É o amor escrita por agheesi


Capítulo 1
Capítulo Único




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Tenten só pode estar brincando com a minha cara! Pleno sábado de manhã e a bonita me coloca aquela maldita música para tocar? Mesmo sabendo da minha total aversão pela mesma? Bufando, estico meu braço em direção à cabeceira da cama para verificar a hora. São 7 horas da manhã.

Você é minha doce amada, minha alegria, meu conto de fada, minha fantasia...”  Ouço-a cantar ao fundo da música e reviro os olhos. A contragosto, me levanto da cama, calço os chinelos e caminho em direção à cozinha do apartamento que dividíamos a uns 6 meses. Pude ver a caixa de som à qual Tenten conectara seu celular via bluetooth em cima do balcão da cozinha, enquanto Tenten preparava ovos mexidos.

— Que bicho te mordeu pra acordar tão cedo e, pior ainda, me acordar com esse inferno de música no nosso primeiro sábado de férias? – Questionei um tanto quanto rabugenta. Tenten apenas riu do meu mau humor.

— Ora, Tema, anime-se! Você sabe muito bem que dia é hoje!

— E como eu poderia esquecer com você falando disso o mês todo? Mas o Neji só chega à noite, não tem necessidade de acordar cedo!

É o amoooooor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assiiiiim— Foi a resposta de Tenten ao meu questionamento. Apenas revirei os olhos e me dirigi ao banheiro a fim de tomar banho antes de tomar o café da manhã.

Veja bem, esta maldita música que Tenten escutava e cantarolava tão alegremente me perseguia desde que cheguei ao Brasil. Sou do Japão e formada em Relações Internacionais e vim fazer minha pós-graduação em Ciências Políticas aqui no Brasil. Me mudei para cá ano passado e, a princípio, morava sozinha em outro apartamento, de apenas um quarto. Bem, a seis meses atrás Tenten – minha melhor amiga – me mandou a notícia de que havia conseguido passar em um programa de intercâmbio no qual recebera uma bolsa de estudos para cursar 1 ano no país de sua escolha. Ela acabou por escolher o Brasil apenas para ter um rosto conhecido em um país estranho. Totalmente estranho, diga-se de passagem, já que brasileiros não poderiam ser mais diferentes dos japoneses. Ah, e sim, falamos português, embora as vezes ainda seja difícil me situar com algumas gírias e expressões.

Pois bem, como eu estava dizendo, desde que cheguei ao país fui de certa forma perseguida por esta música. Mais especificamente, foi a primeira que ouvi assim que pus os pés na ala de desembarque do aeroporto, onde um grupo de amigos recepcionava alguém que acabara de chegar fazendo um coral da mesma. Foi o meu primeiro choque cultural quando cheguei ao país, já que muitas pessoas que por ali passavam, incluindo até mesmo os seguranças e funcionários do aeroporto, pareceram se empolgar com a cena e se juntaram ao coro. No meio de toda algazarra, surgiu uma menina em lágrimas que se ajoelhou para a que estava chegando de viagem pedindo-lhe em casamento. Mais lágrimas e as duas trocaram um beijo mega apaixonado. Eu não era muito acostumada a ver pessoas demonstrando afeto publicamente àquela época, acabei me acostumando depois de mais de 1 ano morando aqui.

Algumas semanas depois eu já havia esquecido completamente da mesma. Era uma sexta feira e eu estava saindo de uma de minhas aulas e caminhava em direção ao ponto de ônibus para ir para casa e estava acontecendo uma festa no estacionamento, o qual eu precisava cruzar para chegar no meu destino. No meio do caminho, reconheci a música que tocava na festa como sendo a que o grupo cantava quando cheguei no aeroporto na semana anterior. Dei uma risada da recordação, até que um grupo de amigos bêbados passou por mim cantando a música a plenos pulmões e, ao me avistarem, simplesmente me abraçaram e tentaram me arrastar para o meio da muvuca. Tentei resistir, mas além dos abraços fortes de 3 pessoas, quando eu me mexia acabavam derrubando cerveja em mim. Só consegui escapar quando a maldita música acabou e fugi para o ponto de ônibus antes que notassem que eu havia escapado. E minhas roupas estavam molhadas e fedendo a cerveja. Foi o suficiente para eu, então, criar birra com a canção.

Meses se passaram antes que eu a ouvisse novamente, que foi quando fui recepcionar Tenten no aeroporto quando ela chegou ao Brasil. Como ela moraria comigo, achei melhor ir busca-la. De lá, pedi um Uber de meu celular e o motorista colocou um CD da tal dupla que cantava a música que eu havia aprendido a abominar. Tenten estava gostando e parecia bastante empolgada em conhecer aquele novo gênero musical. Para minha total infelicidade, minha melhor amiga simplesmente se apaixonou pela música que eu mais detestava e passou a escutá-la com maior frequência do que eu gostaria.

Já fazia algum tempo que Tenten não a escutava. Pelo menos até agora. Soltei um longo suspiro e fui seguir para minha rotina, já que já estava acordada. Mas, apesar de qualquer coisa, estava feliz por ver Tenten daquele jeito, pois sabia o quanto ela ficara um tanto triste durante os meses que passou longe de Neji.

