** Pensamentos da Mal **

Devido a condição de saúde do Stefan, ele não pode ser preso, mas também não saímos de mãos abanando, ele foi sentenciado a um tipo de prisão domiciliar, ficando retido apenas a uma parte do castelo, não podendo receber visitas de forma livre. Stefan continuará recebendo tratamento médico, mas não poderá mais exercer qualquer tipo de ordem como ex-rei. Ele também teve seu nome retirado da árvore genealógica real. Aurora e Audrey, porém, permaneceram, pois são filha e neta de Leah, que mesmo eu acreditando ser um erro terrível, faz parte oficialmente da grande família real. 

Todas as estátuas e monumentos construídos em seu nome já estão sendo demolidos. Mas essa decisão não foi recebida com sorrisos, uma parte pequena da população, adoradora de Stefan e seus ideais, organizou passeatas de reivindicação, mas não há nada mais que possa ser feito, ele pagará por seus atos, não importa se gostem disso ou não. 

— Estamos quebrando a regra da sua mãe de novo - eu disse, passando minhas unhas pela nuca de Ben 

— Ela não descobriu, então quer dizer que estamos fazendo direito - ele respondeu com um sorriso - estou amando passar toda noite com você, não tínhamos tanta liberdade assim na escola 

Apenas sorri de volta, concordando com seu comentário. De fato, raramente dormíamos juntos na época da escola e agora estamos juntos todas as noites. Isso é muito bom, depois de um dia estressante - como tem sido os meus ultimamente - tê-lo ao meu lado ajuda a relaxar, se é que você me entende. 

— Que horas será aberta a votação? - perguntei 

— Ás nove, seremos os primeiros a votar e será transmitido ao vivo, para influenciar a população 

— Espera, nos dois? Achei que só o rei tivesse que fazer isso 

— Você é minha rainha, o casamento só vai confirmar isso 

Sorri com sua pequena declaração e depois o beijei. Ben passou as mãos por meus cabelos e em seguida desceu por meus ombros. Seus dedos hábeis logo chegaram até as presilhas do meu sutiã, mas por mais que eu quisesse, tive que interrompe-lo. 

— São sete e meia - eu disse - ainda temos que tomar café da manhã com seus pais e o trânsito deve estar horrível hoje... 

Ben me interrompeu com outro beijo, bem mais intenso, ele ignorou minha tentativa e abriu meu sutiã, me livrando do mesmo. Eu sorri com seu momento de "audácia", já que são bem raros, afinal, ele é sempre um doce, um doce demais.

— Por favor - ele disse me dando outro selinho - temos tempo 

Olhei para o teto e fingi estar pensando, Ben me fez cosquinhas e me deitou na cama, colocando os joelhos lado a lado de minhas coxas e sorrindo, eu tentei rir baixo para que ninguém nos escutasse. 

— Tudo bem, você ganhou - eu cedi - mas teremos que ser rápidos! 

Ben sorriu e começou a me beijar novamente, espalhando outros beijos por meu rosto e meus ombros. O resto não preciso detalhar, né? Depois dali eu o deixei e fui para o meu quarto me arrumar, o corredor estava vazio e ninguém me viu. Uma sorte grande, já que não saberia o que dizer se a rainha Bella me visse andando na ponta dos pés enrolada apenas em um lençol, que por sinal ainda era da cama do Ben. 

ALGUMAS HORAS DEPOIS 

A entrada do local de votação estava recheada de repórteres e jornalistas. Por mais que eu odeie toda essa exposição, naquele momento ela era extremamente necessária, já que o voto não era algo obrigatório e tínhamos de influenciar a população. 

Os amantes do Stefan, pelo contrário, não precisaram de incentivos, foram os primeiros das filas de votação por toda Auradon, tinham aquilo como uma forma de vingança por seu amado rei ter sido condenado. Aquilo tudo só aumentava ainda mais a minha ansiedade, já que - de uma forma bem clara e sem eufemismos - todas aquelas pessoas estavam decidindo a vida da minha mãe. 

Eu e Ben chegamos no local de mãos dadas, fazendo a pose de casal real apaixonado, não que não seja verdade, mas é que ás vezes eu queria que só nós dois soubéssemos disso. A quadra de esportes de uma escola pública havia sido esvaziada para as votações naquele bairro, haviam cabines e alguns policias locais, para conter qualquer possível rebelião.

