Unconditional escrita por Knight


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Está é uma simples história de amor. Porque o amor é muitas vezes incondicional.
Espero que gostem!



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Em breve, o sol iria se por.

Para Sasuke, aquele era o melhor momento do dia. A expectativa da chegada do anoitecer e o céu em uma verdadeira metamorfose misturando tons rosa, laranja e azuis como se fosse um quadro de aquarela.

Ele estava sentado na areia quente por algum tempo simplesmente olhando para a água cristalina do mar indo e voltando em um movimento repetitivo. Apenas ouvindo o barulho da água e das gaivotas que sobrevoavam o local.

O silêncio estava em peso no local e era exatamente aquilo que ele queria. Deixar que a natureza e seus tons o preenchesse enquanto ele esvaziava sua mente, livrando-se do desconforto que reverberava em seu peito.

De repente, o mundo tomou formas negras: alguém tinha tampado seus olhos.

— Advinha quem é? – Ela perguntou com uma voz completamente infantil fazendo algum mistério. Se Sasuke estivesse com os olhos abertos apenas responderia com o seu clássico “revirar de olhos”.

— Sakura, eu sei que é você. – Respondeu e ele pôde voltar a enxergar sua melancólica paisagem. Ela sentou-se ao seu lado esticando as pernas na areia e mantinha uma expressão de desaprovação no rosto, como se o repreendesse por estragar sua brincadeira.

— Nossa, eu estava apenas tentando brincar. – Sakura disse sorrindo, mas parou imediatamente. Seu amigo mantinha o olhar fixo no horizonte com um pesar em seus olhos. O Uchiha estava assim há uma semana e embora ela soubesse o porquê, eles ainda não tinham conversado sobre o assunto.

Por alguns instantes, os dois apenas ficaram lado a lado em silêncio. Sakura sabia o quão especial aquele lugar era para Sasuke e o porquê dele ir ali tão frequentemente e por mais que quisesse levantar o astral do amigo, tinha plena consciência que aquele momento era só dele.

— Você está aqui há um bom tempo. – Ela disse com um sorrisinho no rosto. – Comecei a ficar preocupada. Achei que você poderia tentar se jogar no mar ou coisa assim. – Falou brincando fazendo com que ele jogasse areia nela.

Sasuke sabia que não poderia mais esconder as coisas de Sakura. Afinal, eram melhores amigos. Cedendo ao impulso de se expressar ele apenas disse:

— A Karin terminou comigo. – Suas palavras carregavam sentimentos. Tinha acontecido há uma semana, porém ele parecia incapaz de superar o evento.

Parecia um motivo absolutamente ridículo, mas Sakura sabia que em quatro anos de relacionamento o moreno tinha feito de tudo para que a relação fosse boa e duradoura. Embora, a rosada ou qualquer outra pessoa pudesse atestar que o amigo tinha ficado miserável nos anos em que namorou a ruiva.

— Bem... Finalmente não é mesmo? – Sakura disse e o Uchiha ficou embasbacado. Às vezes ele questionava a fidelidade e o comprometimento da Haruno na amizade.

— Meu Deus Sakura! De que lado você está? – Ele perguntou jogando um pouco de areia nas pernas dela.

— Olha, eu definitivamente não quero ser a amiga cuzona, mas você claramente não estava feliz. – Sakura disse como se fosse algo óbvio, mas o moreno não se mostrou convencido e apenas revirou os olhos. – Tudo bem, tudo bem. Foi mal. Quer um abraço? – Ela perguntou rindo e esticando os dois braços em parte zoando da cara do amigo, em parte tentando lhe oferecer conforto.

— Você é a pior pessoa que eu conheço. – Sasuke disse com um leve sorriso de canto já mais animado com a situação toda. Tinha ficado deprimido por uma semana e tinha evitado todas as pessoas que ele conhecia em especial Sakura.

— Eu sou a pessoa mais legal que você conhece. – Ela disse rindo. – Anime-se amigo! – Falou estendendo o braço e passando por trás do pescoço dele. – Você tem que superar essa fossa.

— Sakura, eu acabei de terminar um namoro de quatro anos. É meio difícil ficar feliz nesse momento.

— Mas você tem que ficar. – A Haruno disse. – Em alguns meses, estaremos lindamente na faculdade. E no mundo universitário amigo, há opções que não acabam mais.

