— Irmão, creio que uma presença está perto de abandonar sua dormência.

A voz não tinha corpo, era apenas uma onda sonora em um vácuo.

— Pode ser ele? – disse uma outra voz, com um tom de preocupação.

— Desconfio que talvez seja.

— Então a hora finalmente chegou. Creio que seu filho ainda não está preparado para liderar o batalhão que dará fim à nosso ex-amigo e fonte do caos, Xanadus. Shanon, pretendo guia-lo neste tempo que ainda nos resta.

— Faça o que achar preciso, Space. – respondeu Shanon, demonstrando confiança em seu irmão.

— Preciso assumir um novo corpo, mas ainda não o escolhi com exatidão.

— Por que não o cria, baseando-se em alguém?

— Não costuma ser nosso modus operandi, Shanon. – Space mostrou-se desconfiado com a sugestão.

— Lorion já não existe, Space, a possessão de corpos literalmente matará seu hospedeiro.

— Então o que sugere?

— Tente basear-se em um mobiano.

— Um mobiano? A raça equidna está extinta, irmão, inexiste alguém que os humanos não tratem com hostilidade.

— Mobius já não é como da última vez que nós fizemos uma visita. Outras espécies surgiram, a interação mudou, e existe idolatria por um espécime.

— Por acaso é um ser divino? – Space mostrou-se irônico.

— Não. É um jovem velocista, um ouriço.

— Um velocista?

— Sim, tão rápido que ultrapassa a barreira do som.

— Deveria basear-me no jovem?

— Em um de seus companheiros. É a primeira vez em milênios que vejo uma habilidade como o Chronos Control sendo usada com maestria. Também é um ouriço, prata, reluzente como o próprio mineral.

— Interessante. Não imaginaria que um mestre do tempo apareceria em Mobius depois da morte de Koluptor. Pois bem, vou projetar-me astralmente e começar o processo. Alerte seu filho, seguiremos à Mobius em pouco tempo.

— Tudo bem irmão. Por favor, diga à Showdom que seu pai também o acompanhará nesta jornada.

— Adeus, Shanon.

— Adeus, Space.

Mobius, Green Hill.

— Olha, eu já vi gente ruim, mas você é o pior que já vi! – Sonic caçoava Silver, que visivelmente não tinha intimidade com o jogo.

Sonic, Silver, Tails e Knuckles estavam jogando vôlei em uma pequena área perto de um imenso laboratório. Green Hill tinha um clima bastante agradável durante o verão, a maioria das pessoas costuma visitar a região para realizar piqueniques, praticar esportes ou simplesmente passear pela paisagem incrivelmente verde, como um campo banhado por esmeraldas. Quanto à partida em si, Sonic e Knuckles estavam ganhando de lavada da dupla formada pelo ouriço prateado e pelo filhote de raposa. Tails, porém não se deixava levar pelas provocações e tentava levantar o ânimo do seu companheiro:

— Qual é Silver, ainda não acabou. Eu sei que você consegue, pelo menos uma jogada!

— Tails, está 23 a 5. – Silver claramente tentava quebrar o clima mostrando o quão ruim era a situação dos dois.

— Enquanto eu estiver de pé, enquanto ainda estiver respirando, enquanto EU acreditar, nós podemos ganhar! – Tails fez uma posição heroica enquanto proferia o discurso.

Knuckles não se conteve e riu alto.

— Cara, essa é a melhor coisa que vi hoje. O Tails deve ter se preparado a manhã inteira pra esse discurso.

— Pelo menos o Tails treinou pra alguma coisa, já o Silver... – disse Sonic, sarcástico como sempre.

Tails desabou-se. Já Silver, preparava-se para sacar, cuja incrível marca de um acerto estava pesando até mesmo nele, que desde o princípio esteve contrariado em jogar.

— Vamos lá, pelo menos mais uma vez. Eu não posso ser tão inútil assim.— Pensou o garoto do tempo.

Silver respirou fundo, fitou em Sonic, que o havia provocado durante todo o jogo e sacou. A bola ganhou uma velocidade espetacular e foi na direção de Knuckles. O equidna apenas teve tempo de levantar uma das mãos, socando a bola pra fora. Tails pulou de alegria:

— Que pontaço! Eu te disse, Silver! Eu te disse!

— É, Tails, você tem dom de inspirar as pessoas. – Silver estava com um sorriso no rosto, até mesmo ele tinha se impressionado.

— CORTA! Desculpe, mas parou com essa cena toda aí. Alguém vai ter que buscar a bola. – Sonic olhou rapidamente para Silver quando disse “alguém”.

— É, nosso menino de ouro tem que mostrar que é bom em tudo! – Knuckles entrou na onda do ouriço azul.

— Silver, não precisa, eu vou até lá e...

— Nananinanão Tails, buscar a bola é uma coisa que só o menino de ouro dos meninos de ouro faz, é uma coisa importantíssima. – Sonic conteve o ato de amizade da pequena raposa.

