O Fim escrita por Luna


Capítulo 3
III




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ABRIL

James, Black e ela encontraram-se à porta do gabinete da professora McGonagall, onde iriam usar o flu para chegar à casa de James. Lily estava a usar um vestido que Marlene lhe tinha oferecido de prenda de anos e que James tinha dito que era perfeito para a ocasião, mas ele estava tapado com o seu manto de viagem.

James bateu à porta e esperou pelo habitual “entre” para a abrir. McGonagall olhou para cima para os ver entrar e acenou para a lareira.

— Fiquem à vontade — disse, voltando a olhar para o que estava a fazer antes de eles chegarem.

Lily foi a última a ir e saiu da lareira para se deparar com uma bonita divisão. As paredes brancas estavam decoradas com tapetes, quadros e outros objetos em tons azuis. Todos os objetos da sala pareciam ser azuis, na verdade. O chão era de madeira clara e parecia ter sido encerado recentemente.

— Chega aqui — James disse, ajudando-a a tirar o seu manto de viagem.

— Esta é uma divisão muito pouco “Gryffindoriana” — Lily comentou. Tanto Black como Potter se riram.

— O Mr. Potter, por mais Gryffindor que fosse, era demasiado fã de azul para desistir da cor — Black informou-a, dirigindo-se à saída da sala.

— Falas como se a mãe não fosse. — James riu-se carinhosamente. Ele pôs uma mão no fundo das suas costas para a guiar pelos corredores. — Ela deve estar na biblioteca.

Ele guiou-a por alguns corredores que foram mais do que suficientes para a fazer perceber que a casa de James era mais uma mansão, quase um palácio, embora não parecesse ser muito antigo. O tema do azul parecia diminuir em algumas partes da casa, mas Lily gostava da decoração em geral. Todas as paredes eram brancas e o chão era em madeira clara, embora existissem bastantes tapetes. Havia quadros feiticeiros por todo o lado e o facto de que James era rico atingiu-a de repente.

— Eu espero ainda termos tempo para te dar uma visita da casa — James disse.

Black sorriu-lhe.

— Não te sintas impedido por mim. Tu sabes que eu e a Mrs. P. adoramos tomar chá juntos. — James riu-se com o comentário de Black, o que deu a Lily a impressão de que havia alguma história na piada.

Lily sentiu-se entrar num sonho quando viu a biblioteca. Parecia ser uma das maiores divisões da casa, com estantes que iam até ao teto, cheia de tantos livros que Lily duvidada que alguém alguma vez os conseguisse ler todos. Aquela biblioteca era capaz de, inclusive, ser mais rica que a de Hogwarts.

— Oh, James! — uma mulher disse quando eles entraram, pousando o livro que estava a ler para vir ter com eles. Ela devia ser um pouco mais velha que a professora McGonagall. Tinha alguns fios brancos no cabelo loiro, que estava preso num belo penteado. Usava mantos que Lily não conseguia dizer se eram violetas ou brancos e era, sem dúvida, uma das mulheres mais bonitas que ela já tinha visto.

Potter tirou a mão das costas dela para poder abraçar a mãe.

— Olá, mamã — ele disse, beijando-a no rosto quando se separaram.

— Meu querido, como é bom ver-te — Mrs. Potter disse então para Black, abraçando-o também. Eles trocaram umas palavras que Lily não conseguiu ouvir e a Mrs. Potter virou-se de repente para ela.

— Tu deves ser a Lily. É um prazer conhecer-te. Eu sou a Euphemia — ela disse, beijando-a uma vez em cada face e pegando na sua mão para a apertar quando se afastou.

— É um prazer conhecê-la, Mrs. Potter. O Po- — ela parou-se. Chamar o James de “Potter” não parecia adequado nesta situação. — O James fala-me maravilhas de si.

— Tal como ele deve — ela respondeu, piscando-lhe o olho exatamente como Potter lhe está sempre a fazer. Mrs. Potter sorriu para os filhos, perdendo o sorriso de Lily. — Vocês devem estar esfomeados. Que tal irmos para a mesa?

