Affection escrita por Sapphire


Capítulo 1
Affection.




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Japão. 20:20. 

 

 

 

A garota de cabelos azulados caminhava em círculos. De um lado para o outro, carregava em sua face alva um semblante preocupado, denunciando toda a sua agonia no momento. Coçou a nuca, esfregou o braços, tentou prender as madeixas lisas em um coque que não durara segundos. Aparentava estar lidando com uma forte crise de ansiedade internamente, algo nítido em seu olhar pensativo e sua respiração curta. Nunca imaginou que uma simples notícia a abalaria tanto; Reina sempre fora tão forte, firme e convicta em prol de todos. Mas agora lá estava ela, deixando vir à tona um lado seu no qual ela escondera por tanto tempo atrás de uma personalidade intensa e impiedosa. 

Ouviu passos ao longe, virando-se bruscamente, já tendo a noção de quem seria. A preocupação em seu olhar fora substituido pela raiva e indignação momentânea que nutria pelo ruivo à sua frente: Kiyama Hiroto. Ele aproximou-se, carrecando em seus lábios róseos um pequeno sorriso de canto, encontando-se à parede enquanto lançava o seu olhar para a moça. Cruzou os braços, a observando por alguns poucos segundos. Ela o encarou de relançe, logo virando a face para qualquer lugar onde seu olhar não encontrasse o dele. 

— Está irritada? - A voz grave do maior ecoou pela sala. Ela suspirou fundo, cruzando os braços, pois de repente o lugar tornara-se frio, causando-lhe arrepios. 

— Por que diabos não apareceu antes, Kiyama? - Indagou, ríspida. — Não soube do que houve com a Chaos? 

— Soube, sim. - Respondeu prontamente. - Está irritada por conta de minha ausência, Ulvida? 

— Desde quando me chama assim em particular? É Reina! 

Esbravejou, batendo a mão na mesa escrivaninha, voltando-se para ele novamente. O ruivo levantara as duas mãos em sinal de defesa, mas permaneceu com a mesma expressão tranquila em sua face pálida. Reina suspirou fundo, levando uma das mãos até a testa, tentando conter a coléra que corria em suas veias naquele momento. E não era somente isso: tentava esquecer, em vão, o misto de sentimentos que invadiram-lhe o peito desde cedo, obrigando-a a agir daquela forma. Raiva, medo, ansiedade; Yagami Reina parecia já não suportar o fardo que carregava em suas desde quando o seu "pai" decidira dar inicio à tudo aquilo. 

— Não era para ter acontecido. - Ela murmurou, porém de modo ao ruivo ouví-la com clareza. — Não era para a Chaos ter sido derrotada daquela forma. 

— Então é isso o que lhe preocupa. 

O ruivo comentara, aproximando-se, logo sentando-se em uma cadeira, voltando o seu olhar para a moça novamente. Ela sabia em seu íntimo que descontar a sua raiva em Kiyama e em sua demora - provavelmente acidental - era algo completamente desnecessário. Sempre tivera um carinho imenso por ele, e a última coisa que queria era vê-lo ser vítima de sua injusta ira. Suspirou fundo.

— Hiroto, eu sinto que isso não vai dar certo. Nagumo, Fuusuke, Midorikawa... Nenhuma das nossas tentativas resultou no que queríamos. E agora é a nossa vez de fazermos isso pelo pai. 

Hiroto a observou em silêncio por um momento. Levantou-se, aproximando-se da moça, encarando seus olhos profundos e preocupados, algo no qual o surpreendia naquele instante. Reparou que tal temor a aflingia ao ponto de fazê-la duvidar de sua vitória no dia seguinte. Reina mostrou-se pronta desde o início, mas agora, começava a duvidar de sua capacidade em relação àqueles que derrotaram os seus amigos. O ruivo segurou-lhe as mãos, como se quisesse passá-la confiança. Os dois sempre foram muito unidos, desde novos, e compartilhar problemas dessa maneira não lhes era incomum. 

Hiroto Kiyama sentia a forte necessidade de fazê-la bem, independente do caso. 

— Querida, sei que está nervosa. - Tomou a palavra de maneira gentil. - Mas veja, treinamos duro para isso. Não é possível que todo o nosso esforço não nos proporcione algum resultado. 

— Saginuma também treinou duro. Todos treinaram. - Ela o respondeu, o encarando. - Veja bem, agora parece que estão sendo esquecidos por conta de suas derrotas. Não quero isso para nós, Hiroto. 

— Ulvida...

— Reina. 