— Vai se ferrar. – Silver dirigiu-se até a outra parte do campo, em meio a alguns arbustos, fora do campo de visão dos seus amigos, que gargalhavam alto, com a óbvia exceção de Tails, que apenas ficou de cabeça baixa.

Silver pegou a bola, quando avistou uma imagem, não uma imagem comum, uma bela imagem: o Sol se pondo. Há tempos que não parava para admirá-lo, mesmo com os tempos de calmaria após o desaparecimento de Eggman. Ficou como uma estátua vendo o Sol até que escutou ao fundo outra provocação. Suspirou e iria começar a voltar, até que algo estranho ocorreu: seu corpo ficou paralisado. Silver tentou se mexer, mas não conseguia, seus esforços eram simplesmente inúteis.

— Droga! Mas o que será isso? Será que é um truque daqueles dois idiotas? Não, eles não podem paralisar as pessoas. Será que é Shadow? Hmm, talvez seja ele.

— Acalme-se jovem, não sou quem pensa e muito menos quem menos espera.— Uma voz séria e serena ecoava na mente de Silver.

— Isso não faz sentido. Quem é você? O que faz aqui? O que quer de mim?

— Tente não se desesperar, isto só vai levar um pouco de tempo.

— Desapareça!

Silver tentou de todas as maneiras usar seus poderes. Porém, mesmo poderes mentais não surtiam efeito. Olhou em sua volta, tudo estava parado, tudo. Concluiu:

— Então ele controla o tempo. Bem, isso não é novo pra mim. Basta eu usar o Chronos Contr...

— Garoto, sei que você tem um controle considerável sobre o tempo, sei que usa o Chronos Control muito bem, e também sei quando alguém está muito nervoso. O correto seria usar o Chaos Control, mas mesmo esta técnica não surtirá efeito. Por isso, peço-lhe mais uma vez que acalme-se, vou lhe responder tudo o que te assombra em poucos segundos.

— Isso é mentira.

A voz não respondeu a pergunta. Por alguns milésimos, houve silêncio. Até que Silver percebeu, ele podia se mover. A alegria durou pouco, pois o resto do ambiente continuava paralisado.

— Silver, permita-me apresentar-me.

— Eu já cansei desses joguinhos! Quem é você e como sabe meu nome?

Silver ficou espantado com o que viu: a figura que detinha a voz misteriosa era muito semelhante a ele mesmo! As diferenças eram que o ser tinha pele branca como a neve, olhos ciano, cabelo de apenas uma ponta e as botas eram pretas com detalhes vermelhos. Silver piscou duas vezes, pensou se não teria adormecido enquanto observava o pôr-do-sol.

— Sei o que está pensando.

— É mesmo? Que tal parar de enrolar e explicar tudo o que havia prometido?

— Muito bem Silver, acho que já “enrolei” demais (jovens, sempre tão impulsivos). Meu nome é Space, sou um ser celestial do planeta Lorion.

— Ser celestial? Você é um deus?

— Deus é o termo popular, mas sim, sou uma espécie de “deus”.

— Por que um deus viria até aqui? E que planeta é esse, Lorion?

— É complexo. Todo universo tem seu ciclo, que é desconhecido até mesmo por deuses, e em um destes ciclos, surgiu o primeiro ser, Shanon. Shanon é meu irmão.

— Seu irmão? Então ele criou tudo?

— Sim, é meu irmão. Mas não, Shanon criou apenas esta galáxia, todo o resto do universo foi criado por outro deus, deus esse que é acima de todos os outros.

Silver tentava entender, parecia bem simples para algo “complexo”, mas mesmo assim, não deixava de ser um pouco confuso.

— Então, Shanon criou.... Lorion?

— Exatamente. Lorion era o planeta mais antigo da Galáxia Anthrax, sendo a base de toda a vida desta galáxia. Posteriormente, Shanon criou Mobius, depois outros planetas como Abraxxas e Galan. Quando terminou, criou a primeira sociedade, composta por mim e outros milhares de lorianos, além dele, é claro.

Space continuou a falar sobre toda a história do planeta, as vidas de Shanon e a dele, sobre a chegada de Showdom e seus amigos e por fim:

— Certo, entendi tudo, mas Space, por que aqui? Contra o que ou quem querem lutar?

— Silver, o grande inimigo chama-se Xanadus, ele é a personificação do caos.

— Ele está vindo para cá agora?

— Não. Está dormente, selado. Em breve, porém, ele despertará, posso sentir sua presença.

— Há como prever sua chegada?

— Não. Infelizmente, não.

Silver, de início, estava desconfiado. Porém, o detalhismo na história de Space e o tom bastante sério dizia que aquilo realmente era verdade. Ainda lhe restavam duas preocupações:

— O que faremos neste meio tempo?

— Todos se reunirão. Então vocês lutarão, sofrerão, sorrirão e comemorarão juntos. Devem se fortalecer muito caso queiram ter alguma chance de derrotar Xanadus de uma vez por todas.

