Um amor de cada vez escrita por LadyB


Capítulo 1
Doce como algodão doce




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740121/chapter/1

Meu primeiro amor foi o Caio. Meu colega de classe, meu vizinho e sobrinho da minha tia.

Consigo recordar com precisão das vezes que chegava em casa ansiosa para escrever no meu diário sobre uma ou duas frases que ele tinha me dito. Escrevia com raiva sobre como ele era um bobão por preferir ficar com a Sofia e não comigo.

Foi com ele que descobrir que não nasci pra ficar esperando.

(...)

O dia estava feio e escuro. Minha professora disse que minha mãe tinha ligado pra escola para avisar que iria se atrasar um pouco. Eu estava agora sentada na arquibancada, torcendo o nariz para alguns meninos que insistiam em jogar bola fora da quadra. A brincadeira sempre acabava com algum objeto quebrado e uma advertência que não daria em nada.

Marcela, minha melhor amiga, já tinha ido para casa e nessa hora, provavelmente, estava terminando o almoço. Como eu não tinha nada para fazer, comecei a rabiscar alguns desenhos geométricos na minha agenda, mesmo sabendo que depois levaria bronca. Ficar parada sem fazer nada era entediante, e melhor desenhar do que arrumar confusão.

Ultimamente minha mãe não tinha mais tanto tempo pra mim. Há cerca de um ano ela me levou pra tomar sorvete e me explicar que, agora que eu já era uma mocinha, iria dedicar um pouco mais de tempo para o trabalho. O chefe dela deu uma promoção, na qual ela entraria mais cedo no trabalho e sairia mais tarde. Eu não liguei muito, preferi me concentrar em tomar meu sorvete de morango e observar as pessoas na rua. Desde então minha mãe tem atrasado algumas vezes na semana.

Meu pai me disse que eu não deveria ligar. Que ela estava muito feliz e nós precisamos entender. Tudo isso porque no começo eu fazia birra, dizendo que ela já não me amava mais.

Senti algo batendo nos meus pés. A bola que os meninos estavam brincando rolou até mim. Com um sorrido perverso, peguei a bola e fiz menção de não entregá-la. Depois de algumas tentativas de pegá-la — e alguns xigamentos — Os meninos enviaram Caio, sabendo que eu gostava dele.

— Valentina, você pode nos entregar a bola? Essa é a única que os alunos do fundamental podem pegar.

Confesso que vê-lo tão perto de mim, me amoleceu, mas o sentimento rapidamente desapareceu quando lembrei que ele tinha passado a semana interia viajando com Sofia e a família dela.

— Não, porque toda semana vocês fazem a mesma coisa: Jogam a bola em mim, pedem de forma de volta sem nenhuma educação e depois ficam falando coisas feias quando eu digo que não vou dar. Então, não.

Ele começou a rebater, mas desistiu quando viu que eu estava, de verdade, muito brava. Com uma expressão irritada, ele foi embora.

Uma semana depois, eu recebi um convite para o Aniversário de Caio, que seria no salão de festas do nosso prédio. Eu tinha dito para mamãe que não iria, mas ela, com a justificativa que seria falta de educação, me fez colocar um vestido bonito e ir de qualquer jeito. A festa foi bonita e muito chique. Comi tanto que passei mal quando cheguei em casa.

Quando fui escrever no meu diário sobre a decoração azul, lembrei que, às vezes, pegava o Caio me olhando muito concentrado. Achando que ele estava caçoando de mim, logo formei um plano para tirar a história a limpo. Já não  bastassse ele ficar elegiando toda atitude da Sofia, ainda tinha que querer defendê-la depois do nosso bate boca na aula de matemática.

Pois bem, na segunda-feira eu cheguei na carteira de Caio e contei uma mentirinha básica.

— A diretora que falar com você, Caio. — falei, saindo da sala de aula.

Um coro de vaias irrompeu na sala, fazendo com ele ficasse corado.

Quando estávamos perto da diretoria, o puxei para uma sala vazia, querendo tirar satisfações.

