Capítulo 3 —  A verdade

A lua tocava o ponto mais alto aquela noite, e Draco Malfoy estava como sempre confinado em sua sala terminando os relatórios do dia. Nunca sonhou em trabalhar no ministério e muito menos ser auror, no entanto depois da última guerra, ao se formar em Hogwarts sentiu vergonha do que havia se tornando. Um bruxo mimado e sem quaisquer perspectivas na vida, mas sempre havia uma saída, então seguiu o único caminho que havia para ser seguido.  

Colocou de lado outra folha e começou a escrever novamente quando notou seu chefe adentrar a sala sem bater. Isaac era um bom homem, apenas odiava o fato dele ser feliz demais, simpático demais e brincalhão demais, tudo nele era demais para um bruxo que já passava dos 40, contudo ele sabia ser sério e autoritário quando era necessário, e isso era o que mais admirava no homem. 

— Cadê o Potter? Preciso que ele assine isso - Draco falou sem olhar Isaac e deslizou a mão na mesa com um documento na mão para entregar ao mesmo. 

— Você sabe que não é chefe dele, não é? - Falou Isaac pegando o documento e começando a lê-lo - Eu sou. 

— Sim, mas ele não pode sumir desse jeito - Bufou o loiro irritado. 

— Malfoy, são nove da noite, já acabou o expediente faz tempo - Isaac suspirou e sentou na beirada da mesa. 

— Temos coisas a fazer - Rosnou ele sem parar de escrever. 

— Harry vai se casar, de um tempo a ele, sim? - O homem sorriu simpático e fechou a pasta terminando de ler. 

— Não é problema meu se ele resolveu brincar de casinha, temos serviços - Insistia Draco incontrolável. 

— Ele me pediu para sair mais cedo, foi buscar a madrinha no aeroporto. - Explicou Isaac calmo. 

— Que bruxa usa transporte de trouxa? - O bruxo parou de escrever e encarou seu chefe. 

— Não faço ideia, mas você deve lembrar dela - Comentou pensativo. 

— Eu? - Draco não conteve uma risada e pegou a xícara de café o bebendo, jamais conheceu alguém que usasse avião. 

— Sim, a Granger, devem ter estudado juntos, não? - Falou tentando encontrar o olhar do bruxo. 

— Quem? - Draco cuspiu o café que bebia. 

— Hermione Granger - Repetiu Isaac - Ela já deve ter aterrissado a essa hora. 

— Granger está aqui em Londres? - Perguntou perplexo sem notar que estava virando a mão derrubando lentamente o café da xícara. 

— Sim - Isaac confirmou e arregalou os olhos para a mão do bruxo - Cuidado Draco! 

— Porra, caralho! - Draco levantou-se correndo quase derrubando a cadeira para trás ao ver sua camisa branca totalmente manchada de café. 

— Você está bem? - Isaac levantou-se correndo e ofereceu um lenço a Draco. 

— Estou, agora se me dar licença - Falou recusando o lenço e voltando a se sentar. 

— Acho que é você que está precisando brincar de casinha - Isaac deu uma risada e saiu correndo antes que fosse estuporado. 

Draco apressou-se em limpar a camisa, contudo seus pensamentos ficaram conturbados, pois o fato de saber que Hermione Granger estava em Londres depois de tanto tempo o incomodou. Recolheu seus pertences na mesa e levantou-se deixando sua sala, precisava ir para casa, tinha a plena certeza que não conseguiria se concentrar o restante da noite. Aparatou nos arredores da mansão Malfoy e enquanto atravessava os jardins lembranças de seu último ano em Hogwarts vieram a sua mente, memorias de um beijo um tanto memorável e das diversas noites em claro jogando conversa fora com um certo alguém. Abriu irritado a porta de casa e jogou longe seu casaco, precisava de um banho e um longa noite de sono para esquecer-se de algo que a tempos não lembrava. 

— Draco querido? É você? - Narcisa atravessou o grande hall após descer as escadas e correu para o filho. 

— Boa noite - Murmurou ele de cabisbaixa. 

— Está tudo bem? - Narcisa tocou o ombro do filho - Vai jantar? 

— Eu estou bem, estou sem fome - Draco afastou-se dela e conforme andava ia lentamente abrindo a camisa e desabrochando a gravata. 

— Pansy te aguardou até agora - Disse seguindo o filho. 

