Dame

Capítulo Único

Reyna

Reyna espreguiçou-se longamente sob seus lenções brancos, murmurando e cobrindo os olhos com as mãos por conta dos raios solares que entravam por entre as brechas da persiana. 

Ela balançou a cabeça sentando-se  e encarando o relógio no criado mudo por meio da cortina de cabelos negros e longos soltando um suspiro, já era muito tarde. Resolveu não se incomodar com aquilo, ao menos não hoje, preferiu aproveitar a folga da faculdade que seu sono lhe concedeu, Reyna se permitiu relaxar um pouco com a cabeça apoiada na cabeceira da cama de casal, os olhos fechados por alguns instantes. 

Quando enfim se levantou, o vento frio vindo da sala fazendo seu corpo desnudo se arrepiar, buscou no chão aos pés da cama sua blusa e a taça de vinho, seguindo para o banheiro. Apoiando a taça, os restos de vinho balançando no fundo e quase molhando seus dedos, na bancada e então encarou seu reflexo no espelho, gostando do que via, especialmente naquela manhã-quase tarde de segunda-feira. 

Seus cabelos estavam revoltos por ela não ter-los prendido em tranças como sempre fazia na noite anterior, os olhos brilhavam e o rosto ainda estava um pouco inchado de sono. Reyna olhou fundo em suas órbes negras e grandes vendo nelas tranquilidade e felicidade que há muito não tinha, que não via á anos, e gostava disso. De está em paz consigo mesma. Entendia tudo o que passava, tudo o que passou, fez as pazes com seu passado. Não queria mais caçar fantasmas ou desenterrar segredos, então simplesmente os abandonou onde eles deveriam ficar: no esquecimento. Cuidou de suas feridas, refez a sua família, vivia a sua vida.

Ela não estava mais preocupada em ser sempre altiva e fria, a pretora impecável. Ela não buscava mais com tanto afinco o amor, ela já o tinha de um modo ou de outro - e de sobra. Sabia que ele viria até ela na hora certa. Não queria mais tanto peso e decepções, simplesmente vivia. Esperava.

Não era uma dama de ferro. Ela era humana.

E isso, por hora, lhe bastava.