2° Relembre o passado, para fazer seu amigo perceber como ela é uma vaca.

      — E ai? A neurótica já te odeia? – Questiona Natalie, assim me entro de novo em nosso quarto. Abro minha mala que ainda não foi desfeita, e pego um vestido preto rendado. Preto mesmo, ue. Esse jantar vai ser o enterro da dignidade de Dean

      — Uhum. Acho que daqui a pouco ela vai atrás do Dean, falar que não me quer aqui. – Digo, trocando de roupa ali mesmo. Para complementar a roupa, coloco um salto alto.

      — Mas, Sarah, já passou pela sua cabeça que ela pode mesmo convencer o Dean a nos expulsar daqui? Como você vai colocar o resto do plano em prática, longe dos noivos? – Pergunta, franzindo o cenho. Natalie está usando um vestido preto bem parecido com o meu, mas mais pesado e curto.

      — Estou tomando cuidado, não se preocupe. – Digo, me sentando de frente ao espelho, me analisando. Tenho cabelos loiros, cortados um pouco abaixo dos ombros, olhos escuros, boca carnuda, e cílios longos.

      Após Natalie e eu acabarmos de nos arrumar, descemos juntas as escadas que levam para o primeiro andar. A sala está cheia de pessoas. Reconheço alguns primos de Dean e seus pais, que o estão cumprimentando. Vejo Elizabeth conversando com o seu irmão, Roy.

      — Sarah, querida. – Sorri a mãe de Dean, Jeanne, para mim. Dou um grande sorriso para ela, e me aproximo, lhe rodeando com os meus braços. – Como você está? Desde que foi para aquela cidade chique raramente vem nos visitar!

      — Desculpa, Jen. – Digo, mordendo o lábio inferior. – Mas a faculdade, e o trabalho, andam bastante complicados. Mal tenho tempo para dormir. Saio de um, vou direto para outro. É uma loucura.

      — Ah, que menina esforçada, senhor. – Sorriu ela ainda mais, quase orgulhosa. Então lançou um olhar de desdém para Elizabeth, que ainda conversava com o irmão. – Bem que aquela ali poderia ser metade do que você é, querida. Queria tanto que fosse você no lugar dela.

      — Mãe! – Dean a repreende, e eu solto uma risada baixa. É, eu também queria que fosse eu no lugar de Elizabeth.

      — Tenho certeza que Elizabeth tem suas qualidades. – Digo, para fazer meu papel de garota boazinha que não está tentando acabar com o casamento do melhor amigo.

      — É, é claro que tem. – Disse Dean, sorrindo agradecido para mim. Desvio o olhar.

      — É, eu sei muito bem qual é a qualidade dela. – Jen dá um sorriso de escárnio, lançando um olhar raivoso à Elizabeth. Mordo o lábio inferior, evitando soltar uma risada.

      — Mãe! Não fale isso perto das visitas. – Resmunga Dean, com as bochechas ficando vermelhas.

      — O quê? Eu não falei nada demais, você que está pensando asneira. – Jen abana as mãos, fazendo pouco caso do assunto. – Vou pegar uma taça de vinho. Aceita, Sarah?

      Confirmo rapidamente com a cabeça, em seguida voltando meu olhar para Dean, que parece envergonhado.

      — Sua mãe é uma figura. – Exclamo, sorrindo para o meu melhor amigo/ futuro marido que só falta desistir de se casar com Elizabeth Wyatt.

      — Ela me faz morrer de vergonha.

      — Essa foi uma das única vez que te envergonhado. – Concordo. Dean sorri amarelo, dando de ombros.

      — Dean, meu amor... Ah, oi, Sarah. – Elizabeth diz, aparecendo do nada, e se apoiando no ombro esquerdo de Dean. Desvio os olhos, me segurando para não revirar os mesmos. Fala sério.

       Naquele momento, Natalie agarra meu pulso e me leva até um canto da sala.

