A Cerejeira da Estrada de Ballete escrita por John Brown Nyoni


Capítulo 4
Cap IV . Noite de Babá


Notas iniciais do capítulo

Acabei dando um tom um pouco pesado, aviso.



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Revirando um cesto de roupas sujas, Kat jogava peças de um lado para o outro mas não antes de amassá-las para ver se havia algo nos bolsos e a cada peça jogada sua paciência diminuía, já estava atrasada para a aula e não achava seu crachá e as condutas da faculdade onde trabalha são bastantes estritas com as vestimentas dos professores e como se portam, já havia se esquecido duas vezes anteriores e não gostaria de marcar o terceiro strike afinal a faculdade pagava bem e mais difícil que ser mãe solteira é adicionar desempregada a situação. Sua paciência se esgotou com a última peça jogada ao chão, engoliu seu orgulho e gritou para que sua voz alcançasse a jovem mocinha que lanchava na cozinha, ‘’Clara, sabe onde está o crachá da mamãe?’’, feliz com as torradas sorridentes e balançando as pernas suspensas na cadeira maior que ela. A garotinha olha para cima, coloca o dedo no queixo como costuma fazer quando estava pensando seguido do estalar de dedo para finalizar o processo ‘’ Na jeans que está debaixo da cama’’ gritou de volta antes de voltar a seu lanche. Já estava acostumada, toda segunda era mesma rotina, sua mamãe a buscava a tarde da escola, passava um tempo com ela até o lanche das quatro antes de se arrumar para o trabalho e esquecer onde havia jogado seu crachá ao chegar bêbada na sexta, depois a deixa sozinha por quinze minutos antes de seu tio chegar.

Pronta para sair, Kat entra na cozinha, beija a testa de sua filha e corre pra porta gritando que voltava antes das dez e trombando com Thomas na saída ‘’ Ela está terminando de lanchar, faz janta para mim também, tem frango pra descongelar!’’ diz ela o abraçando e correndo para o elevador do prédio.

 

Com medo do que sairia da bagunça deixada pela sua irma Thomas, entra com cautela no apartamento como se entrasse em uma toca de lobos, mas por sorte sua apenas uma lobinha fofa estava presente ‘’ Clarinha, solta o beat DJ’’ ordenou fazendo pistolinhas com os dedos para ela que colocava o álbum ‘’Malibu’’ do Anderson Paak no último volume na caixa de som. E assim dançando os dois arrumavam a casa entre pausas para dançar, Thom ensaboa as louças cantarolando alegre, enxágua e entrega a Cla sentada sobre o balcão batucando o calcanhar ao som da música. A jovem é uma boa garota e até pesa no coração do rapaz um dia ter desejado que…

Seis anos atrás em noite de chuva forte, Thomas estudava em seu pequeno quarto compartilhado. Assistia a um clássico filme mais velho que ele em seu laptop jogado a cama, o casal finalmente se reunia no terceiro ato e as lágrimas já ameaçavam fugir de seus olhos mas o vibrar de seu celular o forçou a engolir as gotas. O numero residencial desconhecido trazia uma voz masculina calma e um mau presságio, uma calma nascida da experiência,  hesitante com o formular de cada sentença e a influência de suas palavras.

—Boa noite, gostaria de contatar algum familiar de Katherine Del Roso.

—Boa noite, eu sou o irmão da mesma Thomas. Com quem falo?- o casal congelado a centímetros de um beijo.

— Thomas posso chamá-lo de Thom? Quantos anos tem rapaz eu preciso de um maior de idade responsável.

—Eu sou maior senhor, poderia por favor me informar com quem falo?

—Aqui é do hospital Cardoso Pereira, sua irmã está inconsciente e precisamos de um familiar próximo.

—Aconteceu algo com ela? ela está bem ?- O rapaz pega sua calça e camisa pendurada sobre a cabeceira trocando o pijama - Onde fica esse hospital?

—Calma rapaz ela está bem, só precisamos de você e seus pais aqui na rua presidente Gasteli numero 34, Campos- Algo estava errado a voz permanecia imutável mas havia algo, e Thomas nãos sabia o porque- Sabe chegar jovem?

