Our Solemn Hour escrita por Nightshade


Capítulo 1
Prólogo




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No dia em que Ceinwyn viu os dinamarqueses pela primeira vez, ela estava com os pais e sua comitiva, em Nortúmbria, se aproximando de sua parada em Bebbanburg, onde ficaria, com sua mãe, como hóspede de honra de Lorde Uhtred, senhor que governava aquelas terras, enquanto seu pai, rei de Mércia, iria até Osbert, rei de Nortúmbria discutir algo importante.

Era outono, e Ceinwyn olhava com admiração as belas aves marinhas girando sob a água e gritando em seus belos voos. Ela notara os murmúrios que percorreram entre os homens de seu pai e o jeito em que as belas feições de sua mãe, ao seu lado na carruagem, se retorceram brevemente enquanto afastavam as cortinas de seda.

Era um dia bonito, e o sol aparecia por entre as nuvens, o mar estava calmo e límpido. Mas três navios se aproximavam por aquele mar. Eram grandes e impressionantes; pareciam repousar sem peso no oceano.

— Vieram apenas comerciar, desta vez. - a voz de seu irmão, Burgred, surgiu ao lado da janela por onde olhava. Burgred era mais velho e homem; cavalgava ao lado de fora.

— Como assim? - aos nove anos, toda criança, meninos ou meninas, tendiam a curiosidade.

— Ora, minha doce irmã, veja as proas e as popas; - ele fez um gesto - não possuem feras desta vez. Eles removem as feras quando vem a comércio. Geralmente trocam peles por peixe seco ou sal.

— Eu quero vê-los! - Ceinwyn insistiu, em sua teimosia infantil.

— Acho que já chega de conversas sobre dinamarqueses por hoje. - Brigit, lançou um olhar reprovador para o filho mais velho - Estamos quase chegando à fortaleza.

Burgred deu um sorriso, que em demasiado lembrava o do pai, e avançou para frente da coluna com o cavalo. A pequena princesa franziu o cenho.

— Não é justo! - exclamou - Por que Burgred pode cavalgar lá fora com o pai e eu tenho que permanecer aqui trancada!

Brigit suspirou, indicando que aquela não era a primeira vez que a filha reclamava pelo mesmo motivo.

— Você é uma dama, Ceinwyn, é uma princesa. O que significa que seus deveres serão diferentes dos de seu irmão. - encarou a filha - Você não partirá para a batalha, mas irá governar a sua casa e futuramente se casará com um príncipe ou um nobre senhor.

Ceinwyn ainda não compreendia o fato de seu destino parecer ser cravado em uma pedra, Brigit sabia disso, mas torcia para que o tempo moldasse sua filha. Muito dificilmente uma mulher seria bem vista entre os saxões se tentasse se erguer mais alto que o esperado. Ela sentira isso na pele.

***

Uma semana havia se passado desde que seu pai havia partido para ter com Rei Osbert, e seu irmão o acompanhou, o que a deixou ressentida.

Ceinwyn poderia ser uma criança, mas antes de tudo era uma princesa, e, como aqueles de nascimento nobre, fora incentivada, desde que começara a falar, a atividades importantes como leitura e escrita, música, bordado e deveres de uma senhora - como se portar. Talvez fosse por seu empenho tão grande a leitura e a música que princesa houvesse criado um espírito tão aventureiro. Gostava de ler relatos de batalhas antigas e músicas de bardos.

Era inteligente ao ponto de perceber o que acontecia ao seu redor, até mesmo por ouvir conversas por acidente. Sabia que o rei de Nortúmbria era Osbert, mas também ouvira rumores de que um homem chamado Aella, um ealdorman, parecia estar montando um exército para desafiar Osbert. Ela sabia o que era isso: Traição. Mas em sua mente ainda infantil, não percebia um grande perigo nisso.

Ceinwyn se sentia sufocada em Bebbanburg; servos e senhores eram bajuladores, sempre ao redor dela e de sua mãe. Desejava ter ido para Wessex, onde conhecera uma vez a princesa de sua idade e ambas brincaram juntas. Mais do que tudo, nesse momento, desejava ver o comércio dos dinamarqueses lá fora. Queria ver pessoalmente esse povo que causava tantos murmúrios.

