Hinata

Havia acabado de acordar. Infelizmente minha mãe tinha que abrir as cortinas. Tentei esconder a cabeça com a coberta, mais isso também não me faria dormir novamente. Irritada, soltei um suspiro e decidi tirar aquela coberta de mim. Minha mãe agora estava na porta do quarto, com algumas roupas minha nas mãos. Há sim, havia as deixado jogadas no chão ontem. Estava de barriga para cima. Elevei o meu tronco, apoiando as mãos de lado, fitando minha mãe com os olhos ainda pesados.

-         Hina, quantas vezes eu disse a você, arrume o quarto – eu sabia daquilo muito bem.

-         Desculpe mamãe – sem graça, comecei a mexer no meu cabelo – Porque me acordou tão cedo? Vai sair?

-         Sim meu amor, mais não quero deixar você sozinha, então irei deixar você na casa de Sasuke. Pedi ontem a Mikoto. Perguntei se poderia ficar com você enquanto saísse, e ela aceitou.

-         Irei me arrumar então – disse começando a virar meu corpo de lado, ficando de pé.

Mamãe havia fechado a porta. Antes de sair deu um sorriso e disse que me esperaria na sala. Sozinha no quarto, comecei a caminhar até o espelho. Mikoto e minha mãe eram amigas há muitos anos. O costume de estar com Sasuke virou rotina. Não que isso fosse realmente algo bom. Era até o momento que meus sentimentos começaram a se enganar. Não entendi o que tanto procurava em meu reflexo. Confesso que sonhava com Sasuke, muitas vezes. Talvez fosse uma coisa chamada vaidade. Eu queria que... Sasuke me  olhasse diferente? Ficava vermelha sem mais nem menos. Desisti de entender o que acontecia comigo. Acho que é isso que se chama gostar. Gostar de Sasuke rouba  a maior parte do meu tempo, mais isso não parece uma total bobagem. Realmente não é algo que possa desconsiderar. Fui até o banheiro e deixei que a água batesse em meu rosto. O sol já banhava o meu quarto e o banheiro também. Depois de vinte minutos no banheiro,  sai de lá enrolada em uma toalha e fui até o armário. “O que eu visto?”... Isso já começou a parecer martírio! Peguei um vestido laranja que vinha até os meus joelhos. Desde quando querer me ver com outras roupas é importante? Seria importante porque é para ele?

Sasuke

Estava deitado na poltrona do sofá. Hinata ficaria conosco, já que a mãe dela iria sair. Sempre nos víamos. Meu coração parecia mais leve e também ansioso. Creio que descobri durante todo os anos que passamos a dois, algo mais forte que a nossa própria amizade. Confesso que não gosto de me sentir tão vulnerável. Antes não queria vê-la, mais senti que talvez seria pior. De qualquer forma, Hinata não vai deixar de existir por que eu não quero enxergá-la. Minha mãe estava vindo até mim. Parecia que estava na cozinha, pois senti um cheiro muito bom vindo de lá.

-         Hinata já deve estar chegando meu amor. Fiz um bolo para vocês, do sabor que vocês adoram. – Ela procurou um cantinho no sofá para se sentir, assim que o achou, colocou minha cabeça em sua perna.

-         Obrigado, mãe, já pude sentir o cheiro daqui – disse pegando na mão de minha mãe.

-         Não precisa agradecer Sasuke-kun – disse bagunçando meu cabelo.

No instante seguinte, ouvi a campanhia tocar. Sai do colo de minha mãe e fui atender a porta. Hinata estava muito linda. Aquele vestido havia caído muito bem nela. O cabelo estava solto e batia na metade dos ombros. Os olhos acinzentados carregados de bondade ainda permaneciam os mesmos. Por que ela mexe tanto assim com o meu instinto? Nem tudo que sinto, consigo explicar.

Hinata

Sasuke atendeu a porta com o semblante sério de sempre. Mikoto parou atrás dele, e fui abraçar a minha mãe. Arredei um pouco para o lado e percebi que Sasuke me fitava firmemente. Elas acabaram os comprimentos e logo Mikoto se dirigiu a mim.

-         Olá querida, vamos entrar.

-         Senhora Mikoto, Bom Dia – disse tentando me controlar. Minha vontade era de fazer as pernas cederem.

