I Still Believe escrita por Lily Duncan


Capítulo 3
Torta de maçã


Notas iniciais do capítulo

Finalmente um novo capítulo postado! Espero que possam se deliciar com o capítulo tanto quanto eu me deliciei ao escrevê-lo u.u Prometo responder todos os comentários em breve. Agora só tenho a agradecer todos vocês que estão lendo e acompanhando. Muito importante para mim. Vamos amar um pouco mais SwanQueen ♥
Tenham uma boa leitura!



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Cinco anos antes da Maldição

 

As últimas caixas da entrega terminavam de ser depositadas cuidadosamente no assoalho do escritório de Regina Mills. A mulher, trajando uma bela roupa social escura condizendo com o seu luto eterno, abaixou perto de uma entrega e pegou o bilhetinho delicado com o seu nome.

Um agradecimento especial por você ter reformado a escola e ajudado minha mãe. Você disse que odiava sua decoração. Espero que aproveite agora

Emma.”

Regina não entendia como a amiga conseguia ser tão prestativa sem pedir nada em troca. Ficou surpreendida com os objetos de decoração, os quadros ridiculamente bonitos e uma amostra de novos papéis de paredes para ela escolher. Definitivamente o lugar ficaria com outra cara, e era de admirar que Emma sabia exatamente os seus gostos.

Começou pela tarde a colocar a nova mobília nos lugares que julgava ser adequados e terminou a noitinha ajeitando a antiga decoração nas caixas agora vazias.

Embora quisesse se livrar das coisas velhas, sabia que não podia abandonar as porcelanas dadas de presente pela mãe. Era a única lembrança que tinha da mulher, e, mesmo que a relação delas não fosse a melhor, queria manter os objetos por perto – consequentemente, zelaria pela presença de Cora no ambiente.

A porta de entrada se abriu e o namorado, Seamus Allen, adentrou elegantemente com um sorriso bobo brotado no rosto. Ele possuía cabelos loiros platinados, olhos azuis-escuros muito profundos e quase sempre estava usando vestes sociais (naquela ocasião não era diferente). De uma personalidade forte, o homem era incrivelmente inteligente e trabalhava como médico no hospital da cidade, sendo praticamente o braço direito de Dr. Whale.

Eles namoravam há seis meses, mas o relacionamento parecia ruir cada vez mais. Ambos se achavam muito parecidos em diversos aspectos: cresceram em um lar disfuncional, com uma mãe rigorosa sempre visando o sucesso particular de seus filhos, perderam tragicamente o primeiro amor e também juraram vingança por anos.

A diferença, porém, ficava na parte de superação. Regina tinha superado os eventos passados com a Branca de Neve, e, naquela altura, mantinha uma amizade forte com a filha dela. Além disso, o amor mútuo de ambas tinha sido o responsável pela quebra da maldição que varreu todos da Floresta Encantada para Storybrooke, apesar de não entenderem o real significado daquilo.

Enquanto isso, Seamus se negava a deixar os acontecimentos para trás. Embora ele não fosse tão perverso quanto ela um dia tinha sido, ainda jurava colocar o culpado atrás das grades.

Mas a vingança – ou sede de justiça, como ele gostava de falar – não era saudável e eles tinham de reviver o passado todo dia. Era cansativo e ela não aguentava tanta pressão.

Seamus se adiantou e estendeu uma sacola de papel lotada de ingredientes para um futuro jantar aparentemente delicioso.

— Hoje eu cozinho – ele prometeu, piscando. – Para compensar o seu trabalho na cidade, Srta. Prefeita. Como sobremesa, farei torta de pêssego. Gostoso, huh?

Regina odiava pêssego.

— Sim, maravilhoso – falou, desviando o olhar.

Embora estivessem há meses juntos e o tempo fosse suficiente para o homem saber que ela preferia torta de maçã, sabia que ele jamais se lembraria disso. Na realidade, ele não se lembrava de quase nada, sempre se esquecendo dos seus pedidos e gostos favoritos.

Eram praticamente estranhos, enquanto ela e Emma tinham uma estranha aproximação.

— Parece que teve uma boa mudança aqui – Seamus reparou, andando pelo ambiente. – Resolveu mudar?

— Eu te disse que tinha cansado da decoração antiga – Regina lembrou. – Há uns dois meses. Emma me ajudou a arrumar agora. Na verdade, ela enviou toda a decoração.

— Emma? – Seamus de repente mudou a expressão, ficando estranhamente sério. – Você podia ter me dito, e eu a ajudaria.

