—-- Neji, vem, venha até aqui !

Era a voz dela, no timbre mais doce que possuía. O chamado se repetiu, iluminando sua visão para que ele pudesse procurá-la pelo campo que acabara de surgir a sua volta.

Onde estava? Não havia qualquer casa dentro do seu campo de visão, não tinha arvores, nem estradas, na verdade o lugar era tomado por dentes de leão.

Um vento forte arrancou varias das pequenas pétalas, criando uma espécie de chuva com elas. Ele também fez os longos cabelos castanhos pairarem depois de ter sua xuxa arrancada com facilidade.

—-- Que lugar é esse? – O Hyuga abriu a mão para sentir a pequena chuva. Talvez tenha ficado encantado com a bela cena, estava achando realmente interessante assistir as delicadas pétalas pousarem na palma de sua mão, mas um novo chamado de Hinata roubou toda sua atenção, fazendo-o fechar a mão com força e serrar os punhos de tão intrigado. --- Hinata-sama ! - ele virou-se rapidamente para procurá-la, precisava saber de onde exatamente estava vindo aquela voz, mas não foi preciso mais esforço, pois lá estava ela, sorrindo para ele a poucos metros de distancia, um sorriso puro e inocente que só uma criança poderia ter. --- Hinata.... – Murmurou. Ela lhe oferecia um dente de leão, mas assim como os outros estavam sendo carregador pelo vento. Um dos braços se escondia nas costas, apenas mais um de seus gestos que indicava timidez. --- O que você... Espere ! – Não teve tempo de perguntar o que pretendia, pois agora ela corria, entrando na vasta plantação de dente de leão.

Neji estendeu a mão em sua direção tentando alcançá-la mas foi surpreendido pelo sangue que cobria a mesma, logo percebendo que não era apenas aquela mão, mas ambas e também toda sua roupa. Ele não só estava sujo de sangue, sua roupa estava rasgada como se estivesse acabado de voltar da guerra. Aquilo lhe entreteve de uma forma perturbadora, não havia pânico mas uma grande confusão em sua mente, fazendo-o olhar a palma e costas das mãos repetidamente.

—-- O que... O que houve?

—-- Venha Neji-kun !

Seus olhos a buscaram mais uma vez, mesmo que cenas assim fossem normais para Neji ele se sentiu constrangido por estar na frente da prima daquele jeito, se sentiu sujo, mau, o mesmo monstro que matou o Miura a sangue frio na frente dela.

Não sabia o que dizer, apenas esperava que ela o julgasse, mas diferente disso ela apenas sorrio e se aproximou como se não estivesse acontecendo nada. Tocou suavemente seu rosto, acariciando-o de leve. O olhava com tanta ternura que a única coisa que ele conseguiu foi sentir e assistir seus gestos carinhosos.

—-- Vamos caminhar Neji-kun?

—-- Mas... eu...

Foi a tentativa de segurar sua mão que fez Neji recuar para evitar o toque, não a sujaria de sangue.  Voltou a olhar para as próprias mãos, mas agora estava limpas, tão limpas quanto seu kimono branco. Não entendera o que aconteceu com todo o sangue, mas foi acordado de seu devaneio por Hinata, que simplesmente o segurou pela mão, puxando-o para uma caminhada naquela plantação.

—-- Não tenha medo Neji-kun.

Como ela podia ser tão linda? Os olhos violetas possuíam a mesma cor que os seus, mas eles não eram vazios, pelo contrario, transbordavam vida, alegria e beleza, tornando-se únicos.

—-- Onde estamos indo Hinata-sama? – Ela o puxava cada vez mais apressada e o olhava em alguns momentos por cima do ombro, exibindo um sorriso bobo. Mas a pergunta fez Hinata parar, ela estava a pelo menos dois passos na sua frente, virou-se um pouco ofegante ficando de frente para ele.

—-- Para qualquer lugar que eu possa ficar em paz com você... Onde coisas como isso nunca mais serão importantes ... – Disse tocando a marca em sua testa, deixando-o mais surpreso ainda por perceber que não estava usando sua bandana.

