Me chamam de Corvo (Bulletproof) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 10
A hora da verdade


Notas iniciais do capítulo

Muitas emoções nesse capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740373/chapter/10

Yumi investiu dez minutos de treino apenas explicando todos os detalhes do Champions Cheers, frisando que quem fosse irresponsável a ponto de não seguir alguma das instruções seria convidado a se retirar do time. Os avisos mais importantes eram estar com as unhas cortadas, não pisar fora da área de apresentação, ficar juntos no mínimo até o fim das apresentações e não beber. Não beber? Acredite: nessa edição, o Champions Cheers era uma festa com Open Bar. Só estávamos autorizados a começar a beber alguma coisa depois da apresentação e encher a cara só depois do resultado. Ela disse que ia pra casa depois disso, mas que eu e Namjoon podíamos ficar na festa.

— Tá maluca se acha que eu vou te deixar sozinha!

— Não vou ficar sozinha. Nosso amado presidente Oh Sehun disse que “conhece muito bem os malefícios do álcool”, então vai me trazer depois que o resultado sair. Vai passar a noite pra vocês ficarem tranquilos e buscar vocês quando ligarem.

Eu não estava super entusiasmo para beber, mas os motivos eram muitos. Trabalhando, estudando, treinando feito um condenado, vendo o tempo passar e a juventude ir embora, me aproximando de uma responsabilidade enorme que não me deixaria ir a festas quando eu bem entendesse. Depois de tanto esforço, talvez a equipe merecesse viver um pouco. Sehun e sua gentileza me tranquilizaram muito; eu sabia que ela estaria mais segura com ele, de qualquer forma.

Nosso último treino foi na sexta à noite. Para não forçar, só passamos as posições e marcamos movimentos. A lateral da quadra estava lotada de mochilas, bolsas imensas, sacolas de supermercado e colchonetes enrolados. Iríamos acampar no condomínio da Jinah, praticamente do lado da festa. A peregrinação ao fim do treino foi um momento divertidíssimo. Chegamos lá e montamos o acampamento na quadra do condomínio. Comemos alguma coisa, tomamos banho e dormimos. De manhã, o café foi bem reforçado, embora simples. Colocamos roupas de treino e caminhamos para o Centro de Eventos, onde iríamos passar a rotina uma vez. Evitamos olhar para as rotinas alheias, embora estivessem na nossa cara. Yumi disse que era melhor esperar que fossem todas horríveis para ganhar confiança. Depois, fomos agir o almoço no acampamento. Adivinha quem reinou na cozinha? Eu mesmo. O almoço ficou top. Logo em seguida, começou a sessão banho, um atrás do outro. As meninas foram primeiro, já que ainda tinham que maquiar e fazer aquele rabo de cavalo apertadíssimo, com muito laquê e o laçarote pra arrematar.

Chegamos novamente no Centro de Eventos às 16h. Tinha uma fila grande para os mortais que estavam dando ingressos, e uma ao lado que só tinha a gente, dando nossos nomes que estavam na lista.

— Kim Seokjin da Corvos.

Sehun chegou pouco depois. O time tinha direito a dois técnicos para ficarem responsáveis por qualquer coisa, e eram Sehun e Yumi.

Fomos para o camarote do time. Metade já estava levando as coisas para ir para casa depois da festa, como nós quatro. A outra metade, que mora mais longe ou não tem carona, deixou as coisas no acampamento.

Quando a hora se aproximou, começamos a alongar e aquecer. Finalmente, disseram para descermos. Fomos direto para o local exato da apresentação. Nos acumulamos, junto às outras equipes, na esquerda da área de apresentação. Pela ordem do sorteio, as Princesas iriam primeiro, nós em segundo, as Abelhas em terceiro, as Perigosas em quarto e as Lupinas por último.

A apresentação das Princesas deu pra curtir total, porque era o tal “grupo de dança com algumas elevações”. E aí, chegou a nossa vez. A maioria dos atletas estava nervosa, mas eu estava confiante de que faria o meu melhor. Fomos para trás do tatame e fizemos nosso mini grito de guerra. Colocamos as mãos no centro.

— Cinco, seis, sete, oito — disse Namjoon.

— Vaaaaaaai Corvos!

Logo em seguida, entramos e nos posicionamos para o grito de guerra oficial. Nisso, as cinco flyers fizeram elevações com as placas com as letras C R O W S. No meio do grito, elas viraram as placas e aparecem S N U entre duas estrelas.

