Bubbly escrita por Ryoka chan


Capítulo 7
I'm a Little Bit Lost Without You




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O Sol saudou o céu, seus raios amarelos eram como dedos impetuosos, mas amáveis, acariciando a imensa lona azul vibrante.

Seus feixes luminosos, atravessavam vigorosamente os vidros das janelas dos moradores, acordando-os para o novo amanhecer.

Keith levantou-se do seu sofá tranquilamente, pés cambaleantes, sem revestimento, faziam poucos ruídos no chão.

Toda vez que ele acordava em sua casa se sentia um pouco estranho. Talvez desapontado. Na sua sala não havia copos coloridos, nem retratos de pessoas contente em sua cozinha. Seu apartamento era minimalista. Havia apenas o necessário para sua vivência. Keith gostou, era prático. No entanto, a cada dia que passava, tudo parecia... vazio. Sem nenhum significado.

Nada era sem significado para Lance. Mesmo os papéis de paredes de sua casa eram escolhidos cuidadosamente. Quando ele via algo que gostava, simplesmente sorria e falava até se cansar. Era cativante.

Keith podia pensar sobre isso o dia inteiro, em como Lance se importava os outros, em como ele sabia conversar e era amigável. Desde o começo ele conquistou todos os clientes assíduos da cafeteria, sabia os nomes deles sem ter necessidade de pergunta-los. Enquanto, Keith, nem sabia que alguns existiam até que falassem com ele.

Pensando nisso, ele saiu do local, indo diretamente para seu principal destino nas primeiras horas de seu dia. A rua estava tranquila como sempre, poucas pessoas andando nas lisas ruas, carros passando calmamente e árvores brilhando sob o Sol.

Logo, já estava entrando naquele lugar tranquilo e familiar. Café e açúcar eram os aromas característicos da cafeteria. Isso o deixava quente e acolhido, principalmente porque seus amigos estariam lá. Se fosse no passado, ele não se importaria. Pessoas vem e vão, então por que ligar? No entanto, hoje, parecia diferente. Algo mudou... ou talvez ele que havia mudado.

Aproximou-se calmamente da mesa que se encontrava com seus amigos. Sua postura relaxada ficou um pouco tensa quando percebeu que certa pessoa não estava presente.

— Oi, pessoal... — Keith perguntou, sentando-se entre Pidge e Hunk. — Onde Lance está?

— Oi, Keith! Ele foi numa reunião. — Hunk sorriu gentilmente e lhe informou.

— É, da editora. — Pidge continuou.

— Não se preocupe, amanhã ele volta. — O sorriso de Hunk se alargou. Havia algo de estranho nele, mas Keith não conseguiu identificar o que era.

Keith apenas pediu café preto como sempre, assim como Hunk escolheu café com leite e chantili, e Pidge macchiato. Caso Lance estivesse com eles, pediria um frapucchino mocha, tão doce como parecia, daria a impressão de ter diabetes só de olhar. Provavelmente viria com muita espuma e faria com que se formasse um bigode de leite próximo à boca de Lance e, sem dúvidas, Keith arranjaria algum jeito de fazer piada disso.

— Aconteceu algo engraçado, Keith? — Pidge perguntou após dar um gole de sua bebida.

— Hã? — Quase levantou da cadeira, surpreso, como se pensasse que só ele naquele momento.

— Ué, é que você estava rindo do nada.

— Eu ri? — Inclinou a cabeça para o lado e franziu as sobrancelhas.

Pidge deu um olhar desconfiado e voltou a beber o café. O dia seguiu como todos os outros. Depois do café da manhã, encontrou-se com Hunk na oficina para trabalho.

Às vezes, acontecia de certos clientes se importarem mais com a velocidade ou segurança do veículo do que a aparência, como aconteceu com o pedido que Keith havia pegado. Embora, odiasse muita interferência no seu trabalho, muita liberdade podia se tornar problemática. Contudo, hoje, parecia mais fácil.