Quando Hinata ficou tão corajosa ? Não importava, ela estava incrível, o vento fazia seus cabelos preto azulados flutuarem e aquela luz de fim de tarde dava a seus olhos um brilharem diferente. Ficara tão hipnotizado que agiu sem perceber, tentando então tocar seu rosto angelical. Porem, mais uma vez visualizou sangue em suas mãos, tanto que parecia transbordar delas. O choque o fez estremecer e como se não pudesse ficar pior, Hinata segurou sua mão completando a ação, colocando-a sobre seu rosto e o sujando também.

 --- O que foi ? Você não ia fazer isso?

—-- Hi-Hinata, não ! - Ela o segurava pelo punho para certificar que ele não tirasse a mão e o olhava sem preocupações. Como não notara aquele sangue? O que estava acontecendo? Toda aquela cena deixava Neji angustiado e nervoso, rangia os dentes enquanto seu coração parecia sacudir dentro do peito. --- Se afas...

—-- NÃO ! – interrompeu ela em voz alta, quase desesperada antes de envolve-lo em um abraço apertado. --- Não me deixe Neji! - Ela envolvia sua cintura enquanto afundava o rosto no peito do Hyuga. --- Fique comigo...

Neji ergueu as mãos por trás de Hinata, na altura de seu próprio rosto para olhá-las enquanto ambas escorriam um sangue sem fim. Não sentia dor nas mãos ou algo do tipo, não era o seu sangue, mas então o de quem? Ainda confuso se perguntando de onde surgiu, não prestou atenção em nada, nem no belo pôr-do-sol nem nos dentes de leão, nem mesmo na própria Hinata.

—-- Neji... Neji-kun... - O chamado estava diferente, sôfrego e fraco, o abraço estava perdendo força e Hinata parecia esta desmoronando. Gotículas de água pouco a pouco começara a atingi-los fazendo com que por míseros segundos Neji olhasse para o céu, questionando-se sobre o tempo. --- Me ajude... - O pedido fez o Bouke voltar a sua atenção para prima. --- P-por..favor... - Notando sua fraqueza ele a segurou pelo braço, afastando-se para um contato visual e tendo uma surpresa ainda maior. Havia feridas pelo seu rosto e sangue no canto da boca. O olhar perdia vida a cada segundo, ela estava tão fraca que mal conseguia se segurar em Neji.

—-- O que aconteceu? Hinata-sama! – gritou desesperado.

—-- Você... porque? Neji... - Não era só um rosto machucado, mas todo o corpo. Uma fenda grande no peito mostrava que algo a atingiu no coração. Foi instantâneo o movimento que fez para deitá-la enquanto mantinha a mão atrás de sua cabeça, tentando confortá-la enquanto pensava em algo. --- O que... o que você.. fez ? - Ela gaguejou enquanto engasgava com o próprio sangue, deixando a vida lhe escapar mais rapidamente.

—-- O que? Espere, não desista Hinata! - Ficou confuso, mas não por muito tempo, como se não bastasse todo o sangue agora segurava um coração. Era o coração de Hinata e ele continuava batendo em sua mão, deixando o Hyuga mais aflito e horrorizado. Não conseguia reagir nem mesmo para soltar o órgão.  “-- Mas o que aconteceu ? De onde surgiu esse coração? Por que “eu” ainda estou segurando?”

O tempo a sua volta fechou, o céu alaranjado deu lugar a ambiente soturno, cinzento, relâmpagos e muita chuva, chuva que lavara não só ele como também sangue no rosto de Hinata. A poça de água que se formava a sua volta tinha uma cor avermelhada, o cheiro de sangue era tão forte que chegava a incomodar.

—-- NÃO ! HINATA, HINATAA ! – Gritou pelo seu nome varias vezes enquanto suas lagrimas se misturavam com a água da chuva. Quando o desespero tomou conta ele finalmente conseguiu largar o órgão e começou a sacudir em uma inútil tentativa de trazê-la de volta. Não era só a vida de Hinata que foi tirada, naquele instante a sua também parecia esta sendo arrancada, a dor da perda foi tão forte que era inevitável prender as lagrimas.

