Entre Casos e Cafés escrita por garotadeontem


Capítulo 5
04 – Ano Novo




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Domênico acordou sem entender como tinha chegado em casa. Sua cabeça e corpo doíam. Ainda estava com a roupa do dia anterior, e de algum jeito tinha chegado até sua cama. Não queria levantar de lá. Resolveu virar para o lado e fechar os olhos novamente. Lembranças de um sonho maluco que ele teve começaram a se repetir na mente. 

Em seu sonho, Antônia tinha o levado pra casa e o beijado, um beijo real e delicioso. Só poderia ser mais um truque da sua mente de ressaca, ela nunca o beijaria assim. Ele queria voltar a dormir e ficar nos braços dela. 

Antônia mal tinha conseguido dormir naquela noite, então levantou cedo e tomou um banho. Sua roupa ainda estava com o perfume de Domênico impregnado no tecido. Ela tinha colocado as roupas na lavadora, tomou um banho e estava lavando a louça.

Era inevitável. Não conseguia se esquecer do momento que ele a puxou pra perto e a beijou. Suas línguas se encontrando, seus dedos passando em seus cabelos...

— Caiu da cama? – Nelito surgiu na cozinha e ela quase deixou o prato que esfregava cair de seus dedos.

— Perdi o sono.

O irmão se aproximou dela dando um beijo em seu rosto. 

— Pensei que ia estar de ressaca. Como foi a sua noite com o pessoal da delegacia? 

— Foi legal, foi divertido. – deu um sorriso sem graça.

— Sei... Algum gato em vista naquele bar? 

— Que nada! – os dois riram.

— Antônia, Antônia... Você precisa se ajeitar, não vai morar comigo pra sempre.

— Ah, eu vou sim! E você sabe que não preciso de homem pra me ajeitar, né? 

— Eu sei, é só um conselho! Vou à padaria pegar uns pães para gente tomar um café...

— Tá bom. Vou passando o café...

Café era outra coisa que lembrava Domênico. Ela balançou a cabeça querendo que os pensamentos a abandonassem.

Domênico conseguiu dormir mais um pouco. Seu corpo pesava uma tonelada quando acordou com o celular apitando cheio de mensagens de Expedito. Era véspera de ano novo e o colega insistia para que eles se encontrassem em Copacabana para a queima de fogos. Ele aceitou o convite e logo em seguida viu se tinham outras mensagens.

Aline. Nem se lembrava dela mais. Também queria um encontro, mas ele dispensou. Aquele sonho tinha mexido com sua cabeça, foi real demais. Quase sentia o corpo de Antônia grudado no seu.

Ele correu os olhos pelos contatos do celular e parou na imagem da mulher que tinha roubado seu coração. Abriu a foto e observou por longos minutos. Queria muito que fosse real.

Já era noite quando Domênico terminou de se arrumar, era até estranho se olhar no espelho com aquela roupa branca. Já estava acostumado com os trajes escuros que usava no dia-a-dia. A bermuda e a regata brancas tinham sido presentes da irmã, que sabia que ele não tinha tempo para compras de fim de ano.

Ele ia de táxi até a casa de Expedito comemorar a chegada de 2017, deixou o celular e as chaves do carro pra trás.

Antônia tinha colocado o mesmo vestido branco do ano passado para passar com a virada do ano com o irmão na festa da vila. Não estava muito empolgada, preferia ficar em casa assistindo a queima dos fogos de artifício pela TV.

— Vamos, Antônia. Já estamos atrasados!

Ela terminava de colocar a sandália. Não tinha jeito com aquelas coisas.

— Tô indo. Não me apressa!

Os dois saíram juntos do apartamento, antes de sair pegou o celular com medo de alguma emergência surgir. Olhou rapidamente para a tela de bloqueio e não encontrou nenhuma mensagem. Achou estranho, pois pensou que Domênico estaria atrás dela.