[...]

Estávamos no aeroporto observando os passageiros que saíam da ala de desembarque, à procura de Neji e, eu acabara de descobrir, Shikamaru. Aparentemente o rapaz havia conseguido passar no mesmo programa de bolsa estudantil que Tenten e iria cursar um ano de Economia aqui. Eu e Shikamaru eramos o que poderia se chamar de amigos ocasionais. Tendo amigos em comum (em especial Naruto, que é basicamente o único amigo do meu irmão), sempre acabávamos nos esbarrando por aí. Seja em bares ou festas dadas por qualquer um de nossos amigos.

De qualquer forma, desde a primeira vez que nos vimos, sempre acabávamos transando quando nos encontrávamos. Independente do nível de álcool, independente da ocasião, independente de local. Simplesmente acontecia, mesmo que a princípio eu não tivesse esta intenção. Nossas conversas sempre fluíam de forma agradável, até mesmo “no dia seguinte”. Depois disso, cada um seguia sua vida normalmente. Não mantínhamos qualquer tipo de contato até nos vermos novamente e retomarmos para este ciclo, mesmo que se passassem meses. E, por incrível que pareça, esta situação não me era incômoda. Tanto nosso afastamento quanto nossa conexão parecia ocorrer de maneira tão natural que nunca sequer liguei para o fato de não termos nenhum tipo de relacionamento.

Obviamente a coisa toda mudava de figura quando eu descobri que ele ficaria em meu apartamento durante esta semana. Eu já havia concordado em hospedar Neji durante suas férias e me preparado psicologicamente para ouvir ele e Tenten transando no quarto dela

— Desculpe, Tema, é que o contrato de aluguel que ele conseguiu aqui só começa a partir de semana que vem e ele já tinha comprado  a passagem...

— Tudo bem, você só podia ter me avisado antes. Aliás, não me parece do feitio do Shikamaru comprar passagem antes de ter um local certo para ficar.

— E realmente não é. Na realidade, ele já tinha fechado em outro local para chegar hoje, inclusive ele pagou esse mês adiantado do próprio bolso, já que a gente só começa a receber a bolsa de fato quando as aulas começam. Mas ontem a pessoa que iria alugar o local enviou uma mensagem para ele dizendo que tinha ocorrido algum acidente no local e transferiu o dinheiro de volta. Ele teve que procurar outro local em cima da hora, mas só conseguiu para semana que vem. – Tenteu deu de ombros e continuou. – Neji me ligou hoje cedo explicando a situação e eu ofereci para ele ficar lá em casa pelo menos essa semana.

— Isso não explica porque você só resolveu me contar isso agora que já estamos no aeroporto.

Tenten soltou uma leve risada constrangida antes de responder:

— Bem, achei que as chances de você dizer não seriam menores... E eu estava certa, não é?

Revirei os olhos e disse:

— Que tipo de pessoa insensível você acha que eu sou, afinal? É óbvio que eu aceitaria de qualquer forma.

— Bem, pelo menos você não vai precisar se preocupar em me ouvir transando, já que vai estar ocupada demais fazendo o mesmo. – Comentou minha amiga com uma risada maliciosa e eu senti meu rosto esquentar na hora, fazendo com que Tenten risse ainda mais. Resolvi simplesmente ignorar o comentário dela e voltei a prestar atenção nos passageiros que chegavam quando os dois finalmente apareceram.

Tenten os avistou poucos segundos depois de mim e pude ver seus olhos marejarem rapidamente antes que a mesma corresse em direção ao rapaz para abraçá-lo. Não pude evitar sentir um calor no peito com a cena dos dois e os olhares que trocavam.  

— Yo, Temari! – Shikamaru se aproximou de estendendo a mão em um leve aceno. Limitei-me a sorrir timidamente, ainda constrangida com o que Tenten havia dito. Sentia o rubor intensificar em minha face com o sorriso dele. Seu olhar se tornou preocupado repentinamente. – Você está bem? Você está vermelha, está com febre ou algo assim?

— Não é nada, eu estou bem! – Respondi soando um pouco mais grossa do que gostaria. Ele simplesmente deu de ombros. – Então, cadê o casal do momento? – Tentei desviar a atenção de mim e viramos o olhar na direção de nossos amigos, que pareciam conversar animadamente sobre algo. – OI DEZ-DEZ, PRECISAMOS IR PAA CASA! – gritei para chamar atenção de ambos. Tenten se virou de cara fechada à menção do apelido e pude ver Neji rindo do mesmo, bem como Shikamaru. Não demorou muito e finalmente estávamos no Táxi voltando para casa.

[...]

Estávamos sentados na sala conversando e atualizando uns aos outros sobre nossas vidas, já era madrugada e já havíamos ingerido certo nível de álcool. Tenten havia preparado uma ótima noite de “introdução à vida universitária brasileira” para os rapazes, o que basicamente quer dizer que ela comprou algumas garrafas de Catuaba e tentou fazer caipirinha para eles experimentarem. Além disso, colocara sua playlist de músicas favoritas para tocar. Felizmente eu já havia ingerido quantidade suficiente de álcool para não me importar com o que quer que estivesse tocando.