Parados ali, embaixo daquela tempestade só lhe restou abraçar o cadáver ainda quente. Mesmo que a apertasse contra seu peito, mesmo que um dia suas lagrimas secassem, ele sabia... sabia que seu coração jamais pararia de chorar.

                                 ~ ~ ~

—-- HINATA! - O timbre alto e sofrido assustou Hinata

que estava sentada ao lado da cama do primo, fazendo-a

derrubar um de seus kimonos rasgados que ela

"remendava". Ele acordou impulsionando o corpo para

frente e esticou o braço pra buscar algo distante, ainda sentia a dor da situação que acreditou vivenciar.

Acabava de acordar e estava sentado em sua própria

cama, febril e soando.

—-- Neji-kun, Você está bem? Você me assustou ! - A voz Hinata o trouxe de volta, direcionando seu olhar aflito para ela. Ela não entendia porque dele parecer surpreso em vê-la.

Neji a encarava em silencio, ainda apoiava a mão sobre o peito depois do susto. Vê-la também tocar o próprio peito, em uma demonstração de surpresa, fez com que o medo estampasse em seu rosto novamente, lembrando-lhe do coração e de todo o sangue. A lembrança o fez olhar imediatamente para as próprias mãos, ficando aliviado apos tudo se encaixar. Acabara de ter um dos sonhos mais realistas de sua vida, seus olhos perolados se fecharam e alguns suspiros de alivio lhe escaparam.

Hinata apenas olhava, estava mais confusa que o primo quando despertou, não sabia que ele estava bem, se estava bravo ou era apenas fadiga, mas vendo-o suar tanto levantou-se imediatamente para conferir sua temperatura, tocando sua testa com a palma da mão.

A ação fez Neji arregalar os olhos e até recuar para afastar o toque, tinha se assustado, não percebera a aproximação, mas Hinata não tirou a mão de sua testa, apenas o acompanhou para que ele não evita-se o toque e assim continuar examinando. --- Espere Neji-kun !

—-- O que está fazendo ? – Disse surpreso.

Ela trouxe a mesma mão para sua testa conferindo a própria temperatura e assim voltou a tentar tocá-lo só para ter certeza do que estava pensando, mas Neji, tentou novamente impedir seu toque.  --- Eu estou bem, não se preocupe ! - Hinata o ignorou e com sua outra mão segurou firme o pulso do primo, uma forma de mostrar que ele não tinha opção, voltando assim a tocá-lo e mostrando mais seriedade.

—-- Você está com febre outra vez... – Disse desanimada ainda o tocando. Quando voltou a trocar olhares notou que ele a fitava serio, e “Neji Hyuga” serio podia não ser boa coisa, naquele momento toda sua lucidez foi recuperada e ela afastou a mão de seu rosto, juntando as mãos em um rápido pedido de desculpas.--- Neji-Kun me desculpe, e-eu fiquei.. preocupada.

—-- Tudo bem, não estou bravo por causa disso, apenas surpreso... – explicou abaixando a cabeça para apertar a estrutura do nariz próximo ao cenho, tocando propositalmente o canto dos olhos e apertando forte as pálpebras, percebendo que também sentia dor de cabeça.

Aquela ação foi entendida como aborrecimento deixando Hinata sem graça. --- M-me desculpe Neji-Kun, e-eu não quis entrar no seu quarto... eu apenas... bem...

Que tipo de pessoa ele era? Hinata estava assustada com ele? Toda aquela cena e vergonha fizera o Hyuga voltar a olhá-la, mas agora confuso. Ela estava vermelha e tentando se explicar enquanto gesticulava com as mãos. Aquilo era realmente...

—-- Desnecessário!

—-- O que? – exclamou tensa após ter uma da mãos seguradas por Neji, na intenção de parar o movimento.

—-- Não precisa explicar o por que de estar aqui, não estou irritado, na verdade... é bom vê-la novamente.

Seus olhos se cruzaram deixando o rubor nas maças da Hyuga mais forte. Neji estava sendo gentil e a curva no canto do lábio indicava um sorriso sincero. Ele continuou segurando sua mão, era um toque simples, mas significativo o suficiente para permanecerem assim por mais tempo.

