No meio da madrugada, enquanto estavam todos dormindo, menos os guardas que me vigiavam, a vigia apareceu.

   - Guarda, vim trocar de turno. Você está dispensado.

   - Uffa, ainda bem, eu estou super cansado.

   - Tenha uma boa noite então.

   O guarda saiu e ela ficou parada em frente a cela como se estivesse mesmo me vigiando. Quando ela viu que não havia ninguém para ver e ouvir o que iria acontecer ela se virou e me disse:

   - Desculpe a demora, tive que libertar Ilai primeiro mas agora está tudo bem. 

   - Você trouxe a chave? - perguntei.

   - Não. Não tem como pegar, ela fica com o Sr. G.

   - Então como eu vou sair daqui?

   - Shiiiu, fale baixo. Olha eu bolei um plano. Eu vou tentar quebrar essa fechadura assim você pode sair.

   - Está bem, mas como você vai fazer isso sem fazer barulho?

   - Já fiz. - disse ela abrindo a porta da cela. - Eu derreti a fechadura. Cuidado, a porta ficou muito quente. 

   - Ok. Sabe, é uma ótima maneira de arrombar as coisas.

   - Fica quieto. Agora temos que sair daqui. Vamos por baixo da terra, assim ninguém nos verá.

   - Está bem. Mas se prepare pa...

   Antes que eu pudesse completar minha frase já estávamos no subsolo.

   Emergimos numa floresta onde Ilai nos esperava. Ele correu até a vigia e lhe deu um grande abraço. Ninguém disse nada, nem mesmo eu.

   Ilai se afastou e disse que iria montar uma tenda para passarmos o resto da madrugada.

   Ficamos só eu e ela. Ela empurrou o capuz delicadamente para trás e finalmente pude ver seu rosto, seus olhos. 

    Paramos um de frente para o outro apenas nos olhando, e quando ela viu que eu não faria nada, ela deu os passos que nos separavam e me abraçou tão forte e calorosamente que pude sentir nossos corações batendo em sincronia. Nenhuma palavra foi dita, e nem precisou, só aquele longo abraço disse muito mais do que eu conseguiria dizer se tentasse falar algo.

    Quando finalmente nos soltamos ela disse que eu deveria ir embora dali junto com Ilai, mas ela deveria ficar e nos dar cobertura. Então eu disse:

   - Não.

   - Jack, não teima, eles querem te pegar, porque se te pegarem sabem que vão me pegar também. Para o bem de nós dois, é melhor você ir, e não se preocupe, não desconfiarão de mim, para eles eu sou apenas um vigia. Quando eu voltar vou disparar o alarme e dizer que você fugiu em outra direção. Assim não estragarei  disfarce  e tirarei eles temporariamente da sua cola.

   - Nef, eu não posso te deixar aqui, sozinha... não posso. De novo não.

   - Jack, foi uma escolha minha e esta é outra escolha agora vá, e tente ir no lugar mais longe possível daqui. 

    Abaixei a cabeça em negação. Ela se aproximou, levantou minha cabeça encostou seus lábios aos meus e me deu um beijo. Me soltou 

e foi embora. As últimas palavras que ela disse foram:

    - Eu voltarei, prometo.