Ao que parecia, sua mãe também insatisfeita com tanta bajulação e também parecia querer visitar o comércio. Foi organizada então uma pequena comitiva para escolta-las para fora.

Enrolada em sua capa, Ceinwyn sentia a mão de sua mãe em seu ombro, a apertando para que não saísse de perto dela. Os soldados estavam ao seu redor. Não queria ver peles, queria ver o povo.

— Mãe, olha! - exclamou, apontando - Colares e armas!

— Ceinwyn! - a mãe a repreendeu, acidentalmente largando seu ombro - Ceinwyn!

A última pronuncia de seu nome foi em um grito, pois a garota havia conseguido escapulir e correr de sua mãe indo até onde as armas eram expostas, e alguns colares haviam estado ali.

Uma mulher alta e loira, com olhos marcados parecia conversar com um homem muito alto e também loiro, com os olhos muito brilhantes. Ceinwyn parou diante deles, com os olhos arregalados. Então, aqueles eram os dinamarqueses. A mulher sorriu para ela, sua feição se tornando gentil e disse algo que a pequena garota não entendeu.

— Eu quero um colar. - disse, fazendo um gesto para o pescoço.

— Um colar? - a voz do homem soou, na sua língua, mas com um sotaque tão forte que quase a impediu de compreende-lo.

Um menino surgiu por de trás do homem, falando alto na língua estranha. Tinha os cabelos longos sobre os ombros e os olhos brilhantes como os do homem. Estava descalço e um corte estava em seu rosto. Em seu peito, trazia o colar que ela tanto havia admirado. Uma tira de couro da qual pendia um pingente rustico de prata em forma de algo parecido com um martelo.

— Esse colar! - ela exclamou e apontou para o garoto, o que fez com que ele parasse de falar momentaneamente.

O homem e a mulher riram, o que fez com que a pequena princesa corasse. Por que tinham a audácia de rir dela? Se aproximou do garoto, que visivelmente não falava sua língua.

— Ceinwyn. - ela apontou para si mesma, e tirou o longo colar que usava por dentro de suas roupas e o entregou - Colar. - ela fez um gesto para seu colar e depois para o dele.

Trocas eram comum entre os povos, ela escutava. Torcia para que o povo bárbaro ao menos tivesse conhecimento o suficiente para entender seus gestos. O garoto a encarou por um momento, e então seus olhos foram para o colar em sua mão. O colar de Ceinwyn era longo para seu pequeno pescoço; era de ouro com um pingente que imitava uma folha amarelada de outono. Tinha desde que nascera, fora presente de alguém que muito provavelmente a garota nem conhecera.

— Ivar. - o garoto gesticulou para si mesmo e tomou o colar da mão de Ceinwyn, o que a deixou indignada, mas quando o viu tirar seu próprio colar e jogar para ela, relaxou.

A mulher loira se abaixou para encarar com atenção a garota, seus olhos curiosos, mas ainda assim, gentis. Ela observou o rosto da princesinha e murmurou algo em seu idioma para o homem, que o fez sorrir e o garoto franzir o cenho, mal-humorado.

E então, Ceinwyn viu a comoção próximo dali; os soldados e sua mãe.

Ceinwyn! - viu sua mãe correr até ela - O que você estava pensando? - questionou, com o rosto vermelho e o vestido voando ao vento, abraçando a filha pelos ombros.

— Ela estava aqui. Queria apenas um colar. - a mulher loira falou, pela primeira vez, com um sotaque também forte.

Brigit olhou para o colar na mão da filha e fez uma leve careta, embora parecesse tentar não sorrir. Com uma última olhadela para os dinamarqueses, arrastou Ceinwyn dali.

— Vou ser surrada? - Ceinwyn perguntou, ligeiramente amedrontada.

— Não acho que seu pai permitiria. - a mãe respondeu, enquanto voltavam para a fortaleza - Ele faz todas as suas vontades. E além disso - a olhou - Talvez queira esconder esse colar.


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