Mesmo após todo esse tempo, eu nunca encontrarei
Neste mundo inteiro, quem possa me balançar como você
A verdade é que é algo tão sublime que não existem palavras capazes de descrever
A beleza da vida que eu tenho com você...

E eu apenas gostaria de dizer
Que eu agradeço a Deus por você estar aqui comigo
E eu conheço muito bem dizer que você é perfeito.

‘Ron Pope - Perfect for me

São Petersburgo – Rússia

— Yuuri!! - escutava a voz de Viktor me chamando no corredor, estava na cozinha da casa preparando algo para nós comermos. Ainda era cedo, o sol de maneira preguiçosa assim como eu estava naquele momento, começava a despertar sobre a cidade, tendo alguns raios invadindo e iluminando nossa casa.

Sim nossa casa, nesse exato momento fazia sete anos que Vitya e eu estávamos juntos e, casados. Isso aconteceu, depois de algumas reviravoltas em nossas vidas, logo após o Grand Prix em 2016, no qual eu terminei em segundo lugar e Yurio em primeiro, após isso acabei vindo por morar na Rússia, a fim de continuar os treinamentos com ele que naquela outrora também estava voltando às pistas de gelo, não apenas como treinador, mas como competidor também.

Logo após isso, nosso relacionamento foi se aprofundando cada vez mais, já morávamos juntos, o que parando para pensar facilitou muito. Mais mesmo assim eu só vim a ganhar o ouro na competição em 2018, o que mesmo competindo no ano anterior este havia sido levado àquela vez por Viktor, logo algum tempo após o fim da competição, Vitya e eu nos casamos cumprindo com a promessa que ele havia feito ainda em Barcelona.

Esta que no fundo, mesmo que já estivéssemos junto, no fundo eu ainda relutava e recusava acreditar, que tal coisa poderia me acontecer que seria verdade. Logo após nos casarmos, competimos no Grand Prix, por mais uma vez, uma última vez, antes de Viktor e eu nos aposentamos das competições.

            Muitos de nossos amigos estiveram conosco nesta última competição como uma despedida. Yurio como já era de se esperar, brigou e xingou nós dois mais ainda sim, em algum momento e longe de qualquer um que pudesse nós ver, ele abraçou a mim e a Vitya num silencioso obrigado.

            Mas talvez mesmo, nossas vidas tenham realmente mudado, com o fato que houve dois anos depois daquele dia. Onde a princípio de ideia minha, eu queria ter uma família. Não que Viktor já não fosse a minha família há muito tempo, foi quando depois de conversar com ele, decidimos ir à adoção de uma criança. Processo esse que foi deveras difícil em alguns momentos considerado impossível, mesmo ainda sendo um pouco menos burocrático do que já foi ainda éramos um casal homossexual.

Ainda sim, depois de quase um ano depois conseguimos a adoção da nossa filha Evelina. A partir daquele ponto, aquele exato momento, nossas vidas mudaram ao extremo, e não que tenha sido fácil o tempo todo, mais ainda estávamos juntos, e era somente isso que importava.

— Yuurii!! – Viktor novamente me chamou mais dessa vez já estava abraçado a mim, ou melhor, debruçado em cima de mim. – Por que acordou tão cedo? É chato não ter você ao meu lado quando acordo.

Sorrio e olho para ele que ainda mantém a expressão um pouco emburrada no rosto, por incrível que possa parecer Viktor não mudou nada na parte de sua personalidade durante esses anos.

— Me desculpe Vitya. – digo e deposito um beijo rápido nos seus lábios me desvencilhando de seus braços. – Mais Eve começa nas aulas hoje, e eu sei que você não acordaria cedo para arrumar as coisas. – digo em tom de afirmação enquanto ele suspira e se joga na cadeira da mesa de jantar.

— Nossa pequena já vai começar na escola. Não acha que devemos esperar um pouco Yuri? Ela ainda esta tão nova. – ele diz entre suspiros enquanto me olhava.

— Vitya você sabe, o quanto ela está ansiosa por isso, e além do mais ela já esta com quatro anos. E se algo acontecer a ela, Eve terá seus ambos os pais para protegê-la principalmente você. – digo enquanto entrego a ele uma xícara de café, Viktor suspira, provavelmente não desistindo daquele assunto mais por hora o deixando de lado.

— Papa! – automaticamente eu e Viktor nos víramos em direção a voz, que pertencia a nossa filha. Evelina estava com seu pijama e pantufas de tigres, estes que foram presentes de Yurio, bocejava e coçava os olhos tão azuis quanto de Vitya, demonstrando claramente que havia acabado de acordar.

Se fosse de alguma forma possível, poderia se dizer que Evelina era filha de sangue de nós dois, seus cabelos era castanhos semelhantes aos meus, enquanto os olhos eram parecidos com os de Viktor num azul intenso.

Era uma criança calma e bastante tranquila, o que lembrava um pouco a mim, mais bem diferente do que já foi Eve não era tímida ou tão insegura como o pai, pelo contrário, neste ela era bastante parecida com Viktor.

Viktor foi ate ela que estava parada ainda no corredor, e a pegou no colo enchendo a de beijos, enquanto a garota sorria instintivamente a casa era preenchida pelo som de suas risadas infantis e aquilo, aquecia meu peito, como sei também que aquecia de Vitya.

Quando ambos retornaram a cozinha, tão brilhante como o sol do lado de fora, era o sorriso no rosto de ambos aqueles que amava o que iluminava mais ainda o ambiente, como até mesmo a mim.

