Entre Casos e Cafés escrita por garotadeontem


Capítulo 8
07 - Roubo milionário




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Domênico ria ouvindo Expedito reclamar da escala de plantão daquela noite. 

— Eu tinha planos pra hoje. O Siqueira pensa que não temos vida? 

— Mas não temos mesmo. – Domênico disse e, Antônia sentada na mesa à sua frente o fuzilou com o olhar.

— Que é? Eu só disse a verdade... – o policial deu de ombros.

— Vou ter que desmarcar com a gatinha de novo... Assim, o tio Expedito nunca vai desencalhar. 

Domênico pegou um pedaço de papel, enrolou em formato de bola e jogou nele, ainda zombando da sua cara. Virou-se para Antônia e a observou. Já fazia um tempo que ela não saia dos plantões, talvez aquele namoreco tinha acabado. 

— E você, Antônia? E seu namorado? – perguntou, morto de curiosidade. 

— Namorado? – ela tirou os olhos dos papéis que lia. – Que namorado, Domênico? 

A inspetora tinha saído apenas uma vez com Julio e foi ótimo, mas ela estava atolada com o trabalho, não conseguiu mais fazer com que sua agenda batesse com a do garçom. Esses dias tinha encontrado o rapaz enquanto almoçava com o irmão na área de serviço do Carioca Palace, e vê-lo fez seu estômago revirar de tanta expectativa. O jeito estabanado dele a divertia. Porém, achava difícil engatar um namoro com alguém com a rotina tão diferente da sua.

— Você fica implicando com a gente, mas e a sua namorada, hein, Domênico? Aquela loira? – Expedito se meteu na conversa.

— Pois é. E ela? – Antônia entrou na zoeira do amigo.

O inspetor ainda olhava para Antônia e um sorriso faceiro surgiu em seus lábios. Ela já sentia o arrependimento, pois sabia que ele ia dar mais uma investida.

— Eu só tenho olhos pra uma mulher. 

— Ah, tá. – Antônia respondeu de forma irônica, sentindo seu rosto corar de leve e voltou a ler os papéis. 

Ele olhou para Expedito na mesa ao lado e os dois trocaram sorrisos. Adorava provocá-la e saber que algumas investidas dele tinham resultado era mesmo um triunfo. 

Domênico e Aline viraram amigos. Ele tinha sido bem franco ao contar sobre sua paixão pela parceira de investigação e que não poderia estar em um namoro pensando em outra. Ela tinha sido compreensiva, até demais, dizendo que não queria um namoro de fato. Na maioria das vezes, eles se encontravam para conversar, mas em algumas noites a carência e o álcool tinham seus efeitos e os dois acabavam na cama. 

Já tinha anoitecido e era a hora da pausa para o café quando se encontrou com Aline na padaria à frente da delegacia. Como de costume, fez o seu pedido e o de Antônia, e aproveitava o tempo que aguardava para tomar um café com a amiga. Já fazia alguns dias que não se falavam e ela ficou surpresa ao saber do tiroteio que ele tinha se envolvido. 

— Que perigo, Dome! Passou na TV, mas jamais iria imaginar que você estava lá. 

— Fiquei impressionado com a mira do cara, o tiro iria acertar bem na minha cabeça. 

Aline balançou a cabeça indignada com a violência. Ela bebeu mais um gole e prosseguiu, sabia que tinha pouco tempo pra botar o papo em dia.

— E seus pais? Sobrinha? Antônia? 

— Meus pais estão bem, graças a Deus, mas eu nem sei cheguei a falar nada pra eles. Se não, imagina... Os dois viriam pra cá, aquele caos. E a Laura tá enorme! Queria poder ir visitar ela, mas tá complicado... – bebeu o gole final da sua xícara. – E a Antônia... Na mesma...

A loira quase riu da expressão dele. 

— Você não acha que tá na hora de fazer alguma coisa a respeito? 

— Você não conhece essa fera como eu conheço. Vai ser difícil ter uma hora certa pra isso. Acho que ela nunca vai me olhar ou me enxergar como um homem, sabe? Vou ser sempre o parceiro de polícia, mais nada. 

— Quem é você? Larga de ser covarde! Enfrenta os bandidos, mas não consegue encarar essa mulher de frente... – zombou dele e os dois riram. 

Ele não viu, mas Antônia atravessava a rua na direção dele na padaria.

— Falando nisso... – Aline indicou com a cabeça e Domênico levantou em um pulo quando viu a dupla. 

Antônia não cumprimentou a mulher, fingiu que ela não estava ali. Apenas olhou para Domênico com um olhar de repreensão. 

— Antônia? 

— A gente precisa ir. – ela tinha as mãos na cintura e certo ar de autoridade que não intimidou a companhia feminina da mesa.

Domênico observou Expedito preparar a viatura do outro lado da rua. 

— O que aconteceu? 

— Aconteceu um roubo no hotel Carioca Palace, precisamos ir... – disse já virando as costas e partindo.

— E os lanches?

— Agora! 

Aline deu de ombros quando Domênico a olhou de volta. A presença de Antônia era dominante e era engraçado vê-lo tão nas mãos dela.

Ele tirou o dinheiro da carteira para pagar os lanches que não seriam consumidos e para o café dos dois. 

— Acho que não vai demorar muito para mim te ver na TV de novo... – a loira comentou e ele se despediu dela com um beijo no rosto. 

— Valeu pelo café! A gente se vê! 

Ele atravessou a rua quase correndo, Antônia já estava sentada no banco do copiloto e Expedito no banco de trás. Domênico iria dirigir até o hotel. Ela já passava as informações do roubo e se comunicava com a base pelo rádio. Compreendia a ansiedade dela, não tinha se esquecido de que Nelito trabalhava lá. 

