After The Rain escrita por Jan


Capítulo 1
00. Rainbow


Notas iniciais do capítulo

Foi um sacrifício parir essa fanfic, mas valeu muito a pena. Fazia séculos que eu não escrevia algo, ainda mais um romance, ainda mais um romance hetero, SENHOR! Então, tenho que agradecer à Lady B por me proporcionar essa experiência e por me tirar da fossa.
Sthefany, espero que você goste dessa fanfic, juro que tentei, e espero que qualquer outro leitor que venha a ler isso daqui goste também!
Comentários e críticas construtivas são muito bem-vindas ♥ Qualquer errinho que você encontrar, mesmo com a minha revisão, avise-me, por favor!
Enjoy XD



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00. Rainbow

O Central Park é o lugar favorito de Rachel em toda Nova Iorque. É belo como a natureza consegue surgir no meio da cidade de pedras, como uma flor que brota em meio aos espinhos, é uma obra de arte à parte. 

Ela pode mentir de vez em quando, afirmando que o Acampamento Meio-Sangue é o seu local especial, mas só o faz pelos seus amigos e para se sentir menos pesada com a imensa responsabilidade que tem diante dos semideuses.

A garota balança a cabeça, enquanto algumas crianças passam por ela eufóricas, gritando e correndo. Não é como se Rachel estivesse na posição de reclamar, ela finalmente consegue ver o horizonte tranquilo que tanto almejava, com a maré calma e sem ondas ou redemoinhos ou, pior, monstros gregos marítimos.

O Acampamento Meio-Sangue parece ter renascido desde a Guerra com Gaia, a aliança dos gregos e dos romanos trouxe diversos bons frutos, e fazia tempo que Rachel não acordava suada e atordoada com pesadelos traumatizantes e estranhamente verídicos sobre o futuro, por mais que os fantasmas do passado ainda gostem de lhe fazer companhia.   

Quando os monstros reais se foram, aqueles com aparência tenebrosa que se camuflavam no mundo dos humanos para caçar semideuses e auxiliar a busca insaciável pelo poder de Cronos e Gaia, aqueles com que Rachel teve o desprazer de se deparar desde seu primeiro encontro com Percy Jackson; os monstros esculpidos pelas memórias e lembranças dolorosas dos jovens que tinham presenciado a Guerra decidiram tomar o seu lugar. E a garota gostaria que eles fossem tão fáceis de espantar apenas com uma escova de cabelo azul.

Apesar de todas as cicatrizes, as visíveis e aquelas que só os próprios semideuses conseguem enxergar, é reconfortante para Rachel ver seus amigos voltando à vida normal, a maioria deles conseguiu, ao menos, aproveitar o fim de sua adolescência. No entanto, às vezes, Percy confessava à amiga que era mais fácil matar empousai do que manter suas notas na universidade, não discutir com Annabeth por questões desnecessárias e ainda retornar ao Acampamento quando necessário.

Rachel não podia culpá-lo por tal opinião, na verdade, ela achava tudo muito engraçado. Os dois amigos são bastante parecidos e, talvez, por isso tenham se dado bem desde o instante em que se conheceram, lógico que a empatia só veio depois de Percy desistir de mata-la

Quão romântico, um ótimo primeiro encontro! Por deuses, como ainda consegui gostar dele após esse incidente?

Dentre as diversas coisas que possuem em comum, uma é especialmente notável e parece atrapalhar os relacionamentos dos dois jovens de maneiras bem similares: nenhum dos dois tem o mínimo jeito com as palavras. Desde quando desenhava nas paredes de sua casa com canetinha permanente, a arte era a única forma que Rachel conhecia de se expressar, uma vez que seus pais não a deixavam falar por mais de cinco minutos na hora do jantar, antes de voltar para seus respectivos trabalhos. É possível que, desses traumas infantis, surgiu a necessidade da garota dialogar mais do que pensar nas palavras certas. Maldito Freud.

Quando ela fala sobre seus sentimentos, tudo saí tão rápido e distorcido, que nem a própria consegue decifrar o que diz, é como se estivesse falando grego antigo, e a parte irônica de tudo isso é que o único momento em que se articula com clareza é quando profere os destinos e aventuras dos semideuses.

Se Rachel tem muitas palavras e não consegue domá-las, Percy não tem nenhuma. O amigo sempre se queixa por ouvir Annabeth por horas, atento e carinhoso, mas, por mais que sua mente esteja a mil procurando o que dizer, nunca é capaz de realmente falar nada. A garota o consola todas as vezes, com a velha frase “uma ação diz mais do que qualquer palavra”, e, apesar de não ser um conselho nada original, daqueles que soltamos quando não estamos prestando muita atenção em uma conversa, ela também se tornou muito próxima da filha de Atena ao longo dos anos e simplesmente sabe que às vezes a amiga só precisava de um abraço forte de seu noivo.