— Mesmo assim... Não quero pensar nisso agora. – Reclamou deixando ser abraçado pela amiga.

— Então não pense! Pense que em breve você estará em uma das melhores escolas de gastronomia do mundo e eu plena na faculdade de cinema. Ou então que você vai ser um chef importante e em alguns anos estarei recebendo meu belo Oscar.

Por algum motivo, ao sentir o encalço de Sakura o coração dele acelerava. Parecia até mesmo uma sintonia perfeita. Estavam atipicamente calados mais uma vez. Nenhum dos dois, dispostos a terminar aquele momento, o que quer que fosse. Naquele instante, Sasuke apenas queria a amiga ainda mais perto.

— Ela também disse que eu não estava comprometido emocionalmente por completo em nosso relacionamento. – Ele disse subitamente fazendo Sakura o largar e encará-lo com uma sobrancelha arqueada.

— Ela disse que você não gosta dela? – Perguntou a fim de confirmar o óbvio. Sasuke apenas assentiu com a cabeça.

— Karin disse que em todos esses anos de relacionamento eu estive apaixonado por outra pessoa. – Respondeu sem encará-la, por alguma razão não conseguia mais olhá-la naquele momento. Algo se movia dentro dele.

— E você está? – Sakura perguntou sem pensar encarando seu amigo. Sem perceber, ele direcionou seu olhar a ela deixando que apenas o silêncio preenchesse a ocasião. O sol iluminava sua face e seus olhos aparentavam ser mais verdes do que realmente eram.

Naquele momento, Sasuke entendeu o peso das palavras de Karin. Quando ela tinha soltado aquela bomba ele havia considerado o fato dela ter enlouquecido de vez e que tudo fosse uma grande desculpa para simplesmente terminar o relacionamento. Todavia, enquanto estava sentado na praia as coisas começavam a fazer sentido.

Ele estava pronto para dizer alguma coisa quando uma gaivota pousou no meio dos dois assustando Sakura que deu o grito mais alto que ele tinha ouvido na vida. Desde pequena ela tinha um medo mortal de aves.

O Uchiha não pôde evitar sorrir enquanto Sakura abaixava a cabeça tentando recuperar o fôlego e acalmar o coração descompassado.

— Ela também disse que queria investir em outros homens.

— Uh! Pesado! – A rosada disse finalmente levantando a cabeça e voltando a olhar o amigo, agora muito mais calma. – De qualquer forma, você não vai ter que pensar nisso. Amanhã vai ser a nossa viagem e você vai se divertir tanto que nem vai lembrar que um dia namorou.

— Não sei Sakura. Não estou muito no clima para viagens.

— Sasuke! – Ela chamou atenção dele, agora séria. – Você vai nessa viagem sim! Você mesmo sabe o quanto deu trabalho planejar isso. Não é uma excursão dos seus amigos do terceirão, é a nossa viagem... E dos nossos amigos. – Ela disse limpando a garganta.

Sasuke apenas ficou em silêncio. Ele sabia o quanto aquela viagem era importante para ela. A Haruno e os seus amigos estavam planejando aquilo desde o começo do ano. Uma forma de comemorarem o fim do ensino médio e iriam fazer em grande estilo no chalé dos avós de Sakura que possuía todos os luxos que pudessem imaginar

— Você vai nessa viagem sim! – Sakura voltou a falar com ímpeto. – Vai ser divertido! O Gaara e a Ino vão ficar se pegando, o Neji vai ficar fingindo que não gosta da Tenten, o Shikamaru e a Temari vão se pegar escondidos achando que ninguém sabe e eu, você, o Naruto e a Hinata vamos ficar super bêbados. Esse é o meu plano!

— Você sabe muito bem que tenho medo dos seus planos. – Sasuke disse rindo.

— Sasuke, apenas confie em mim! – Sakura disse esperando a aprovação do rapaz. – Eu sei que você está mal e por isso essa viagem vai ser excelente.

— Tudo bem! – Finalmente cedeu fazendo a amiga pular de alegria.

A noite já havia chegado o que queria dizer que era hora de ir embora. Os dois se levantaram da areia e foram em direção ao carro lado a lado deixando que o vento do anoitecer os esfriasse por um momento.

Sasuke não podia dizer que tinha superado tudo aquilo. O turbilhão de emoções ainda o perturbava, mas no momento aquilo não importava. Bastava que Sakura estivesse ao seu lado que tudo ficaria bem.