-         Já falei que para você, é só Mikoto – ela disse simpática. – Pode ir tranqüila Hane-chan, cuidarei dos dois.

-         Eu sei minha amiga, obrigada por ficar com Hinata – minha mãe agradeceu.

-         Ela é um anjo, não é trabalho nenhum ficar com Hinata – disse Mikoto.

-         Bem minha filha, você já sabe – ela disse pedindo para que eu virasse de frente. Ela abaixou até que ficou da minha altura – Comporta-se.

-         Pode deixar.

Minha mãe beijou minha testa antes de partir. Sasuke estendeu a mão para mim, enquanto as mulheres acabavam de se despedir. Com jeitinho, consegui passar pelas duas. Nossas mãos estavam juntas. Confesso que na hora, foi como se um encontro de quente e frio se apossasse de mim. Eu só conseguia seguí-lo. Por dentro, era como se o coração tivesse disparado e não consegue voltar a um estado considerado normal. Todo esse tempo juntos... Eu senti vontade de abraçá-lo forte. Nem parece que antes não sentia nada disso. Pena que nunca aprendi a mentir, talvez isso ajudasse a disfarçar o quanto eu estava hipnotizada por ele. Chegamos na cozinha. Tinha um belo bolo em cima da mesa. Mais não paramos para poder comer o bolo. Mais a frente, tinha uma porta de vidro, que dava para a varanda. Era lá que ele parecia querer estar.  Havia um belo canteiro de flores, que Mikoto cuidava com toda atenção. Sasuke soltou nossas mãos e fui até uma das flores, pegando uma.

Sasuke

Não sabia o que era sonhar com alguém até que Hinata começou a fazer isso de uma forma bastante sutil. Sentia saudade dela quando partia. Do silêncio quando nada tínhamos a dizer. Ela era a única garota que até hoje, me fez que nem sempre acerto. Peguei aquela flor e esperei que ela a pegasse. Não sei dizer o que sinto em palavras, mais naquele gesto eu tentava dizer, que era com ela que eu havia uma vontade imensa de ter algo que pudesse ser maior que eu mesmo.

-         Hins, pegue – disse olhando-a com o máximo de carinho que consegui. Esse era um apelido que usava de vez em quando. Ela sorria, e eu gostava disso.

-         Sasuke-kun... Obrigada... – Hins pegou a flor e se sentou no chão, arrumando o vestido de forma delicada.

-         Hins, eu... – comecei me sentando também. Ela tinha a mão em volta das pernas, juntando-as.

-         Sim – ela estava olhando para frente, mexendo com as pétalas de flor, através da ponta dos dedos.

Hinata

Senti Sasuke levar a mão até a minha face. Virei meu rosto inconscientemente. Minha barriga dava voltas e voltas. Respirar estava difícil demais! Ele trouxe o lábio até o meu. As minhas mãos que estavam em volta das minhas pernas pararam no peito dele. Não conseguia ao menos me mover. Era algo tão... mágico. Eu realmente queria aquilo, creio. Era estranho tentar adivinhar o que ele pensava, quando estávamos juntos. Chegava a assustar imaginar ficar sem vê-lo. O coração apertava quando eu constava que não o tinha comigo. Movi o lábio devagar. Ele fez o mesmo, fazendo carinho em meu rosto, com a mão que estava livre.

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O beijo durou apenas minutos, mais para eles, pareceram séculos. As pequenas coisas do dia-a-dia fizeram com que o gostar fosse algo não apenas recíproco. São as pequenas coisas que o Uchiha gostava de se lembrar. Mesmo quando estava sozinho, era como se a Hins estivesse ali, segurando a sua mão. Quando se separaram, Hinata deixou uma lágrima cair. Era uma verdadeira angustia de ficar sem Sasuke. Era verdadeira também à vontade de melhorar, para vê-lo dizer algo que a fizesse se sentir bem. Tinha a respiração descompassada e uma felicidade que explodia no peito. Aproximou-se mais de Sasuke, fazendo com que a mão do moreno ficasse em seus ombros. Depositou a cabeça na curva do pescoço de Sasuke,  sentindo o gostoso barulho da batida do coração de Sasuke. Percebeu que aquilo era o gostar. Mesmo sendo uma criança, ela sentiu que o mundo de repente havia parado.