Casa de Marlene, verão de 1975.

Lily Evans

James Potter foi a maior surpresa da minha vida. De alguma forma ele conseguiu em apenas duas semanas passar de o maior babaca de todos os tempos para o cara dos meus sonhos. Sério, não sei como tudo aconteceu tão rápido, mas quando percebi, eu já estava suspirando por ele. O lado bom é que é recíproco e ele está do mesmo jeito por mim. Essa semana está sendo incrível, todo dia eu e James fazemos algo especial. Até quando não temos absolutamente nada pra fazer ele dá um jeito de tornar as coisas monótonas do dia a dia muito divertidas.

Estaria tudo perfeito se não fosse por Sirius Idiota Black (que é como Doe e eu o chamamos agora). Ele simplesmente fugiu pra casa do Peter nove dias atrás (sei porque foi no dia que o James e eu nos beijamos pela primeira vez) e agora Marlene está destruída e mesmo que ela socialize e tente agir normalmente, percebemos como ela está mal.

Dorcas chegou a mandar um berrador pro Sirius dizendo coisas que assustariam até a mãe dele e ele simplesmente não respondeu. Só sabemos que ele está com o Peter e está vivo porque ele deixou um bilhete pro James dizendo para não dizer aos Potters (que estavam viajando a trabalho esse tempo todo) que ele estava indo passar o resto do verão com o Peter e que cuidasse de Marlene pra ele. Como se ele tivesse algum direito de se importar com ela depois do que ele fez.

Mas enfim, hoje todos nós vamos na cidade tomar sorvete e vou tentar fazer algo pra animar a Lene, mas o James disse que tem uma surpresa pra mim e não consigo planejar nada com essa curiosidade me matando!

Decidi levantar logo antes que divagasse mais e passasse a manhã inteira na cama e assim que me levantei vi que precisávamos dar uma geral naquele quarto imediatamente.

Um chiqueiro seria mais limpo! Dorcas e Lene dormiam profundamente rodeadas por roupas, sapatos, pratos de comidas sujos, sacos de balas e lenços de papéis (de quando decidimos assistir um filme trouxa de romance e acabamos chorando a noite inteira).

—GENTE! - Berrei logo de uma vez pra poupar o esforço.

—Credo, Lily! - A Dorcas disse cobrindo a cabeça com a coberta. - Ainda é cedo, para de gritar.

Marlene nem ao menos se mexeu! Olhei pras duas indignada e tive uma ideia muito boa. Vamos fazer isso da maneira difícil, queridas. Desci as escadas e pedi aos elfos para encherem dois baldes de água fria.

—Por favor! Elas não vão ficar chateadas! - Eu insistia enquanto as duas elfas me olhavam receosas, com medo de causarem a fúria da Lene. - Elas acordam mais produtivas com a água gelada!

Estavamos paradas em frente em frente as meninas e os baldes já estavam posicionados exatamente acima delas, mas as elfas não queriam colaborar.

—Podem deixar que eu assumirei total responsabilidade por isso, vocês não serão nem mencionadas! - Eu disse fazendo minha maior cara de boa moça e vi que elas se entreolharam refletindo. Dei um grande sorriso e quando elas sorriram de volta gritei - AGORA!

Os dois baldes d'água viraram, ensopando as duas na mesma hora, no mesmo instante que as duas elfas desapareceram.

—Lily Evans, você está morta! - Lene gritou me olhando com raiva.

—Ora, eu só queria acordar vocês! Está quente hoje, né? - Eu disse com a maior cara de paisagem enquanto Lene se levantou e começou a jogar os travesseiros molhados em mim. - Ai L não me molha!

—Pra você ver o que é bom! - Ela disse rosnando enquanto me dava outra travesseirada.

—Ah, foi você, Lils? Achei que era chuva. - A Doe disse com uma voz de sono que parecia que ela tinha fumado pó de flu.