Mrs. Potter chamou um dos elfos para avisar que podiam servir o jantar antes de sair da biblioteca e os guiar para o salão de jantar, do outro lado do hall. Mrs. Potter sentou-se à cabeceira da mesa, e Potter ocupou o lugar à sua esquerda. Ele parou antes de se sentar para lhe puxar a cadeira do seu outro lado.

— Oh, nem penses nisso! — Lily parou de se sentar ao ouvi-la falar, mas a Mrs. Potter não estava a olhar para ela, e sim para Black. — Não achas mesmo que eu te vou deixar sentares-te tão longe com um lugar à minha beira, achas?

Black estava com as mãos na cadeira ao lado do lugar à direita da Mrs. Potter. Black sorriu, meio embaraçado.

— Mas aquele era o seu lugar, que agora passou a ser o lugar do herdeiro — Black disse.

— Disparates — Mrs. Potter declarou, acenando com a mão como se a enxotar uma mosca. — O James ainda não é herdeiro nenhum e, já que esse era o meu lugar, deixa-me decidir quem se senta aí. Eu decido que és tu.

Black olhou para Potter como se à espera do protesto, mas Potter deu de ombros.

— Tu ouviste a mulher — disse, recebendo um olhar de aviso da Mrs. Potter.

Black sorriu, claramente feliz, e sentou-se no lugar indicado.

— Por favor — disse Mrs. Potter, indicando que eles também se deviam sentar.

Lily não se intrometeu na conversa durante as entradas, deixando a Mrs. Potter questionar os rapazes os últimos meses, falando só quando falavam com ela.

— Eu estou preocupado com o Moony — Black disse a certo momento.

— Passa-se alguma coisa? — Mrs. Potter perguntou, preocupada.

— Acho que ele não sabe o que fazer depois de Hogwarts. — Sirius olhou para ela pelo canto do olho. — Por causa de… você sabe.

— Estás a dizer-me que queres que eu fale com ele? — Mrs. Potter perguntou com ar calculador.

— Bem, ele deixou de me ouvir.

— E a mim também. Ele e o Peter.

— Meu Merlin, porque é que nós só arranjamos amigos teimosos? — Black perguntou a Potter, ambos a rirem-se.

— Fala o roto para o nu — Mrs. Potter comentou, fazendo Lily rir ligeiramente. — Como está tudo com a Marlene? E com a Mary?

— Acho que estão bem, mas a Lily é quem mais fala com elas — Potter disse. Lily sorriu-lhe, agradecida pela abertura na conversa.

— Sim? Vocês são muito amigas? — Mrs. Potter perguntou, parecendo interessada.

— Eu gosto de pensar que sim — Lily respondeu, sorrindo. E gostava, mesmo com todas as diferenças que elas tinham.

— Elas são — Potter assegurou.

— Eu acho que elas estão bastante bem. Preocupadas e cansadas, mas quem não está?

— Nisso tens razão. — Mrs. Potter sorriu e deu um gole da sua bebida. — O que é que tens achado das medidas que Hogwarts tomou por causa da Guerra?

Lily conseguiu perceber durante o jantar porque é que tanto as suas amigas como James insistiam que Lily ia gostar da Mrs. Potter — era porque ela realmente gostou. Ela conseguia ver muito de James nela — alguns maneirismos e a maneira de falar e, até, de pensar —, mas a Mrs. Potter era também o tipo de pessoa que exigia ser respeitada apenas pela maneira como se posicionava — nisso, ela lembrava-lhe a professora McGonagall.

— Posso contar contigo amanhã para o pequeno-almoço, certo, Lily? — Mrs. Potter perguntou, já depois do jantar ter acabado e deles terem ido para a sala onde tinham chegado para continuarem a conversa.

— Certíssimo, Mrs. Potter — Lily disse com um sorriso. Ela deu um gole do seu chá enquanto a Mrs. Potter falava:

— Geralmente, os convidados ficam no primeiro piso, mas preparei-te um quarto no segundo corredor da Ala Oeste. Fica no segundo andar e os quartos do James e do Sirius não são muito longe, por isso não lhes vai custar muito deixarem-te lá antes de irem para a cama.

— O que eu acho que vamos fazer agora — James disse, pousando a sua chávena. — Eu tive um dia um bocado cansativo e estou exausto.

— O James fez-nos ter treino de Quidditch às oito da manhã — Black comentou.