Ben foi o primeiro, tiraram algumas fotos dele e o filmaram enquanto ia até a cabine deixar seu voto, eu não o perguntei o que ele tinha votado, não que eu tivesse certeza, apenas acredito que não posso interferir nesse tipo de decisão, nem dele e nem de ninguém. Depois foi minha vez, respirei fundo e fui até a cabine, eles tiraram fotos também, mas eu não sorri, aquilo não me deixava feliz e eu não iria fingir, deixei meu voto e depois sai. 

Me aproximei de Ben e o beijei, ele me abraçou e repousou o queixo em meu ombro. Naquele momento as votações estavam iniciadas, os portões abertos para que todos entrassem, tanto ali naquela escola quanto em diversos outros locais públicos por toda Auradon. 

— E agora? - perguntei 

— Agora nós esperamos, o resultado vai sair de noite 

— Não vou aguentar esperar tanto tempo, vou acabar vomitando na lixeira mais próxima 

— Vai passar rápido - Ben disse me soltando - você vai ver 

— Eu espero que não - disse - quer dizer, eu quero... - suspirei - é complicado 

— Vai dá tudo certo Mal, fique tranquila 

Olhei para os portões, as pessoas começaram a entrar e formar uma fila, alguns olharam de volta e acenaram, mas não estava com um bom humor, apenas ignorei e voltei a olhar para o Ben. 

— Tem certeza? - perguntei 

Ben apenas fez positivo com a cabeça, segurando minha mão e me conduzindo para os fundos da escola, nós saímos por lá já que a entrada estava lotada de pessoas e repórteres. Fechei meu casaco, aquele dia estava especialmente mais frio do que os outros. Ótimo. 

— Vamos pra casa? - perguntei quando entramos no carro

— Na verdade, eu tenho uma reunião agora pela manhã e...

Bufei, o interrompendo. Mas acabei me arrependendo logo em seguida, eu estava angustiada e cansada, não queria ser ignorante, mas o que eu mais queria era ter o Ben ao meu lado naquele momento e ele não podia porque tinha que ir para alguma reunião idiota. 

Ben se ajeitou no banco da limusine real, colocando os cotovelos sobre os joelhos e apoiando o rosto na mão, mantendo o olhar para frente. Me toquei e me virei para ele, me aproximando mais. 

— Desculpa... - eu disse passando a mão por suas costas - é que... 

— Não tudo bem - ele me interrompeu - você tá certa

— O que? - me surpreendi 

Ben tirou o celular do bolço do paletó e digitou alguns números, depois colocou o aparelho no olvido. 

— Jane? - ele disse - Preciso que desmarque a reunião e qualquer outro compromisso para hoje. Não interessa, apenas faça

Ben desligou o celular e guardou no bolço de novo, voltando-se para mim com um meio sorriso no rosto. 

— Agora eu estou livre, posso ficar com você o dia inteiro - ele disse segurando minha mão

— Ben... eu não queria isso, a reunião deve ser importante, eu só estou ansiosa e acabei descontando em você...

— Não - ele me interrompeu - minha noiva precisa de mim agora e eu não vou ignora-la para ir em uma reunião que pode ser remarcada 

— Você tem certeza? - perguntei 

— Não se preocupe com isso - Ben sorriu novamente - sabe de uma coisa? Com as votações o shopping deve estar deserto, quer dar uma volta? 

— Eu adoraria - disse por fim 

Ben disse para o motorista mudar de rota e nos levar para o shopping, nós conversamos e rimos durante todo o trajeto. Eu realmente estava precisando daquilo, uma distração de toda aquela pressão sobre a minha cabeça. 

** Pensamentos da Audrey **

Estacionei entre a lata de lixo enferrujada e o pedaço de grama de quase um metro de altura. Eu detesto aquele lugar, de tanto lugares por que o Harry foi escolher justo esse? Uma antiga distribuidora de peixe abandonada no litoral? O que me tranquiliza é que isso já está perto de acabar e logo seremos só nós dois, comandando tudo sobre nossas decisões. 