— Papa!! – Eve chamou novamente dessa vez apontando para mim, me aproximo dela, que esta no colo de Viktor e fico mediante a sua altura.

— Sim meu amor?

— Hoje finalmente poderia ir para escola? – ela diz com aumentando mais seu sorriso, o que mesmo sem perceber me faz automaticamente sorrir junto a ela.

— Sim, mais primeiramente você precisa se arrumar e comer. Sua roupa está onde deixei ontem à noite. – ao dizer isso, Eve da um pequeno pulo do colo de Viktor e volta correndo para seu quarto.

— Ainda acho muito cedo. – Viktor murmura baixo, dessa vez me fazendo suspirar.

— Vitya. – digo atraindo sua atenção, enquanto ocupo um lugar no seu colo. – Ela vai ficar bem, afinal ela é nossa filha.

Sorrio quando os braços de Viktor me apertam num abraço, e o percebo suspirar em derrota no meu pescoço.

— Eu espero. – ele sussurra.

— Ela vai. – digo dando um rápido selinho nele, o ouvindo protestar por rapidamente ter saído de seu colo, sorrio enquanto volto aos afazeres que estava antes.

§

Estávamos ambos ao lado de nossa filha, que olhava empolgada a tudo ao seu redor, no primeiro dia os pais deveriam comparecer não somente para conhecer aquele que seria o futuro professor, como também para todos um pequeno discurso do diretor, antes do realmente início das aulas.

Viktor parecia lidar melhor com a ideia de nossa filha numa escola, e Evelina se mostrava empolgada e ansiosa a cada minuto que se passava naquele auditório.

Finalmente o diretor aparece e começa a discursar sobre o novo ano letivo como também, apresentando os professores. Depois de quase 40 minutos o nome de Evelina foi chamado, para se reunir aquela que seria sua nova turma. Ela se virou para nós e sorriu, antes de ir nós deixando com um beijo para cada.

Observamos como rapidamente, ela começa a se misturar e conversar com os colegas, muito diferente de mim se fosse ao caso na idade dela, bastante semelhante ao homem ao meu lado que encarava atentamente a tudo.

— Ela vai ficar bem. – disse a ele, enquanto afastávamos lentamente da escola

            A viagem de volta para casa foi tranquila, mesmo com o clima um pouco mais quente do que o normal naquele dia. Ao chegarmos sigo em direção ao nosso quarto sendo acompanhado por Viktor, este ao chegar se deita na nossa cama e solta um longo suspiro.

            - Yuuri!! – olho para ele, quando ele me chama e vejo seu semblante sério transparecendo sua preocupação.  – Ela vai ficar bem ne? – Viktor diz num murmúrio baixo, quase inaudível.

            Caminho ate ele e sento no seu colo, e lhe dou um beijo rápido nos lábios. Viktor desfaz um pouco a expressão seria, mais ainda mantendo as feições preocupadas no rosto, dou um suspiro enquanto acaricio seu rosto.

            - É tão difícil assim confiar em nós dois Sr. Nikiforov? – pergunto encarando seus olhos.

            - Você sabe bem que não é isso. – ele diz enquanto deixa um beijo na minha mão e logo depois na minha aliança. – Eu apenas me preocupo, Rússia pode ter se tornado um lugar melhor, mais sabemos que ainda há pessoas que mantém o mesmo pensamento de antes.

            Eu entendia muito bem sua preocupação, e eu estaria mentindo se dissesse que também não tinha da mesma. Por mais que as coisas ao nosso redor estivessem muito diferentes do que já foram, infelizmente alguns ainda adotam do pensamento preconceituoso sobre casais homossexuais, e principalmente quando estes como nós possuíam uma família.

            Me debruço sobre Viktor e o abraço, eu sabia e entendia o porquê dele estar preocupado, eu mesmo também estava mais ainda sim eu também sabia que Evelina ficaria bem.

            - Eu te amo Vitya. – sussurrei no seu ouvido, vendo ele me apertar ainda mais naquele abraço.

“Eu sei todos os seus segredos, e você sabe tudo sobre mim
Você sempre está aqui para me segurar quando eu estou perdendo a cabeça
Eu queria ser mais forte, então eu teria mais para dar
Eu vou compartilhar tudo que eu tenho e nós encontraremos uma maneira de viver...”

            Um silêncio se instalou pelo quarto, enquanto estávamos um nos braços do outro, apenas nossas respirações e provavelmente nossos corações poderiam ser ouvidos naquele momento.

            Eu amava Viktor Nikiforov tanto quanto amava toda a vida que havia construído ao lado dele. E eu só podia agradecer imensamente aos céus o dia que aquele homem se tornou possível a mim, graças as trigêmeas, assim como agradecia ás mesmas internamente pelo ato de anos atrás que foi o vídeo.

            Graças aquilo, nós encontramos, e daquele momento começamos a construir nossa história juntos. Graças aquilo, hoje tínhamos Evelina ao nosso lado, e eu não poderia ser mais grato.

E mesmo que os anos passem que o mundo venha a nós esquecer. Eu ainda lembrara-me de cada detalhe, me lembrarei de cada momento. Como se provavelmente fosse à primeira vez de novo.

Se me colocassem no começo novamente, eu faria exatamente igual. Se o final me fosse esse, cada lágrima e cada dor eu sei que valeu a pena, mais do que qualquer coisa.

Por que eu te amo, e você é perfeito para mim...

            - Ya lyublyu tebya vsem serdtsem.* – ele sussurra de volta.