— Vão ter jogo em breve? — Mrs. Potter perguntou.

— Para a semana — respondeu Black. — Vamos, então? — ele perguntou a James, levantando-se. Lily e James imitaram-no. — Boa noite, Mrs. P. — Black aproximou-se para lhe beijar a cara.

— Boa noite, mamã — James disse, fazendo o mesmo.

— Boa noite, meninos, Lily — ela disse, acenando-lhes. — Ah! Quase me esquecia de perguntar! A que horas tem que ir embora amanhã?

— Depois do almoço, o mais tardar — Lily respondeu.

— Eu estava a pensar em dar à Lily uma visita guiada da casa e dos jardins pela manhã — James comentou. — Mas nós devemos ainda falar ao pequeno-almoço.

— E tu, Sirius?

— Eu fico consigo, se não se importar. — Mrs. Potter revirou os olhos carinhosamente com a resposta.

Eles saíram da sala de seguida e subiram as escadas até ao segundo piso. Lily estava a fazer um esforço para se lembrar do caminho — as escadas podiam não se mover como em Hogwarts, mas os corredores pareciam todos iguais.

— Não te preocupes com o caminho — James disse, como se lê-se os seus pensamentos. — Amanhã de manhã eu venho-te buscar quando estiver pronto ou chamas a Ivy se te despachares antes disso.

— Eu vou já para o quarto e deixo-vos despedir em paz — Black disse quando eles chegaram a uma curva. — Até amanhã, Evans.

James levou-a na direção contrária à que Black seguiu.

— O que é achaste do jantar? — ele perguntou quando se encontraram sozinhos, demonstrando-se nervoso.

— Estava delicioso — ela comentou, embora soubesse que não era isso que James queria ouvir. — Eu adorei conhecer a tua mãe. Ela é uma mulher magnífica.

James sorriu, claramente orgulhoso com o comentário.

— As pessoas sempre disseram que eu saio ao meu pai, mas eu sempre achei que eles só dizem isso por causa da aparência — ele disse.

Lily olhou-o, interessada.

— Estava a questionar-me o que é que tinha acontecido a todo aquele cabelo loiro — brincou.

— É! — James riu e passou a mão pelos cabelos. — Parece que nós, sangues-puros, somos sempre iguais à geração anterior. Se eles não tivessem idades diferentes, eu não seria capaz de distinguir os Malfoys, e os Black são todos iguais — ele comentou. — Mas não era isso que eu queria dizer. Independentemente daquilo que eu te disse naquela carta, eu nunca me achei muito parecido com o meu pai. Nós dávamos-mos bem, claro, mas ele sempre foi uma pessoa muito organizada e metódica. Ele apreciava rotina e planeamentos e nunca foi um de agir por instinto ou sem pensar, Gryffindor ou não. Por isso, eu sempre me achei mais parecido com a minha mãe. — Ele disse-lhe, sorrindo nostalgicamente. Eles tinham parado de andar. — Embora, claro está, eu não sou metade da pessoa que ela é. — Ele pareceu sentir que ela queria revirar os olhos com o comentário, porque acrescentou: — Ainda não, pelo menos. Mas espero lá chegar.

— Também espero isso — Lily concordou, abraçando-o. Era bom poder ter alguém tão próximo.

— Até amanhã, Evans — ele disse, beijando-lhe o cabelo. Ela afastou-se e deixou-o abrir a porta ao lado dele antes de o beijar direito. — As tuas coisas já estão aí dentro. O pequeno-almoço é às nove.

— Obrigado, Potter. Até amanhã.

Potter sorriu-lhe e ela fechou a porta.

 

Voltar a Hogwarts fez parecer a noite que ela passou com os Potter um sonho. Potter levou-a a um passeio bastante informativo sobre a mansão pela manhã e Lily deixou-se apaixonar pelos jardins — se havia uma coisa que ela herdara do seu pai, era o seu amor por flores.

Ela fez um pequeno relato da viajem às suas amigas no dia em que chegou e, durante a semana seguinte, escreveu aos pais a contar tudo. Black também a intersetou uns dias mais tarde, parecendo querer saber o que ela tinha achado da visita.