      — O negócio é o seguinte, Sarah. A melhor forma de colocar o segundo passo em ação é assim: mais tarde, quando sobrar apenas mais alguns de nós aqui, vou convidar todos para beber, e vou dar um jeito de colocar o assunto ensino médio no meio da conversa. – Natalie solta de uma vez. – Ai, você começa a relembrar sobre a Neurótica Rosificada.

      — Rosificada? Essa palavra, por acaso, existe? – Elevo uma sobrancelha, a encarando.

      — Nem venha falar mal do meu vocabulário, McCann. Ainda não gosto de você. – Natalie estreita os olhos para mim. Bufo, mas sinto meus lábios serem puxados para cima em um sorriso. – Ugh, você está sorrindo. Por que você está sorrindo? Não quero que você sorria!

      — Hey, vamos beber um pouco. – Sorri Natalie para um primo de Dean. O coitado se sobressalta todo, achando que Natalie estava querendo dizer algo.

      Depois que a maioria foi dormir, Natalie passou a chamar alguns dos visitantes para beber. Inclusive, é claro, Dean e Elizabeth. A contragosto, a morena acabou aceitando, já que o meu amigo queria. Sentamos todos em um círculo: eu, Dean, Elizabeth, Roy, Jen, Tyler (um primo de Dean que estava interessado na Natalie) e, obviamente, Natalie.

      — Eu adoro beber. – Disse Natalie, servindo a todos com um líquido transparente que não faço a menor ideia do que é. – Eu lembro que sempre dava trabalho para os meus pais. Eles quase enlouqueciam, se perguntando o que poderiam fazer comigo. Como foi o ensino médio de vocês?

      Cara, essa garota é bem esperta, não é?

      — Ah, eu não sai muito. – Dou de ombros – A única vez que saí foi quando Dean e eu fomos ao baile de boas vindas do time de basquete, e bem... Lá a Liz, e seus simpáticos amigos jogaram ponche em nós, e eu fiquei tão envergonhada que não saí novamente.

      — Aquilo foi divertido. – Disse Liz, meio avoada. Olho Dean de canto de olho e ele parece ter acabado de engolir algo amargo. – Quer dizer... Não isso, o ensino médio foi divertido. Eu me lembro, sabe? De quase tudo. Meus amigos e eu sempre saiamos, era quatro festas por noite. E a gente super zombava dos nerd's.

      — Bem, disso eu também me lembro bem, considerando o fato de que era de mim e de Dean que vocês sempre zombavam. – Dou um sorrisinho irônico. – Lembra aquela vez que você me jogou dentro da lata de lixo, apenas porque estava irritada porque seu namorado tinha acabado de terminar com você? Precisei tomar uns três banhos até voltar ao meu cheiro normal.

      — E após alguns copos de vinho, o ressentimento vem a tona. – Caçoa Roy, o irmão de Elizabeth. Olho irritada para ele, querendo saber porque diabos ele se meteu em algo que não é da sua conta.

      — E teve uma vez, também, que o vocês me prenderam no armário. – Dean falou. Sua voz parece ainda mais ressentida do que a minha.

      Evito dar um sorriso. É impressão minha, ou essa merda de plano está começando a dar em algo?

      — Cretina durante o ensino médio, cretina por toda a vida. – Natalie sussurra apenas para mim poder ouvir, dando um sorriso bêbado. – Sócrates quem disse.

      Reviro os olhos, tendo plena certeza que Sócrates jamais disse algo do tipo. Levanto e vou em direção ao banheiro, antes de chegar lá, porém, um braço segura meu pulso. Levanto os olhos, e vejo Roy.

      — O que você quer, projeto de tamanduá? – Digo, me referindo ao seu nariz, que é um pouco grande demais.

      — O quê? Olha, tanto faz. Só quero te avisar para não ficar tentando atrapalhar o casamento da minha irmã, OK? – Diz ele, entre dentes. Suspiro.

      — E por que eu faria isso? – Elevo uma sobrancelha. – Tudo o que quero é ver meu amigo feliz.

      Me solto, e quando volto para sala um crime tenso preenche o ar.

      Opa opa... Segundo passo: concluído.