Mas era tão bom ver seu casal de amigos passando por problemas tão comuns depois de terem ardido no fogo do Inferno, ou melhor dizendo, do Tártaro. Se Rachel olhasse para Annabeth e Percy alguns anos atrás, só conseguiria sentir um gosto amargo em sua garganta, um desconforto percorrendo todo o seu corpo, como um calafrio, e a extrema necessidade de desviar o olhar quando eles estavam juntos, ou mudar de assunto quando Jackson citava o nome da outra. Agora, Rachel não pode evitar de sorrir com os dois, seu coração parece aumentar de tamanho, e ela não consegue evitar respirar fundo quando observa o jeito que Percy admira sua noiva, ou a forma como Annabeth ri e o empurra de brincadeira quando percebe que está sendo observada. Rachel não podia imaginar, por muito tempo, que um dia encontraria alguém assim na sua vida.  

A garota consegue amar todo os tipos de pessoas e nunca pensa muito sobre o assunto, para não o tornar mais complicado do que realmente é. Porém, desde que se tornou o Oráculo e teve que participar mais do mundo grego do que gostaria, com o fim de sua paixonite adolescente, nunca teve tempo de se esforçar para manter relacionamentos, até que ela entendeu que, com a pessoa que realmente ama, não é necessário se preocupar com isso.

— Rachel! 

Ela pisca, saindo de seus devaneios, e se pega olhando para o seu enorme e chamativo relógio de pulso, enquanto franze os lábios, e o garoto senta-se ao seu lado na grama.

— Você está atrasado, Perseu, mas não estou surpresa.

— Bom, Rachel, me desculpa, mas se você não soubesse do meu atraso, seria um péssimo Oráculo.  – Percy dá de ombros, com um sorriso divertido no rosto. Rachel estava com muita saudade do seu amigo. – Não que eu tenha confiado no trabalho e nas decisões dos deuses alguma vez na vida. 

A garota arruma seus cachos rebeldes em um rabo de cavalo, mordendo o lábio para não rir da piada infame do amigo, como todas as que ele faz na vida. Não é à toa que irritou tanta gente e arrumou tantos inimigos. As temperaturas estão altas naquele verão, o que sempre faz com que o parque fique cheio, desde turistas deslumbrados a executivos buscando por uma pausa rápida do trabalho, mas Rachel sempre consegue um lugar especial na sombra de uma árvore perto do lago, e ela adora as multidões que vão ao local com suas diversidades étnicas naquele período do ano, para tirar várias fotos dos visitantes.

— Olha quem está todo espertinho – retruca Rachel, fazendo uma careta para o amigo, mas ao perceber as olheiras profundas nos olhos de Percy, a sua recorrente palidez e o modo como ele encara as águas paradas do lago, rapidamente, acompanha seu olhar até a imensidão azul escura e muda de assunto, suspirando alto: – Você sabe que vai dar tudo certo no casamento, não? Não precisa se preocupar, você e a Annabeth se conhecem desde os 12 anos de idade, e se amam muito antes dos 15, como vocês imaginam, eu sinto essas coisas, sabe? E acho que Nova Iorque inteira já tinha percebido isso antes de vocês dois, que são o casal mais fofo que eu já conheci...Tudo bem que nove de dez casamentos terminam em divórcio, e que deve ser estranho todo esse conceito de matrimônio para vocês, já que seus pais nunca tiveram um relacionamento sério... Lógico, Rachel, eles são deuses gregos! Meus pais também não tiveram um bom casamento, se isso ajuda... Mas eu aposto que o bebê vai ser capaz de auxiliar com tudo isso.  Ei, vocês vão quebrar pratos como eles fazem na TV? Seria tão...

— Rachel, Rachel! – exclama Percy, rindo abertamente, até que consegue se controlar e coloca a mão no ombro da amiga, de maneira gentil. – Eu estou bem, só é estranho saber que nós estamos realmente fazendo isso e que vamos criar um filho. – Ele morde o lábio, parando de olhar para a garota e concentrando seu olhar em uma joaninha que tenta subir em um pedacinho de grama. Engole em seco. – Eu agradeço muito tudo o que a minha mãe fez por mim, mas...

Ele não precisava continuar, por mais que os motivos fossem diferentes, Rachel também não teve um pai presente quando era mais nova.

— Percy, eu vi como você trata os novos semideuses, eles chegam naquele acampamento tão assustados, tentam sumir atrás de Quíron. – Ela pega a mão do amigo em seu ombro e a segura com força. – Mas você consegue fazer com que eles se sintam protegidos e especiais, eu vejo o olhar de admiração e de respeito que aquelas crianças têm por você. E, de qualquer forma, você não terá que assumir essa responsabilidade sozinho, Annabeth estará lá, eu não sei se você lembra, ela é quem está com a barriga enorme. Além disso, você sabe que essa criança vai ter uns vinte tios, me incluindo.