Ela recebeu uma carta da Mrs. Potter duas semanas após a visita a perguntar-lhe se gostaria de ir tomar chá consigo no fim das aulas, desta vez a sós. Lily respondeu afirmativamente antes mesmo de falar com James, lembrando-se da conversa que eles tinham tido após a visita.

— A minha mãe adorou-te — foi a primeira coisa que James lhe disse no primeiro jantar a sós que eles tiverem após a visita.

— Tenho a certeza que ela não disse isso — Lily riu.

— Não com estas palavras, mas ela também as diria se eu pedisse — eles respondeu simplesmente.

 

Mr. Baxter voltou a trazer ao de cima o assunto do Patronus no final do mês.

— Eu não irei fazer a atividade devido aos assuntos mais urgentes que temos a tratar — ele disse-lhes do seu sítio habitual, encostado à sua mesa. — Eu espero que, caso um de vocês tenha feito progressos ou queira ajuda com o feitiço, que essa pessoa venha ter comigo. Agora, vamos voltar ao assunto da aula passada…

Lily andava-se a questionar se devia dizer a verdade a James. Não era exatamente algo sobre o qual ela lhe andava a mentir, mas James parecia fazer questão de ser o mais honesto possível com ela sobre qualquer coisa, desde como a equipa de Quidditch se está a comportar, até aos seus sentimentos sobre Guerra e a morte do seu pai. E, bem, a história do Patronus era algo que a estava incomodar desde o início. Talvez ela lhe devesse a mesma confiança.

Com a decisão feita, ela pediu-lhe que ele se encontrasse com ela antes do seu treino de Quidditch à beira do lago.

— Está tudo bem? — ele perguntou, claramente preocupado, enquanto se sentava à beira dela. Estavam algumas pessoas cá fora, mas eram maioritariamente terceiros anos.

— Tudo bem. Eu só te queria contar uma coisa — ela disse, pegando-lhe na mão só para ter algo com que se distrair.

— Força, então — ele disse, apertando a sua mão em conforto.

— Lembras-te de como eu não consegui fazer um Patronus? A verdade é, eu nunca consegui ou estive remotamente perto de fazer. — Ela olhou-o nos olhos. — Parece que eu não em consigo lembrar de uma memória remotamente perto de ser suficientemente forte para fazer um.

Ele apertou-lhe a mão.

— Lamento ouvir isso — ele disse. — Mas tenho a certeza que as nossas mentes de génio juntas conseguem resolver alguma coisa. — Ele disse, rindo-se quando ela se riu. — Eu garanto-te que não há feitiço algum neste mundo que eu consiga fazer e que tu não consigas.

Ela apertou-lhe a mão.

— Obrigada, James.

— Sempre que precisares.

 

MAIO

Com o início de maio, todos os alunos do sétimo — todos os que ainda estavam em Hogwarts, pelo menos — podiam ser encontrados na biblioteca ou em qualquer outro canto da escola a estudar para os NEWTs.

Os aurores acabaram temporariamente com o programa de treino no início do mês, mas asseguraram que, para quem quisesse, haveria aulas especiais no verão. Lily inscreveu-se no momento.

Ela e as suas amigas rapidamente estabeleceram horários para um grupo de estudo. Nem Lily, nem Marlene eram grandes fãs de estudarem acompanhadas, mas todas sentiam, embora ninguém falasse, que aquilo era o fim, e por isso mais valia aproveitar o tempo que ainda tinham juntas. A partir do momento que saíssem de Hogwarts, raras seriam as ocasiões em que elas se reuniriam com oportunidade para conversar como faziam agora.

Elas começaram a andar sempre nas companhias uma das outras, a ficar acordadas até de madrugada, por mais cansadas que estivessem, só para poderem conversar e, de certo modo, a tentar já compensar o tempo perdido que teriam.

Lily conseguia ver James a fazer o mesmo. Por mais separados que os Marauders pudessem ter estado durante o ano, Lily agora via-os a andar e a rirem-se juntos como todos estavam habituados a vê-los. James, por brincadeira, recusava-se a dizer uma palavra acerca do assunto, mas ela sabia que os “acidentes” de que várias pessoas relatavam ter sido vítimos eram obras deles.

