O som dos gritos se misturavam a rotina normal do castelo e ao barulho das espadinhas de madeira se batendo. Robb ria, sem se dar conta do que poderia estar acontecendo no quarto principal. Mas Jon estava atento. O irmão já o havia derrubado várias vezes, pois Jon parava para prestar atenção a cada grito mais forte. Era um misto de curiosidade e medo. Lady Stark estava morrendo? O que havia de errado?. Ele não sabia dizer. Ouviu que da última vez que aquilo havia acontecido, ele era muito pequeno pra se lembrar. Vencido pela curiosidade, largou sua espada de madeira e correu. Robb ainda gritou, tentou fazer com que não deixasse a brincadeira, mas Jon não olhou pra trás.

Ao chegar no quarto principal, olhou pela fresta da porta e viu Lady Stark deitada. Parecia doente. A ama percebeu sua presença e fechou a porta com força. Não era bem-vindo ali. Nunca fora. E sabia com certeza, a cada olhar que recebia de Lady Stark. Bastardo. A criança de cabelos cacheados e escuros sentia-se perdida no meio de tanto vermelho. Havia seu pai, Ned Stark, que era carinhoso e se importava, mas estava ausente na maioria do tempo ou falando com outros lordes, tratando dos assuntos do Norte. E mesmo quando estavam todos juntos, Robb e Sansa ganhavam a maior parte do tempo do pai. Jon, mesmo tão pequeno, via-se praticamente sozinho no mundo. Ouviu então mais um grito, o mais alto de todos e logo em seguida o choro de um bebê. De olhos arregalados e confuso, viu Ned Stark chegar e entrar de uma vez, batendo a porta atrás de si, sem o notar. Como ele não saiu novamente, Jon se sentou.

Acordou assustado. Ned chamou seu nome, tocando levemente seu braço, tirando-o do sono esquisito no qual havia caído. Não sabia quanto tempo havia esperado. Levantou-se, esfregando os olhos e ficou onde estava. Ned percebeu a hesitação do garoto e com um sorriso confortante, deu a autorização que Jon precisava para entrar no quarto principal. Estava quente e úmido e Lady Stark dormia profundamente. Ela nunca permitiria que ele estivesse ali. Lentamente aproximou-se e viu o monte de panos dentro de um berço ao lado da cama. Chegando mais perto, a cabeleira castanha de um bebê enrugado prendeu sua atenção. Olhou para seu pai sem entender muito bem. Ned pegou o bebê no colo, que resmungou e se contorceu dentro da manta que o envolvia e o aproximou de Jon:

— Essa é sua irmã, Jon. Arya.

Os olhos do menino brilharam. Ele esticou a mãozinha e tocou levemente nos cabelos castanhos do bebê, que, de olhinhos fechados, resmungou e se contorceu mais uma vez. Jon não estava mais tão sozinho.