e tentando recompor as forças. Mas eu não podia esperar, precisava sanar minha dúvida.

— Como eles tão Gil? - perguntei - Como estão o Natan e a Allia?

Ele levantou-se e me olhou com a testa franzida, como se não estivesse entendendo a minha pergunta.

— Você não soube? A Uma não te contou?

— Contou o que? - indaguei, já com o coração apertado de medo do que estava por vir

— Natan morreu há duas semanas Harry - Gil disse - ele teve uma das crises de asma e dessa vez não sobreviveu

Meu coração parou e eu gelei por completo, uma dor invadiu meu peito e eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

— A Allia ficou descontrolada e se matou no mesmo dia - ele continuou - todo mundo na Ilha ficou de luto, cara

Dei alguns passos para trás e larguei a espada na neve, senti uma falta de ar e um vazio enorme, me ajoelhei e levei a mão ao peito, tentando me livrar daquela sensação horrível. Tudo o que conseguia pensar era em Natan e Allia, em minha família.

As lágrimas cobriram meus olhos e eu dei um grito para o vazio, tentando esvaziar toda aquela dor, mas me afundando ainda mais nela.

** Pensamentos da Mal **

— Uma! - gritei assim que assumi minha forma humana novamenteEstamos em maior número e o seu exército está perdendo! Não tem como você vencer!

Bernice se aproximou e se pôs bem ao meu lado, ela estava com uma postura defensiva, preparada para atacar a qualquer sinal de perigo. Eu, pelo contrário, estava estranhamente tranquila.

— E o que você espera que eu faça?! Que eu me entregue?! - Uma perguntou com deboche - Isso nunca vai acontecer!

— Então você vai morrer! - disse com a voz firme - O frio não vai embora porque quem o está fazendo está do nosso lado! E o mar vai congelar a qualquer momento! É assim que você quer morrer?!

Uma pareceu ficar sem resposta, afinal, ela estava completamente sem escapatória, era se entregar ou continuar lutando, e a última opção levaria a sua morte, pois nós estávamos em maior número e ela... sozinha.

Se eu estava com raiva dela? Sim, muita. Mas também estava com pena, afinal, nos conhecemos desde crianças, fomos criadas naquela Ilha e sofremos as mesmas injustiças, só que ela bem mais do que eu, sei disso porque me lembro de como eram as coisas.

* Lembranças da Mal *

— Por que está chorando?

— Não te interessa! Vai embora!

— Foi a sua mãe de novo não foi?

— Como você sabe sobre isso?

— Porque sempre que você está triste é por algo que ela fez... o que foi agora? Ela te bateu de novo?

Uma apenas deixou mais lágrimas caírem enquanto fazia positivo com a cabeça.

*Fim da lembrança*

Lembro desse dia como se tivesse acontecido ontem, alguns meninos estavam rindo e apontando para Uma, dizendo que ela era "bebê" por estar chorando. Ela ficou com tanta vergonha que correu e se trancou em um barraco velho e abandonado perto do lago, ninguém além de mim teve coragem de entrar lá dentro.

Eu era mais nova que ela - nós temos uma diferença de dois anos de idade - mas mesmo assim eu resolvi ir até ela, mesmo depois que a mesma me mandou embora. Eu fiz isso porque sabia que o motivo do choro era Úrsula, a mãe dela, e minha mãe era tão boa pra mim que eu não conseguia imaginar como deveria ser a sensação.

A vida não foi nada fácil para Uma, ela passou por muitas coisas difíceis e eu nem consigo imaginar como foi para ela. Mas nenhuma dessas coisas justifica o que fez. O Benjamin e todos os outros reis antes dele erraram, isso é verdade, mas a guerra e a morte nunca é a solução, fazendo isso ela errou tanto quanto eles.

— Sempre tudo foi muito fácil pra você, não é Mal?! - Uma indagou - Você sempre teve uma vida perfeita!

— Vida perfeita?! - retruquei - Nós crescemos juntas naquela Ilha Uma! Passamos pelas mesmas dificuldades!

— Então como você fez isso?! Como pode abandonar o seu povo?!

— Eu não abandonei ninguém! Pelo contrário, junto com Benjamin já trouxe muitos habitantes para morarem aqui!

— É muito fácil fazer isso depois de tudo que fizeram com a gente! Nós precisamos nos vingar Mal! Precisamos de justiça! - Uma disse - Você lembra do Natan?!

— O que tem ele? - perguntei com a testa franzida

— Ele morreu Mal - ela respondeu - ele morreu porque tava preso naquela maldita Ilha! Ele só tinha três anos!