— Se a McGonagall não reclama, tu também não podes — James disse, num tom brincalhão, quando ela voltou a trazer o assunto ao de cima, enquanto eles faziam o caminho de volta para o castelo. Ela tinha feito uma pausa nos estudos para vir apanhar um pouco de ar com James antes do Sol se pôr, e eles tinham acabado a falar com Hagrid durante quase vinte minutos.

— Ambos sabemos que ela não diz nada só porque tu és o favorito dela — Lily respondeu.

— Não que ela alguma vez o fosse admitir — ele disse, erguendo as sobrancelhas ao olhar para ela. — E, de qualquer maneira, ambos sabemos que o seu favorito absoluto é o Sirius.

— Isso eu não posso negar — Lily concordou.

James virou-se para ela para a beijar e Lily deixou-se desfrutar do toque.

— Eu sei que ainda ninguém está a falar disto — James começou após eles se terem separado. Eles estavam de testas encostadas e ele tinha os olhos fechados —, mas eu vou sentir muita falta disto.

Ele abriu os olhos e ela conseguia ver umas poucas lágrimas nos seus olhos.

— Eu também — ela sussurrou, não querendo ouvir-se a dizer as palavras. — Mas vamos guardar as lágrimas para quando formos todos chorar, não?

James abraçou-a e ela respirou o cheiro do seu perfume e do seu champô.

— Eu amo-te, Lily Evans — ele sussurrou no seu ouvido.

Lily fechou os olhos e deixou-se expirar.

— Eu também.

Os braços de James à volta dela apertaram o abraço. Ela sorriu.

 

No dia dezasseis de maio, Lily entrou no Salão Nobre apenas um pouco mais tarde do que o habitual, mas parecia ter perdido bastante. Um burburinho mais alto do que o normal corria o Salão e pessoas de todas as mesas apontavam para os jornais. Um mau sentimento instalou-se em Lily.

— Aqui — James disse assim que ela se sentou, estendendo-lhe o jornal.

“DEVORADORES DA MORTE COMETEM O PRIMEIRO GRANDE ATAQUE EM MASSA DE MUGGLES”, lia-se no título. Lily passou rapidamente os olhos pela notícia, mas não conseguiu ler grande coisa antes de se sentir demasiado enjoado para continuar.

— Eu lamento — alguém disse, apertando a sua mão. Ela olhou para o lado e deparou-se com Black. Ele sorriu-lhe, mas os seus olhos estavam tristes e o sorriso era forçado.

— Também eu — ela respondeu com a voz fraca.

Ela olhou para o seu prato ainda vazio, mas qualquer apetite que ela pudesse ter parecia tê-la abandonado.

— Quantas vítimas houve? — Marlene, que estava sentada à sua frente, perguntou. Ela tinha comida no prato, mas parecia ter-se esquecido disso.

— Ainda não se sabe — Lupin respondeu —, mas estima-se que sejam mais de cem, para além dos feridos.

— E do outro lado?

— Salvaram-se quase todos, claro — James disse, claramente angustiado. — Os que morreram ou ficaram feridos foram rapidamente tirados de lá, logo não se sabe identidades nenhumas.

Lily sentia que estava a sufocar ali.

— Eu venho já — anunciou ao mesmo tempo que se levantou. — Preciso de ar.

Ela correu do Salão Nobre e saiu pela porta do castelo, correndo até ao canto mais longe da vista das pessoas o mais rápido que podia. Ela podia sentir lágrimas a quererem sair, mas ela recusava-se a deixá-las.

— Aqui — alguém disse ao seu lado, puxando-a para um abraço. Ela deixou-se ser abraçada mas não fez nenhum gesto para retribuir o carinho. O cheiro não era o de James, para sua grande surpresa, mas o cabelo comprido dizia-lhe que aquele era Sirius. Ele apertou-a contra ele e ela não conseguiu travar um soluço de escapar. — Eu estou aqui.

Ela respirou fundo da melhor maneira que podia com as lágrimas a correr.

— Eu sei que é irracional, mas eu não consigo deixar de pensar quantas daquelas pessoas eram pessoas que eu conhecia — ela explicou entre soluços e lágrimas. Ela sabia que era irracional, porque Londres era uma cidade grande e ela não tinha grande família lá, mas o pensamento era inevitável.

