Dangerous Girl escrita por WeekendWarrior


Capítulo 10
Never Let Me Go




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— Aconteceu algo, Carmen? – indaguei-a retribuindo ao abraço repentino. Não esperava vê-la ainda hoje.

A pequena levantou o olhar e vi ali lágrimas espessas que tentavam a todo custo rolar pela face corada. Imediatamente me perguntei sobre o motivo da tristeza e incrivelmente senti-me abatido também, ao vê-la assim, tão apática. Uma vontade imensa de cuidá-la apossou-me.

Trouxe-a para dentro pelos ombros e a fiz sentar no sofá. Tirei a mochila gasta de seus ombros e apoiei sua cabeça em meu peito, seus braços fracos me apertaram.

— Quer me contar o que aconteceu? – perguntei afagando seus fios longos.

A menina fungou já revelando o choro livre.

— Jake, apenas responda minha pergunta. Seria capaz de partir comigo?

Carmen levou seus olhos até os meus e senti-me encurralado diante da questão. Sabia que não a queria longe, a queria perto, contudo, não havia pensado sobre o que seria de nós futuramente, muito menos depois do que fizemos na noite passada. Preferi apenas senti-la quantas vezes fosse preciso para nos saciar e esquecer das consequências.

Teria eu coragem o suficiente para partir com Carmen? Eu não tinha nem mesmo coragem para ficar trancado dentro de um elevador, quem dirá, deixar minha vida pacata para viver com Carmen. Porém, pensar nela longe… Isso sim me assustava mais que tudo, podia sentir o arrepio apreensivo me tomar o corpo.

— Carmen, você está abalada. Que tal descansar? Um banho, talvez?

Ela aprumou-se no sofá limpando os olhos.

— Diga-me, Jake, diga agora. Iria embora comigo? Você já sabe que o amo, eu te amo e não, você não precisa dizer que me ama de volta, apenas necessito de sua presença.

Abri minha boca pra falar, mas nada saía e ficava ainda mais difícil fugir do assunto – como eu sempre fazia quando incomodado – com seu olhar lascivo sobre minha pessoa. Mais uma vez, como um rato encurralado, suspirei.

— Essa pergunta é muito perigosa, Carmen. Por que não descansa? – toquei-lhe a face fazendo a menina fechar os olhos, parecia cansada – Um banho quente, o que acha?

— Você não vai responder minha pergunta, não é?

Sorri de canto analisando seu rosto abatido.

— Que tal me dar um tempo para pensar?

— Então quer dizer que está ponderando a situação? – inquiriu numa entonação surpresa e até mesmo feliz.

Assenti já me levantando e a trazendo comigo para a suíte de meu quarto.

— Talvez eu esteja, pequena Carmen.

Enchi a banheira e logo ela jazia ali, nua e despreocupada. Sentei-me na cadeira ao lado dela e segurei sua mão. Fitei os olhos verdes apáticos e cansados, a pele branca em contraste com a água, demonstrava fraqueza em cada movimento, até o piscar de olhos era fraco.

Queria indagá-la o que passava, pois obviamente algo acontecia, mas não queria parecer chato e invasivo.

— Tudo bem mesmo? – indaguei novamente, fitando os fios em tom cobre encontrando a água.

Ela apenas assentiu de olhos fechados e um sorriso mínimo no canto dos lábios. Senti seus dedos apertarem os meus com mais afinco, mas logo o aperto desfez-se e a vi relaxar. Ponderei levantar, porém ela impediu-me.

— Fique, por favor.

— Ok.

— Entre aqui comigo, quero te sentir.

Hesitei por um segundo, no entanto, cedi. Despi-me e entrei na banheira de frente para Carmen, logo a garota veio em minha direção e apoiou-se em meu peito, afaguei-lhe as costas encarando a parede branca a minha frente.

Sei que estou fodido por estar nessa situação; tendo relações com uma adolescente, cuidando de uma adolescente, uma mera menina.

— Você já teve alguém, Jake? – indagou sem fitar-me.