Meu coração ficou pequeno com aquela notícia, Natan era filho de Harry com Allia, uma amiga nossa, e sofria de crises de asma desde que nasceu.Como na Ilha não há hospitais e muito menos médicos, cada vez que ele tinha uma crise Harry e Allia ficavam muito angustiados, sem saber o que fazer. Com certeza foi em uma dessas crises que ele morreu.

— Isso é verdade? - indaguei

— Sim - Uma respondeu fazendo positivo com a cabeça - Allia não aguentou a perda do filho e fugiu da casa dos pais, ela se matou no mesmo dia

Aquela notícia me atingiu em cheio, fazendo meu peito doer. Eu conhecia Allia desde que éramos adolescentes, lembro que ela chorou muito quando soube que estava grávida, e nem foi por conta da idade que ela tinha época - 17 anos - e sim por medo do que o bebê sofreria vivendo na Ilha.

Harry não fugiu, pelo contrário, assumiu o filho e o amou mais que tudo, chegando ao ponto de se envolver nos negócios de Uma para dar uma vida melhor a ele. É uma tristeza muito grande que depois de tudo isso, de todo o esforço, Natan tenha morrido, ele era só uma criança inocente.

A coroa errou em muitos aspectos, a morte do Natan - apesar de ser muito triste - só foi mais uma dentre tantas outras que já aconteceram na Ilha, mas vingar uma morte com outra não é a solução, fazer a minoria pagar pelos erros da maioria também não.

No começo eu achei que fosse, achei que a solução seria arrancar a cabeça de todos que estavam do lado de fora da barreira, pelo fato de não terem feito nada para nos ajudar a sair de lá, mas com o tempo, principalmente depois que vim para Auradon e conheci as pessoas daqui, acabei percebendo que essa, nem de longe, era a coisa mais certa a ser feita.

A culpa não é de todos, o erro foi cometido por uma porção pequena de pessoas, que por algum motivo acreditavam poder falar por toda a população, há muito tempo atrás. A solução hoje é, aos poucos, ir concertando esse erro, com muita calma e cautela, uma guerra desse tipo nunca deveria ter acontecido.

— Eu lamento muito a morte deles, Harry sabe o quanto eles dois significavam pra mim, mas isso não justifica essa guerra - disse - essa é sua última chance Uma, ou se entrega, ou vamos levar essa luta até o fim!

Uma passou alguns segundos olhando para a água e depois voltou o olhar para mim, o qual estava bem menos ameaçador do que antes, ela realmente parecia que ia se entregar. Mas não foi isso que aconteceu, em questão de segundos a expressão serena deu lugar a um sorriso assustador e ela ergueu um de seus enormes tentáculos do mar, o jogando em nossa direção logo em seguida.

Bernice foi atingida e arremessada há metros de distância, afundando na água escura e violenta. Quando tentei ir até ela, Uma também me atingiu, fazendo com que eu também caísse na água, e o pior é que eu não sabia nadar muito bem.

Nadar em um lago de água parada é uma coisa, agora em um mar sem chão e com ondas enormes é completamente diferente. Toda vez que eu eu conseguia levantar a cabeça para a superfície era atingida por uma onda e jogada para o fundo do mar novamente. Engoli muita água nisso e o oxigênio estava ficando cada vez mais escasso, tive a certeza de que não iria sair viva daquilo.




Mas, de repente, senti algo abaixo do meu corpo me empurrar para cima, eu comecei a emergir da água como mágica, como se as próprias ondas que até pouco tempo atrás estavam me matando, tivessem começado a me ajudar. Aquilo não só parecia magia, mas era magia e eu conseguia sentir, e só existe uma pessoa que eu conheço capaz de fazer algo daquele tipo.

Olhei para a costa e Nina estava com as mãos direcionadas em minha direção, mesmo de longe pude perceber que ela estava fazendo muita força para me manter ali, eu precisava arranjar um jeito de sair dali logo, pois Bernice também havia caído na água e precisava de ajuda.

Botei a cabeça para funcionar e acabei lembrando de um dos feitiços do meu livro. Então me concentrei e disse as palavras, mas nada aconteceu, me transformar em dragão exigiu muito de mim e naquele momento eu estava fraca demais para um feitiço de teletransporte.

Olhei para a costa novamente e Nina parecia estar colocando ainda mais força, ela iria acabar desmaiando a qualquer momento, mas a verdade é que ela estava tentando me fazer chegar até uma grande pedra que estava há poucos metros. Quando cheguei perto o suficiente, dei um pulo até lá, não esperando muito tempo.

** Pensamentos da Autora **

— Aonde ela está?! - a filha de Moana perguntou preocupada após deixar a futura rainha em um lugar relativamente seguro - Ainda tenho forças para trazê-la até aqui

— Não sei direito, não consigo ver - o filho da princesa do sol, Steven, respondeu

— Uma a encontrou! - Nina gritou ao visualizar a líder da OPAM - Está indo atrás dela!