—Como cairia chuva dentro de casa? - A Lene a olhou levantando a sobrancelha.

—Isso já me aconteceu num sonho. - Ela disse dando de ombros e mexendo no cabelo loiro ensopado.

Lene e eu só nós olhamos e demos de ombros. Dorcas sempre seria estranha.

—Que gritaria é essa? - James apareceu sem camisa na janela de Lene e eu tive que me controlar muito pra não pular em cima dele. Como ele consegue ficar ainda mais lindo?

—A Lily decidiu acordar a gente com um banho. - A Lene disse me olhando com uma cara maléfica. Certeza que ela vai se vingar, vou ter que dormir com um olho aberto apartir de agora.

—Essa é a minha garota! - O James disse com um sorriso orgulhoso e eu sorri de volta.

—Vamos nos secar, Doe, antes que a Lily e o James comecem a se atracar, sei onde esses sorrisinhos deles vão parar. - A Lene disse enquanto puxava a Doe pro banheiro.

Quando ela bateu a porta me virei pro James e ele estava sentado no banquinho embaixo da janela agora..

—Sabia que você era uma marota disfarçada. - Ele disse estendendo a mão. - Estou orgulhoso de você.

Sentei no colo dele e sorri agradecendo.

—Só porque não gosto de quebrar as regras não quer dizer que eu não saiba me divertir. Na verdade, sou muito divertida.

—Estou vendo isso, mas a parte de quebrar as regras me magoa. Regras foram feitas pra serem quebradas.

—Regras foram feitas por um motivo. - Eu disse adotando um tom profissional. - E existem muitas coisas divertidas que podemos fazer dentro das regras.

—Ah é? Que coisas seriam essas? - Ele disse com um sorrisinho malicioso.

Sorri e beijei o pescoço dele.

—Bom… Não existe nada que me impeça de fazer isso… - Eu disse enquanto beijava todo o pescoço dele lentamente. -Nem nada que me impeça de fazer isso… - Comecei a arranhar sua nuca lentamente senti ele apertar minha cintura com mais força. Começamos a nos beijar e só paramos porque ouvimos o barulho de algo quebrando no quarto do James.

—O que foi isso? - Eu perguntei quando nos separamos ofegantes.

—Não faço idéia. - Ele disse. - Mas não deve ser nada importante. - Assim que começamos a nós beijar de novo ouvimos um piado alto.

—James! - Remus berrou do quarto ao lado. - Vem aqui, rápido!

—Remus Lupin realmente gritou? - Eu perguntei surpresa enquanto saia do colo.

—Sim, acontece com mais frequência do que imagina. - Ele disse tentando se acalmar já que uma certa parte dele estava bem animada.

—Vem logo, James! - Ele disse com um tom ainda mais nervoso e o James me deu um selinho e pulou a janela rapidamente.

—Aconteceu alguma coisa? - A voz da Lene soou atrás de mim e apesar de achar estranho esse lance dos meninos, sabia que não valia a pena preocupar ela agora.

—Nada demais, o Rem só queria falar com o James um instante. - Eu disse pegando uma toalha e indo pro banheiro.

—Entra na fila, querida, a Doe começou o banho agora. - Ela disse se escorando na porta do banheiro.

—Como você está, Lene? - Eu perguntei me escorando ao lado dela.

—Todos os dias você me faz a mesma pergunta e tem a mesma resposta. - Ela disse revirando os olhos. - Estou bem, Lils. E vou continuar bem. Não vou ser uma daquelas garotas patéticas que correm atrás de Sirius Black. Admito que me desesperei por um momento, mas agora estou perfeitamente bem e já dei a volta por cima. Criei muitas expectativas em relação a ele e agora é hora de crescer, de parar de idealizar algo que não existe. Sirius Black nunca vai ter coragem de se apegar de verdade a ninguém. Eu achei que era diferente pra ele, que era especial, mas aí percebi que pra ele eu era só mais uma. Não vou insistir nesse erro. Ele me iludiu, verdade, mas eu também só vi o que eu queria ver. Queria achar que ele era apaixonado por mim. Mas agora aprendi com meu erro e vou seguir em frente. Não existe mais espaço pra Sirius Black na minha vida. Agora chamamos ele de “o falecido” porque ele morreu pra mim.