Desliguei o carro e caminhei até a porta coberta de lodo, ajeitei minha bolça no braço e a empurrei com as pontas dos dedos. Como sempre, lá dentro estava escuro e escorregadio, sinto vontade de vomitar só com o cheiro de coisa morta. Coloquei a mão no nariz e andei para os fundos.

— Capitão? - o chamei 

Harry apareceu em um pulo, sentando-se em uma meia parede caindo aos pedaços e me dando um susto, como de costume. Ele comia alguma coisa e me olhava com aquele belo par de olhos azuis e intimidados. O capitão é definitivamente o homem da minha vida. 

— Olha quem apareceu - ele disse com um sorriso malicioso - a princesa do meu navio 

Me aproximei dele, também sorrindo e passei minha unhas por seu maxilar, me encaixando entre suas pernas. Harry passou a mão pelo meu pescoço , por baixo do meu cabelo, segurando minha nuca com um pouco de força e mordendo o lábio. 

— Nada de princesa - eu disse em um tom baixo, sedutor - eu sou a rainha dessa embarcação 

O Capitão deu um sorriso largo e puxou meu rosto para mais perto, me dando um beijo de tirar o fôlego logo em seguida. Eu amo o jeito que ele me ama, um desejo fervente nos atrai e nos excita, uma coisa que não pode ser interrompida, mais forte do que tudo, indestrutível. 

— Então tá - ele disse me soltando, o mesmo sorriso nos lábios - que seja a rainha então

Eu tentei beija-lo novamente, mas ele afastou, levantando-se em seguida. Eu entendo, se começássemos algo tão forte, dificilmente conseguiríamos parar. 

— E a votação? - ele perguntou, passando os dedos por seus lábios carnudos 

— Já tá rolando - respondi - mas o resultado sai só de noite 

— Pessoal?— um chamado ecoou por todo o lugar - Vocês já chegaram? 

Chad logo apareceu, com aquele sorriso idiota nos lábios. Não sei se conseguirei esperar tanto tempo para me livrar dele, ele é tão... Chad. 

— Ótimo, todos reunidos - Harry disse juntando as mãos - agora posso apresentar o novo integrante da nossa... equipe 

— O que? - perguntei 

Mas Harry não me respondeu, ele andou para a parte mais escura da velha fábrica e depois de algumas segundos, voltou de lá com um garoto, um pouco mais baixo que ele. O olhar dele era frio e sua postura reta, parecia até um robô. A veia do e seu pescoço estava dilatada, ele parecia suar, como se lutasse contra alguma coisa, mas ao mesmo tempo mantiasse quieto, com uma postura incrível. 

— Espera, esse é o Carlos? - perguntei - O que ele tá fazendo aqui? 

— Não se preocupe, a Uma mexeu com a cabeça dele - Harry explicou, segundo nos ombros do garoto - ele vai fazer exatamente tudo o que mandarmos  

— Tipo café? - Chad fez uma de suas perguntas idiotas - Quer dizer, se mandarmos ele trazer um café agora, ele traz? 

— Sim... - Harry respondeu - mas pense em algo maior

— Como hambúrgueres? 

— Como a cabeça do Benjamin! Em uma bandeja! - o Capitão gritou, me assustando um pouco 

— Espera - o interrompi - ninguém falou nada sobre matar 

— E como acha que vai conseguir tomar o lugar da Mal, princesa? Com um diálogo?! 

Apenas fiquei o olhando, anestesiada por sua reação. É claro que eu sabia que precisaríamos usar de força bruta para conseguirmos o que queríamos, mas matar? Eu não achei que chegaria a esse ponto, mas parece que me enganei, era uma clausula integrada no contrato, eu apenas havia esquecido de ler as letras miúdas. 

— E a Uma? - indaguei - Quando é que ela vai parecer, afinal?! - também aumentei o meu tom, me mantendo no mesmo tom que ele 

— Você mesma disse que os resultados só saem a noite, sendo misericordiosos e lhe dando uma última refeição mais algumas horas com a filha... vão explodir a cabeça dela de manhã, então algum tempo depois disso 

— É o que espero - disse com firmeza - enquanto isso, o que faremos com ele? - perguntei, indicando Carlos com o queixo 

— Não se preocupe, iremos nos divertir, não é mesmo Carlos? - Harry elevou o tom, como se tivesse falando com alguém que tem problemas auditivos - Ele vai conseguir algumas coisas pra mim, afinal, não tem muito o que fazer nesse lugar 

Apenas confirmei com a cabeça, antes de sair e dirigir meu carro até minha casa na capital. Chad também saiu e pediu para irmos jantar em um restaurante, mas eu inventei uma desculpa, não estava afim de vomitar seja lá o que comêssemos. O plano do Capitão parecia sólido e claro para mim, mas agora me trouxe dúvidas e até um pouco de apreensão, mas não importa, vou fazer o que é necessário, serei mais do que a "mais bela de todas". 