Os Hyugas se mantiveram isolados, não queriam falar

sobre o desastre do possível casamento dando oportunidade para receberem críticas de outros clãs.

Hinata recebeu visita apenas dos companheiros de equipe e sua sensei Kurenai, mas como havia combinado com o pai não deu detalhes dos últimos acontecimentos.

Á única coisa que Gai, Tenten e Lee encontraram durante dias foi um corpo adormecido, pois Neji ficou quase em coma.

Estava com braços, peito e outras parte enfaixadas, sendo cuidado de perto pelos melhores ninjas médicos de sua família. Desde que Hinata se recuperou por completa ela visitava o primo, passando seu tempo livre com ele.

Hiashi e Hanabi não desconfiaram de nada entre eles, acreditava que a atenção da primogênita era apenas preocupação e gratidão com o seu salvador, aliás, era algo típico da dela, ser sempre bondosa e atenciosa.

Durante suas visitas Hinata usava o tempo para bordar e ler. Naquela tarde antes do Bouke acordar ela bordava com empenho a roupa do primo, em alguns momentos acreditou ter ouvido gemidos ou sussurros de Neji, mas quando o olhava não captava nada diferente.

—-- Hinata...sama... - Os lábios da herdeira se contorceram ameaçando uma resposta, mas nada saia, isso porque mesmo que tentasse olhar pra qualquer lugar que não fosse aquele rosto, não conseguia tal feito, era algo raro, já que Hinata era extremamente tímida. --- Algum problema ? - Ele acariciou mão dela com o polegar, sabia o efeito que causaria mas quis fazer mesmo assim, era uma forma de descobrir se a Hyuga sentia medo ou afeição, mas julgando pelo choque e a forma que se contraiu ficou claro para ele. --- Você está com medo?

A pergunta trouxe toda aquela lembrança horrorosa fazendo a expressão da Souke mudar ao visualizar a

imagem de Neji tão monstruoso. Um silêncio tomou conta por vários segundos mas um chamado do primo a fez acordar e ver outro Neji, aquele que se machucou e arriscou tudo pra salva-la.

 --- Bem, e-eu ...

—-- Hinata! - A voz extremamente fria e nada amigável veio da porta, ambos Hyugas olharam naquela direção visualizando Hiashi. O coração de Hinata deu um sacolavanco no peito e parou de bater, deixando-a paralisada. Um silencio extremamente sem graça, instalou-se no lugar. Os olhos de Neji se cravaram nos do tio, perdendo toda a cor. O líder se aproximou sem presa, quanto mais perto ficava mais difícil parecia encarar o pai. Ela voltou seus olhos para suas mãos ainda unidas e as desvinculou rapidamente, trazendo-as para o próprio colo. Estava tão nervosa que se encolheu como uma gatinha assustada.

—-- Saia... Preciso falar com Neji.

Hinata lançou um ultimo olhar para o primo, ele não parecia mais desconfortável com a aparição do tio, na verdade se mostrava bem firme. Diferente de Hinata, Neji logo se recompôs e o olhou com a mesma seriedade. Era incrível como nunca deixava ninguém tirar sua superioridade, era quase uma versão atualizada do próprio Hiashi.

—-- Está be-bem...

Corada e constrangida ela deixou as costuras sobre o criado mudo e procurou rapidamente a saída, dando privacidade para tio e sobrinho. Hiashi tomou o lugar de Hinata, sentando-se ao lado de Neji. A postura estava perfeita e as mãos fortes se apoiavam nos joelhos cobertos pelo kimono. Seu olhar alcançou um porta na cabeceira da cama, era uma foto do irmão com filho e esposa, algo que lhe arrancou um breve suspiro.

—-- Escute Neji, o que você fez para proteger Hinata foi uma grande prova de lealdade, eu me pergunto se existe uma forma de compens...

—-- NÃO! -O tom alto foi tão surpreendente quanto a

resposta, fazendo com que o lider desviasse total

atenção para o atrevido. --- Ja chega Hiashi-sama.

—-- O que disse? - Hiashi não conseguiu esconder a

surpresa com a reação do sobrinho, mas notara a

expressão de exaustão no rosto do rapaz, como se

não estivesse agüentando mais lidar com algo. Talvez

aquela fosse a única vez que se portavam como uma

família normal.