Ela estava ofegante e corada depois do discurso e não percebeu que tudo que ela disse só provava mais os sentimentos dela por ele.

—Tudo bem então, se é o que você quer. - Eu disse a abraçando.

—É o que eu quero.

James Potter

—Aluado, é melhor que você tenha me chamado por um motivo muito bom se não você é um lobo morto. - Eu disse entrando no meu quarto pela janela.

—Sirius mandou uma carta. - Ele disse sério. Estava sentado na minha cama, que por algum motivo era o único canto sentável no quarto, já que o chão estava coberto de roupas, penas, meu malão ainda estava aberto do lado da porta e embaixo da outra janela estava uma imundice de titica de coruja. Remus encarava o papel como se fosse atacar ele e antes que ele entrasse em pânico e rasgasse a carta, atravessei o quarto e a puxei das mãos dele.

“Marotos,

Como sabem, estou na casa do Pedrinho. A mãe dele está sendo boa comigo e cozinhando todas as minhas comidas preferidas para curar meu coração (e caso queiram saber, sim, ela continua gostosa). Sinto muito ter saído sem avisar, mas a situação estava me matando e ter a Lene no quarto ao lado só piorava tudo. Precisava espairecer. Peter disse que eu me saboto e que arrumo desculpas pra não ser feliz, mas sei que isso não faz sentido porque eu sou Sirius Black, o que mais eu poderia querer? Sou muito feliz do jeito que sou. Mas o nosso rato acha que estou me enganando e que na verdade sou infeliz e solitário. Como se alguém pudesse ser solitário com amigos tão grudentos. Mas enfim, estou com saudades dos meus meninos. Nem a mãe gostosa do Peter compensa a falta de vocês. Me escrevam logo.

PS: Como a Lene está? Não digam a ninguém que eu perguntei.

Do único, incrível e inesquecível,

Sirius Orion (infelizmente) Black.”

Terminei de ler a carta sem palavras. Sirius estava tão ferrado! Eu o conheço bem demais e assim que botei os olhos na carta entendi o que isso queria dizer.

—Aluado, você entendeu o que estava por trás da carta? - Eu perguntei sorrindo olhando a confusão do Rem.

—Como assim o que está por trás da carta? O que eu entendi é que o Sirius foi imbecil e covarde. - Ele disse bravo e eu revirei os olhos. Como ele consegue ser tão cego?

—O Sirius tem problemas com relacionamentos por causa da mãe doida dele, mas essa carta prova que ele está querendo ajuda. Foi claramente um grito de socorro! Só seria mais claro se ele nos mandasse um berrador dizendo SOS.

—Não estou vendo esse grito de socorro, Jamie. - O Remus disse pegando a carta.

—Não me chame de Jamie, só minha mãe pode, e se você não vê isso é porque você é cego! Precisamos de um plano pra juntar o Sirius e a Lene.

—Não, James, sem mais planos. - Ele disse com aquele ar de certinho monitor.

—Deixa de ser chato, Aluado. E nosso amigo precisa da nossa ajuda. Não vai deixar um maroto na mão, né? - Eu falei dando meu sorriso mais brilhante pra ele. Mas pela cara de desagrado do lobinho, acho que não funcionou.

—Sem planos mirabolantes, James. Vamos ajudá-lo dentro do limite. Ainda não me esqueci do episódio do Snape. - Ele disse se levantando. - Sério, você devia limpar esse quarto, está um nojo.

—Não tem pra quê, eu nem durmo aqui. - Eu disse enquanto íamos pra sala. Estava dormindo no quarto dos meus pais e Rem no quarto de Sirius.