Depois do grito, elas desceram e foram para a posição inicial da rotina.

A galera gritou com o lançamento inicial da Momo e cantou junto da nossa música de abertura. Eles até continuaram cantando mesmo depois que parou. O ponto alto foi a elevação sincronizada das cinco flyers: Momo, Joy, Mina, Somin e Sooyoung.

Quando terminou, com sucesso, começamos a fazer o caminho de saída rodando pela área e gritando.

Voltamos para nosso cantinho e assistimos às Abelhas. Elas foram bem, admito. Teve mortal e tudo. Depois, vieram os outros times, que não foram muito impressionantes. Tive certeza de que tínhamos o segundo lugar, no mínimo.

Depois que o locutor informou que teríamos os resultados em breve, começou uma grande confraternização. Os cinco time foram para a área, se misturaram, fizeram trenzinho, elevações, e o melhor de tudo: ao som da principal música da nossa rotina. Sehun, com a blusa da atlética, tava sendo o maior tiete e filmando tudo. Depois, as equipes foram para a frente da arquibancada da área da festa. Teve rodinha de dança, teve mais elevação… Quando eu fui ver eu tava lá no alto sendo elevado por B.M e Namjoon.

Depois dessa bagunça, começaram a beber. Namjoon estava com sua caneca personalizada da Corvos que tinha um tirante para pendurar. Quando vi, já estava me oferecendo a primeira dose. Eu hesitei.

— É muito forte?

Ele riu.

— Não. A Yu proibiu a gente de encher a cara, lembra?

Ainda um pouco em dúvida, bebi um gole. Era até docinha.

— É bom — eu disse. — Você vai ter que me ensinar tudo sobre bebida hoje, porque sou completamente leigo.

— Realmente não é nem um pouco a sua cara, hyung. Não precisa fazer isso se não quiser.

— Acho que depende do resultado da competição — brinquei. — Se formos mal, eu vou beber pra me consolar. Se formos bem, vou beber para comemorar.

Como pediu a suprema coach, não bebemos muito. Foram pequenas doses das bebidas mais fracas, só para começar.

Algumas horas mais tarde, pediram para as equipes ficarem em frente ao palco do DJ, que ficava em uma área onde só nós e a organização podíamos entrar. Depois, pediram para dois representantes de cada time subirem. Yumi e Namjoon foram lá, como coach e capitão. Havia uma mesa com os três troféus.

— O terceiro lugar vai para... As Perigosas!

Houve comemoração e a entrega do troféu e do cheque. Sim, era premiado.

— O segundo lugar vai para... As Corvos!

Sinceramente? Eu já estava prevendo. Era impossível ganhar das Abelhas, que já tinham três anos de time, e era nossa primeira competição. Bom, começamos quando elas estavam no nosso nível, ou seja, elas demoraram dois anos e meio para chegar onde estávamos. Significava que nosso rendimento era maior? Significava que podíamos superar?

Eu só sei que eu vibrei muito. Gritei e pulei junto ao meu time enquanto assistia minha família receber o troféu  e o cheque. No meio da bagunça, Yumi me mandou um beijo voador, que eu fiz questão de devolver.

— O primeiro lugar vai para... As Abelhas!

Aplaudimos as Abelhas com toda a nossa animação e elegância. Eu não queria derrubar ninguém, mas se nosso time tinha nascido para ser maior, ele viria a ser. Por nosso próprio esforço.

Nossa coach grávida — aigoo, ela estava com um barrigão — desceu com o capitão. Sehun exigiu uma foto do time todo.

— A coach vai junto né? — perguntou Namjoon, o que me surpreendeu, mas não mais do que ele disse em seguida — Nós podemos elevá-la.

Sehun não gostou da ideia, mas estávamos dispostos. Ela teve base traseira e base frontal, por segurança. Eu e Namjoon a elevamos e ela ergueu o troféu. Os outros fizeram as mais variadas posições, e tiramos nossa foto de ouro.



Depois que Sehun levou Yumi pra casa, eu me senti mais tranquilo para curtir a comemoração. Nem todo mundo ficou, mas quem ficou se divertiu. Nós dançamos muito e bebemos, tudo em grupo.

Eu bebi. Bebi, e não foi pouco. Felizmente, Namjoon não me deu nenhuma bebida que eu não gostei, porque eu ia ficar traumatizado e não ia beber mais nada. A cada vez que esvaziávamos a caneca, ele ia lá e buscava mais alguma coisa, falava um pouco sobre o que tinha ali. Kim Namjoon, sempre o inteligente, sempre o professor, até quando o assunto era bebida. Eu ficava impressionado.