Nesse momento, Steven correu para mais perto do mar, chegando a ficar com água até os joelhos, e abriu os braços, ele cerrou os punhos e se concentrou, o que indicava que algo grande estava por vir.

Em pouco tempo, uma explosão de fogo saiu dele e formou uma espécie de águia, o que fez com que Nina arregalasse os olhos e desse um passo para trás. Steven então direcionou ambas as mãos para o mar e fez surgir uma barreira de fogo sobre a água, queimando e impedindo que Uma chegasse até onde Bernice estava.

 

A filha de Úrsula deu um grito e se recolheu para trás com seus tentáculos, seu olhar demonstrava raiva por não ter conseguido chegar até a líder dos adeptos de magia. Ela olhou para a costa e viu quem havia feito aquilo, então com a ajuda dos tentáculos, Uma lançou uma grande quantidade de água na direção de Nina e Steven, que foram atingidos em cheio e arremessados para longe.

Do alto da pedra que era ricocheteada pelas ondas descontroladas que se formavam a todo instante, a futura rainha assistia a tudo aquilo praticamente de camarote.

** Pensamentos da Mal **

JÁ CHEGA!— gritei ao ver meus amigos serem atingidos - O seu problema é comigo, não é?! Então vamos resolver agora!

Eu não fiz aquilo em vão, acredite, tinha a consciência de que já havia me recuperado o suficiente para poder enfrenta-la novamente. Mas, mesmo que não estivesse, jamais deixaria que ela machucasse meus amigos.

Uma olhou para mim e então começou a nadar em minha direção, eu precisava ser rápida ou então meu plano iria por água abaixo. A cada segundo que ela se aproximava meus olhos ficam ainda mais verdes, eu já podia sentir o poder se espalhando até minhas mãos, eu estava pronta, sentia como se tivesse nascido para aquilo.

Durante todo o tempo que Uma permaneceu em sua versão de polvo, o amuleto que ela leva no pescoço não parou de brilhar nem por um momento. Cheguei a conclusão de que é ele quem dá poder a ela, assim como a mãe, ela não nasceu com magia, mas a adquiriu. Então, para vencer a luta e acabar com tudo de uma vez por todas, eu precisava quebrar aquele colar.

Fechei os olhos, estiquei uma das mãos para frente e me concertei na magia, precisava que ela estivesse forte o suficiente para o feitiço, caso o contrário o mesmo não funcionaria e eu acabaria morta. Respirei fundo e pensei em coisas que pudessem me da força, já que nunca havia feito tanta magia quanto estava precisando naquele momento.

Pensei nos meus amigos que deram suas vidas na guerra, na minha mãe que quase morreu para me salvar, no Benjamin que não sabia se estava vivo ou morto e até no meu irmão, Joseph, que perdeu a vida tão jovem. Tudo isso fez com que meu poder aumentasse cada vez mais, mas ainda não era o suficiente e Uma estava quase me alcançando, eu precisava agir rápido.

Foi quando eu senti uma vontade muito forte de tocar minha barriga, e quando o fiz, senti como se algo se interligasse e em seguida uma explosão enorme de magia saiu com um estrondo da minha outra mão e atingiu em cheio o colar de Uma, a qual já estava em cima de mim, o dilacerando em um milhão de pedacinhos.

Sua forma de polvo desapareceu quase que instantaneamente em uma fumaça azul acizentada e seu corpo caiu com tudo na água, afundando logo em seguida.

Aquilo era para ter acabado comigo, era para eu estar me sentido extremamente fraca ou quem sabe até desmaiado, mas não, eu nunca tinha me sentido tão forte e cheia de magia quanto naquele momento. Eu sabia que tinha sido Joseph, sabia que ele tinha me ajudado de alguma forma, eu só não sabia como.

Olhei para a costa e Nina e Steven já haviam se recuperado do golpe de Uma e tirado Bernice da água - que estava usando a jaqueta de Steven, com certeza se aquecendo devido ter caído na água congelante do mar - eles olhavam para mim com um sorriso de orgulho, enquanto gritavam e assobiavam, me parabenizando.

Eu nem conseguia acreditar que, finalmente, a guerra havia acabado. Naquele momento eu só conseguia pensar em uma coisa: encontrar Benjamin.

 


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo já vai ser o último pessoal, espero que vocês tenham gostado do final da batalha e agradeço muito a todos que acompanharam até aqui. Não se esqueçam de COMENTAR (isso é muito importante para o crescimento da fic) e FAVORITAR o capítulo. Beijos e até o próximo capítulo!



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