Corrigiu, o que o fez murmurar um palavrão. Sabia que ela detestava quando realizava a proeza de confundir os verdadeiros nomes com os codinomes que usavam quando em meio aos adversários. Amaldiçoou-se por conta de tal erro, agora esforçando-se para não deixá-la irritada ou chateada com razão. 

— Reina. - Corrigiu-se, suspirando fundo. — Você precisa se acalmar. 

— Não quero ser uma decepção para ele. - Desabafou, referindo-se ao Kira que os comandava, alguém no qual ela admirava muito. 

— Papai nunca faria isso, Reina. Todos sempre foram muito especiais para ele. 

— Fico receosa pois conheço a força de nossos amigos. Todos foram derrotados, e não era isso o que ele queria. 

— De fato.

— Ah, eu estou tão irritada.

— Olha, voc...

— Eu vou acabar com aqueles bastardos quando os vir amanhã.

Apertou mais as mãos contra as dele, referindo-se ao time da Raimon, este que estava a causar-lhes tantos problemas desde o primeiro confronto. Hiroto piscou os olhos algumas vezes, deixando escapar de seus lábios um riso baixo em seguida; ora, parecia que sua Yagami Reina estava voltando a si aos poucos. Ela voltou-se para ele, observando-o rir, o que a fez arquear uma sobrancelha estranhando a situação no momento. 

— Que há? - Perguntou, soltando suas mãos. 

— Você irritada. - Respondeu. - É um graça.

— Está se divertindo com minha situação, Gran? - Deu ênfase ao codinome do maior, cerrando os punhos. — Não acredito que está rindo na minha cara! 

— Perdão, perdão. Eu tive que rir.

Ela cruzou os braços burrada, desviando o olhar para um canto qualquer. O rapaz a observou sorridente, atencioso à cada detalhe da sua face, no qual expressão denunciava toda a sua irritação momentânea. Mil e um pensamentos passavam-se pela mente do ruivo, fazendo-do focar-se nela e somente nela; como era bela. Imaginou o quão aquela esquentada já o fez sentir-se o melhor e mais sortudo homem do mundo. Por mais calmo que fosse, no fundo de seu peito, doía-lhe ver a destemida Ulvida tão abalada daquela forma e agoniava-o não saber ao certo o que fazer para trazê-la a felicidade e a tranquilidade de volta. 

— Hey. - Ele a chamou, não muito concentrado em suas palavras. Reina manteve o olhar em qualquer lugar que não fosse ele. 

— O que?

— Sabe o que me chama mais a atenção quando você se irrita?

— Hn?

— É que você continua linda. 

Reina pareceu engasgar-se com a própria saliva, voltando o olhar surpreso para o rapaz. Esperou perceber na face alheia a expressão brincalhona, como se aquele repentino comentário não passasse de uma de suas gozações inofensivas. Contudo, Hiroto Kiyama carregava em seu semblante algo no qual não lhe parecia uma simples brincadeira. A moça sentia como se cada palavra daquela curta frase fosse uma verdade na qual ele só havia decidido dizer-lhe agora. Suas tentativas para conter casa reação foram em vão: em resposta, sentiu a face queimar em ração ao rubor que lhe surgia nas maçãs do rosto. Além disse, seu coração reagira da maneira mais inexperada para si. Era como se o compasso do mesmo houvesse sido afetado bruscamente, e agora ele batia cada vez mais rápido, apertado, fazendo sua respiração falhar em razão à surpresa. 
Foram segundos em silêncio que mais lhe pareciam uma eternidade. Inclusive, o misto de sentimentos e sensações aparentou mudar de um momento para o outro, como se Kiyama Hiroto agora tomasse conta de seus pensamentos e de si por inteiro. Aquele rapaz... Não era de agora no qual ele lhe fazia sentir-se estranha. Porém, a destemida Reina não admitia nem para si o quão sentia completamente grata e contente em tê-lo ao seu lado. Hiroto mexia consigo de um modo no qual ela sequer conseguia explicar.
E ela detestava o fato de gostar daquilo. 

— N-não comente asneiras. - Gaguejou, ríspida. Kiyama finalmente pareceu voltar para si, piscando os olhos enquanto coçava a nuca sem jeito. 

— Desculpe. - Pediu gentilmente. — Vamos voltar para o assunto importante? Ou já sente-se melhor? 

Reina não o respondeu de prontidão. Amaldiçoou-se por deixar tais palavras ficarem rondando em sua mente, pertubando-a. Quando deu-se por si, o respondera, primeiramente, com um movimento de cabeça, assentindo. Sentiu novamente a preocupação invadir-lhe o corpo, porém em uma intensidade menor do que antes. Hiroto a tranquilizara com suas palavras de apoio, sua presença, seu sorriso, como sempre fizera. 