Escolheu um azul metálico para pintar as peças de ferro, o resto da motocicleta se manteria prata, polida, é claro, que contrastaria com o colorido. Entre os guidões, haveria um farol médio e redondo.

No momento, fazia o acabamento da pintura; apesar de se divertir, ao lembrar de Lance, ficou irritado. Ele não contara que teria uma reunião anteontem. Keith pensou que estavam próximos o suficiente para que contasse coisas simples como essa. Não era justo.

Enquanto estava imerso em seus pensamentos, pressionou o spray mais forte que o normal, estragando a estrutura uniforme da pintura.

— Ótimo! — Grunhiu.

— Está tudo bem aí? — Hunk perguntou.

— É... Sim. — Suspirou.

— Tem certeza? Parece fora do ar hoje. — O colega aproximou-se dele e o olhou com preocupação.

— Certeza, não se preocupe.

— Bom, já é quase de tarde, poderia comprar alguns donuts?

— Claro. — Keith aceitou. Talvez seria bom tomar um ar.

                                             ***

Não muito longe da oficina, havia uma loja, onde compravam donuts de vez em quando. Era semelhante a qualquer loja de doces normal. Pisos brancos, vitrines repletas de sobremesas convidativas e um espaço para os clientes degustarem a comida.

Keith escolhera o favorito de Hunk, o qual era de cobertura de baunilha. Para si, escolheu um comum, somente polvilhado com açúcar de confeiteiro. Enquanto dizia o pedido para o atendente, notou alguns com cobertura azul e granulados coloridos e lembrou-se que a cor favorita de Lance é azul. Ele não pode deixar de se perguntar se Lance gostaria de um.

Os donuts foram colocados numa caixa branca quadrada e entregue para Keith.

Assim que saiu do local, percebeu que nuvens cinzas se formavam no céu e finas gotas de chuva caíam e molhavam sua roupa. Ele andou mais rápido para não se molhar mais. Detestaria ter que lidar com água esparramando em seu calçado, porque certos motoristas adoravam correr no momento em que chovia. Esse era um dos motivos para preferir que chovesse somente quando estivesse dentro de casa. Contudo, não diria o mesmo de Lance.

O amigo adorava a chuva, mesmo que suas roupas encharcassem. Lance adorava o som dos pingos de chuva caindo no solo e também o seu cheiro (Pidge o repreenderia por dizer ‘’cheiro de chuva’’, pois era na verdade cheiro de bactérias, pelo menos isso era o que havia entendido).

Keith estendeu a mão, sentiu a água cair na sua palma e suspirou. Será que Lance demoraria para voltar?

***

Eis que uma nova manhã se inicia. Keith se dirige para a cafeteria, porém Lance permanecia ausente, para sua infelicidade.

— Keith, você está bem? — Pidge perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Sim, por quê? — Bufou.

— Se está tudo bem mesmo, pode por favor parar de bater o pé? Está fazendo isso desde que chegou aqui. — Pidge pediu antes de voltar a atenção para os papéis, que eram o material da próxima aula, em cima da mesa.

Keith franziu o cenho e olhou para baixo da mesa, reparando que seu pé estava mesmo fazendo ruídos irritantes. Ele parou, cruzou os braços e fitou a parede ao lado.

— Cara, fique calmo. — Hunk pediu.

— Estou normal. — Respondeu. O amigo decidiu não discutir.

De súbito, o sino da porta tocou, indicando que alguém estava adentrando o local. O grupo direcionou o olhar para entrada e viram uma pessoa conhecida.

— E aí, gente?! — Lance cumprimentou com seu sorriso característico, que não deixava de ser menos belo.

— Lance! — Keith exclamou e curvou os lábios o suficiente para ver seus dentes. Era raro que Keith sorrisse daquele jeito e isso chamou a atenção de Lance.

— Oi, Keith. — Lane esfregou o pescoço, exatamente como fazia quando estava embaraçado. Sua face vermelha evidenciava a hipótese.