— Com o trânsito noturno quarenta minutos no máximo- martelava a porta do quarto de sua mãe com pressa. Precisava chegar lá o quanto antes, sabia que ele propositalmente o deixou notar que estava mentindo- Mãe acorda e se arruma rápido.

—E Thomas, não esqueça seus documentos.

O cheiro forte de um frescor gelado e metálico que parecia impregnado nas paredes do hospital o deixava acuado, conseguia apenas lembrar de quando estava sentado sobre o colo de seu pai, o sorriso fraco e honesto em seu rosto, a bandana que começou a usar quando seu cabelo começou a cair e o tapa olho preto que usava para brincar  de pirata com Thom, o grande pirata acorrentado por um fino tubo de plástico. O enfermeiro os aguardava sentado brincando com um pequeno rapaz de braço engessado, ele possuía as características físicas de um protagonista de cinema de ação telugo barbeado com olhos cansados, sentando o jovem no balcão circular de atendimento ele pergunta com a mesma suavidade ‘’ Thom? Eu esperava que fosse mais alto, Lela a papelada da paciente Katherine por favor’’ repassando os papéis entregues ‘’ Não esqueçam a documentação que comprova a relação a paciente e peço sua paciência senhora tudo será explicado em minutos’’ disse interrompendo a mãe de Thom que beirava a histeria em preocupação. Ele andava a frente deles através dos  corredores, Thomas estava nervoso mas precisava se manter forte o enfermeiro o havia chamado mais cedo enquanto sua mãe assinava os papéis ‘’ Thom venha cá meu rapaz preciso te pedir uma coisa. Então eu preciso que mantenha a calma e seja forte, sua irmã está bem mas sua mãe parece bem preocupada e as coisas só vão piorar daqui para frente, algo não muito bom aconteceu e eu não posso lhe contar pois isso cabe a médica, ouça não estou lhe dizendo para ser uma pedra mas sua mãe vai precisar de suporte ok? Posso confiar em você? ok, não precisa nem falar você parece um bom rapaz’’. O enfermeiro para antes da esquina para o próximo corredor e segura as mãos da mãe entre as suas ‘’ minha senhora tenha paciência, apenas a médica pode lhe dar mais informações’’ eles viram e avançam até a senhora de cabelos cacheados com jaleco que os aguardava acompanhada de um volumoso policial.

—Obrigado por os Acompanhar Ajay, eu cuido deles a partir daqui- Ele acena se despedindo corredor a fora - Boa Noite madame, eu sou a Dr.Duarte responsável pela sua filha esse é o oficial Dulen que está acompanhando o caso dela.

—Caso? que caso? oque aconteceu com a minha filha?- ela já antecipava as lágrimas, sua voz falhava e lentamente cruzava a linha da histeria.

—Senhora sinto em lhe informar - o oficial segurava seu quepe sobre o peito- que sua filha foi violentada.

—Kat você vai fazer quatro meses- ele segurava as mãos da irmã sobre o colo- eu sei que já falamos sobre isso antes mas…

—Thomas eu já disse querido, a criança não tem culpa dos atos ‘’dele’’- ela olha a massa disforme no monitor do ultrassom, havia severidade e gentileza em sua voz-  toda vida merece uma chance e minha bôa essência passará para ela. Eu sei que está preocupado comigo mas posso pausar o período na faculdade por um ano, juntar dinheiro para os custos …

O silêncio, as lágrimas  desciam por seu rosto sobre o ombro do jovem, as palavras do enfermeiro o lembravam de ser forte, ele não queria o mal para criança mas sua irmã era jovem com um futuro brilhante. Ela não lembra do primeiro mês de choque com os terrores noturnos, a repulsa a homens, como entrou em pânico quando viu Thomas pela primeira vez após despertar.

Katherine sussurra entre soluços - Eu vou ficar bem Thomas, nós vamos ficar bem.

 

A última faixa do álbum tocava e a água escorria de suas mãos quase secas. A pequena clara tentava chamar sua atenção gritando por cima da música sobre a porta e puxando a perna da calça jeans das longas pernas do rapaz, ele a levanta pela axila esfrega o nariz em sua testa em um beijo de esquimó. -Desculpe Clarinha.


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