—-- Para de por Hinata-sama em perigo, todas essas

escolhas mal feitas estão fazendo mal a ela, é só isso que te peço.

A resposta foi surpreendente, por que tanta preocupação? Melhor, como Hiashi não tinha percebido isso, ele estava recebendo lições sobre a filha do próprio sobrinho.

—-- Hinata precisa ficar segura, aprender como ser uma boa líder e com certeza ao lado de alguém que possa

protegê-la... Alguém que possa compensar o lado bondoso dela e não seja vencido tão facilmente... – respondeu lançando uma espécie de olhar critico devido a ultima escolha de marido para a prima. --- Você estava preste a casá-la com alguém do país do relâmpago, além do pretendente não ser um shinobi era do país pra qual o meu pai... foi entregue morto ! – finalizou rosnando as palavras, deixando claro que aquilo ainda o incomodava profundamente.

O silêncio tomou conta, talvez Neji não devesse falar

aquilo para o líder, mesmo sendo uma verdade. Hiashi olhou de canto para o sobrinho mas o mesmo correspondeu com um olhar neutro, como se estivesse tendo uma conversa corriqueiro.  O líder se levantou com calma e fez um rápido comprimento com a cabeça, dando-lhe as costas, mas antes de cruzar a porta pousou o olhar sobre o próprio ombro, respondendo: --- Tem razão, mesmo tão jovem você sabe bem o que esta dizendo, seu pai teria orgulho do homem que se tornou. Obrigado pela sinceridade.

As palavras deixadas por Hiashi mexeram mais com Neji que ele imaginava. Aquele era mesmo Hiashi Hyuga?

No momento que o líder cruzou a porta de entrada notou que Hinata ainda estava esperando, escorada ao lado da porta. Ela tocava as pontas dos dedos ansiosa e ficou bem surpresa quando o pai saiu, olhando-o com uma certa expectativa.

—-- Papai... O-o que aconteceu ?

—-- Hinata, acompanhe os colegas de Neji até o quarto dele. – Disse mirando o portão de acesso.

—-- C-como ?

—-- Ei Hinata ! – Os olhos da Hyuga seguiu o olhar do pai, podendo ver Lee, Tenten e Gai, todos pareciam animados. --- Como está Neji ? Ele já acordou ? – indagou Lee.

—-- O-oi pessoal...  - O pai de Hyuga os cumprimento com o típico balançar de cabeça e logo seguiu para seu escritório. Gai e seu time foram acompanhados por Hinata, mas ela resolveu se manter distante, dando espaço aos visitantes.

—-- Neji finalmente acordou Gai-sensei!

—-- Eu sei Lee, estou vendo. - Ambos sorriam de forma convencida apos falarem coisas óbvias.

—-- Quando vai voltar a treinar Neji? Se continuar deitado só vai perder tempo.

—-- Não preciso me esforçar tanto para vencê-lo Lee. – Debochou, soltando um riso que logo contagiou o amigo e professor. A ironia deu espaço para que Lee começasse a contar sobre suas próprias missões, na tentativa de deixar o Hyuga animado e talvez com inveja, já que sempre estava tentando competir com Neji.

Tenten ainda estava processando, tremula e emocionada. Já se passara quanto tempo desde da última vez que olhou naqueles olhos perolados? Quando afagou aquela cascata castanha que escorria pelas costas? O corpo definido parecia mais fraco e a pele estava mais clara que o normal. Suas clavículas em relevo indicara que havia perdido um pouco de peso. Era uma imagem comum no mundo shinobi mas para a morena de olhos âmbar não havia nada mais angustiante, pois o homem sentado ali era Neji, seu amor.
Tenten ignorou qualquer um que fosse presenciar a cena, correu ansiosa até aquela cama esbarrando em Lee por acidente e envolveu os braços no pescoço masculino. Não sabia se tremia de felicidade, alívio ou angústia. Gotículas se formavam nos olhos da jovem Kunouchi. Como poderia ser tão bom sentir aquele pele novamente? O cheiro dele era ... dele, único e especial.
Neji não reagiu, ele estava surpreso demais, um pouco franco mas nada que lhe impedisse de retribuir o abraço ou afastá-la. Seus olhos estavam ocupados demais focando nas expressões confusas de Hinata. O que ele podia fazer ? Não rejeitaria a amiga, mesmo não sendo carinhoso seria estranho se a recusasse naquele momento. O que diria ? "Não gosto de abraço" ou "Não me toca que Hinata está olhando"? É porque isso passou pela sua cabeça agora ?