— Oi, cara! — Hunk disse e levantou-se para abraçar o amigo, o qual retribuiu a ação com afeto.

— E aí! — Pidge sorriu, esperando que os dois amigos se acomodassem nas cadeiras. Lance sentou-se próximo a Keith como sempre fazia, assim o como Hunk ficou perto de Pidge. — Como foi a reunião?

— Boa, deu tudo certo. — Lance respirou fundo e se recompôs. — E você está falando com o editor mais requisitado do momento. Pode me chamar de Doutor Lance. — Colocou o polegar embaixo do queixo, o indicador na bochecha e sorriu.

— É mesmo? Cadê seu doutorado? — Sorriu maliciosamente.

— Piiidge! É só um nome legal! — Lance fez biquinho.

— Não se preocupe, cara, tenho que certeza que vai conseguir um. — Hunk cerrou os punhos em frente ao peito e olhou determinado.

— Obrigado, Hunk, sinto que só posso confiar em você. — Limpou lágrimas imaginárias.

Keith só pôde rir do momento. É claro, não duvidava das capacidades de Lance, mas o parceiro era tão rei do drama que era impossível ficar sério. Ele estava realmente feliz que Lance havia voltado.

***

Os dias passaram-se e as sessões de documentários e filmes ficaram mais frequentes. Lance conversava sobre os novos filmes que seriam lançados e perguntava casualmente se Keith queria assistir. Simplesmente aconteceu, tornou-se um passatempo dos dois.

Depois que decidiram ver mais que conspirações, Lance estava lutando arduamente para que fizessem maratonas de séries. Na primeira vez que Keith ouviu o termo, pensou que era uma competição onde as séries corriam numa pista.

Assim como os encontros, as vezes que adormeciam no sofá se tornou comum. O móvel era mediano, mas desconfortável para duas pessoas. O pior era acordar alguma hora da noite e perceber que o pé de Lance estava no seu rosto. Ver o rosto sereno de Lance era único ponto positivo da situação.

O que deixava Keith realmente irritado, entretanto, ao mesmo tempo feliz era que Lance sempre insistia em fazer café da manhã. ‘’ Você é o convidado’’, ele dizia. Sem conseguir fazer com que mudasse de ideia, Keith passou a fazer compras, pois sentiu que não era justo que Lance fizesse tudo isso por ele só porque era um convidado.

— Keith, precisa de ajuda com os ovos? — Lance perguntou enquanto cortava os bacos na pia.

— Não, estou bem.

— Tem certeza? Lembra o que aconteceu na última vez? — Um sorriso travesso se formou no rosto dele.

— Sim, eu lembro! Você me distraiu! — Rosnou.

— Eu só disse que queria cortar seu cabelo! — Respondeu como se fosse nada demais. Keith só bufou em resposta.

E dessa forma que eram os dias com Lance.

Após terminarem de cozinhar, sentaram-se perto da bancada que dividia a cozinha e começaram a comer.

Mesmo que os dois tenham cozinhado juntos, Keith ainda sentia que a comida era de Lance, porque havia um gosto diferente, que o deixava quente e feliz, como se pertencesse a um lugar.

Lance foi o primeiro a se levantar e ir lavar a louça. Enquanto Keith comia, ouviu o som da voz de Lance. Ele estava cantando mais uma vez. E Keith não podia deixar apreciar os timbres melódicos que saíam de sua boca. Cada vez que Lance cantava era como que se o verão chegara. Quente e refrescante.

Keith observou a silhueta magra, a qual exibia ombro largos de quem fizera anos de natação; Lance contara que costumava fazer quando vivia em sua cidade natal. Keith venderia sua alma para vê-lo nadar nas praias de Cuba, as quais Lance havia descrito como mais azuis impossível.

Ele sorriu e continuou observando a figura em sua frente. Então, finalmente, ele percebeu.


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