Ele era rápido. Surgia e desaparecia num suspiro levando consigo toda a minha força e coragem de sair dali. De soslaio tentava detecta-lo, porém, minhas tentativas eram todas em vão, nunca sabia de onde viria até aparecer sob minha vista. E gritar. Fazia-me arrepiar a espinha com sua voz estridente e rouca, com seu hálito quente e ameaçador e sua saliva que salpicava no meu rosto.

Quero correr, sumir. Ou ao menos acordar.

Mas o mágico nunca deixa ninguém escapar, nunca deixa que fuja de suas mãos, uma vez que o encara, que enxerga o inferno por dentro de seus olhos vermelhos. Percebo sua voz aproximar-se e ao fechar meus olhos para não mais vê-lo, sinto-o ao meu lado, sussurrando palavras indecifráveis, mas que me enfeitiçam. Ouço seu riso. Sei que se diverte com sua tortura, sei que a cada vez que chega até mim sua força aumenta. Ele quer sair, quer voltar à vida. Posso sentir seu anseio pela vingança, por morte.

Quero correr, sumir.

Está escuro, mal enxergo meu corpo, não sei há coisas em volta e não acho que isso faça alguma diferença, o silêncio é ensurdecedor e o tempo parece ter pausado, tudo parado como se fosse uma pintura inexpressiva. Até ele voltar.

A figura que se revela, traz consigo uma luz que ao invés de conduzir esperança me causa pânico. Estou de pé para ele e ele de pé para mim, longe, mas não o suficiente para que eu não pudesse deixar de perceber seu sorriso diabólico, como em todas as outras vezes, o mágico está com sua capa de um azul profundo como as águas dos oceanos, que na penumbra parece mais negra do que realmente é. O capuz cobre seu rosto quase por completo, evidenciando apenas sua boca fina, arqueada em um sorriso cínico.

‘’Está com medo?’’, sua voz quebra o silêncio de forma violenta, fazendo-me suar, minha respiração acelera e sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado para que meu coração saltasse dali. Não consigo respondê-lo, minha garganta não produz um só ruído, sufocada pelo medo eminente.

E então, claro como um respiro, percebo meu corpo livre das correntes e sei que é momento. Forço minhas pernas a obedecerem e me tirarem dali, meus olhos tiram o foco do monstro encapuzado e dirigem-se para a escuridão ao meu lado, porém... Num instante, o mágico salta sobre meu corpo, projetando seu peso e derrubando-me, sua mão fria aperta meu pescoço enquanto minhas costas encontram o chão de forma brusca e dolorosa, arfo.

Numa atitude inútil de me livrar, debato-me, no entanto logo sou dominado por ele. Fecho meus olhos, não me atrevo a olhar-lhe diretamente, já havia feito imbecil atitude. Cada vez mais forte ele aperta sua mão em mim, minha respiração falha e mesmo de olhos fechados consigo saber o quanto ele estava se deliciando com a minha dor. Começo a perder os sentidos, tudo fica distante, até mesmo ele. Sei que já é tarde e entrego-me aquela sensação de estar sendo levado por uma corrente de ar ou de estar boiando em mar aberto.

‘’Não ainda. Não agora.’’

Abro meus olhos.

Não pode ser. Não é verdade!

Não aqui. NÃO!

Por quê? Por que comigo?

O escuro, meu corpo em pé e imóvel, os passos que se aproximam. O medo, a ânsia e o desespero. Tudo de novo!

‘’Está com medo?’’

Aquela voz, aquela maldita voz!

Encaro a morte novamente e nem por um momento minha revolta fará aquela situação mudar, ele está no controle; tudo o pertence. E mais uma vez sinto seu hálito quente, o estridor de sua voz em meus ouvidos e os respingos de sua saliva em meu rosto. Seu grito novamente me faz arrepiar.

Acordo.

Sinto o calor morno do sol que atravessava a cortina da janela em minha pele, a quentura da cama desarrumada e a brisa que sobrava o ventilador ao meu lado. Estava de volta, finalmente de volta, o pesadelo havia terminado. Mas somente até que feche meus olhos e caia no sono para então ele surgir com seu capuz azul e seu sorriso sugestivo e iniciar sua sessão de horror, até poder finalmente ter o que procura, o mágico não me deixará em paz.