— Eu acho que você está certa. – Percy suspira, soltando sua mão e começando a brincar com as miçangas do seu colar do Acampamento. – Eu só fico lembrando que a única vez que precisei agir de forma realmente madura, para Nico, eu o desapontei.

— Você tem que parar de se culpar por isso, se nem o próprio Nico o faz mais, há muitos anos, inclusive. di Angelo não era a única criança naquele ano, Percy, você também o era e já tinha inúmeras responsabilidades nas suas costas.

O semideus encara Rachel com seus expressivos olhos verdes, que, para uma artista atenta, parecem estar mais escuros nessa tarde.

— Obrigado, de verdade. – Ele rapidamente endireita a postura e volta com seu sorriso descontraído. – Enfim, por que me chamou aqui? Eu sei que não nos vemos muito desde o noivado, mas Annabeth está me deixando louco, ela não me deixa ajudar em nada e reclama se não estou lá para auxilia-la, sendo que, quando ela pergunta minha opinião sobre algo, não importa o que eu escolho, ela sempre consegue me contrariar. – Percy revira os olhos, enquanto sua amiga ri. – Precisa de alguma informação a mais para tirar as fotos do casamento? Olha, se for isso, você deveria ter ido falar direto com a Annie, já que minha opinião pouca importa...

Rachel realmente adora aquele casal, mais do que seu eu adolescente seria capaz de entender.

— Não, na verdade, eu gostaria de lhe pedir ajuda em algo. – Foi a vez da garota desviar o olhar, enrolando um cacho, que já havia se soltado do rabo de cavalo, no dedo fino. – Eu sei que você está estressado com o casamento, mas não é nada que vai tomar seu tempo, apenas um conselho de amigo.

Percy sorri, daquele jeito que Rachel sempre o vê fazer, seja com Annabeth ou com as crianças do Acampamento. Ela apelidou esse gesto de “sorriso do herói”, que faz você sentir como se Jackson fosse capaz de resolver todos os seus problemas e instalar a paz mundial. Foi esse sorriso que fez com que a garota confiasse em todas as histórias absurdas para uma mortal, que ele a contou na segunda vez em que se esbarraram.

— Depois de todos os conselhos que você já me deu, acho que é mais do que justo. Diga!

Rachel continua concentrada no seu fio de cabelo solto, puxando o cacho ruivo com cuidado para vê-lo desmanchar e se formar de novo. Se ela dissesse o que tinha que dizer, não teria como voltar atrás, e a garota estava tão assustada quanto Percy a minutos atrás.

Seu amigo pigarreia alto.

— Rach?

Rachel bufa e morde o lábio, brincando com suas mãos, nervosa.

— Eu e Andrew estamos namorando há muito tempo, como você sabe, e.... – Sua voz paira no ar, fraca, e Percy nunca a tinha visto sem palavras. – Bem, eu... estou pensando em pedi-lo em casamento.

Percy fica encarando a amiga por um tempo, com a sobrancelha erguida e a boca entreaberta. Rachel praticamente consegue ver as engrenagens trabalhando no cérebro de Jackson, decide continuar antes que perca a coragem e o amigo a interrompa.

— Eu preciso da sua ajuda para descobrir como fazer o pedido, eu acho. Nós já estamos morando juntos, então, não seria grande coisa, mas eu fico pensando em como eu deveria aproveitar mais minha vida desde a morte do...

— Deuses, isso é ótimo! – Percy ainda parece estar procurando as palavras certas, como sempre. – É claro que eu ajudo, eu adoro Andrew e sei que ele vai te tratar como você merece.

Rachel solta todo o ar dos seus pulmões, que ela nem sabia que estava segurando, é como se um peso enorme tivesse se esvaído de seu corpo de uma única vez.

— Alguma ideia? – questiona, finalmente olhando para Percy com um grande sorriso.

— Bom, todos os casais são singulares, me conte um pouco sobre o que eu não sei sobre vocês dois.

  Rachel respira fundo e pensa profundamente sobre a pergunta de Percy.

Ela não pode dizer que foi amor à primeira vista. No início, era tudo muito preto no branco, claro, ele era apenas seu monitor, e a garota não conseguia vê-lo de forma romântica. Com o passar do tempo, os sentimentos foram evoluindo naturalmente, sem esforços, e, através dos momentos bons e ruins, Rachel percebeu que ambos eram importantes para que eles conseguissem se fortalecer e para se tornarem um casal especial.

 Afinal, não importa o quão forte seja uma tempestade, não importa o quanto gritem um com o outro, ou como as lágrimas de Rachel deixam marcas nas suas camisetas, o arco-íris sempre vem depois da chuva, e é a mistura de cores que o torna tão único.


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