Bubbly escrita por Ryoka chan


Capítulo 9
Crush




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Falta de ar; aperto no peito; corpo quente, mas ao mesmo tempo frio; e o seu coração batia tão rápido como se fosse explodir. Era como se fosse morrer, pelo menos essa era a sensação. Toda vez que o via, pensava nele, sentia esse turbilhão de emoções tomar o seu controle.

No início, achou que não era nada demais, provavelmente só estava preocupado com algo. No entanto, isso continuou. E piorou.

Toda vez que o encontrava, uma cachoeira de sentimentos transbordava em seu peito sem parar, simplesmente não sabia o que fazer com ela. Simplesmente, não sabia o que fazer quando via aquele sorriso sutil, o queixo afiado, aquelas sobrancelhas grossas e... aquele corte de cabelo ridiculamente fofo. Ele estava completamente hipnotizado por cada olhar, cada movimento... Seu coração ficava como uma bomba relógio em seu peito, parecendo que iria explodir a qualquer momento.

É por isso que não deveria ser mais segredo que adorava enfiar os dedos nos fios pretos e macios. O melhor momento para fazê-lo era quando Keith estava sonolento; este apenas suspirava no instante em que acariciava suas finas mechas.

O tempo aparentava passar devagar, porém nunca era o suficiente. Preferia ficar o dia inteiro daquele jeito, somente observando o outro se desvanecer de seu sono, sem ter que lidar com suas mãos suando pelo seu nervosismo, exatamente como agora.

Eles caminhavam para a cafeteria, do mesmo modo que faziam toda manhã por alguns meses. Antes de perceber seus sentimentos, Lance faria piada com algo, os dois riram. Perfeito. Contudo, agora não conseguia fazer isso. Sua concentração estava voltada a se controlar para não dizer besteiras. Da última vez, quase se declarou. Estavam conversando sobre um assunto aleatório e de repente Lance disse: ‘’eu amo... banana! Haha! Elas são muito saudáveis. Você gosta?’’ Foi a conversa mais estranha que já teve em sua vida. Esperava que Keith esquecesse disso.

Isso tudo só era diferente para Lance. Quando gostava de alguém, era só usar umas das suas infalíveis cantadas e esperar por um não ou sim. Fácil.

Exceto com Keith.

Lance não poderia simplesmente cantá-lo. Era Keith. Misterioso, introspectivo, mas amável, apaixonante... Ninguém havia se preocupado tanto com ele em sua vida (caso não contasse com sua mãe). Era impossível esquecer daquele abraço, do cheiro sutil de shampoo de seu cabelo e dos braços firmes envolvidos em suas costas. Ele guardaria esse momento para sempre.

Suspirou e bagunçou os cabelos. Teria que acalmar seus pensamentos, senão sofreria um acidente.

Quando Lance lutava com suas emoções, o mundo afora parecia mudo ou como não existisse. Mal podia perceber os transeuntes andando na calçada, o barulho dos carros e as pessoas falando. Apenas ele mesmo e a presença marcante de Keith ao seu lado.

O dia estava ensolarado e a única coisa que Lance podia fazer era admirar os raios incidirem no rosto do amigo. Era uma visão e tanta.

— Lance, você está bem? — Keith o olhou com aqueles olhos grandes e preocupados. Não seria exagero compará-los a de um cachorrinho.

— Eu?! Pff!! Estou ótimo, perfeito!! Por que estaria mal?! — Tentou rir normalmente, mas tudo que saiu foi um riso agudo.

— Cuidado! — Keith avisou.

— O que? — Lance perguntou antes de perceber que tropeçaria num degrau. Ele se preparou para o impacto e fechou os olhos. Entretanto, não veio. Somente sentiu uma mão em seu braço, puxando-o.

— Você está bem? — Keith indagou, franzindo os cenhos quase numa expressão de dor, genuinamente preocupado.

— Eu... Acho que sim. — Lance ficou quase paralisado. Foi tudo tão rápido. — Quem coloca um degrau na calçada?

— Não sei. Talvez um mau engenheiro. — Keith deu uma risadinha. — Mas, sério, preste mais atenção.

Ele não parecia zangado, mas apreensivo, como se realmente importasse com o amigo.

— Awwwn, preocupado comigo? — Lance sorriu. Talvez uma brincadeira fosse a chave para acabar com o clima estranho entre eles. — Fica tranquilo, você me salvou, samurai.

— Ahn?! O que?! Não! Quer dizer. Sim?! — Keith gaguejou e virou o rosto para o lado oposto, desviando o olhar.

Tudo bem. Agora, Lance estava surpreso. Isso vem acontecendo de há algumas semanas. Às vezes, Keith ficava envergonhado com algumas das brincadeiras que fazia. Lance só não conhecia o porquê. Portanto, restou somente duas opções:

Apreciar o quão fofo Keith era ou enlouquecer porque não sabia o que fazer para resolver a situação.

Lance fez os dois.

Estava cada vez mais difícil suportar Keith e aquele estúpido e lindo ‘’mullet.’’