— Sim. - Respondeu-lhe um tanto mais calma. Ele segurou-lhe as mãos novamente, em apoio. 

— Veja bem, amanhã é a nossa vez. Vamos mostrar para eles do que somos capazes, sim? Nós conseguiremos, Reina. Nós podemos fazer isso. 

Ela assentiu novamente, tentando demonstrar confiança. Hiroto a observou por alguns segundos em silêncio, tendo a ligeira noção de que parte dela ainda temia o encontro com a Raimon e uma suppsta derrota para tal time. Sentiu novamente a impotência em vê-la daquela forma sem poder fazer nada para que ele lhe arrancasse um sorriso. Encarou, em silêncio, as reações e os movimentos de Yagami Reina, aparentemente nervosa: o modo como mordia o lábio inferior, o modo como apertava-lhe as mãos, o modo como seus olhos tentavam em vão concentrar-se em algo para fazê-la esquecer de tudo o que lhe preocupava. Seus pensamentos voltavam-se para ela e, naquele momento, Hiroto decidiu que não jogaria no dia seguinte somente pela felicidade de seu pai. 

Ele faria por Reina também. 

E quando deu-se por si, em meio à pensamentos variados, seus lábios já colavam-se aos dela, dando início à um calmo e sereno beijo, onde demonstrava todo o afeto pela moça à sua frente. 

Não tinha coragem o suficiente para dizer que a amava. Não conseguia pôr em palavras o quão ela lhe era importante para si e o quão a desejava naquele momento. Reina, por sua vez, fora pega novamente de surpresa pelo ruivo, que agora entrelaçava os braços em volta de sua cintura, apertando-a mais contra seu corpo. Suas pernas tremeram em resposta ao ato inexperado, e por um segundo pensou em empurrá-lo e correr dali, para que não precisasse lidar com aquilo. Contudo, não conseguiu; ela viu-se entregue à ele, derretendo-se ao sentir os lábios alheios moverem-se contra os seus em um ato terno e carinhoso. Percebera, rapidamente, que aquilo era tudo o que seu corpo sonhava em ter. Sentiu-se puramente confortável em meio aos braços do rapaz, e, como se já não bastasse entregar-se toda e completa para ele, retribuira o beijo gentilmente após entrelaçar os braços em volta de seu pescoço. Kiyama Hiroto não cabia em si de felicidade no momento; Reina também não. 

— Gran! 

A voz de Nagumo Haruya ecoara ao longe. Ele o estava procurando, muito provavelmente junto à Fuusuke para discutirem - novamente - sobre a Chaos e sua suposta derrota injusta. O ruivo tivera de interromper o selar, virando um pouco a cabeça em direção à porta, suspirando fundo enquanto o seu olhar denunciava toda a irritação ppr ter sido atrapalhado em um momento consideravelmente crucial. Desejou internamente que de repente Burn mudasse de idéia e o deixasse para lá, mas conhecendo o amigo, sabia que sua teimosia não quebrava-se com tanta facilidade. 

— Você precisa ir. - Voltou-se para a moça logo após ouvir sua voz. Para a sua surpresa e satisfação, um sorriso finalmente havia surgido nos lábios alheios, enquanto ela o encarava profundamente. — Sabe como são. Se não for, eles não o deixarão em paz. 

— De fato. 

Retribuiu o sorriso, um tanto abobalhado. Ele afastou-se tão relutante quanto ela, caminhando até a saída, logo parando bruscamente para voltar a encará-la dali. Reina coçou a nuca sem jeito, ainda carregando um semblante animado, junto à um belo sorriso encabulado. Por um momento, ela não entendeu o motivo pelo qual ficara tão temerosa momentos atrás; afinal de contas, ela tinha Hiroto consigo, ali. Parte de si ainda importava-se e preocupava-se com o que Kira acharia de si e principalmente com o resultado da partida tão esperada. Porém, esqueceu-se de que o ruivo, independente das circunstâncias, estaria lá para si. 

E isso lhe trazia uma paz confortadora. 

— Você está realmente bem? - Ele indagou-lhe. — Já sente-se melhor para o jogo de amanhã?

Ela suspirou fundo, lançando-lhe um sorriso  de canto consideravelmente confiante, logo dirigindo-lhe as palavras de maneira convicta e despojada antes que ele pudesse retirá-lo ao encontro do que lhe procuravam:

— Nós vamos acabar com eles, Hiroto. Você sabe.


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