Eu comecei a rir quando percebi que já estava ficando meio tonto. O fato de estar bêbado me pareceu muito engraçado, porque não era bem a situação em que eu imaginava estar algum dia da minha vida. De algum jeito igualmente inesperado, eu estava me divertindo bebendo com Namjoon cercado pelos nossos companheiros de time.

Namjoon pegou uma coisa muito saborosa, diferente de tudo que eu já tinha bebido, então acabou bem rápido.

— Isso é muito bom — garanti.

— Você quer mais? — perguntou ele, sempre gentil.

— Deixa que eu pego — ofereci, porque ele tinha ido todas as vezes até então.

Ele me disse novamente o nome da bebida, e eu fui buscar no bar. O cara entornou um bocado no canecão da atlética e eu tomei o primeiro gole enquanto virava para voltar. Estava bastante cheio, sem falar que estava escuro e eu não estava em minhas melhores condições de sobriedade, então foi um pouco complicado achar o caminho de volta. Finalmente, Namjoon sinalizou para mim, e eu fiquei feliz. Estava com um pouco de medo de ficar ali rodando sozinho, então decidi andar logo até ele antes que o perdesse de vista.

Aconteceu que eu estava quase alcançando Namjoon quando tropecei em alguma coisa que eu até hoje não sei o que foi. Talvez o ar, talvez meu próprio pé, mas não era difícil encontrar um obstáculo invisível na minha condição. Eu já tinha esbarrado em trocentas pessoas durante a árdua missão de buscar bebida. A minha sorte foi que eu já estava perto de Namjoon, então consegui segurar nos braços dele, se não ia cair de cara no chão. Boa parte da bebida foi parar no chão. Eu só sabia rir de mim mesmo, e Namjoon me imitou.

— Que isso, hyung?

— O que parece? Eu estou tão bêbado que não sei como não caí ainda.

— Então se apoia em mim pra você não cair.

Tentei recuperar o equilíbrio mínimo. Eu não estava muito bem, realmente. Namjoon me segurou pela cintura para me ajudar, enquanto eu me pendurava em seus ombros.

— Sobrou alguma coisa?

Eu olhei para o copo e continuei rindo.

— Tem um pouquinho.

Nós dividimos o restinho que sobreviveu ao meu desastre. Quando eu fui ver, Namjoon estava se mexendo levemente no ritmo da música agitada, me levando com ele. Eu comecei a rir dele.

— Você não vai parar de rir? — perguntou, deixando a caneca pendurada pelo tirante, enquanto eu ria mais.

— Eu estou me divertindo. Não achei que isso fosse acontecer.

— Que absurdo. Você estava duvidando da minha capacidade de divertir você.

— Estava duvidando da bebida, Nam. Não achei que cair fosse engraçado.

— Depende da queda.

— É. Uma queda em rede é melhor — eu disse, retomando nosso vocabulário de Cheer. — É melhor que cair no chão. Não sei se é melhor que cair em você, porque eu nunca caí em rede. Mas imagino que não seja, porque foi muito bom cair em você. Sabe... Eu acho que eu não sou um corvo... Porque os corvos são inteligentes, e eu estou caindo de novo. Ainda bem que é em você, dessa vez, não é?

— Não sei... O que você acha?

— Eu acho que eu amo você, Nam.

Não, eu não estava em meu juízo perfeito, como você pôde perceber. Eu nunca diria uma coisa dessas na cara dele se estivesse sóbrio, mas eu não estava. Talvez Namjoon me soltasse, talvez ele nunca mais falasse comigo, ou simplesmente hesitasse. No entanto, ele abriu um sorriso que brilhou nas cores das luzes piscantes.

— Eu tenho certeza que eu amo você, hyung. Por mais que eu tente me soltar, você segura em mim, então eu descobri que é inevitável. Eu acho que fomos feitos para ser o apoio um do outro.

Aish, por que ele tinha que dizer aquelas coisas lindas quando eu estava bêbado? Acho que eu não saberia responder mesmo se estivesse sóbrio. O impressionante em Namjoon era que ele não precisava de palavras difíceis para dizer coisas puramente maravilhosas.

Bom, eu estava sóbrio o suficiente para saber que a melhor resposta em um caso desses é tomar uma atitude.