Logo, adentraram a cafeteria, encontrando-se com Hunk e Pidge, o quais estavam sentados no lugar habitual. Keith preparava-se para fazer o pedido, porém Lance o interrompeu.

— Senta lá, eu peço. — Disse e tocou rapidamente o ombro de Keith antes de ir.

Lance era um romântico irremediável, era difícil de segurar a vontade de mimar todos que gostava, ainda que inconscientemente. Isso valia para pequenas ações como aquela ou até mesmo um pedido de casamento num cruzeiro cinco estrelas. Tudo bem. O último era impossível, ele era pobre e também não podia arriscar tudo com Keith, este, provavelmente, não se sentiria da mesma forma que ele. Esse último pensamento o fez ter calafrios, mas ignorou.

As bebidas ficaram prontas e Lance já retornava para a mesa onde seus amigos se situavam.

— Café preto para o esquentadinho e frappuccino mocha para mim! — Lance anunciou e colocou os copos na mesa. Keith bufou.

— Obrigado. — Keith agradeceu e Lance sentou-se ao seu lado.

— Bom, pessoal. Eu e Pidge estávamos conversando em sair para comer algo amanhã. — Hunk informou-lhes. — Ahh! Saudades de sair com vocês!

— Pois é, finalmente, as finais acabaram! Estou livre! — Pidge comemorou. Era possível ver sua exaustão, havia olheira bem marcadas em sua face.

— Quem diria que o pequeno gêninho teria problemas com a faculdade. — Lance sorriu maliciosamente.

— Os professores são loucos! — Pidge exclamou. — Tenho meu próprio ritmo para fazer as tarefas, porém o ritmo deles é trezentas provas e mil seminários por semana! É um hospício!

— Nem me fale, não quero voltar a essa época, ainda bem que eu e Hunk já formamos. — Lance passou mão na testa como se estivesse tendo uma terrível dor de cabeça.

— E você, Keith? Formou em quê? Espere, deixe eu pensar. No curso para ‘’killjoys’’*? — Pidge perguntou, seus olhos cor de mel brilhavam num tom brincalhão.

— Eu... nunca fui para a faculdade. — Keith cruzou os braços. Ele estava nervoso, Lance percebeu. O amigo sempre fazia isso quando sentia que algo o ameaçava.

— Bem... Algumas pessoas não vão mesmo, mas ainda acho que você se daria muito bem no curso para ‘’killjoys’’. — Pidge brincou e riu.

— É e não tem nenhum problema com isso. — Hunk garantiu.

— Uhum e eu tenho certeza que se fizesse, passaria em qualquer um curso, você aprende rápido. — Lance pousou a mão no ombro de Keith, confortando-o.

O amigo o fitou daquele jeito que apenas ele sabia fazer. Lance segurou a respiração sem perceber. Keith deveria parar de tentar matá-lo. Um dia isso aconteceria de verdade.

O começo da sua relação com Keith não foi a das melhores, Lance admitia que havia agido de modo estúpido. Ele só ficara extremamente irritado que esse idiota com boa aparência nem percebera a sua presença. É. Talvez ele era pior que Keith quando se tratava de reconhecer sentimentos.

— Mas, tenho certeza que você se daria melhor no curso de firebreathers** fanáticos. — Lance limpou a garganta e continuou com um sorriso no rosto.

— Ei! — Keith o cotovelou.

— Ai! Calma aí, irritadinho. É somente a verdade. — Lance riu.

— Totalmente. — Pidge concordou.

Hunk gargalhou, contagiando todos, com exceção de Keith, que franzia o cenho, aparentando sentir-se traído.

***

Dessa vez, escolheram um restaurante italiano. A fachada era exatamente como um restaurante comum na Itália deveria parecer. Fachada simples, as paredes de cor laranja, contrastando com o bege do toldo de lona, onde o logo do estabelecimento se localizava.

A dupla, Keith e Lance, chegaram primeiro, portanto, escolheram as mesas, as quais estavam forradas por um tolhas de mesa quadriculada nas cores azul e vermelho; e esperaram os outros. Enquanto isso, Lance fazia seu melhor para agir normalmente, seja brincando com o amigo ou discutindo sobre alguma coisa aleatória.

Keith era impossível de se ignorar. Como um ser podia ser tão... perfeito? Claro que ele tinha defeitos, mas Lance os amava também, por mais que o irritasse. Era Keith, afinal.

Ele era o tipo de pessoa que olhava no fundo dos olhos enquanto conversavam. Aqueles olhos violetas o encaravam e então seu coração começou a disparar. Lance não conseguia mais agir normalmente, ele não sabia o que fazer. Queria falar com Keith normalmente, conversar sobre besteiras sem que sua voz tremesse, seu estômago revirasse, abraçá-lo sem que o cheiro dele o inebriasse e o corpo gelasse. Todavia, era impossível.

Ele nunca esteve tão fora de si. Era impossível resistir aos lábios presos numa linha curvilínea no rosto do amigo, este parecia desfrutar de sua comida com gosto, pois o sorriso não se desvanecia. Lance o encarou até que se derretesse e sorrisse também.