** Pensamentos da Mal **

Como o Ben havia dito, o shopping estava realmente vazio, até as lojas estavam fechadas, todos haviam saído para votar. O motoristas ficou nos aguardando no estacionamento deserto. Ben segurou minha mão e me conduziu para dentro da enorme construção. 

— O que faremos em um shopping de lojas fechadas? - perguntei, arqueando uma sobrancelha 

— Se as lojas estivessem abertas teriam pessoas comprando e consequentemente milhares delas em cima de nós, querendo tirar uma foto ou reclamar de um buraco no asfalto de suas ruas - ele respondeu rindo 

— Você tem razão, tinha me esquecido dessa parte... - suspirei - você nunca se cansa? Quer dizer, não tem vontade de mandar todos explodirem? 

— Eles são meu povo, acho que explodir não é bem a palavras 

— Você me entendeu 

— Ás vezes eu me canso sim, mas foi assim a minha vida inteira, desde antes mesmo de eu nascer - meu noivo explicou - mas eu amo o meu povo e independente disso, sempre vou procurar atende-los com calma e respeito 

Apenas o observei enquanto ele falava, pensando que depois do casamento eu teria que fazer o mesmo, pois seria a rainha de Auradon. O título "rainha" ainda me assusta um pouco, é tão surreal... eu passei minha vida inteira detestando princesas e principies, reis e rainhas, eu não não queria nem de longe isso pra minha vida, mas hoje me vejo encurralada pelas circunstâncias, onde a única saída para ficar com aquele que eu mais amo, é me tornar uma rainha. 

Mas eu já perdi muita coisa na minha vida, não vou perder a oportunidade de ter uma vida incrível com a pessoa que escolhi para estar ao meu lado, mesmo que pra isso eu tenha que fazer uma coisa que não quero. O Ben também fez sacrifícios por mim, enfrentou toda sua família, todo o conselho e o todo o seu povo, para estar ao meu lado, o mínimo que posso fazer é retribuir o feito. 

— Sabe de uma coisa? - Ben disse sorrindo - Eles fecham as lojas, mas os quiosques são abertos

— O que tá querendo dizer com isso? Você vai roubar? 

— Por que o espanto? Eu também posso fazer coisas erradas, não sou sempre o certinho - ele disse caminhando pelo enorme corredor 

— Sei... o que vai pegar? Um óculos? Um relógio?

— Eu tava pensando em um sorvete 

Não consegui me segurar, soltei uma gargalhada que ecoou pelo shopping inteiro. Um sorvete? Sério? Se ele soubesse o que eu já roubei quando vivia na Ilha... 

— Para - ele fingiu estar irritado - o que queria? Eu sou o rei, não posso sair por ai roubando coisas

— Tá tudo bem - beijei seus lábios rapidamente - tava só brincando. Eu adoraria um sorvete 

Ben e eu fomos até a sorveteria mais próxima, ele ligou a geral e nós mesmos preparamos nossos sorvetes. Eu preparei o dele, um de chocolate com baunilha, e ele preparou o meu, de morango com creme e bastante calda! Não dá pra mentir, é bem mais complicado do que parece fazer o sorvete ficar dentro da casquinha. Mas depois de nos melecarmos, acabamos conseguindo fazer o que, pelo menos, parecia um sorvete. 

Tomamos os sorvetes em uma parte do shopping que é arborizada, parece até uma pequena pracinha a céu aberto e bem ali! No meio da praça de alimentação. Conversamos sobre diferentes assuntos, como "Se tivesse só três meses de vida, o que faria?" e "Uma bomba na sua frente com potencial para distruir o mundo, qual fio você corta?!". E só para constar, o Ben mataria todos nós cortando o fio azul. 