Quando Sirius falou, ele também parecia estar a chorar:

— Eu não consigo deixar de pensar quantos daqueles assassinos são do meu próprio sangue.

 

Houve mais notícias sobre o assunto quase todos os dias durante as duas semanas seguintes. Lily não conseguia deixar de pensar quanto mais tempo levaria até ele — Voldemort, ela lembrou-se — decidir apoderar-se do jornal. James riu-se com o pensamento, fazendo-a rir também, embora nada daquilo tivesse alguma piada.

Lily pôde verificar que não tinha morrido ninguém que ela conhecesse — uma lista foi publicada uns dias mais tarde num jornal muggle —, mas isso não a impediu de escrever aos seus pais para ver se estava tudo bem e, para sua surpresa, escrever também à sua irmã.

— Eu aceitei ir ao casamento dela — ela disse a James durante uma aula de poções. Com todo o fumo, Slughorn não os veria a falar.

— Ainda bem — James respondeu. Embora ele não discutisse isso com ela, ela sabia que ele gostava que ela fosse.

— Eu disse-lhe que ia trazer um convidado. — James pareceu surpreso, mas rapidamente sorriu ao perceber o que ela queria dizer. — Espero poder contar contigo — ela disse, olhando-o de lado.

— Sempre — ele disse, sorrindo. Ela sorriu-lhe de volta. — Parece que tenho que começar a planear.

 

Eles, porém, não tinham muito tempo para planeamentos. Os NEWTs estavam a menos de duas semanas de distância, e passa-los com boas notas era mais importante do que planear de que modo é que eles iam incomodar a sua irmã no seu dia de casamento. De qualquer modo, ela não estava preocupada. Se bem conhecia a irmã, a mera presença de James lá ia ser suficiente.

O seu grupo de estudo, ela notou um dia, tinha crescido ainda mais: Dorcas e Emmeline juntavam-se a eles frequentemente, tal como James, Black, Lupin e Pettigrew. Lily não se importava. Aquele não era tempo para estarem sozinhos.

 

JUNHO

Lily não se apercebeu que junho tinha começado até já mais de uma semana do mês ter passado — a sua realização coincidiu com o dia em que os exames terminaram.

— Merlin, finalmente! — Marlene suspirou.

Eles estavam todos deitados na relva a aproveitar o Sol e o alívio do fim dos exames. Após um mês marcado por tanta escuridão, era bom poder desfrutar de uma emoção tão simples.

— A quem o dizes — James concordou. — Eu sinto que podia dormir durante dois dias.

— Tu e eu — Lupin apoiou.

Eles ficaram em silêncio durante uns momentos, mas foram rapidamente interrompidos por Alice:

— Gente, podem levantar-se por um momento? — ela pediu, parecendo ter acabado de se lembrar de alguma coisa.

Houve barulhos de desaprovação de todos, mas, lentamente, todos se sentaram de alguma forma. Eles observaram Alice remexer na sua bolsa à procura de alguma coisa.

— Com toda esta história dos exames, eu tinha-me esquecido completamente que estava a carregar isto. — Ela tirou um monte de envelopes da mochila. — Aqui estão os convites para o meu casamento. A mãe do Frank não queria fazer convites, mas nós insistimos.

Lily não estava à espera de sentir tanta alegria pela amiga como sentiu, mas um dos maiores sorrisos que ela deu o ano todo abriu-se.

— Já marcaram data, então? — Mary perguntou.

— Sim, mas já vão ver — Alice respondeu, começando a fazer os envelopes levitarem um a um para cada uma das pessoas.

Lily abriu o convite e sorriu ao vê-lo. Era um convite simples, mas bonito, exatamente o tipo de coisa que agradaria tanto Alice como Frank.

“Cara Lily,

Estás por este meio formalmente convidada para o nosso casamento. Espero poder contar contigo e com toda a tua emoção,” estava escrito na caligrafia que Lily facilmente reconhecia como a de Frank. Merlin, ela sentia saudades dele!

“MANSÃO DOS LONGBOTTOM

3 DE JULHO DE 1978

15H00”

— Eu estou tão entusiasmada! — Marlene disse enquanto guardava o seu convite. — Tenho que começar a procurar um vestido.

