Hogwarts, 1975

Lily Evans

Desci as escadas correndo enquanto tentava pentear meu cabelo com os dedos. Eu simplesmente não conseguia acreditar nisso. Eu era Lily Evans, a pessoa mais pontual daquela escola e no dia mais importante da minha vida, eu simplesmente ignorei o despertador e voltei a dormir! Não acredito que eu fiz isso! E meu dormitório já estava vazio, o que quer dizer que nenhuma das minhas supostas amigas quis me acordar, elas vão se ver comigo. Enquanto corria desesperada acabei virando sem olhar e trombei com tudo em alguém, e quase caia, se a tal pessoa não tivesse me segurado.

—Cuidado Lírio, não é sempre que um cavaleiro reluzente pode te salvar de uma queda.

Olhei pra cima sem acreditar no meu azar. De todas as pessoas da escola eu tinha que esbarrar justo nele? Olhos castanhos esverdeados me encaravam através das lentes redondas e um sorriso irônico brotava nos lábios cheios. James Potter como sempre com seu sorriso que mostrava claramente seus 32 dentes irritantemente perfeitos. Ridículo.

—Eu não preciso de um cavaleiro reluzente, Potter, e nós dois sabemos que você é tudo menos isso.

—Não é o que todas as outras garotas dessa escola acham, Lírio. - Ele falou com um risinho arrogante. Ah como eu odeio esse garoto!

—Então vá importunar outra pobre alma e me deixe em paz! – Eu disse enquanto me afastava em direção à sala de aula.

—Você ainda vai se arrepender do que diz, Lírio, e só pra você saber, a prova vai ser no Lago Negro. – Ele disse enquanto andava despreocupadamente na direção contrária.

—E porque seria no Lago Negro, Potter? E porque eu acreditaria em você? – Eu disse enquanto virava para encará-lo.

—Faça como quiser Lily, mas depois não venha chorar falando que eu não avisei. – E me deu as costas e quando virou o corredor, eu vi um sorriso em seu rosto. Esse garoto é um idiota de marca maior, o que danado essas meninas veem nele eu não consigo nem imaginar.

Corri até a sala de aula e pra minha infelicidade constatei que estava vazia. Eu tinha exatamente 4 minutos pra chegar na prova. Era o NOMs, a prova que eu vinha me preparando a meses e ontem, em uma crise de desespero que me fez virar a madrugada estudando, me impediu de dormir na hora e causou esse atraso todo. A prova de Defesa Contra a Arte das Trevas seria mesmo no Lago Negro. O Potter falou a verdade. E agora não tenho tempo de chegar lá. Enquanto corria pelas escadas, ia imaginando o que aconteceria se eu perdesse a prova, será que eu seria expulsa? A cada lance de escada eu ficava mais apavorada, e ao ver que só tinha dois minutos, eu simplesmente me desesperei mais e tentei avançar mais ainda, o que resultou no meu segundo tombo do dia, mas dessa vez não tinha ninguém pra me aparar.

—Eu disse que você não teria sempre um cavaleiro reluzente Lily. – Potter estava parado na parede me olhando debochado. Minha mão estava coçando pra pegar a varinha e azará-lo.

—O que faz aqui, Potter? Vai perder a prova - eu disse enquanto olhava o relógio. 1 minuto.

—Estou salvando sua pele, o que parece que eu estou fazendo? – Ele disse enquanto puxava uma vassoura das costas e abria uma janela. – Ou vem comigo ou perde a prova. E aí, qual vai ser?

—Só porque é dia de NOMs, Potter, mas tome cuidado, tenho pavor de vassouras. – Eu disse enquanto montava na vassoura. Eu só podia estar louca aceitando aquilo, mas eu realmente estava desesperada, eu não podia perder uma prova dessas. Tentei agir normalmente mas estava morrendo de medo e sentia que minhas mãos tremiam.

—Segura firme, Lírio. Vamos mostrar a eles como se chega numa prova. – Dizendo isso ele disparou pelo céu e eu fechei os olhos e agarrei sua blusa, não acreditava que estava fazendo isso, ele era o Potter pelo amor de Deus. Enquanto minha consciência me esmagava e a gravidade também, não notei que estávamos nos aproximando, e quando ele parou na frente da classe vi que chegamos exatamente na hora e que atraímos o olhar de todos os alunos, inclusive minhas amigas que estavam com caras de quem iam me matar. Oh Deus, eu estava tão ferrada.

—Certo, agora que a senhorita Evans e o senhor Potter nos deram a honra de suas presenças, vamos começar. – O professor disse carrancudo enquanto nos olhava, ele certamente estava decepcionado comigo por estar a menos de 10 metros do Potter. Deus sabe como eu também estava.

Corri pra me sentar com as meninas que ainda me olhavam feio e o Potter foi pra perto dos energúmenos que ele chama de amigos, bom, eles e o Remus, que também é amigo dele mas é surpreendentemente legal e responsável, pena que tenha dedo podre pras companhias.

O professor começou a explicar a prova e aparentemente o que tínhamos que fazer era muito simples, precisávamos atravessar o lago e buscar algo, mas cada aluno passaria por uma serie de desafios, poderíamos ir tanto voando quanto nadando, ambas as escolhas teriam desafios igualmente complexos. Eu não sabia o que fazia, odiava voar e não sabia nadar muito bem. Porque não podíamos só fazer uma prova escrita? Isso definitivamente não era justo!