— Me conte algo que eu não saiba - Gemeu ele todo ranzinza para mãe. 

— Astoria lhe enviou um chá de ervas para sua tosse - Narcisa sorriu receosa. 

— Astoria? - Draco parou perto da escada e virou-se para mãe surpreso. 

— Sim, não quer tomar? - A mulher indicou a sala de jantar com as mãos carinhosamente. 

— Sim, peça para levarem para o meu quarto - Draco voltou para o caminho que fazia. 

— Não quer tomar comigo na sala de jantar? - Aumentou o tom de voz conforme o filho ia se afastando. 

— Não, estou cansado. Boa noite - Gritou ele já no pé da escada então subiu. 

Dirigiu-se para o quarto enquanto massageava a nuca, que desde que ouvirá o nome Granger, parecia pesada e querer levar consigo a cabeça junto. Jogou sua camisa juntamente com a gravata no chão e foi para o banheiro onde ficou por lá durante algum tempo. Saiu molhado e enrolado em uma toalha, ainda sentia seu dorso do pescoço doer, talvez não precisasse apenas de banho, precisava dormir e logo.  

Abriu o armário para vestir suas roupas de dormir e enquanto trocava-se, seus olhos foram atraídos para o horizonte que a sacada de seu quarto mostrava. Ao colocar a última peça de roupa, Draco foi até a área externa e se apoiou no parapeito. Fechou os olhos sentindo a gélida brisa da noite, e então ouviu o badalar do relógio que vinha do centro da cidade. Malfoy mal sabia que em frente aquele relógio o qual observava as horas baterem, passava naquele exato momento um taxi levando Hermione Granger para casa. 

— Helena é o que sua? - Perguntou Harry seriamente olhando a amiga por cima dos ombros enquanto estava sentado no banco do passageiro ao lado do motorista. 

— Minha filha - Respondeu Hermione alisando os cabelos cacheados da filha que dormia em seu colo a admirando. 

— E quem é o pai se me permite perguntar? - Disse sem mudar a expressão, embora estivesse espantado com a resposta que ouvira. 

— Depois conversamos sobre isso - Respondeu ela indiferente, contudo levemente incomodada com a pergunta. Harry provavelmente teria palpitações quando soubesse toda verdade. 

— Harry Potter, isso não é pergunta que se faça - Falou Gina reprendendo o noivo lhe dando um tapa na cabeça. 

— Aposto que você sabe quem é - Disse ele irritado e virando-se para frente. 

As duas bruxas se entre olharam um pouco assustadas, assim como amiga, Hermione sabia que Harry surtaria em alguma parte quando lhe contasse porque fugiu ou então quem era o pai de Helena, certamente a reprenderia e diria coisas horríveis. Encolheu-se no canto do banco e deitou a cabeça na janela, em breve chegaria a sua casa, só estava apenas algumas quadras de distância.

Ao virar a rua, a morena logo avistou o lar que cresceu e a ansiedade só aumentou, afinal, fazia cinco anos que não pisava naquele lugar. Seus país estavam morando na França atualmente, então a casa em Londres lhe foi herdada assim que retornasse. Quando lhe sobrasse um tempinho, iria levar Helena para conhecer seus avós.

Quando o carro parou, Hermione pagou o motorista e desceu com Helena em seu colo ainda adormecida. Andou até a entrada atravessando o pequeno jardim e Gina correu na frente para abrir a porta para amiga. Harry veio logo atrás carregando as diversas malas com dificuldade, e bufou irritado passando pelas duas por não ter obtido ajuda. Ao passar pelo pequeno hall de entrada, Hermione esticou a mão procurando o interruptor e acendeu a luz, contudo quando o ambiente se iluminou revelou presentes seus Weasley favoritos. 

— Surpresa! - Gritaram sorrindo. 

— Meu Deus - Hermione sorriu emocionada e seguiu em direção a Molly Weasley por quem mais sentiu falta. 

— Como você está querida? - Molly lhe beijou o rosto e passou a mão carinhosamente na cabeça de Helena que ainda dormia - E quem é essa? 

— Uma longa história. - Hermione riu e seguiu cumprimentando Rony, Jorge e por último Arthur - Obrigada por me receberem, fico feliz, apesar de achar que estou dando trabalho a vocês mais do que já dei. 

— Que isso, somos todos família aqui, não é incomodo algum - Arthur sorriu. 