—-- Tenten ... – murmurou constrangido. --- Eu estou bem, não se preocupe.

—-- Eu.. eu achei que fosse perder você ! – Disse entre o choro.
Hinata fechou as mãos para disfarçar o tremor das mesma e percebendo o quão era inútil optou por esconder as mãos atrás do corpo. Ela olhava para o trio envergonhada, então disse acanhada com sua costumeira voz suave. --- Acho melhor deixá-los a sós...

Quando Hinata cruzou a porta parecia que o velho Neji havia voltado. O cenho se franziu e pacientemente ele segurou a colega pelos ombros, afastando-a lentamente para que ela entendesse o recado. --- Agradeço a visita, mas como podem ver estou bem, não é preciso.... Tenten! Pare de chorar! - reprimiu a colega que tentava em vão secar as lágrimas. --- Já disse que estou bem!

—-- Você parece um chafariz Tenten. - brincou o garoto com cabelo de tigelinha. Mesmo com o temperamento de Tenten ele consegui arrancar um sorriso tímido, mostrando sua falta de jeito por ser tão boba.

—-- Esses jovens, são tão intensos.. – comentou Gai.
Neji fechou os olhos por alguns segundos tentando ignorar a cena como se no momento que abrisse-os toda a cena "estranha" desaparecesse. Mas como sempre nada mudará, era comum se sentir constrangido perto de Lee, mas quando Tenten ficou tão melosa ? Não importava, ela acabou revelando isso no pior momento.
—-- Esse é o seu kimono? - Antes que Neji pudesse responder, Lee pegou a peça de roupa e segurou na frente do corpo como se estivesse conferindo as medidas para si. --- Hinata está arrumando para você? Que gentil!
—-- Por que... por que Hinata está costurando suas roupas ? - perguntou receosa. O tom desconfiado fazia Neji parecer um traidor. Seus olhos fitavam o moreno como se esperasse alguma confissão.
—-- Não seja boba Tenten, Neji salvou a vida dela ! - Disse de forma debochada e confiante por saber a resposta. --- É só uma forma de agradecer, conhecemos a Hinata, não é mesmo ?
O sinal com a cabeça veio primeiro que o incerto "Sim" pronunciado por ele, percebendo tarde o que acabara de falar com tanta falta de segurança. Mas porque estava agindo assim? Não podia simplesmente agir com a mesma irrelevância de sempre? Ou realmente estava preocupado que o seu segredo fosse descoberto? Não tinha porque pensar nisso, agora era o momento de focar nos companheiros de equipe e tentar não comentar muito sobre a viagem.
Hinata também parecia perdida em seus pensamentos. Quando Tenten ficou tão próxima do primo ? Eles eram parceiros a anos mas aquela reação... não parecia ser preocupação de uma simples amiga. Hinata sabia porque ficou do mesmo jeito em vários momentos que achou que perderia Naruto. O desespero, angústia, felicidade de vê-lo bem, era algo muito mais forte que amizade mas o Uzumaki nunca notou. Ela se perguntava o que aconteceu com o seu amor por Naruto, não podia negar que ainda tinha carinho mas no momento seu coração parecia mais preocupado com a sua estranha relação com Neji, cheia de altos e baixos. O que eles realmente tinham ? Neji parecia ter duas personalidades. Era mentalmente cansativo pensar naquilo, até por nunca conseguir entender o Bouke, mas seus pensamentos sôfregos foram interrompidos pela visita de Kurenai, salvando-lhe e trazendo conforto pro coração. A Kunoichi era o mais próximo que ela tinha de uma mãe e mesmo que tenha saudades de Kiba e Shino uma oportunidade daquelas devia ser aproveitada.