Também falamos de coisas sérias, como a nossa vida juntos e como ela evoluiria depois do casamento. Eu disse que nada mais importava, contanto que eu estivesse com ele ao meu lado. Nós nos beijamos bastante também, mas não nos culpem! O shopping tava vazio e isso foi meio que inevitável. 

— Você se sujou - Ben disse com um sorriso - bigode de morango 

—  Ah droga - eu exclamei, procurando o guardanapo - parece que nunca vou aprender 

— Eu gosto que não aprenda - ele disse com um sorriso malicioso - assim eu posso fazer isso... 

Ben me beijou, me limpando no processo, mas ele estava mais focado em nossos lábios do que no sorvete. Depois de andarmos mais um pouco pelo shopping, alamos encontrando um quiosque de fantasias, eu coloquei uma peruca rosa nele e ele escolheu óculos verdes gigantes pra mim. Fizemos caras e bocas e tiramos fotos no espelho. É claro que rimos bastante um do outro, isso sempre é inevitável quando ficamos juntos. 

** Pensamentos da Princesa Isabel **

— Não entendo porque temos que assistir aula hoje - reclamei enquanto abrimos a porta de acesso ao corredor de armários

— Como não podemos votar, somos sentenciados a assistir a aula da senhora Peggy e aguentar ela babando na gente durante quase uma hora - Agui respondeu com uma careta

— Nem me lembre disso - fechei os olhos e coloquei a língua pra fora - tô começando a me arrepender dessa cola de férias  

— "Aulas e diversão", era o que dizia no panfleto, mas tá tendo muito mais aulas do que qualquer outra coisa... - Agui lembrou da propaganda - Vou pro meu armário, depois a gente se encontra? 

— Claro 

Agui seguiu o corredor e dobrou a direita no final, o meu armário já era ali mesmo, bem pertinho do laboratório de ciências. Abri o cadeado e comecei a colocar alguns livros lá dentro, a medida que tirava outros e colocava na mochila, tentando lembrar as matérias do dia. 

Foi quando um grupo de garotos entrou no corredor fazendo muito barulho, eram no mínimo um seis, rindo e empurrando uns aos outros. Logo os reconheci, eles são do time de futebol e são bem populares, todas as meninas são apaixonadas por eles. Não vou mentir e dizer que eles são feios, afinal eu sou humana, mas acredito que gostar de alguém vai muito além da aparência e se eu tirar isso deles, não sobra muita coisa... 

Mas naquele dia havia alguém novo entre eles, um garoto de cabelos escuros e um sorriso largo e brilhante, ele era muito, muito bonito. Ele estava com a mochila nas costas e ria com os amigos, pelo o que parecia, eles já eram todos conhecidos, talvez ele fosse do time também.

Mas, enquanto eu o olhava, ele me olhou de volta e sorriu, o que me fez derrubar os livros que eu tinha nas mãos no chão, por conta do susto. Eu até tentei juntar, mas minha bolça caiu no meio do processo também e eu tive que me ajoelhar no chão para juntar tudo, o que não esperava que ele viesse até mim, pegando tudo com agilidade e me entregando em seguida. 

— Obrigada - eu disse me levantando, vermelha de vergonha 

— Eu nunca te vi por aqui, qual o seu nome? - ele perguntou

— É... Isabel, meu nome é Isabel - como se não bastasse ter derrubado os livros e a mochila, agora eu tinha que gaguejar também 

— Você é nova? Chegou hoje? 

— Sim e não, eu meio que me escondo - sério?! "Me escondo"?! Já posso morrer 

— Pois não devia, um rosto tão bonito assim precisa ser visto - ele disse sorrindo e eu corei instantaneamente 

— E você? Também te vi por aqui - perguntei 

— Eu cheguei de viagem ontem e resolvi vir pra colônia de férias, pra treinar com o time - ele explicou - mas não sou novato, estudo há bastante tempo na Auradon Prep 

— Ah... entendi - disse fazendo positivo na cabeça - Eu já te disse o meu nome, mas você ainda não me disse o seu 

— Me desculpe - ele sorriu - meu nome é Noah, eu sou capitão do time 

— Legal 

— Ei Noah! - um dos meninos gritou - Temos que ir cara! 

— Já vou - ele gritou de volta, voltando-se para mi  em seguida - a gente se vê? 