— Space, eu estava errado sobre você. Achei que era apenas um invasor, mas agora entendo tudo. Porém, uma última pergunta: como convenceremos os outros sobre isso?

— Irei lhes dar uma pequena demonstração.

Silver ficou pensativo e curioso, o que seria a demonstração? Talvez ele testasse Sonic, Tails e Knuckles em combate? Ou seria algo totalmente diferente?

— Vamos Silver, temos que encontrá-los. – quando Space terminou a frase, Silver percebeu que o tempo havia voltado ao normal. Ouviu outro “cadê o garoto de ouro” ao fundo, sentindo-se incomodado. Space permaneceu indiferente.

A Sonic Team espantou-se quando viram Silver e aquele ouriço branco. Imediatamente, ficaram em posição defensiva.

— Sonic, sei que parece estranho, mas escute, Space tem algo a contar a vocês e....

— Parece estranho, Silver? Você volta com seu irmão perdido e acha que vai ficar tudo bem?

— Quem é você? – gritou Tails.

— E o que fez com o Silver? – Knuckles estava em ponto de ebulição, praticamente.

— Por favor, pessoal, acalmem-se!

— Nos obrigue!

Sonic, Tails, Knuckles partiram para cima de Space, que apenas fitou calmamente os três, até que milésimos depois, os mesmos três estavam no chão, agonizando de dor.

— O que diabos foi isso? Eu nem mesmo vi nada!— Pensou Silver.

— O que foi que... aconteceu? – Knuckles sentia uma poderosíssima enxaqueca, que latejava constantemente, em velocidade incrível.

— Não, é muito para eles. – Disse Space.

Sonic percebeu que a dor imensa havia parado, sentindo um grande alívio. Tails havia sofrido ainda mais. O filhote jamais havia sentido algo parecido, nem quando recebeu choques de alta tensão de Metal Sonic em uma ocasião. O líder azulado levantou-se com muita dificuldade, e encarou Space. Silver, ao lado do celestial, estava boquiaberto. Space havia feito tudo aquilo sem mexer um único músculo, se fosse telecinese, ele não acreditava que chegava a este ponto.

— Já é o bastante.

— NÃO! Ainda não, não sei quem você é, mas pode apostar que ainda vamos arrebentar você! – Knuckles esbravejou, já que nem Sonic e Tails pareciam ter forças para falar.

— Rebeldes. – Space disse com imensa frieza.

Um clarão que cegou Silver repentinamente surgiu, parando quase que no mesmo instante. Recuperando os sentidos, Silver viu uma cena terrível: tudo estava literalmente destruído, fora de lugar em um vácuo infinito. Silver não tinha dúvidas: aquilo era um poder de um deus. Sentiu a espinha congelar quando lembrou que Space disse que daria uma demonstração. O jovem prateado iria dizer alguma coisa, mas o clarão voltou. Quando parou, o ouriço do tempo ficou ainda mais incrédulo: tudo estava absolutamente como antes, normal. Seus amigos estavam no chão, recuperando, novamente, os sentidos.

— Caramba, que viagem. – disse Sonic, aparentemente com seu senso de humor intacto.

— Quem diabos é você? – perguntou Knuckles.

— A gente devia ter escutado o Silver. – disse Tails.

— Tá bom branquelo, você venceu. Fale o que quiser, que a gente escuta. – Sonic sorriu.

— Não sabia que o jovem velocista de Mobius era tão infantil. – As palavras de Space arrancaram risadas abafadas de Knuckles e Silver. Tails permanecia atento.

Prontamente, Space contou toda a história que havia relatado a Silver. O ouriço prata serviu como professor, respondendo algumas dúvidas básicas. Tails foi o mais participativo da sessão, perguntando e tentando entender o máximo que podia. Ao final de tudo, Sonic manifestou-se:

— O que a gente faz enquanto esse tal Showdom e sua trupe não chegam?

— Simples, esperamos. – Respondeu Silver.

— Sonic vai adorar isso, não é champs? – Disse Knuckles, dando uma batidinha no ombro de Sonic.

— Oh claro, nasci pra esperar. – Sonic foi tão irônico que arrancou um sorriso até de Space.

— Nossa espera será curta, presumo. Sinto a presença de meu sobrinho ao longe.

— Showdom, é? Esquisito, mas maneiro. Vamos ver como iremos nos encontrar.— Pensou Sonic.

— Ei, vocês ainda querem continuar aquele jogo? – Perguntou Silver, que magicamente tinha a bola em mãos.

— Tá bom então, o bonitão que manda. – Disse Knuckles.

— Vamos reformar a dupla do sucesso! – Disse um animado Tails.

— Pode apostar. – Respondeu Silver.

— Eu começo. – Gritou Sonic.

Space esboçou um sorriso, e virou-se para observar a Lua, que havia começado a banhar a noite de Green Hill.