O primeiro a ir foi Sirius Black, o melhor amigo do Potter, o maior galinha de Hogwarts, não consegue passar um dia sem causar tumultuo e sempre tem uma gracinha diferente, é degradante, e ele tem uma tendência a se amostrar por tudo que me faz manter uma distância segura. Enquanto Sirius escolhia por onde iria e o que iria fazer, me virei para olhar ao redor e notei vários professores nos olhando de dentro do castelo. E notei Severo Snape olhando fixamente pra mim. Assim que percebeu que eu o olhava, ele tentou sorrir, mas eu só virei a cara. Quando dizem que amigos não quebram seu coração estão errados. Snape é a prova disso. Ele me xingou do pior xingamento bruxo após anos de amizade. Ele certamente era mais parecido com seus novos amigos do que eu queria ver.

O professor chamou nossa atenção e olhamos bem pra Sirius enquanto ele empunhava a varinha. Ele soltou o feitiço Glacius* em cima do lago e observamos enquanto o lago congelava, e assim que se estabilizou, ele saiu correndo e começou a travessia. Pessoalmente não achei um bom plano porque o gelo racha muito facilmente, e qualquer feitiço que ele levasse podia fazer o chão se abrir e ele afundaria. E foi só eu pensar nisso que apareceram Doxys* (que são a forma adulta dos diabretes da cornualha e andam aparecendo pelo castelo, e está cada vez mais difícil de lutar com eles). O Black lançou um Alarte Acendare* e assim que ele foi lançado pra trás, o Black voltou a correr. E assim foi durante 20 minutos. Aparecia um inimigo, o Black lutava, vencia e voltava a correr, até que finalmente ele chegou na ponta do lago, onde Madame Willow já o esperava com um agasalho e um chocolate quente, vimos quando ele se sentou acabado e dava um sorriso maroto pra ela. Ele estava paquerando com a enfermeira! Ele não tem jeito mesmo.

—O próximo será Amos Diggory. Senhor Diggory, por favor, venha.

E assim foram, um a um chamados, eu não aguentava esperar minha vez. Quando Dorcas e Marlene já tinham ido percebi que só sobrávamos eu e Potter e eu não conseguia nem pensar no que faria. Ia ter um treco.

—Senhorita Evans, sua vez.

Levantei tentando esconder o tremor nas mãos e endireitei a cabeça. Eu sou Lily Evans, eu consigo.

—Senhorita Evans, você vai por dentro d’água ou por cima?

—Dentro, senhor Dippet.

Então eu empunhei minha varinha e usei um feitiço cabeça de bolha pra manter o oxigênio embaixo d’água. E me joguei na água que, por ser no fim do ano letivo, não estava tão fria.

—Lumus*! Iluminei ao meu redor e não vi nada, então sai nadando o mais rápido que pude, até ver o Dilatéx*  vindo em minha direção. Só tive tento de lançar um Estupore* nele antes que ele me alcançasse e acelerei ainda mais o meu nado, mas a cada momento apareciam novas criaturas. Depois de enfrentar o 3º grupo de Gryndlows* eu vi que o estava quase lá e usei a varinha pra me impulsionar na água. Acabei caindo de cara na terra suja, me arranhando toda.

—Lily! - Marlene se jogou em cima de mim me abraçando, ela também foi por dentro dágua e ainda estava encharcada (o que lhe rendia muitos olhares, principalmente do Black) – Você quase nos matou hoje quando tentamos te acordar! Achamos que ia perder a prova!

—Verdade, jogou até um feitiço na Lene, sorte que você tava de olhos fechados e acertou a cômoda! – Dorcas falou numa voz doce e preocupada, ela foi por cima e estava seca, apesar de sangue escorrer pela bochecha clara.

—Desculpem meninas, meu sonambulismo está cada dia pior!

E assim nos sentamos pra conversar até que o professor nos chamou. O Potter tinha terminado sua travessia e estava todo encharcado, e eu não pude não notar que ele tinha um corpo muito atraente, pena que a personalidade fosse pior que a de um Diabrete*.

—Bom pessoal, avaliei cada resultado e a partir de hoje vocês estão oficialmente de férias! O resultado dos seus NOMs deve chegar no fim do verão! Espero ver vocês novamente no ano que vem!

—Vamos Lily! – Dorcas me puxava enquanto nos levantávamos.

—Lene também demora e se recusa a esquentar a roupa só porque o Black está olhando e você não briga com ela!

—Quando reclamar com a Lene dá resultado? – Dorcas disse risonha enquanto via a Lene falar com o Black, e o dito cujo encarava descaradamente o corpo dela!

—LENE, TE VEMOS NO QUARTO!  - Gritei, enquanto ela só acenou com a cabeça e voltou à conversa com o energúmeno 2.

—Será que a Lene vai ficar com o Black de novo? Não aguento aqueles dois em guerra por mais dois anos! – A Doe disse enquanto caminhávamos para o castelo.

—A Lene e o Sirius nunca vão deixar quieta aquela história, mas eu estou com um pressentimento que o próximo ano vai ser bom.

—Oi Lírio, Lene disse que vai pra casa dela nessas férias. – O energúmeno 1 surgiu do além, acompanhado do Remus e do Peter.

—Não vejo como isso seria da sua conta, Potter.

—Ora, Lene é minha vizinha, o que ela faz sempre é da minha conta porque nossas janelas são quase encostadas e eu sempre acabo ouvindo o que ela faz.

—A LENE É O QUE? – Eu gritei o encarando, o que fez com que o desgraçado abrisse um sorriso de canto como se tivesse ganhado algo.

—Te vejo em casa, Lily, vão ser dois meses muito bons. – E saiu andando e piscando pras quartanistas na porta da escola.

Me virei pra Dorcas com os olhos queimando.

—Eu vou matar a Marlene! – Eu disse enquanto a Dorcas ria de se acabar e olhava com os olhos brilhando pras costas do Remus.

Oh Merlin, vou passar dois meses como vizinha de James Potter. Pelo menos não dá pra piorar.

Não é?