— Por que você colocou aquele bilhete horrível no meu caderno? — E antes que ele pudesse responder, emendei —  e se era pra ficar rindo de mim no seu aniversário, era melhor nem ter convidado.

Naquele momento eu já não me recordava o porquê gostava dele. Não lembrava como ele era legal comigo, me ajudando sempre no dever de geografia, não lembrava das vezes em que ele levou seu gatinho para o pátio para me alegrar quando minha  mãe se atrasava. Eu só queria bater nele até que minha raiva se desfizesse.

— Eu não sei do que está falando, Valentina. Você que ficou estranha comigo depois que a Sofia veio estudar na nossa classe.

AHA! E ainda colocava a culpa em mim.

— Eu não fiquei estranha. — rebati. — Você que começou a aceitar tudo ela fala. E nunca tem tempo pra ficar comigo!

— Eu precisava ajudar a Sofia a se enturmar. Minha mãe que pediu, Valentina!

Seus olhos estavam me acusando, como se eu tivesse que aguentar aquela melação dele com ela só porque sua mãe pediu. Irritada, sai sentindo minha cabeça fritar de raiva. Nem ao menos lhe disse que era mentira a parte da diretora querer falar com ele.

Chegue em casa amuada, sem querer comer nada. A única coisa que aliviou meu estresse foi minha irmã, que foi passar o final de semana minha casa como de costume. Ela me abraçou e me perguntou o que estava acontecendo.

— Nada, não, Rebeca. — respondi, ligando a TV.

Claro que no fim ela conseguiu tirar a resposta de mim. Ela sempre soube que um prato de brigadeiro tem o poder de me acalmar. Enquanto eu comia, deixei toda minha indignação com a situação sair.

Rebeca me olhou com um sorriso matreiro e sugeriu que falasse pra o Caio o porquê de não querer a Sofia tão perto dele. Eu fiquei brava, falando para ela parar de dizer besteiras, até que, à noite, ela me mostrou um filme em que tudo acabava bem depois da mulher falar o que sentia e dar um beijo no homem.

Simples assim, eu estava convencida.

No outro dia fingi que nada tinha acontecido e agi normalmente. Sabendo que minha mãe iria se atrasar, comprei logo um sorvete e comecei a procurar Caio discretamente. O achei com os outros meninos e logo corri para perto dele.

Passei casualmente ao seu lado, fazendo uma cara de desolação. Ele viu e veio me perguntar o que estava acontecendo.

— Minha mãe me prometeu que não iria se atrasar, mas a professora acabou me dizer que ela vai, sim, se atrasar. — Entrecortei a frase, para deixar tudo ainda mais dramático.

— Não fica triste, Valentia, daqui a pouco ela chega. — Me olhou com preocupação.

Tão fofo!

— Daqui a pouco o filme já vai ter começado! — Bati o pé para reforçar minha fala.

— Olha, se você quiser a gente pode ir lá pra casa e assistir um filme hoje a noite. Eu falo com a sua mãe quando ela vier te buscar.

Precisei esconder o sorriso em meu rosto ao escutar sua proposta. Sim, eu era meio manipuladora quando criança.

— Pra quê? Pra você levar a Sofia?

A expressão de Caio azedou-se.

— Para de meter a Sofia em tudo, Valentina! Se eu te chamei pra ver um filme, é porque só vou assistir com você.

Faço uma expressão sofrida, pra mostra-lo que fique magoada. Embora por dentro estivesse dando pulinhos. A hora de agir tinha chegado!

— Eu não a meteria em tudo se você não tivesse me trocado. — Ele fez menção de sair, mas eu completei — Se ela não ficasse dizendo pra todo mundo que vocês são namorados.

Ele virou pra mim, confuso.

— Ela disse que nós somos namorados?

— Sim! Ela disse isso pra mim rindo, mesmo sabendo que eu gosto de você! — Gritei a última parte, igual à mulher do filme fez.

