A Mão e a Luva escrita por A Mão e a Luva


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Esta Fanfic foi escrita pelo estudante de Letras com Inglês da Universidade Estadual de Feira de Santana, Rammon Freitas, como avaliação parcial da disciplina LET - 240 Literatura Brasileira III, sob a orientação da professora Ma. Andréa Santos.



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— Rapaz, se acalme. O que vai fazer agora?

— Tô aqui pedindo pra Jesus me levar.

— Mas, homem, não se avexe. Ela disse que ia e não apareceu, só pode ter sido por algum motivo, disse Luís tentando acalmar o amigo.

— Dizem que homem não chora, mas tô quase chorando aqui, véi. Como assim ela não apareceu? Eu esperei duas horas, aí eu me retei, comprei um hambúrguer e me piquei. Esta foi a explicação de Estevão, o pobre coitado estava de coração dilacerado, não foi fácil para ele ficar de cara para cima no shopping esperando por Guiomar. Sobre esta figura, o prezado leitor ficará sabendo mais daqui a pouco, caso não fique enfadado, ou tenha algo mais interessante para fazer.

— Olhe, Luís, eu vou pro Rio com Mainha mesmo, não vou ficar mais aqui na Bahia na casa de vovó, não. É muita humilhação, véi. E parece que ela nem me quer, desde segunda-feira ela só visualiza minhas mensagens no WhatsApp e nem diz nada; foi o que dissera Estevão indignado.

— Às vezes ela tá ocupada com alguma coisa da escola. Luís tentava sem sucesso acalmar o amigo, nada parecia funcionar, nem mesmo uma partida online de LOL.

Depois dessa atarantada conversa ao telefone, Estevão foi dormir, e dormiu bem mal. Acordou com os primeiros sons da aurora, determinado a ir morar no Rio de Janeiro. Sua mãe havia achado um emprego lá, ganharia mais, mas até então estava tudo certo que Estevão ficaria. Assim que saiu do quarto deu de cara com a mãe e a avisou que iria com ela, sua mãe era professora infantil e foi professora de Guiomar na escolinha do bairro. Sim, ambos Guiomar e Estevão viviam no mesmo bairro. Agora acho que devemos falar um pouco da Guiomar. Um amor de pessoa, nada a abalava, tinha uma estabilidade emocional muito diferente da de Estevão de certo, adorava ser admirada em todos os ambientes que ia, mas sempre soube fingir que não percebera os olhares de admiração onde passava. Era boa nisso.

Guiomar também não era muito de namoricos, ela dava a entender que gostava do rapaz, mas sempre acabava o desapontando de uma maneira ou de outra. Quando ela não os bloqueava nas redes sociais, ela simplesmente os ignorava. Certa vez, disse para Mrs. Oswald, a governanta da casa de sua madrinha rica, onde vivera desde que seus pais morreram num acidente de carro, que não dava ousadia a Estevão, pois ele era o tipo de cara grudento. Mrs. Oswald que foi trazida pela madrinha de Guiomar da Inglaterra, não entendia muito direito metade das gírias que a protegida de sua patroa usava.

— Achas que ele é tua algema? Perguntara a governanta certa vez.

— Oxe, algema? Tá doida, Mrs. Oswald? Algema é aquele negócio que prende na mão das pessoas que são levadas pela polícia. Acho que o que a senhora quer dizer é alma gêmea - e depois de um segundo ela continuou – tá repreendido pensar em alma gêmea nesse momento da minha vida. Eu sou toda natural, sou bonita pra caramba, o mundo é pequeno pra mim. Mrs. Oswald fizera como de costume, balançava a cabeça e dava um sorriso amarelo, fingindo que tinha entendido o que Guiomar havia dito. Às vezes ela fazia a cara de Nazaré Tedesco fazendo as contas, não era fácil para ela “to keep up with the slang terms” daquela molecada.

Voltando para Estevão, um mês já havia se passado, agora ele que não dava mais ousadia a Guiomar na escola, ambos estavam no primeiro ano do ensino médio. Quanto a sua ideia de se mudar para o Rio, ele não havia mudado. Parecia estar muito triste o jovem rapaz depois de tomar um bolo de Guiomar. No dia de ir embora ele dava uma última olhada no quarto, como se se despedisse, enquanto pensava: “estou indo embora agora, a mala já está lá fora, porque homem não chora...” E ele não chorou. Mentira! Chorava um pouquinho toda noite antes de dormir. Aquele sentimento chamado amor havia realmente o arrebatado.

Dois anos se passaram, ele completou o primeiro ano do ensino médio no Rio, depois estudou o segundo ano também lá, mas voltara para a Bahia para terminar o terceiro. As coisas haviam mudado na sua terra natal, economicamente falando, e sua mãe não aguentava mais de saudades da família que deixara lá, principalmente a matriarca, avó de Estevão. Quando chegaram à Bahia, foram direto para chácara de sua avó que ficava no distrito de São José, na cidade de Feira de Santana. As férias de verão ainda estavam acontecendo, faltando apenas um mês para o início das aulas. Certa tarde fora ter com o amigo Luís, que também morava em uma chácara em São José.

— Migues, que bom te ver! Tava com muitas saudades, dissera ele ao amigo com um largo sorriso no rosto.