Eu estava olhando para aquele sorriso iluminado, e de repente, parecia hipnotizado. Encostei minha testa na dele, só para sentir sua respiração no meu rosto. Estávamos nos apoiando um no outro.

Havia muita gente ao nosso redor. O que pensariam? Importava? Não para um bêbado apaixonado. Eu preferi ignorar tudo o que existia além de mim e Namjoon. Estava ignorando todas as consequências, porque eu o amava, e era tudo o que eu precisava para seguir adiante.

Minhas mãos subiram dos seus ombros, passando pelo pescoço até emoldurar seu rosto. Meus polegares acariciaram as bochechas cheias com aquele sorriso de felicidade, passaram pelas covinhas. Ele era maravilhoso, e eu podia senti-lo. Eu poderia senti-lo ainda mais.

Eu me aproximei bem devagar, queria apenas experimentar. Não havia desespero, porque ele já era meu. Ele avançou um pouquinho, e seus lábios só passaram pelos meus como o bater de uma asa, como quem pisa no terreno só para saber se é seguro, e só então arrisca. Foi assim que eu tive certeza que o queria. Eu queria tudo, e eu teria. As mãos dele deslizaram para as minhas costas enquanto ele me abraçava e me mantinha firme, ao mesmo tempo em que íamos em frente. Ainda devagar, mas sem nenhuma hesitação. Estávamos seguros de que tínhamos todo o tempo do mundo e, simultaneamente, seguros de que era aquilo que queríamos. Nós pertencíamos um ao outro, e estávamos onde era o nosso lugar.

A última coisa que eu consegui lembrar daquela noite foi a reação das pessoas ao redor quando finalmente perceberam. A maioria era a nossa galera. Nossos atletas em um momento de total confraternização. A vitória tinha sido alcançada com trabalho e até desentendimentos, então nada mais importava. Se eles fossem realmente nossos amigos, aquilo não seria demais, isso eu já sabia. Só não esperava exatamente que eles comemorariam como se estivessem assistindo a um grande acontecimento.

É, eles estavam.



Dor de cabeça.

Dor de cabeça.

Dor de cabeça.

Que inferno, é isso o que chamam de ressaca?

Os primeiros pensamentos daquela bela manhã ao acordar. Ou era o que eu pensava, até sentir aquele cheiro de ramen temperado e ouvir o barulho das panelas. Abri os olhos com relutância e vi Yumi na cozinha americana. Demorei ainda um pouquinho para me localizar: estava deitado no sofá da sala.

— Ah, bom dia, bela adormecida.

— Yumi… O que… Repouso absoluto, lembra? Ainda mais depois de ontem…

— Bom, alguém tem que fazer as coisas da casa.

— Então não devia ter falado para a gente ir.

— Eu só tô cozinhando, oppa. Não é nada demais.

— Se ao menos eu conseguisse levantar pra te ajudar…

— Eu tô fazendo um chá pra te ajudar com isso.

— Você sabe que pra repor as energias eu preciso de comida, não de chá.

— Sei — disse ela, já colocando num copo. — Você nem jantou ontem, e ainda disseram que vomitou na festa, mas não vai conseguir comer nada assim.

Ela veio com o copo e pegou uma cadeira no canto. Sentou do meu lado.

— Tenta sentar pra tomar isso.

— Só faltou você colocar numa mamadeira, eomeoni.

— Anda logo, palhaço, não tenho o dia todo.

Me esforcei para sentar e tomar o negócio. Às vezes eu me perguntava como era possível eu manter uma relação tão natural com ela. Como se eu nunca a tivesse beijado, como se eu não tivesse tentado me matar por causa dela. Quando fui ver, ela estava mexendo no meu cabelo enquanto eu tomava o chá. Cada vez mais eu sentia que ela seria uma mãe maravilhosa. Ela era atenciosa e carinhosa, de uma maneira muito delicada.

Depois de alguns minutos, eu decidi perguntar.

— Cadê o Nam?

— Lá pra dentro. Ainda dormindo, que eu saiba. Vai acordar ele pra almoçar.

Levantei, ainda meio mal, enquanto Yumi voltava para a cozinha. Fui em passos arrastados para o corredor, mas encontrei uma cena estranha. O corredor estava todo molhado, e a água vinha de baixo da porta do banheiro.

A porta estava encostada, e eu a abri. O que encontrei do outro lado me deixou boquiaberto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oxe ;-;



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Me chamam de Corvo (Bulletproof)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.