Só bebendo mesmo para aguentar o calor e aquela multidão na orla de Copacabana, Domênico e Expedito estavam juntos, cada um com uma latinha de cerveja nas mãos. Faltavam dez minutos para meia noite e já era possível sentir a empolgação das pessoas a virada do ano.

— Tem que fazer um pedido! – Expedito gritou perto do ouvido dele por causa do barulho.

— Pedido? – ele riu.

— Só não vale pedir pela Antônia, hein? Isso aí é caso perdido!

Domênico só riu do amigo, mas não podia esconder o pedido mais íntimo do seu coração. Assim que o encontrou perguntou o que tinha acontecido na noite anterior e Expedito te disse que ele e Antônia tinham ido embora juntos do bar. Era uma merda não se lembrar de nada. Não sabia se aquele beijo foi real ou não.

— Não adianta pedir por beleza, porque isso também é caso perdido pra você, amigo. – os dois riram e começaram a cantar a música que ecoava pela praia.

Antônia estava sentada conversando com Neide, uma das moradoras da vila, ela perguntava sobre o trabalho dela. Ela adorava falar sobre os casos da delegacia, mas agora quase todos se direcionavam à sua dupla e não queria pensar nisso. Foi quando Nelito a chamou.

— Daqui a pouco é meia noite, vai começar os fogos e eu quero ser o primeiro a te dar um abraço.

Os dois irmãos foram juntos já abraçados para o meio da vila.

Cinco... quatro... três... dois...

A queima de fogos tomou conta do céu de Copa. Expedito abraçou Domênico ao seu lado desejando um bom ano, mas logo estava com os olhos vidrados nas luzes. Foi involuntário, ele os fechou e a primeira coisa que encheu o seu coração e mente foi Antônia. Ele pediu para que ela tivesse um ano bom, que ficasse bem. Nem chegou a pedir pra tê-la em seus braços, só queria que ela fosse feliz, estando ao seu lado ou não. Era o amor mais altruísta que já sentira em toda vida.

Antônia abraçou o irmão e os conhecidos da vila. Seu celular vibrou e ela se viu ansiosa para ver quem era. Não pode evitar a decepção ao ver o nome de Nina na tela, mandou uma mensagem de ano novo no grupo do trabalho. Ela nem respondeu, olhou para o céu de novo observando os fogos que anunciavam a entrada de novo ciclo.

Serviu-se com uma taça de champanhe e brindou com o irmão. Ela prometeu a si mesma que seria um ano diferente.

O celular vibrou de novo, mais e mais mensagens, porém uma em específico chamou sua atenção. Era Expedito no grupo. Ele tinha mandado uma imagem, era uma selfie dele e Domênico em Copacabana.

Feliz ano novo!!! :P :D

Antônia sorriu e balançou a cabeça. Tinha uma explicação para o sumiço de Domênico, mas mesmo assim estava chateada. Não entendia o porquê, mas estava. Ela ignorou as cantadas dele por meses, se fez de difícil e quando finalmente tinha o beijado... Será que isso que ele queria? Só um beijo pra se vangloriar?

Ela se afastou do barulho das conversas ao seu redor e foi até um canto isolado. Não sabia bem o que ia dizer, mas ligou para Domênico. Ela ouvia os toques da ligação quando foi interrompida.

— Antônia? – ela se virou e deu de cara com Júlio. Um cara bacana que morava na vila com as tias.

— Oi, Júlio...

— Feliz ano novo! – ele deu um sorriso sem graça, oferecendo uma nova taça de champanhe e a policial afastou o celular do ouvido.

— Feliz ano novo! – ela pegou a taça e sorriu. Os dois brindaram.

— Minha tia fez uma lentilha deliciosa. Temos que comer sete grãos para atrair prosperidade.

— Você acredita nisso?

— Acredito, você não?

Talvez, eu possa acreditar a partir de agora.” Ela pensou e aceitou ir com ele até a mesa que tinha a panela com as lentilhas.

Lá no apartamento de Domênico, a imagem de Antônia ainda aparecia na tela, mas segundos depois sumiu dando lugar a outra notificação: “Chamada perdida”.


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