— Oh, migues, parece que faz cinquenta anos que tu saiu daqui. Ainda bem que não tá falando como os cariocas, - declarou Luís depois de abraçar o amigo.

Depois de um instante conversando sobre as experiências do Rio e as coisas deixadas para trás na Bahia, a mãe de Luís interrompeu a conversa, lembrando Luís que ela iria fazer uma visita à madrinha da Gui, a vizinha da chácara ao lado. Estevão pensou que seria coincidência demais, não perdeu tempo e logo depois que a mãe de seu amigo saiu, ele o interrogou.

— Esta Gui, é Guiomar?

— Sim, ela mora aqui ao lado agora. Mundo pequeno, né?

Estevão ficou perdido em pensamentos. Uma voz dentro dele gritava “me solta, me solta”, mas por fora ele fazia o sonso. Esse desejo de sair dali correndo e ir ver sua amada, por mais que ele dissesse que não, Guiomar foi o maior crush de sua vida.

— Se Guiomar te quisesse, tu queria ela também? Perguntou o amigo, com um olhar analisador.

— Deus me defenderay, nunca no Brasil, na vida, na terra, que eu quero me iludir com este embuste de novo, respondeu Estevão decidido.

Dalí a uns dias Estevão tornou a visitar o amigo, desta vez com mais frequência, Estevão tinha virado um membro da família já. Dentre as recorrentes visitas, ele não havia visto Guiomar ainda. Até certa tarde incomumente quente, quando ele se encontrava no quintal do fundo da casa de Estevão sozinho lendo um livro, quando avistou uma figura de pele um tanto bronzeada com o cabelo solto de prancha, catando manga no chão do quintal. As duas propriedades tinham apenas uma cerca que as separavam. Estevão não perdeu tempo, e encostou-se à cerca, fingia estar procurando algo no chão, querendo ser notado. Não levou muito tempo para Guiomar o notar, porém fez a egípcia e fingiu não ter visto o rapaz. Estevão então pulou a cerca e foi falar com ela.

— Oi, Guiomar, tudo bom?

— Misericórdia, menino! Tu me assustou – falou a moça depois de um grito tão agudo quanto o da Melody.

— Foi mal, não queria te assustar. Você está bem? disse Estevão constrangido.

— Eu tô me sentindo adorável. Mas menino, tu tá um sapão, digo, um homão - respondera a moça.

Estevão fingiu não entender e se perdeu em seus devaneios após ver Guiomar depois de tanto tempo. O crush agora havia aumentando ainda mais.

— Fala, Estevão, cadê tua voz? Perguntou Guiomar depois de um tempo sem entender muito bem o que estava acontecendo.

— Você também tá muito boa, digo, você parece estar muito bem - disse Estevão finalmente.

Os dois realmente cortaram relações depois que Estevão partira. Ele não tinha uma conta no Facebook e também mudou o número do WhatsApp, quanto as outras redes sociais disponíveis, ele não as usava. Raramente ele perguntava por Guiomar quando ligava para Luís. Ela também não parecia interessada em saber da vida dele. Agora, naquele momento, ela parecia sentir algo por ele, pois ela era uma mistura de aquário com capricórnio, os dois signos do zodíaco mais difíceis de se apaixonar, ou tampouco se apegar. Agora estava ela ali, parada com cara de quem tem várias coisas para fazer, mas que na realidade está fazendo vários nadas. Esses últimos dois anos foram intensos, principalmente com a volta de Jorge, sobrinho de sua madrinha que morava na Europa, e a ideia desparafusada de sua madrinha em casar os dois.

Jorge era um bom sujeito, com traços delicados no seu jeito de andar e falar e até mesmo de jogar a franja. Guiomar pensava que eles jogavam no mesmo time, se é que o meu caro leitor me entende, mas era tudo muito incerto e Jorge não parecia disposto a comentar sobre qualquer coisa relacionada ao assunto. Ele ainda mantinha certas conexões com a Europa, telefonemas sussurrados altas horas da madrugada, chamadas eternas no Skype. Seu smartphone era bloqueado de todas as formas possíveis, Guiomar certa vez havia tentado procurar conversas ou e-mails suspeitos, mas sem sucesso, nem Jesus era capaz de desbloquear o aparelho, tentava inclusive ganhar a confiança dele, mas ele era cismado. Uma coisa era certa, ele também não concordava com o disparate da tia em querer juntar os dois. “Onde já se viu em pleno século XXI querer juntar duas pessoas para casar? Me poupe, more.” Pensou Jorge certa ocasião. Mrs. Oswald, que era muito intrometida, dissera certa vez: “histórias de amor são meu copo de chá. Apenas acho que vocês são como duas ervilhas em um vargin, como se disse no Brasil, vocês são como a mão e a lupa. Lupa? Luca? Ah, luva”. “Essa véa tá loka”, pensavam coincidentemente ambos Guiomar e Jorge, preenchidos de ódio pela governanta enxerida, que ainda dava trela para a maluquice da madrinha/tia.

Mas voltando para o nosso jovem casal da história, eles continuavam lá debaixo da mangueira sem saber o que dizer um para o outro. A breve aventura amorosa entre os dois foi muito significante para Estevão. Finalmente Estevão resolveu fazer uma pergunta.

— Você alguma vez sentiu algo real por mim, Guiomar? Ou sempre foi tudo dissimulação?

Continua...


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