—Então deixe os elfos limparem. - Ele disse simplesmente.

—Só quando eu for pra Hogwarts. Ali é meu lugar seguro aqui e só eu posso mexer.

—Você fica mais estranho a cada dia que passa, Jamie. - Ele disse rindo e dando um tapa na minha cabeça.

—Não me chama de Jamie! Mas enfim, voltando ao que interessa. O que faremos pra juntar aqueles dois?

—Não faço idéia, você que faz os planos mirabolantes por aqui. - Ele disse enquanto eu me jogava no sofá.

Passamos cerca de uma hora discutindo idéias e não chegamos a lugar nenhum já que o Remus rejeitava tudo que eu falava.

—Por Merlin, Aluado, não tem como você rejeitar todas as minhas idéias. Desse jeito a gente não vai fazer nada! - Eu já estava impaciente com aquilo tudo.

—Não tenho culpa se você só tem planos ruins! - Ele disse se escorando no sofá. Ele tinha um jeito estranho de sentar, era como uma imitação dos japoneses. Parecia muito desconfortável aliás.

—Já sei! Tive uma idéia perfeita! - Eu disse vestindo uma camiseta que achei jogada por ali.

—Ai meu Merlin, sinto que isso vai dar errado. - Ele disse cobrindo os olhos.

—Deixa de drama, lobinho, não vamos fazer nada demais. - Eu disse com um sorriso. — Vamos apenas entrar no quarto da Lene, achar algo do Sirius, mandar pra ele como se fosse a Lene e esperar ele aparecer. Conheço meu cachorro, sei que ele vem.

—Isso vai dar errado. - Ele murmurava baixinho e perdi a paciência.

—Para de azarar, Aluado. Levanta o rabo do sofá que você vai ser a isca. - Eu disse tentando ajeitar meu cabelo no espelho.

—A isca? Que isca? - Ele disse parando atrás de mim com aquele ar de sério que me dava nos nervos.

—Você vai na casa da Lene e distrai as meninas enquanto eu vou no quarto da Lene e procuro algo interessante.

—O que exatamente você está procurando, Pontas? - Ele disse indo pra porta.

—Vou saber quando eu ver. Agora vai! - O empurrei e fechei a porta, depois subi correndo pro meu quarto. Eu vou resolver essa história agora!

Alguns minutos depois as meninas saíram do quarto da Lene e assim que ouvi a porta bater, pulei a janela. O quarto estava bem mais arrumado que antes, o que dificultava um pouco o meu trabalho, mas nada que James Potter não consiga fazer.

Depois de rodar o quarto e só derrubar um porta-retrato eu estava quase perdendo as esperanças e acabei derrubando um chapéu ridículo de leão, mas quando me abaixei pra pegar, vi o meu pote de ouro.

Embaixo da cama havia uma caixinha de madeira escondida. Sorri lentamente enquanto tirava a caixa e senti que o meu sorriso aumentava. Não ia ter que fazer nada, a Lene já havia escrito uma carta e no final estava o ponto chave de tudo:

“Eu te amo, Sirius Orion Black”.

—Te peguei, Lene.

Guardei a caixa e fui pro meu quarto rapidamente.

—Gertrude, envie essa carta pro Sirius agora! - Eu disse amarrando a carta na minha coruja que estava cochilando. - Nem me olhe desse jeito, é uma emergência! Você dorme lá no Peter. Vá o mais rápido que puder!

Ela me bicou forte mas depois levantou vôo rapidamente, e eu só me apoiei na janela e sorri vendo meu plano se formar. Seria ótimo ficar na janela divagando mas eu não conseguia respirar porque meu quarto realmente estava fedendo. Por Merlin, preciso limpar esse lugar. 

Fechei a janela e saí do quarto, indo em direção ao quarto dos meus pais, onde a surpresa da Lily me esperava. Mais um plano de James Potter que vai dar certo.