— Eu não pedi a ajuda de ninguém. Ela tomou a iniciativa antes de você – ela ousou dizer secamente.

— O que você tem contra mim?

Regina piscou algumas vezes, pensando tê-lo ouvido mal.

— Como?

— Sempre que eu tento fazer algo legal, você vem com esse papo de “Emma me ajudou primeiro” – Seamus reclamou, irritado. – Eu sou o seu namorado. Ela é uma intrusa.

— Eu não sei porque você pensa que ela é a intrusa. Enquanto você se nega a perceber que falta algo na nossa relação, ela me acolhe muito bem – Regina enfiou as mãos no bolso, exatamente como fazia quando estava começando a ficar impaciente. – Eu não vou ficar aqui ouvindo você falar mal da minha amiga como se ela fosse a vilã. Devíamos apenas jantar, conversar sobre o nosso dia, sei lá. Algo normal para variar.

— Eu perdi o apetite – ele rangeu os dentes, nervoso. Regina não o entendia. – Podemos pedir algo, se ainda quiser comer.

Ela o olhou de forma dura, soltando um suspiro quase zombador.

— Obrigada por estragar o meu dia com algo tão bobo quanto o seu ciúme.

Adiantou-se para a saída em passos apressados e precisos, mas o homem a puxou de volta pelo braço, apertando-o. Regina o encarou novamente, assustada com a repentina mudança de humor.

— Você não pode me dar as costas – ele falou, os olhos vidrados de ódio.

Se a situação não fosse estranha, ela acharia muito cômico o que estava acontecendo. Seamus jamais tinha agido dessa maneira, mesmo que tivesse crise de ciúmes vez ou outra. Ele jamais teve a coragem de encostar um dedo nela, e, naquele momento, parecia disposto a machucá-la.

— E você não pode me apertar desse jeito – ela tentou se desvencilhar, mantendo a voz controlada. Queria poder resolver aquilo da forma passiva, mas, caso algo de errado acontecesse, ela não hesitaria em usar os seus poderes. – O que está acontecendo com você?

— Nada está acontecendo comigo – Seamus falou com a voz entrecortada. Ele estava trêmulo de repente. – Nada…

— Me solta – Regina pediu, calmamente. Ela não queria perder a paciência e causar uma comoção maior, embora não ousasse deixar nenhum homem encostar nela daquela maneira. – Eu não vou pedir novamente.

Seamus ergueu a mão livre e aproximou-a lentamente do coração dela. Regina congelou, prestando atenção no movimento. O que ele estava disposto a fazer?

— Você vai soltá-la agora ou precisará da minha ajuda? – Emma surgiu atrás deles.

Sem precisar dizer de novo, o homem recuou, largando-a no mesmo instante. Regina massageou a parte do braço outrora apertada, fitando-a com profundo nojo.

— Então vocês iam se encontrar aqui? – Seamus estava respirando de forma desregulada, o cabelo desalinhado. Ele encostou na enorme mesa, o corpo incerto estremecendo.

— Do que você está falando? – Emma perguntou, tomando a frente. – Eu vim ver a decoração e o que minha amiga achou dela. Eu não estou disposta a ficar entre vocês dois, mas se encostar nela mais uma vez…

— Você vai fazer o quê? – Seamus a cortou, deixando o corpo um pouco mais recuado.

— Eu sou a xerife dessa cidade, Seamus. Então eu tenho todo o direito de fazer o certo quando vejo algum suposto homem agindo como um animal selvagem sobre uma mulher – Emma não hesitou ao responder.

Regina piscou e tentou focalizar a visão. Ela tinha achado a atitude do namorado tão incomum. Embora tivesse sido a primeira vez que acontecia, não podia deixar que isso se repetisse.

— Saia do meu escritório imediatamente, Seamus. Eu não desejo vê-lo aqui, nem na minha casa ou qualquer outro lugar dessa cidade. Mantenha-se afastado – ela falou, assistindo nos olhos dele a tamanha surpresa diante daquelas palavras.

— Você não pode estar falando sério… – ele tentou dizer.

— Saia – Regina repetiu.

— Você a ouviu, Seamus – Emma veio de apoio.

Seamus pegou o restante de seu orgulho, ajeitou os cabelos e saiu com rapidez para fora.

Uma vez sozinhas, Regina deixou o corpo cair em uma poltrona e soltou um suspiro cansado.

— Eu nunca imaginaria que ele fosse esse tipo de pessoa…

Emma sentou ao seu lado, lançando um olhar compreensivo para a amiga.