Apenas fiz positivo com a cabeça, Noah sorriu e foi se juntar aos amigos. O sinal tocou e eu fechei meu armário, colocando os livros na mochila e caminhando para encontrar o Agui, ele já deve estar me esperando para assistirmos a aula da senhora Peggy, a pior parte do dia. 

** Pensamentos da Mal **

Um enorme palco foi montado em um enorme salão, a Evie me obrigou a usar uma roupa estilo "realeza", um vestido que azul claro que ia até os meus joelhos, se decote e sem mangas, mais comportado impossível. Ben também estava no mesmo estilo, com sua fiel coroa dourada, mas com ele eu já estou acostumada, fica lindo de qualquer jeito.

Eu estava tão nervosa que nem briguei com a Evie por me forçar a usar aquele vestido idiota, o que eu queria era saber logo o resultado das votações. Ben estava conversando com algumas pessoas e eu estava apenas observando, enquanto Jane falava mil e uma coisas no meu ouvido, para as quais eu claramente não estava dando a mínima. 

Até que ele olhou para mim e pegou uma taça da bandeja de um dos garçons, andando em minha direção logo em seguida. Ben sorriu e me deu um beijo breve, depois me entregou a taça com um liquido meio dourado e espumante dentro. 

— Toma, vai ajudar - ele disse sorrindo 

— É champanhe? 

Ben apenas fez positivo com a cabeça e eu joguei todo o conteúdo da taça na garganta, mas se ele queria realmente que aquilo me ajudasse, eu iria precisar de muito mais do que só uma taça. Ben percebeu o meu nervosismo e beijou minha testa, me dando um abraço apertado logo em seguida. 

— Majestade! - Jane apareceu, estragando nosso momento - Desculpe interromper, mas está na hora da divulgação, os votos já forma todos computados 

Olhei para o bem apreensiva, mas ele apenas deu um sorriso de lado e esticou o braço em minha direção. Eu o segurei e nós caminhamos a passos lentos e firmes em direção ao enorme palco, com uma tela tão grande quanto atrás. 

Meus batimentos aceleraram e eu só conseguia olhar para os meus próprios pés. As câmeras foram ligadas e posicionadas em nossa direção, em segundos Ben mostrou uma postura séria e confiante, enquanto que eu estava para vomitar ali mesmo a qualquer momento. 

— Cidadãos de Auradon - ele começou o discurso de rei - todos os votos já foram apurados e o resultado já está sendo processado. Agradeço a todos que dedicaram um pouco de seu tempo para contribuir com a justiça - eu apenas estava ao lado dele. Meus olhos na câmera, mas minha mente bem longe de estar 

Um pequeno envelope foi entregue a Ben, ele se distanciou um pouco para pega-lo, mas logo voltou a se posicionar ao meu lado, sua postura impecável e imutável. Ele abriu o envelope e eu poderia apenas olhar ali mesmo, antes de todos, mas o nervosismo fez com que eu não conseguisse sequer me mexer, apenas continuei olhando para frente, aguardando o resultado como todos naquele enorme salão e em toda Auradon. 

— O resultado foi... 

Meu coração parecia que iria pular do peito a qualquer momento, minha respiração falhava e eu podia sentir meus ossos baterem uns nos outros dentro de mim, as veias dilatando e a pressão indo para as alturas. Evie estava na plantei, seu olhar era de compaixão e me transmitia confiança, mas eu só conseguia pensar no que aconteceria se aquele resultado não fosse o que eu espero. 

— Com uma diferença de apenas 172 votos - Ben informou - Malévola não será sentenciada a morte 

Evie, Doug e Jay se abraçaram na plateia. Algumas pessoas se retiraram e outras permaneceram como antes, apenas aproveitando a comida. Meu coração deu um solavanco e depois foi se acalmando gradativamente, eu apertei meus dedos contra mão de Ben e ele retribuiu o gesto, mas foi só quando ele terminou com aquilo e as câmeras forma desligadas, que ele virou-se para mim e me deu beijo. 

Eu retribui e em seguida coloquei meu queixo em seu ombro, deixando algumas lágrimas escaparem. Olhei por uma janela e pude ver um pássaro preto em um galho de árvore, eu sorri e abracei Ben mais apertado, meu coração agora estava em paz.