Eu torci para ter ficado bom. E esperei ansiosa por sua resposta. Meu coração batia rápido e minhas mãos soavam, como ficavam quando eu fazia algo que era errado.

Ele me olhou atordoado pela minha revelação.

— Você...você gosta de mim? — susurrou de modo cuidadoso.

Seus olhos azuis estavam esbugalhados e suas bochechas vermelhas, o deixando ainda mais bonito.

— Sim. — respondi, com firmeza, andando a passos largos em sua direção.

Olhei dentro dos seus olhos e repeti:

— Sim, Caio, eu gosto de você.

E antes que ele pudesse reagir, o beijei. Nada muito dramático ou intenso, apenas um selinho. Um selinho que valeu mais que qualquer beijo cinematográfico na época.

Então, peguei suas mãos e sussurrei:

— Uma pena que você não goste de mim.

Soltei suas mãos e sai correndo. Eu gostaria de dizer que foi para imitar o filme, mas eu estava, na verdade, muito assustada com o que tinha acabadode fazer.

Quando Marcela me encontrou no box do banheiro, a fiz prometer que diria a professora que eu estava com dor.

Passei uma semana em casa fingindo estar doente. Não foi muito difícil porque depois da escola meu irmão ia lá pra casa cuidar de mim e a noite eu dormia antes da minha mãe chegar em casa, somente acordando sempre depois do café-da-manha.

Até que eu tive que voltar pra escola. Fiz minha mãe me levar mais cedo, com a desculpa de pegar as matérias que perdi com Marcela, mas eu não queria era me encontrar com o Caio e levar um pé na bunda.

Só que nosso encontro foi inevitável. Estudávamos na mesma sala, afinal. Ele entrou na classe e me viu, mas assim que tentou se aproximar, eu corri pra perto da professora. No final da aula eu não tive tanta sorte: Ele estava me esperando do lado de fora da classe.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa como desculpa, ele me entregou um ursinho de pelúcia.

— Eu também gosto de você — Sua voz saiu baixinha. Seus olhos estavam mirando o chão e até seu pescoço estava vermelho.

Pensei que ele fosse correr como eu fiz, mas ele apenas ficou lá parado. Esperando uma resposta.

Abri a boca várias vezes, mas não consegui falar nada. Bem compreensível, não? Reuni toda coragem que não tinha e perguntei:

— Você está perguntado se quero ser sua namorada?

Caio se sobressaltou, me olhando com a boca entreaberta e os olhos do tamanho de mini pratos.

Como ele ficou calado, continuei:

— Porque de for, eu aceito.

Ele demorou a me olhar, me deixando cada vez mais ansiosa.

— Aceita? — Seus olhos demoraram a encontrar os meus, e quando o fizeram, fiquei um pouco deslumbrada.

Eles estavam tão brilhantes.

— Aceito. — repeti, olhando para os quadros malfeitos na parede.

Senti seus passos se aproximando e prendi a respiração.

— Se for assim, então eu estou.

Virei de repente, tropeçando e levando-o junto comigo ao chão.

Nossos rostos estavam próximos, tão próximos que seu hálito de pirulito de uva impregnava todo ar ao meu redor.

Então eu sorri de felicidade e ele me acompanhou. Peguei sua mão e apertei com força.

— Espero que você tenha essa coragem quando for falar com meu pai!

Ele me olhou em pânico, mas eu apenas o puxei para sala, louca pra contar a novidade para todos.

Simples assim, eu estava namorando.

(...)

 Nós "namoramos" uns dez meses, até que ele foi para o turno do tarde e eu permaneci no da manhã.

Foi uma época bonita, quando eu achava, com toda inocência, que ficaríamos juntos até a morte. Não preciso nem dizer que quase morri quando soube que ele tinha ficado em outro turno.

Vira e mexe nós nos vemos na rua e sempre rola aquele sorriso de reconhecimento, onde nossa história passa como um filme bonito na  mente.

Foi um ótimo começo nessa minha jornada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um amor de cada vez" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.