— Obrigado. – Ele agradeceu quase em um sussurro e ela nada respondeu. Simplesmente porque não precisava. Aquilo que tinham e sentiam um pelo outro já era suficiente.

***

O fato é que todos estavam bêbados. Alguns mais do que outros.

Estavam há doze horas no chalé dos avós de Sakura e já tinham consumido metade do estoque de bebidas que tinham levado. Ino e Gaara tinham sumido dentro de um dos quartos, Neji tentava conquistar Tenten sem sucesso, Shikamaru e Temari não escondiam mais o relacionamento e estavam se atracando na piscina; Naruto e Hinata riam bêbados no chão da varanda com duas garrafas de tequila na mão.

Mas não ela. Sakura estava sentada no chão da sala tentando consertar o gramofone de sua avó. A antiga câmera instantânea, que ela sempre carregava, ainda estava em seu pescoço e diversas fotos estavam espalhadas no chão. Ela tinha essa mania de registrar todos os momentos.

Sakura tinha uma verdadeira obsessão por tudo o que era antigo. Herança de seus avós, os quais ela era muito ligada. Tinha escolhido fazer cinema depois que o avô materno tinha lhe mostrado O Poderoso Chefão, aos nove anos. Além disso, ele a incentivava a fotografar tudo o que ela conseguia e nesse mesmo ano a presenteou com a Polaroid antiga, que antes lhe pertencera.

Ela estava há algum tempo dentro de casa tentando consertar o aparelho, sem sucesso. Sasuke apenas aproximou-se e sentou ao seu lado. De perto, conseguia enxergar as lágrimas que se formavam no canto de seus olhos e frustração em sua face.

— Droga! – Ela disse deixando que algumas lágrimas escorressem. Sakura chorava porque o gramofone já não mais funcionava, era irreparável. – Eu sou muito idiota. – Ela disse permitindo que as emoções a dominassem.

Sasuke poderia julgá-la, mas jamais o faria. Porque mais do que qualquer outra pessoa naquele lugar ele entendia a razão das lágrimas. Antes da avó de Sakura morrer, ela tinha dado seu bem mais precioso para sua única neta: o gramofone. Aquele era o último elo que as duas tinham, um laço sentimental formado através de um objeto.

O moreno simplesmente a abraçou permitindo que a tristeza transbordasse. Sasuke lembrava-se de quando a avó de Sakura tinha morrido. Ela não tinha chorado no funeral, porém ao chegar em casa a sua herança a aguardava em cima da cama.

No momento em que ela colocou o vinil as lágrimas verteram de seus olhos. Eles deviam ter uns onze anos, e por um longo período de tempo ficaram sentados no chão frio, abraçados e embebidos por lágrimas e soluços ao som de The Smiths.

Mais uma vez estavam na mesma situação. Um apoiando o outro através do abraço e do consolo. Compartilhando a dor para evitar que aquele fosse um fardo grande demais para ser carregado. Deixando que os sentimentos vazassem e dizendo, mesmo que em silêncio, que tudo ficaria bem.

Sasuke odiava vê-la chorar, porém deixou que aquela tristeza fosse sentida. Ele apenas se contentou em abraça-la, em sentir o calor de seu corpo, em sentir as suas emoções. Ficaram daquele jeito, embalados pelo silêncio da noite, por muito tempo. Mas de qualquer jeito, Sasuke não se importava. Bastava estar ao lado dela.

Por fim, Sakura se afastou deixando uma lágrima escorrer. Sasuke a enxugou beijando a testa dela e a rosada apenas fechou os olhos sentindo o carinho do toque dele.

Lentamente, ela abriu os olhos. Os orbes ônix a encaravam e Sakura sentia-se hipnotizada pelo o que via. Os braços dele ainda estavam em seu encalço e onde ele tocava parecia arder como se exposto ao fogo.

Ao olhar dentro dos olhos esmeraldinos, o moreno finalmente entendeu as antes tórridas palavras de Karin. Ele compreendeu porque os quatro anos de relacionamento tinham sido tão complicados. Porque, de fato, ele não estava emocionalmente envolvido com Karin.

Porque ele estava apaixonado por outra pessoa. E ela estava bem a sua frente. Ela sempre esteve ali.