— Como assim?

— Alguém que lhe marcou a vida, o coração, uma mulher.

Pensei por um segundo de cenho franzido.

— Por que a pergunta? – procurei pelo seu olhar, qual ainda era frágil.

— Só quero saber. Podemos conversar um pouco?

— Ah, então agora você quer conversar?

Carmen riu minimamente e aquele sorriso fez-me feliz.

— Me responda então.

Suspirei e recapitulei meu passado em poucos segundos; uma face veio em minha mente e junto lembranças.

— Se você se refere a algo sério; sim, eu tive alguém. Já faz tanto tempo, quase nem penso nisso, eu ainda morava no Mississipi, havia uma garota e por incrível que pareça, ela gostava de mim. Claro, foi ela quem chegou em mim e contou sobre seus sentimentos, eu não tinha coragem o suficiente. Tínhamos apenas dezessete anos e dali partimos para quatro anos de namoro que depois virou noivado.

“Para mim tudo parecia ótimo. Estava no último ano de História na faculdade local, pensava em criar raízes por ali mesmo, talvez um filho e um gato. Trabalhar, voltar para casa, amar minha esposa e repetir tudo no dia seguinte, mas ela não pensava assim.”

“Ela sempre pensou grande, terminar a faculdade, viajar pelo mundo, conhecer pessoas e culturas diferentes. Sair por aí fazendo boas ações, ajudar ONGS, ter quatro filhos e dois cachorros. Uma casa grande onde poderia receber muitos parentes. Éramos diferentes, contudo, eu a amava e estava disposto a passar por cima de tudo isso; nossas diferenças.”

“Mas ela não estava tão disposta quanto eu a ultrapassar esses obstáculos e aceitar-me como sou. Terminamos a faculdade e o noivado não ia em frente. Cobranças vieram e então percebi que estava com medo de casar, sim, eu a amava, mas sempre fui medroso.”

“Começaram as queixas sobre meu jeito, que eu não pensava alto, não me mexia, não vivia de maneira intensa, que vivia apenas para aquilo que estava a meu alcance, que todos meus sonhos eram vazios e cheios de promessas miseráveis; palavras dela, ainda me lembro.”

“Mesmo assim, não duvidei de meus sentimentos e começamos a planejar o casamento, mesmo comigo tendo as pernas bambas. Imagine, seriam cinco anos jogados no lixo se terminássemos tudo. Sentia-me na obrigação de ir para frente com aquilo.”

“Mas a cada dia que passava as diferenças cresciam, coisas pequenas tornaram-se enormes, porém, eu me mantinha calado, já ela queixava-se de tudo, cada segundo, cada ato. Até quando não suportou-me mais e revelou o medo que tinha de viver uma vida miserável, ao lado de um homem miserável; mais uma vez palavras dela.”

“Contudo, não a culpo, não sinto raiva nem remorso. Sei que a culpa foi minha, eu não lutei pelo que poderia ter sido, apenas deixei-a partir.”

“Depois do ocorrido fui embora e vim para New Jersey, onde comecei a lecionar. Moro a anos sozinho nessa cidade, longe de tudo que já aconteceu.”

E como se um peso saísse de meu corpo suspirei cansado. Achei o olhar de Carmen em mim, fitava-me fervorosamente.

— Como ela se chama?

— Angelina.

— Ela foi uma burra, me desculpe, Jake. Mas como poderia ela te deixar? Você estava abrindo mão de seu bem-estar para viver os sonhos dela – meneava a cabeça indignada enquanto dizia – E não se culpe pelo que ocorreu, não é culpa sua.

Acariciei seus cabelos encarando-a.

— Nem penso mais nisso, mas sempre irei lembrá-la como a primeira.

Ela assentiu voltando para meu peito. Um rápido silêncio nos achou, porém logo foi interrompido.

— Você a amava, não?

— Sim.

— Você sempre dizia que a amava?

Franzi o cenho diante da pergunta.

— Responda, Jake – proferiu ainda sem fitar-me.