— Eu tinha dito que ele não era uma boa pessoa. Algo nele estava muito errado. Eu sei que você gostava dele, mas assim é melhor. Ninguém sabe o que um homem violento pode causar, por isso é bom mantê-lo afastado.

— Obrigada – Regina sussurrou, levando uma mão para tocar suavemente o ombro desnudo da outra. – Obrigada por ser tão paciente e prestativa. Eu não acho que mereço tanto.

— Claro que merece. Não venha me dizer algo assim. Ok? – Emma apertou a mão dela. – Você quer fazer algo agora para esfriar a cabeça? Podemos comer na Granny’s. Eu pago uma deliciosa torta de maçã.

Regina apenas conseguiu soltar uma risadinha e assentir, sendo levada para o estabelecimento por uma companhia inesperada naquela noite.

 

•✚•

 

ATUALMENTE

 

Emma sentia o corpo melhor e as dores tinham magicamente desaparecido, principalmente por estar mais disposta e atenta nas pessoas andando de um lado para o outro no seu quarto.

Após o reencontro aquecedor com a esposa e o filho, os pais chegaram apressados para revê-la. Pareciam mais velhos, mais experientes, mas continuavam com o olhar amoroso. Regina e Henry fizeram questão de deixá-la sozinha com os pais, e eles passaram duas horas conversando, chorando e abraçando-se, lembrando dos bons momentos antes daquela loucura de Maldição ter começado.

Ninguém parecia decidido explicar o que tinha acontecido naqueles últimos dez anos, tampouco como a Maldição tinha sido planejada ou dito quem eram os culpados. Quando ela tentou perguntar, eles apenas disseram que ela precisava descansar a mente e alma, aproveitar a companhia da família e ficar tranquila, porque os perigosos tinham ido embora.

Mas ela estava disposta a descobrir. Em breve.

Ela se ajeitava para finalmente ir para casa. Pediu para não receber nenhuma visita naquele momento, de modo que o quarto estava apenas amarrotado por August, Regina, Henry e os pais, todos muito empolgados para levá-la de volta ao lar.

Era muita emoção para um primeiro dia, e ela não sabia se o coração aguentava mais novidades. Precisava respirar, voltar para casa, deitar na sua cama e deliciar-se com a companhia das pessoas que amava. Ela tinha esperado bastante tempo para isso, e sabia que a família ainda mais.

Regina trouxe a antiga jaqueta vermelha, uma calça jeans e botas para ela vestir. Naquele instante, sentiu-se acomodada novamente, como se nada tivesse mudado. Mas o envelhecimento das pessoas ao seu redor e a maneira mais engajada na qual eles se portavam dizia o contrário.

Ela estava curiosa para saber sobre tudo, mas aquele não era o momento adequado. Precisava respirar e filtrar os primeiros acontecimentos. Ela foi levada ao carro negro da esposa, tendo a mesma como motorista. Harry e os pais vieram no banco de passageiro, enquanto August seguia logo atrás com sua moto.

Assim que pôs os olhos no enorme casarão, percebeu que nem tudo estava tão diferente. A pintura era mesma, embora soubesse que devia ter sido retocada ao longo daqueles anos. Mas continuava com a mesma cor, o jardim estava impecavelmente cuidado e a árvore principal reluzia lindas maçãs vermelhas.

Dentro da casa nem tudo tinha mudado também. Alguns móveis eram novos, mas a decoração era parecida com a qual ela se lembrava. O ambiente ainda tinha o cheirinho de lar, e ela saiu apressada para ver os outros cômodos como uma criança feliz com o seu novo brinquedo, nutrindo-se de boas lembranças. A família vinha sempre atrás, rindo e animados com a curiosidade dela.

Parou no quarto que dividia com a esposa. Ficou na porta, segurando a maçaneta com firmeza, uma forte emoção dominando o seu corpo. Regina pousou a cabeça em seu ombro, apertando sua cintura em seguida. Elas não precisavam dizer em palavras o que a outra sentia, porque a conexão delas se explicava sozinha. E, naquele momento, sabia que a esposa entendia o abalo de sentimentos.

— Continua tudo igual, mesmo depois de tanto tempo… – Emma falou, baixinho. Finalmente estava a sós com Regina, e pensava em aproveitar aquele minuto para entender um pouquinho aquela confusão estranha. – Você manteve quase tudo intacto.

— Me fazia lembrar de você – Regina falou contra seu ouvido, guiando-a para dentro do quarto.

Emma não tinha certeza se estava preparada para entrar, mas moveu os pés e entrou no cômodo enorme. Ela suspirou, apertando as mãos depositadas em sua cintura. Se tombasse diante de seus sentimentos, sabia que a mulher estaria ali para segurá-la.