— Eu sei - Hermione sentiu lagrimas rolarem pelas maças de rosto. 

— Ah querida, não fique assim - Molly correu para abraça-la - Está tudo bem agora. 

— Obrigada - Disse soluçando entre uma lagrima e outra. 

— Venha, sente-se - A ruiva puxou Hermione pelo ombro e a guiou até a mesa de jantar que estava farda de comida e doces - Tomei a liberdade de fazer o jantar para você, eu sabia que teria que ir ao mercado ainda e estaria cansada. 

— Nossa Molly, realmente não precisava - Falou Hermione tocada com gesto arrependendo-se amargamente de ter desaparecido por tanto tempo. Ela não os merecia e angustia em seu peito só cresceu, sentia-se um nada perto de todos ali. 

— Bobagem, agora sente-se - Molly puxou a cadeira e a forçou a se sentar. 

— Eu sei que vocês devem ter milhões de perguntas, e eu irei responde-las sinceramente - Disse sentando-se e acomodando-se com Helena que parecia ter finalmente encontrado a paz após longas horas de viagem. 

— Vamos jantar primeiro, estou ouvindo a barriga de Rony roncar a horas - Brincou Molly servindo Hermione de batata cozida. 

O jantar seguiu como se lembrava, com bastante conversa e gargalhadas, a sensação nostálgica havia desaparecido, pois a saudade que antes apertava em seu peito agora se expandia e desaparecia por todos os lados. Suspirou feliz enquanto comia, parecia que talvez fosse ficar mais de duas semanas como havia planejado, logo mais tarde ligaria para Daniel lhe informando a extensão na viagem. Talvez escutasse um "eu sabia", e talvez alguns choros seriam escutados também, mas precisava acabar com todo aquele arrependimento uma vez por todas. 

— Obrigado mãe, eu não aguentava mais esperar - Rony empurrou o prato para o lado satisfeito após repeti-lo três vezes. 

— Você não mudou nada - Hermione riu e notou Helena se ajeitando no colo dela ainda adormecida. 

— Ela não vai acordar nunca? - Perguntou Molly curiosa. 

— Vai, quando eu for dormir e se eu acorda-la agora vai ser um saco - Hermione revirou os olhos, estava entre amigos então podia criticar a própria filha, pois a ultima vez que cometeu esse erro foi excluída do grupo de mães da escola. 

— Sei como é, Percy era igualzinho - Falou a ruiva rindo. 

— Agora me conte, o que raios aconteceu? - Harry cortou o assunto das duas e encarou Hermione cruzando os braços. 

— Harry! - Gina novamente o reprendeu como mais cedo e lhe deu outro tapa no ombro. 

— Está tudo bem, ele tem razão, eu devo explicações - Suspirou olhando para baixo e encarando os cachos dourados da filha. 

— Por que você sumiu? O que houve? - O bruxo se inclinou para frente e todos pausaram o olhar na bruxa curiosos também. 

— Helena foi o que houve, ela foi ameaçada e eu não podia deixar que nada acontecesse a ela - Explicou enrolando o dedo no cabelo da filha. 

— Espera, quer dizer então que você já estava gravida antes de fugir? - Harry ficou perplexo e procurou o olhar de todos que mantiveram a mesma expressão. 

— Sim, apesar de estar apenas de algumas semanas, ela foi ameaçada ainda dentro do meu ventre, então eu simplesmente fugi para protege-la - Olhou um a um por baixo de alguns fios de cabelo que caim sobre seu rosto. 

— De quem? Quem a ameaçou querida? - Molly lhe tocou a mão e a alisou carinhosamente. 

— Lucius Malfoy - Hermione respondeu engolindo seco. 

— Malfoy? Por que? - Arthur indagou confuso quase esboçando um riso. 

— Porque ele descobriu que ela é filha de Draco.  

As últimas palavras deixaram todos tão surpresos que ninguém conseguiu encontrar qualquer outra coisa para dizer. Obviamente aquela era a explicação por ter fugido sem dizer nada ou pedido ajuda, contudo, não era toda verdade a ser contada. Por hora era melhor deixar como estava e outro dia entraria em detalhes sobre como ela chegou a se quer ficar tão próxima de Draco Malfoy e se tornar intima dele. Suas lembranças conturbadas foram encerradas quando a pequena Helena acordou e assustou-se em ver tantas pessoas lhe encarando.