— Sim, a dizia sempre.

— Todas as noites? Sempre que faziam amor?

Estaria Carmen tentando machucar-se propositalmente?

— Isso nem importa mais, já faz tanto tempo.

Arrumou-se na banheira de maneira a me olhar melhor. Pôs suas mãos sobre meus antebraços e mais uma vez perguntou:

— Dizia que a amava todas as noites? Sempre que faziam amor? Antes de dormir? No banho? Quando saiam juntos? Sempre?

Ri incrédulo sentindo raiva do que ela fazia.

— Sim – respondi sério – Falava toda hora. É isso que quer saber? Que eu a amei mais que tudo? Sim, amei. Dizia toda hora, sempre que possível.

Vi lágrimas escorrerem pelos olhos cianos, a tristeza havia voltado.

— Por que fez isso? – perguntei contendo minha irritação – Por que quis se machucar? Me diga logo o que aconteceu. O que a fez aparecer tal hora em minha casa?

Ela apenas deixou as lágrimas escorrerem livres enquanto afastava-se para o lado oposto da banheira. Abraçou os joelhos e abaixou a cabeça, soluçou compulsivamente desta vez, o choro era liberto. A deixei assim por alguns segundos, apenas fitando-a extravasar a dor interna. Eu havia me aberto em parte com Carmen, mas ela ainda era uma incógnita para mim.

Suspirei cansado com a situação. Saí da banheira, peguei uma toalha para mim e para Carmen. Enlacei uma em minha cintura e a outra usei para tirá-la de lá.

— Venha – sussurrei puxando-a delicadamente.

Passei o tecido felpudo por sobre seus ombros e a trouxe para mim num abraço. Passei meus braços pelo seu corpo beijando o topo de sua cabeça.

— Me perdoe, não queria magoá-la. Olhe só o que você faz comigo.

Ela nada disse apenas apoiou a cabeça cansada em meu ombro. A levei para o quarto onde se secou com uma lentidão de dar nos nervos, minha vontade era de ir até ela e lhe ajudar no processo, contudo, não fiz.

Já seca deitou-se sob o edredom ainda nua. Ajeitou-se na cama e fechou os olhos. Meneei a cabeça e vesti minha samba-canção, por fim apaguei as luzes e deitei-me ao seu lado. Por um momento ela ficou imóvel, mas logo senti sua aproximação.

— Me perdoe, Jake – abraçou-me, colando seu corpo nu ao meu – Eu sou tão má, tão estúpida. Você tem todo o direito de me mandar embora.

— Você sabe que não irei fazer isso – proferi passando meu braço por baixo da garota, fazendo-a apoiar sua cabeça em meu peito.

— Talvez não funcionemos juntos.

— Se você me contar o que se passa, talvez eu possa entendê-la melhor.

Carmen demorou em responder.

— Apenas fique comigo, não me deixe.

Apertei-a mais em meus braços. Se a pequena não queria dividir seus pensamentos comigo, tudo bem, poderia aceitar sua condição por enquanto.

— Tudo bem, Carmen. Agora descanse.

E pouco depois a garota ressonava em meus braços, o peito subia e descia calmamente. Como ela se atreve a vir aqui no meio da noite, fazer com que eu me banhe com ela, revele-a meu passado amoroso e nem ao menos uma mísera palavra diz? Como se atreve? E como eu não sinto-me usado? Talvez porque o “usado” da história seja ela. Não que eu use a garota, mas toda a situação gira em torno da adolescente, que vive de ímpetos emocionais e hormonais.

Apenas quero saber o que se passa na vida dela. O que será que aconteceu para ela aparecer aqui, transtornada daquele jeito? “Seria capaz de partir comigo?” O que a fazia ter tanta vontade de ir embora? Tudo faz-me pensar que seus pais estão diretamente ligados a isso.

Suspiro e fecho meus olhos caindo em sono profundo, tendo como sonífero o corpo curvilíneo e quente colado ao meu, o cheiro doce impregnado em mim, em minha alma, em minha vida.


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