— Eu sinto muito – disse pela milionésima vez naquele dia, porque se sentia culpada por ter passado tanto tempo longe. – Eu não queria ter ido.

— Eu sei – Regina suspirou, mas se mantinha calma. – Você nos salvou, Emma. Todo mundo se orgulhou do seu ato, mesmo que sofrêssemos com ele. Você nos salvou de um destino cruel, mas eu preferia ter ido junto. De ter ficado com você.

— Eu não lembro do que aconteceu, mas eu sinto tanto – Emma girou o corpo para ficar frente a frente com a prefeita. Envolveu o pescoço dela com os braços. – Eu não queria ter deixado você sozinha com o nosso filho. Eu perdi toda educação dele. Eu perdi malditos dez anos casada com você.

Regina aplicou um beijo suave nos lábios dela. Emma retribuiu, calando-se imediatamente. Rodeou-a com um abraço quente e amoroso, desejando profundamente se manter assim por mais dez anos.

— Podemos escrever novas páginas da nossa história a partir de agora. Henry a conhece, porque fiz questão de deixar sua imagem presente. Agora você pode conhecê-lo – Regina abriu um sorrisinho. – Ele se parece muito com você. Sabia? Tão corajoso e curioso. Vocês vão se dar tão bem. Eu sei disso.

Emma sentiu os olhos se esquentarem. Prometeu que não choraria tão cedo, porque a cota do mês já tinha sido esgotada apenas naquelas últimas horas ao reencontrar a família.

— Ele é lindo – ela murmurou. – Nosso menininho.

Regina sorriu diante daquilo, mas saiu do abraço em seguida, pegando-a pela mão. A prefeita a direcionou para a enorme cama, deixando-a se instalar. Emma pegou um dos travesseiros e agarrou, sentindo o perfume de Regina preso na fronha.

— Eu não acredito que você está aqui – Regina tocou o braço dela. Elas não conseguiam manter distância, ambas gritando por contato. – Eu sonhei tanto com esse dia. Mantive tanto esperança…

— O que aconteceu? – Emma perguntou depois de um minuto. – O que aconteceu depois que eu partir?

— Nós unimos forças para tê-la de volta. Por anos, Emma. Mas eu acabei adoecendo. Perdê-la foi difícil demais para mim. Os seus pais, mesmo tão desolados, me ajudaram tanto. Se não fosse por eles, Henry teria perdido as duas mães.

Emma ficou sem palavras por um tempo. Filtrou o que tinha ouvido, apertando com força a mão dela.

— Eu vou recompensar o tempo perdido.

— Eu sei disso – Regina tinha começado a chorar. Emma tentou limpar com delicadeza as lágrimas escorridas de seu rosto. – Depois de tanto tempo aguardando sem respostas, pensamos que você estava morta.

Ela imaginava que algo desse tipo tinha acontecido, considerando tanto tempo longe da família. Mas ouvir da boca dela a deixou um pouco atormentada. Ela desviou o olhar, mordendo os lábios para não chorar também. Precisava ser forte como tinha sido dentro daquela caverna.

— Eu dormia abraçada a suas roupas – Regina continuou ao perceber que a esposa tinha ficado atordoada. Conhecendo-a bem, sabia que precisava continuar na explicação. – Passava o dia olhando suas fotos e assistindo nossos vídeos caseiros. Eu simplesmente não aceitava que você estava morta. Eu nunca perdi as esperanças. Entende? Amei você todos esses dias, todos os meses, todos os anos. Mas os seus pais me convenceram a doar suas coisas, porque não podíamos viver alimentando um fantasma. Mas eu menti ao dizer que doaria. Eu não era forte o bastante. Então escondi tudo e disse que doei. Eu guardei tudo.

— Obrigada – Emma voltou a olhá-la. – Mas você devia ter feito o que eles pediam. Eu não queria que sofresse tanto, e se doar fosse ajudar… Eu não me importaria. Você sabe, meu amor – Tocou-a no rosto.

Regina chorava como um bebê, embora tentasse evitar aquelas profundas marcas se abrirem e sangrarem novamente. Emma se sentiu abalada demais para falar algo, mas se adiantou para prendê-la nos braços, acolhendo-a.

— Fizemos um funeral simbólico, porque todos diziam que você merecia isso – Regina falou sobre o choro. – Era apenas um caixão sem ninguém dentro. Eram apenas cantigas depressivas para ninguém presente. Era uma farsa, uma mentira, porque eu a sentia comigo. Eu sentia você viva. Mas pensei estar alucinando demais.