— Porque é que não vamos todas às compras na última semana de aulas? — Dorcas propôs. — Tenho a certeza que o professor Flitwick nos deixa.

— E a McGonagall não se irá opor — Black garantiu.

 

Com o fim do ano, as tarefas como Monitora-Chefe que Lily tinha foram gradualmente diminuídas. Era normal a segurança cair nas últimas semanas e deixar os alunos circular mais livremente — não que eles soubessem.

— Eu vou indo para a cama — James disse após eles fazerem uma ronda geral.

— Sempre vão ter treino amanhã? — Lily perguntou. A época de Quidditch já tinha acabado — Gryffindor tinha ganhado —, mas James ainda continuava a marcar treinos.

— Não é bem treino — James disse. — É mais uma despedida. Sinto que a equipa merece.

— Lá isso é verdade — Lily concordou, sabendo o quanto James era obcecado com o desporto. — Então vejo-te amanhã.

— Ainda não vens para a cama? — James perguntou, confuso.

— A professora McGonagall pediu-me que fosse falar com ela e eu ainda vou passar pelo escritório do professor Slughorn — Lily informou.

— Já estás a fazer despedidas? — James perguntou, parecendo algo triste. A professora McGonagall tinha pedido a ele e Black que passassem lá no dia seguinte.

— Algo assim do género.

Eles separaram-se com um beijo e Lily dirigiu-se para o escritório da professora McGonagall. Ela abriu a porta após ouvir o habitual “Entre”.

— Ah, Evans! — a professora disse, parecendo algo feliz em vê-la. — Entra, entra. Posso oferecer-te uma chávena de chá?

Lily deixou a professora servi-la e relaxou na cadeira.

— A professora disse que me queria ver — ela lembrou após dar um gole do seu chá.

— É verdade. — Ela pareceu estar à procura de palavras, porque demorou uns minutos a começar a falar: — Eu só te queria desejar a maior das sortes. Foi um prazer ensinar-te — ela disse simplesmente, mas as poucas palavras fizeram os olhos de Lily encherem-se de lágrimas. A professora continuou: — Eu sei que estes tempos que se aproximam são negros, e eu lamento que essa será a vida que conhecerás após todos estes anos. Ninguém merece começar a vida adulta desta maneira, mas eu espero que consigas fazer o melhor disto. — Ela fez uma pausa antes de acrescentar: — E eu espero ver-te do outro lado — ela disse, fazendo o desejo soar quase como uma ordem.

— Também espero vê-la lá — Lily retribuiu.

— Isso veremos nós — McGonagall respondeu. — Nós estamos a contar contigo como uma aliada nestes tempos.

— Nós? — Lily perguntou, intrigada.

— Tudo a seu tempo, Ms. Evans — McGonagall respondeu, enigmática. — Para a cama, agora, que já se faz tarde.

Lily sorriu e bebeu rapidamente o seu chá.

— Professora, posso fazer-lhe uma pergunta? — ela perguntou, já depois de se ter levantado.

— Certamente.

— Acha que eu fiz bem em dar-lhe uma segunda oportunidade?

— Oh, Evans! — McGonagall suspirou. — Por mais parcial que nós sabemos que eu sou, eu nunca teria dito que sim há uns anos atrás. No entanto, olhando para aquele homem agora? Eu acho que fez uma ótima decisão.

Lily sorriu e dirigiu-se para a saída.

— Boa noite, professora — disse, antes de sair.

— Boa noite, Evans — ela ouviu-a responder mesmo antes de fechar a porta.

 

— Lily, posso fazer-te uma pergunta? — James perguntou-lhe no dia seguinte ao jantar.

— Por que não?

— Antes de fazer a pergunta, deixa-me só dizer-te que eu pensei bastante sobre isso e sobre se esta era uma boa altura e cheguei à conclusão que não existirá melhor oportunidade que esta.

— Estás a deixar-me assutada — ela comentou.

James respirou fundo antes de, com um sorriso nervoso, perguntar:

— Depois do ano acabar, gostavas de ir viver comigo? — Lily engasgou-se no seu sumo.

— Viver contigo? Já? — ela perguntou, chocada.