Expedito deu as chaves nas mãos dele.

— O que aconteceu? – questionou Expedito, já que a sua dupla estava ocupada ao celular.

— Roubaram o cofre do hotel. Quarenta milhões de dólares.

Domênico quase engasgou com a informação. Aquele era o maior caso de furto de sua carreira. Ele partiu com a viatura com a sirene ligada, invadindo a Avenida Atlântica, rumo à noite que mudaria sua vida nos próximos meses. 

O que se sucedeu foram meses de muito trabalho e investigação. Dias exaustivos e noites mal dormidas com a cafeína sendo presença constante na vida da dupla dinâmica. Os dois viveram em torno da investigação do roubo do Carioca Palace.

Antônia se aproximou ainda mais de Julio e para desespero de Domênico começou um namoro com ele, porém o inspetor desconfiava da participação do garçom no roubo, o que deixava a parceira furiosa.

Domênico era totalmente passional quando o assunto era Antônia, porém era racional ao pensar no trabalho e achava que sabia separar as coisas. Os dois começaram a discutir muito, como nunca tinha acontecido, sempre um discordando do ponto de vista do outro. Ela chegou a pensar em solicitar a troca de parceiro ao delegado, porém sabia que aquele caso era importante para carreira de ambos e que ele era o policial mais ético e correto que conhecia.

 Julio acabou o namoro de repente fazendo Antônia perder o chão. Não tinha uma explicação lógica e concreta e aquilo a tinha magoado irreversivelmente. Ela chorou muito e Domênico notou a tristeza que a tomava.

Dias antes de conseguirem as fotos que Maria Pia tinha tirado, ela e Domênico discutiram. Ambos estavam sem dormir e se alimentar direito. Ele tentava mais uma vez colocar na cabeça dela que o seu ex-namorado era um suspeito com grandes chances de ser um culpado.

— Chega, Domênico! – ela disse em um tom mais alto que o normal. Estava cansada daquele jogo dele, Julio era inocente e sabia disso.

Voltou a encarar o painel a sua frente, sua cabeça latejava de exaustão mental e física. Aquele quebra-cabeça parecia não ter fim e Domênico ficar acusando um inocente não ia fazer a investigação andar pra frente.

Ele teve vontade de gritar com ela, mas se conteve e respirou fundo antes de continuar.

— Antônia, por favor, me escuta... Se o ladrão pode ter vindo da cozinha, passado pelo corredor...

— Ele não é um ladrão! – ela se virou de novo, o encarando com fúria. – De todos os garçons naquele hotel, naquela festa, você quer acusar ele, por quê?

— O depoimento dele não é conclusivo como os dos demais. – respondeu tentando manter a calma e a razão em suas palavras.

 – Não parece! Não é isso, Domênico! Você tá acusando um inocente sem provas. Que tipo de policial é você?

— Todos naquele hotel são suspeitos, Antônia! – seu tom de voz aumentou também. – Inclusive, seu irmão!

— Sim, todos! Mas você insiste que o Julio é o ladrão!

— E você insiste que ele é inocente, também sem provas! Por que ele terminou com você se te ama como diz?

— Isso é ciúmes! – ela apontou o dedo na cara dele.

Ele perdeu as palavras e o raciocínio.

— Ciúmes?

Antônia estava tão cansada que acabou tocando na ferida mais dolorida do amigo. No fundo, sabia que ele tinha uma queda por ela. Foi baixa, cutucando na dor dele assim como ele cutucava a sua.

— Porque eu o amo e isso você não aceita!

As palavras saltaram de sua boca e não foi preciso muito para se arrepender. A dor foi claramente exposta na expressão de Domênico. Ele não respondeu apenas a encarou de volta.

— Domênico... – diminuiu o tom de voz. – Acredita em mim, ele não roubou nada.

— O mundo não gira em torno de você, Antônia. – a voz dele saiu baixa, falha, quase morrendo nas últimas palavras. Algo preso na garganta.

O olhar dele pesou sobre ela, cheio de mágoa. Ele a amava e teve ciúmes de Julio, sim, mas acusá-lo de misturar seu trabalho com paixão era demais.

Ele se virou e pegou a jaqueta que estava largada em uma das cadeiras da sala. Precisava ir embora dali o mais rápido possível.

Antônia o observou ir, batendo a porta com força, a deixando sozinha.

Não conseguia imaginar Julio roubando qualquer coisa, ainda mais quarenta milhões de dólares no hotel que trabalha. Era demais para a cabeça dela. Será que também estava agindo com o coração em vez da mente?

— Tá tudo bem, Antônia? – Expedito entrou da sala logo depois de ouvir a discussão calorosa dos parceiros de corporação.

— Tá, Expedito. Só preciso pensar sozinha.

Sentou-se em uma cadeira e ficou encarando a foto de Julio no painel de suspeitos. Realmente tinha sido muito estranho o término deles, ela precisava conversar com ele. Se ele o amava iria aceitar voltar. Estavam apaixonados e felizes, não tinham motivos para ficar separados. Não é?      

Após a discussão, a dupla só discutia assuntos profissionais. Não tinha mais favores e cafés compartilhados.

Domênico tinha entrado de cabeça no caso do Carioca e, enquanto Antônia estava distraída com Julio, ele, Expedito e Nina tinham colocado as mãos nas provas definitivas.

E, então, foi assim que tudo aconteceu: Maria Pia detida, a perseguição contra Julio e Malagueta e o tiro contra ela pegando de raspão no braço de Domênico. 

Agora ele estava ali, com Antônia chorando em seus braços na porta de seu apartamento. Mil palavras presas sua garganta e com seu coração batendo forte no peito cheio de um amor incondicional que nunca sentiu por outra mulher.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo retorna à cena do prólogo :)



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