Depois de alguns minutos, Keith foi ao banheiro, deixando o amigo respirar corretamente pelo menos alguns segundos.

— Lancey Lance! O que você vai fazer?! — Falou consigo mesmo. — Será que ouvir ‘’Sexyback’’ vai me acalmar? Ah não! Não trouxe o celular! Estou perdido!

— Falando sozinho? — Pidge apareceu e sentou numa cadeira, Hunk estava ao seu lado e fez o mesmo.

— O que foi, cara? — Hunk indagou.

— Nada, só... Keith...

— Que tem?

— Ele... Por que ele tem que assim?! — Lance levantou os braços.

— Ué, pensei que estavam se dando bem. — Hunk falou.

— Estamos, bem até demais.

— Então, qual é o problema? — Pidge parou de ler o cardápio para se enturmar na conversa.

— Isso é horrível! Ele tem uma risadinha tão fofa, sua voz é tão suave, até mesmo seu cabelo ridículo é bonito... — Lance sufocou um grito em seu braço, parecendo estar à beira de um ataque.

— Uh, oh! — Hunk espantou-se.

— Que foi, Hunk? — Lance indagou, desconfiado.

— Nada, só... É isso que estou pensando?

— O que você está pensando?

— Uma coisa, você está pensando que estou pensando?

— Hunk!

— Você gost...

— Acho... quer dizer, sim. — Lance suspirou.

— Gente, podem me dizer que está acontecendo?! Não estou entendendo nada! — Pidge reclamou.

— Lance gosta do Keith.

— O que?!! Lance gosta do Keith!!

— Cala boca!! Você quer que ele escute?!! — Lance repreendeu.

— Meu amado. Como isso é possível? — Agora, Pidge que estava tendo um ataque. — Eu não percebi!

— Cara, daqui uns meses para cá, eles apenas andam juntos. — Hunk deu tapinhas no ombro de Pidge.

— Não contem! Por favor! Ele, provavelmente, nem se sente do mesmo jeito... — Lance observou o chão, evitando contato visual com seus amigos.

— Cara, sinceramente, não acho isso, mas não vamos contar. — Hunk garantiu. — Mas penso que você deveria contar para ele.

— O que! Não, nunca!

— Olha, por mais que vocês dois sejam totais idiotas, tenho certeza que Keith não ignoraria o que você sente.

— É e estamos aqui para qualquer coisa. — Hunk afirmou.

— Pessoal... — Lance fungou e limpou uma lágrima no canto do olho.

— Awwn, vem cá! — Hunk se aproximou do amigo, tentando abraçá-lo, desajeitadamente, pois havia um móvel no meio deles. — Vem, Pidge!

E assim, tiveram o melhor-pior abraço de todos.

***

O dia seguiu-se. O céu começou a alaranjar-se, simbolizando o início da tarde. Nesta ocasião, ninguém tentou convencer que era aniversário de alguém para ganhar bolo grátis, porém, Lance usara Pidge para escolher um prato do cardápio infantil.

Hunk e Pidge foram os primeiros a irem embora, restando Lance e Keith, que após pedirem uma sobremesa (Lance insistira que teriam que experimentar o tiramisù), estavam prontos para irem embora do local.

A dupla parou em frente à porta, prontos para sair, mas então, Lance disse:

— Cara, está chovendo.

— Sério? Nem está nublado.

— Sim, olhe só.

Keith observou com mais cuidado e notou os pingos de chuva cristalinos caindo no concreto.

— Vamos esperar. — Keith decidiu.

— Ah, não! Nem está forte! — Lance contestou, olhando-o com incredulidade.

— Molhará minha roupa do mesmo jeito.

— Sinta esse cheiro! Ah! — Ignorou o outro e respirou profundamente, aproveitando o aroma da chuva.

— Se quiser se molhar, vá em frente. — Keith cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas.

— Muito bem, fresco, estou indo! — E ele o fez.

Lance abriu os braços e rodopiou. Chuva era realmente a melhor coisa mundo. Trazia-lhe boas lembranças. Lembrou-se que adorava senti-la quando criança. Era só ouvir o som dos pingos quer corria para fora para se molhar. A única parte ruim era quando sua mãe aparecia correndo atrás dele.

— Com medo? — Lance sorriu, provocativo.

— Muito. — Keith tentou ficar emburrado, mas não conseguiu esconder o sorriso.

— Ah, vamos, relaxe! Não posso sentir isso por você!*** — Seu sorriso alargou-se.

Por um momento Keith considerou. Fez uma careta e um beicinho, e andou em direção ao amigo.

— Viu só, não é tão ru- — Lance não completou a frase.

Keith colocou a mão em sua face e a acariciou antes de aproximar a boca na sua, como se esperasse uma permissão. Lance respirou fundo e avançou, experimentando pela primeira vez a maciez dos lábios do outro.


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Notas finais do capítulo

* Killjoys são fãs de My Chemical Romance;
** Firebreathers são fãs de Imagine Dragons;
*** Referência à música Unwritten da Natalia Bedingfield.



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