Continue a nadar escrita por queijo e uvas passas
Após dois meses de fugas de diretoras que pareciam fofinhas, mas eram verdadeiros monstros, a amizade dos dois estava fortalecida.
Numa quinta-feira de tarde, Louis ligou para Gabriel, convidando-o para jantar.
— E então, esse menino vem? — perguntou Otávio, da cozinha.
— Vem, sim.
— Que horas? — indagou Marcos, entrando na conversa.
— Às sete e meia.
— Esse menino é legal contigo? — Otávio olhou-o no fundo dos olhos, como se tentasse decifrá-lo.
— Claro. O único, aliás.
— Hum.
“‘Hum?’ O que isso quer dizer?” Louis estava estranhando muito a atitude dos pais. O que todas essas perguntas estranhas queriam dizer?
— E ele é bonito? — “Quê?”
— Acho que sim. — Marcos e Otávio trocaram olhares. O que aquilo significava?
A campainha tocou.
— Tô indo, Gabriel.
Ele correu até a porta, passou pelo espelho e conferiu a aparência, e abriu-a. — E aí, cara? Tudo tranquilo?
— Sim, Gabriel. E tu?
— Bem, né. — Risadinhas.
— Entra aí, Gabriel. A janta tá pronta.
— Beleza. Vamo entrando.
***
— Que trabalho é esse, Gabriel?
— Ah, sei lá, mano. Só sei que vamos ter que ir na escola de tarde e fazer umas pesquisas.
— Não pode ser outro dia?
— Não, é pra segunda.
— Mas eu não tava a fim de ir para a escola hoje.
— Pois é, tanto que nem foi na aula, né, senhor Louis?
— Por favor, né. — Risadas. — Mas ok, vou na aula hoje de tarde fazer essa desgraça.
Gabriel começou a cantar “aêêêê, que milagre”, o que acabou irritando Louis, que desligou o celular.
***
— Não, Hitler não era bonzinho, Gabriel.
— Era sim, cara. Olha essas fotos deles! Com essas... coisinhas.
— Crianças. — Não, aquilo não estava acontecendo. “Meu amigo é muito retardado, senhor!”
— E se não forem crianças? E se forem aliens da área 51?
“Deus, não.”
— Vamos deixar isso pra depois, porque, mano do céu, eu tô com fome. Vou ali na cantina comprar alguma coisa.
— Gabriel… São duas horas da tarde. Faz o que, duas horas, uma, desde que você almoçou?
— Mas eu tô com fome. Tchau. — Gabriel levantou-se e foi para a cantina da escola, deixando Louis sozinho na mesa da biblioteca.
— Ora, ora, ora. Mas quem está aqui? Se não é o viadinho que me rejeitou.
Louis virou-se e deu de cara com Amanda. De repente, um bando de pirralhos do 7° ano o cercou de todos os cantos da mesa.
— Vamos acabar com ele.
— Meu Deus, Amanda, isso é hilário. — Louis estava se segurando, mas, num impulso, começou a rir loucamente.
Amanda ficava com o rosto cada vez mais vermelho. Aos poucos foi se aproximando.
— Quem você pensa que é, hein, seu merda?! — Ela pegou-o pelo colarinho da camisa. — Você não passa de nada além de uma grande e fedida pilha de bosta. Viadinho que nem os pais, certeza. — Era algo que Louis jamais havia sentido: alguém olhando no olho e dizendo essas coisas. Pelas costas era uma coisa, mas cara a cara… Ele começou a lutar contra as lágrimas.
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