Num dia qualquer escrita por Hinazi


Capítulo 1
quando já nem esperava mais


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, eu adoraria ter escrito mais, mas havia limite de 999 palavras, então o romance não pode ser desenvolvido, mesmo assim, dei um jeitinho de encaixar algo que me deixasse feliz o suficiente.

De qualquer jeito, está feito. Boa leitura.



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Desde criança, uma das primeiras regras que aprendeu foi sobre os limites que seu território tinha, e como jamais devia ultrapassá-los. A tentação conforme crescia só aumentava, seus passos sempre o levavam ao mesmo lugar, a divisa, onde a água do mar começava a surgir.

Havia lendas que outros seres humanos, completamente diferentes aos seus, viviam nos outros territórios da ilha. Eram três grupos, se contasse com o seu.

Parte de sua curiosidade era a falta de informações. Lhe era sempre dito que era perigoso, mas nunca explicado porquê. Isso o atiçara dia após dia.

Em todos aqueles anos, tudo o que Irin fizera era ir até os mesmo arbustos, próximos a uma clareira que dava em direção ao mar, onde, de longe não era mais seu território.

Ia e observava por alguns minutos, esperando ao menos um vislumbre daqueles que viviam por lá. Para seu desapontamento, Irin jamais vira algo. Por um longo tempo, desacreditou que até mesmo existissem.

No entanto, sempre acabava se vendo novamente no arbusto, esperando, acreditando, como na primeira vez que estivera ali.

Estava lá outra vez, sentado na grama, observando. Ao longo dos anos se tornara também seu refúgio, quando queria estar sozinho. Apesar de, pela primeira vez, não estava sozinho ali. Do outro lado, havia alguém.

Nos primeiros segundos de descoberta, Irin sentiu o queixo descer um pouquinho, tamanha admiração. O ser um pouco mais ao longe era... encantador. Um tom de pele que não era comum aos seus olhos, visto que ninguém de sua tribo a tinha. Era escura, num tom de marrom assim como a terra que pisava, e os cachos que desciam pelas costas eram apenas um tom um pouco mais escuro.

Não se mexeu, nem deixou som nenhum escapar de seus lábios, mas os reflexos do outro eram ótimos, porque logo foi notado, e olhos verdes se viraram em sua direção, tão surpresos quanto os seus. Antes mesmo que conseguisse sequer reagir, a distância entre eles diminuía.

Pelo susto, deu alguns passos para trás. Ele nunca acreditara que realmente existiam, mas havia um olhando dentro de seus olhos, à sua frente.

Gostaria de pelo menos socar seu próprio rosto por tamanha burrice. Passara a infância toda ouvindo para que não fosse além das árvores maiores, e logo quando crescia, fazia exatamente o contrário.

Não sabia se devia mover-se ou continuar como uma estátua, de boca aberta e tremendo um pouco, podendo ouvir o próprio coração batendo. Não queria descobrir da pior maneira se eram serem violentos ou apenas curiosos.

No entanto, não precisou pensar muito sobre isso, já que a criatura avançou e, por ainda estar nervoso, caiu para trás, tropeçando nos próprios pés. O "uwaaa" que saiu de sua boca foi a única coisa a ser ouvida por longos segundos.

E então... um risinho. E uma mão sendo estendida na direção dele, enquanto o dono inclinava-se em sua direção. Acreditou que ia ajudá-lo a levantar, mas a mão pousara em sua bochecha.

— Uau... A pele de vocês é tão clara! - Irin ainda recuou mais um pouco, por ser tocado tão repentinamente, logo depois de tamanho susto. - Ah! Não se preocupe, não sou perigoso. - O tom suave tentava passar segurança.

Ele sentou ao seu lado, e pode comparar o quanto o garoto era mais magro e mais baixo que ele próprio.

— Finalmente consegui me aproximar de você. - Lançou-lhe um sorriso cheio de sons, mas não o bastante para que pudesse ser um riso.

Devolveu um olhar assustado, meio nervoso. Sua presença nunca fora um segredo todo aquele tempo? Que vergonha de si mesmo.

A mão tocou no seu braço outra vez, apertando de leve. Nunca tinha visto o outro antes, porém o gesto, de fato, provocara calma em si.

— Se acalma. Só eu venho aqui. É quase no limite do nosso território, então todo mundo evita.

Por uns instantes, não fizeram nada. Não conversaram, não se moveram. Olhavam pontos aleatórios e distantes, sem saber como prosseguir.

Não sabia em que momento o assunto se iniciou, ou quem o fez. Porém, logo estavam conversando, conhecendo um ao outro. Descobrindo muito mais além dos nomes perguntados.

— Sabe, você é bem mais simpático do que achei que seria... - O garoto de pele escura comentou.

— O que quer dizer? - Sua voz soou confusa, assim como ele próprio estava.

— Vocês, brancos, tendem a ser os mais hostis da ilha, até porque foi sua tribo quem criou os limites... - Gesticulou, explicando. - Antes todo mundo vivia meio junto, sabia?

Com certeza não sabia. Balançou a cabeça, negando, um pouco surpreso.

— Eu nunca... Não nos dizem nada por lá, só proíbem e proíbem.

Rae lhe lançou um olhar solidário.

— Eu não esperava algo muito diferente disso.

Rae saciou várias de suas dúvidas em seguida. Ele explicava como quem conta histórias, e aquilo só o fazia ainda mais curioso para ouvi-las.

Naquele dia fora para casa mais sorridente do que jamais estivera, e na manhã seguinte, correra de volta ao caminho já tão refeito, ansioso para encontrar o garoto novamente, vê-lo outra vez, conversar, saber mais sobre tudo que fora escondido de si a vida toda, assim como nos dias que se seguiram.

Queria saber mais das outras tribos, quem sabe visitar uma delas, onde morava gente que não era aceita em nenhuma das outras duas, traidores, pelo que dizia Rae, de acordo com o que ouvira, mesmo que Irin considerasse aquelas pessoas as melhores, porque pareciam não se importar como algo tão idiota quanto a diferença nas cores das peles.

Queria saber mais do mundo à sua volta. Sair da bolha em que o colocaram.

Porque além do cheiro de ervas que Rae tinha, ele também cheirava à liberdade, promessas de sorrisos e sentimentos bons queimando em seu peito.


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Notas finais do capítulo

Talvez um dia eu volte a mexer com esse universo, mas prometo isso em todas e nunca faço. Apesar disso, eu gostei desses personagens muito mais do que 999 palavras me deixaram expressar.

Um dia, quem sabe. Mas um bem distante.