— Eu ainda não acredito que sua prima seja lésbica depois de tantos anos tendo aquela paixonite pelo Naruto! – Comentei com Neji após mais um gole do líquido de meu copo. Catuaba não era minha bebida favorita, mas era o que tinha à disposição no momento. Os outros três riram com meu comentário.

— Hinata e Sakura já estão juntas a algum tempo, estou surpreso que você ainda não soubesse disso. – Riu-se Shikamaru. – Se bem que você não tem nenhuma rede social, né? Já faz tempo que te procuro por todas e nunca te acho.

Apenas dei de ombros e tomei mais um gole, antes que as palavras dele formassem algum sentido em minha mente. Quando finalmente aconteceu, não pude evitar perguntar surpresa:

— Você me procurou? Quando?

Antes que Shikamaru pudesse responder, a maldita música que só pôde ter vindo do último inferno de Dante começou a tocar daquela playlist maluca de Tenten. Mas eu não estava preparada para a cena que veria: Shikamaru não só conhecia a música, como também sabia a letra da mesma. E, pior: estava neste exato momento se unindo a Tenten para cantá-la a plenos pulmões. Eu realmente não estava psicologicamente preparada para aquela cena. E, aparentemente, nem Neji, que os encarava com uma expressão mista de surpresa, horror e um leve divertimento. Após o choque inicial (e mais alguns goles de bebida), eu passei a me divertir com o que estava vendo e, logo em seguida, estava me unindo aos dois. Não me orgulho em dizer que eu também sabia aquela letra de cor.

[...]

Abri meus olhos e pisquei lentamente enquanto a luz do sol entrava através da janela do meu quarto. Xinguei-me mentalmente por ter esquecido de fechar as cortinas na noite anterior. Revirei na cama para esconder o rosto da claridade e acabei por encontrar Shikamaru nu ao meu lado. Suspirei ao recordar da noite anterior, me dando conta de que havia acontecido de novo.

Como eu havia dito, sempre que nos víamos, acabávamos transando. Acabamos nos beijando durante nossa performance alcoolizada de “É o amor” e vindo parar na minha cama depois de Tenten gritar um “arrumem um quarto!” e eu não ia deixar de seguir o conselho da minha melhor amiga, não é mesmo?

A situação não era estranha de forma alguma, depois de ter acontecido com certa frequência. Aninhei-me em seu peito e o senti me abraçar de forma protetora. Como todas as vezes, aquele abraço me fez sentir segura de forma que eu nunca senti com qualquer outro homem com quem tivesse passado a noite – não que fossem muitos, afinal. Quando estava com Shikamaru, eu me sentia de certa forma completa, como se pertencesse àquele lugar.

— Da primeira vez que nos vimos. – Ouvi a voz rouca de Shikamaru um pouco acima de mim. Levantei um pouco a cabeça para encará-lo, sem entender muito bem do que ele estava falando. Ao perceber a confusão em meu olhar, ele explicou:

— Ontem você me perguntou quando eu te procurei pelas redes sociais e acabei de me dar conta de que não te respondi.

Assenti com a cabeça, sem saber muito bem o que responder ou sequer pensar e sentir com aquela revelação.

— Por que nunca mantemos contato? – perguntei. Meu tom não era de forma alguma acusatório, era apenas curiosidade. Pode-se dizer que até certo ponto era uma pergunta retórica. Shikamaru apenas deu de ombros, pois, assim como eu, ele não tinha aquela resposta.

Passamos mais alguns minutos em silêncio, antes que Shikamaru falasse:

— Sabe, eu nunca tive coragem de pedir seu número. E, como você não está na internet, eu sempre acabei deixando pro destino resolver isso e esperava a próxima vez que nos encontraríamos. Mas daí você resolveu vir estudar no Brasil e eu meio que resolvi dar um empurrão para o destino voltar a agir em meu favor.

Pisquei aturdida com aquela revelação. Eu não soube o que responder e podia ouvir seus batimentos cardíacos acelerarem em seu peito.

— Por que você faria algo assim por mim? – Perguntei, ainda sem entender direito o real significado por detrás daquelas palavras.

— Bem, o que eu posso dizer? Eu sou o seu apaixonado de alma transparente, um louco alucinado meio inconsequente, um caso complicado de se entender... – Ele começou a cantar. Eu comecei a rir e, sem pensar muito, continuei cantando com ele.

É o amor

Que mexe com minha cabeça

E me deixa assim

Que faz eu pensar em você esquecer de mim

Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver”

Ok, talvez eu não estivesse mais odiando essa música tanto assim.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Ok, a história não saiu lá bem como eu queria e estou postando com alguns minutos de atraso.
Já tem quase uns 10 anos que não escrevo fanfics (ou qualquer coisa não acadêmica)e estou tentando retornar aos poucos. Espero de verdade que tenham gostado e deixem reviews com suas críticas e opiniões.