— Mas sempre estive viva – Emma tentou dizer, acariciando delicadamente os cabelos negros dela.

— Eu sei, eu sei… De alguma forma, sabíamos disso, porque algo nos mantinha unidas. Mas não podíamos esperar e sofrer ainda mais. Tínhamos de ficar fortes para trazê-la de volta, para cuidar do Henry, porque ele era apenas um bebêzinho.

Emma deixou o silêncio predominar após a fala da esposa, porque sentia fraca demais para continuar o assunto. Ficaram presas na quietude, uma no braço da outra, as respirações sendo o único barulho predominante.

— Eu quero ver – Emma tornou a cortar o silêncio.

— O quê? – Regina virou o rosto para encará-la.

— Eu quero ver o meu túmulo.

Elas se entreolharam, muitos sentimentos as inundando. Regina oscilou uma ou duas vezes, os olhos marejados e o soluço presente.

— Você não vai querer ver.

— É o meu túmulo, por mais estranho que isso soe. Você viu, todos viram. Agora é minha vez.

— Por quê? – Regina pareceu perdida.

— Eu quero algo físico explicando o que me aconteceu.

Regina levantou devagar da cama, ainda hesitante nos seus passos. Emma a conhecia perfeitamente bem e, naquele instante, sabia que a mulher faria aquilo apenas porque sabia que ela não desistiria tão cedo de ver o túmulo. Cedo ou tarde, ela realmente acabaria indo ao cemitério e procurado o seu nome estampado em algum pedaço de cimento.

Ela queria ver e ter a certeza que os dez anos não voltariam, porque, assim, ela poderia dar continuidade na sua vida. Precisava deixar o que passou para trás, o único e verdadeiro lugar das lembranças, senão isso a consumiria e ela acabaria ficando doente.

Elas saíram juntas de casa sem explicar o motivo para os familiares. Apenas disseram que tinham algo para resolver. No caminho dentro do carro, nenhuma das duas pronunciaram algo, atentas na rua deserta e fria daquele fim de tarde. Elas se aqueciam com a companhia uma da outra, seguras no aperto de mão.

Assim que colocaram os pés no cemitério da cidade, Emma desejou voltar para o carro imediatamente. Mas sabia que não podia recuar, tampouco hesitar naquela decisão. Precisava acabar logo com aquilo.

Deixou ser guiada pela esposa, passando por algumas lápides no caminho. Andaram um pouco mais do que alguns minutos, mas chegaram no destino quando a chuvinha fraca se iniciou.

E ali estava, estampando uma das lápides enormes: Emma Swan-Mills. Salvadora de Storybrooke, excelente mãe e amada esposa.

Ela não se conteve e deixou o choro controlar. Agachou perto do túmulo e tocou delicadamente as letras grafadas. Era inacreditável, mas estava ali, tão vivo e presente.

— Não tem datas – falou, o choro cortando o som das palavras.

Regina ajoelhou do seu lado, envolvendo-a com um braço. Ela também chorava em compasso.

— Porque não queríamos marcar… Porque não sabíamos a data.

Emma mordeu os lábios, imaginando como deve ter sido o velório. Ela não conseguia crer na dor dos familiares e amigos, sentindo-se novamente culpada. Ser Salvadora era um fardo enorme, doloroso e incerto.

— Há quanto tempo isso aconteceu?

— Há três anos – Regina respondeu, tocando as letras da mesma forma que a esposa. – E eu vim aqui todos os dias. Nunca imaginei que viria com você um dia.

Emma deitou a cabeça no ombro dela, limitando-se a assentir. Chorou no seu colo, perdida nos sentimentos.

— Você quer comer na Granny’s? Torta de maçã – Regina tornou a dizer depois de um tempo.

Estranhamente, ela apenas riu daquilo, relembrando um de seus encontros antes do namoro.

— Eu pago – Emma prometeu.

Mas elas não conseguiram sair daquele ponto, presas no solo úmido e agarradas a antiga lembrança da suposta morte. Emma tentou frear o choro, mas nenhuma das duas conseguia essa proeza.

Então ficaram daquele jeito e ela sabia que ninguém no mundo seria capaz de tirá-las daquele transe tão cedo.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Confesso que tem um olho na minha lágrima agora :') Não sei lidar com essas duas KPASKPASKPA. Achei a Emma corajosa por querer ver o túmulo. Eu não teria a mínima coragem para isso. Serião.
Não esqueçam de comentar, favoritar e acompanhar. Vamos bater um papo! Até a próxima.