— Eu sei que parece um bocado cedo — James concordou —, mas que outra altura teremos nós para discutir isto? Para além disso, cada um de nós terá a sua posição na Guerra e acho que, se vivermos juntos, ao menos asseguramos algum tempo juntos. — Ele parou antes de acrescentar: — Não tens que responder agora.

Lily deixou-se refletir nas palavras. O que ele dizia fazia sentido, mas ela nunca se tinha lembrado de pensar onde ficaria a viver depois de Hogwarts, muito menos se esse lugar devia ser partilhado com James. Eles só estavam a namorar há uns poucos meses.

— Aonde é que viveríamos?

— Eu pensei que podíamos viver na casa dos Potter no sul, visto que a minha mãe raramente vai lá e é das mais… bem, das mais modestas — James explicou. — Pelo menos até arranjarmos um sítio.

— Eu… — Lily não conseguia encontrar palavras. — Está bem — ela ouviu-se dizer.

James olhou-a de olhos arregalados.

— A sério? — Ela estava tão surpresa quanto ele. Esse não era o tipo de coisa com que alguém concordava sem pensar antes, mas ela tinha-o acabado de fazer. Parecia que havia mais de Gryffindor nela do que ela sabia.

— Acho que sim — ela disse honestamente, sorrindo. O seu sorriso aumentou ao ver a cara de pura felicidade de James.

Eles abraçaram-se e beijaram-se ali mesmo, na mesa dos Gryffindor, até alguém lhes atirar com um pão.

— Merlin, arranjem um quarto! — reclamou Marlene.

 

O princípio do fim foi a sessão de compras no sábado. Embora nenhuma delas tenha chorado, tinha havido mais abraçados, mais sorrisos e mais beijos do que o habitual. Lily conseguia viver bem com isso.

Os dias que se seguiram foram cheios de despedidas — e, da parte de Black, de discussões com o irmão. Lily tinha a sensação que a maior parte dos professores não os esperava ver vivos durante muito mais tempo, o que fazia a semana parecer mais longa e pesada do que o esperado.

No último dia de aulas, o professor Dumbledore chamou uns quantos deles ao seu escritório para perguntar se eles se tinham inscrito no programa dos aurores e para dizer que gostaria de voltar a falar com todos eles em setembro. Ele parecia ser o mais esperançoso de que eles durariam até lá e a conversa deixou Lily intrigada.

Antes de ela reparar, eles estavam no comboio de volta a King’s Cross. Lily sentia-se mais triste, nostálgica e exausta do que contara, mesmo com a confortável presença de James ao seu lado.

Aquele era, sem dúvida, um fim, e um daqueles que exigia ser sentido, mas embora isso a incomodasse, aquilo não a incomodava tanto como o facto de que ela nunca teve mais aterrorizada pelo que o próximo começo traria.


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Notas finais do capítulo

Antes de mais, espero que tenhas gostado.
Eu tive várias ideias para o AS, mas esta foi a única que eu consegui concretizar. Ficou uma história muito comprida — muito mais comprida do que qualquer uma que eu já escrevi (inclusive, tem mais do que um capítulo!), e provavelmente vai ser a maior história que eu fiz para um AS —, mas espero que tenha ido de acordo com aquilo que gostavas de receber. Eu sei que a fic não é apenas sobre Jily, mas sim muito mais sobre a Lily, mas eu tentei falar sobre como é que eles ficaram juntos. Para além disso, eu também tentei dar alguma relevância à amizade que existe entre as várias personagens.
Como eu não sabia se gostavas do ship, eu não introduzi Wolfstar (Sirius/Remus) na história, embora haja momentos em que havia abertura para tal xD
Eu decidi no último momento dividir a história em três partes, o que eu espero não ter sido um erro. Espero que o pt-pt também não te tenha incomodado. Em relação aos erros de formatação, eu vou estar à caça deles durante os próximos dias.
Já agora, eu tinha capa para a história, mas o Nyah! não a está a aceitar :(
De qualquer maneira, espero que tenhas gostado da história, pois eu adorei escrevê-la. Por favor, diz-me o que achaste e se gostavas que eu tivesse feito alguma coisa de modo diferente :)
Boas férias!



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