Desde o começo, a prioridade tinha sido Sakura. Talvez, por medo de estragar a amizade ele tenha guardado os sentimentos para si, por anos. Mas lembrava-se do calor do toque dela, como precisava estar desesperadamente com ela e como o simples pensamento de tê-la ao seu lado era o suficiente para lhe preencher por completo.

Por anos, os dois tinham sufocado os próprios sentimentos com o medo de perder um ao outro. Com medo do que o futuro pudesse lhes reservar caso dessem uma chance ao que quer que sentissem. Com medo de o amor lhes destruíssem. Talvez jamais conseguissem se reerguer.

Mas o amor não destrói. Ele completa.

Ele a puxou para mais perto permitindo finalmente que seus lábios se tocassem. Os dois aproveitando o momento, deixando que anos de uma paixão não correspondida transparecesse através de um simples beijo. O beijo lhes consumia como fogo e lhes dava a sensação de plenitude.

Mesmo assim, nenhum dos dois poderia descrever o que sentiam no momento. O sentimento era incondicional.

 Afastaram-se ligeiramente e permaneceram juntos com os olhos fechados deixando que o toque um do outro falasse por si só. Aproveitando a proximidade tão desejada.

— Sim. – Sasuke disse subitamente fazendo com que Sakura abrisse os olhos para encará-lo. Os olhos dela carregavam a dúvida.

— Sim o que? – Ela perguntou em um sussurro sem desviar o olhar.

— Eu estou apaixonado por outra pessoa. – O moreno disse sorrindo. – Sempre foi você. – Completou o que fez Sakura sorrir. Ele se levantou e estendeu a mão para que a rosada segurasse.

Saíram da casa em silêncio indo em direção à praia. A noite era lentamente substituída pelo nascer do dia. O vento frio batia contra o corpo deles, mas aquilo não era um empecilho a eles. Seguravam a mão um do outro e não pretendiam largar tão cedo.

— Meu Deus! – Sakura disse subitamente rindo. – Nós somos um clichê.

— Nossa! Você consegue estragar tudo. – Sasuke disse brincando e sorrindo. Aquele peso que o consumia havia desaparecido de seu coração. Mas ela estava certa, os dois eram de fato um clichê. Não que isso importasse.

Todas as vezes que Sasuke sentia que o mundo estava em seus ombros ele ia à praia para enterrar os seus pés na areia e esquecer tudo. Ao mesmo tempo em que absorvia a paisagem que o rodeava.

Desta vez era diferente.

— Há quanto tempo? – Ele perguntou e Sakura apenas encarou o horizonte olhando o céu se transformar deixando que a luz do sol preenchesse o local.

— Sei lá. Acho que desde sempre, mas só percebi quando a gente tinha uns quinze anos. - Ela respondeu voltando a olhá-lo. Tinha sonhado com esse momento por tantas vezes que mal acreditava que estava realmente acontecendo. – E você?

Sasuke apenas sorriu a puxando para mais perto. Para outro beijo apaixonado deixando que o frio se esvanecesse através do calor que os dois emanavam. Ele não respondeu a pergunta porque nem mesmo ele sabia quando tinha começado a se sentir daquele modo. Mas aquele beijo indicava que aquela paixão não cessaria tão rapidamente, que ele estava pronto para enfrentar o mundo com ela ao seu lado.

Nunca tinha se sentido de tal maneira na vida, porém ele gostaria de aproveitar cada segundo. Especialmente por ter perdido tanto tempo focado em questões alheias e criando obstáculos onde havia apenas passagem.

Não se sentia vazio. Tê-la em seus braços, seus lábios se tocando, seus corpos se envolvendo lhe garantiam plenitude. Estar com ela era simplesmente o que bastava. Tinha sido desta maneira desde o começo.Era incondicional. 

Seu momento favorito do dia tinha mudado.

Em breve, o sol iria nascer.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Bem, essa história está na minha cabeça há certo tempo. E confesso que posto esse capítulo bem frustrada porque eu já tinha escrito ele, porém perdi todo o arquivo. Ou seja, essa é a versão reescrita.
De qualquer maneira, fiquei feliz com os resultados e espero que vocês também.
Esta história foi inspirada pela música Unconditional (Nick Mulvey), mas também pela The Only Exception (Paramore) e a música do The Smiths citada no capítulo é, obviamente, Asleep.
Comentários são sempre bem-vindos e caso haja algum erro me avisem por favor!
Beijos



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