From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Verei a rainha.

Fui indicado pro intercâmbio que te falei. Acredita?

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Elementar meu caro.

Parabéns!

Você é a pessoa mais animada com os estudos que conheço, lembre-se de trazer um presente pra mim ou não responderei mais as suas mensagens.

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Chantagista 

Não é apenas animação.

Sou apaixonado por arquitetura, de parar e olhar pra estrutura de alguma construção e imaginar cada detalhe. O que fará no ano que vem? Não tem uma paixão que possa correr atrás?

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: A máfia não permitiria.

Fotos.

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: À futura fotógrafa

Já sabe o que fazer então. Pode tirar as fotos do meu portfólio.

Hinata riu sozinha lendo o email. Sabia que Hunter era fechado, mas ainda assim parecia se soltar aos poucos quando conversavam e isso havia se tornado constante, haviam meses que estavam se falando, ele a ajudava em praticamente tudo, mesmo quando agia como um velho ranzinza mandando que ela acordasse mais cedo pra não se atrasar pra aula, mas ele a entendia e até ajudava a arrumar desculpas pra não sair com Sakura ou Ino, Hinata era um ser que gostava de dormir e ao que parecia, Hunter também. Era estranho saber que estavam na mesma cidade e nunca haviam se visto e agora ele iria pra outro país. Provavelmente continuariam conversando não é mesmo? Após saber que ela gostava de fotos as conversas vez ou outra voltavam nisso, o menino a incentivava a seguir o que queria e se depois de um tempo ela percebesse que não era aquilo que queria, ainda haveria um milhão de opções que poderia escolher.

— Vamos Hina. – Hanabi apareceu na porta. - Papai já vai para o aeroporto.

Hinata assentiu, o pai não estaria em sua formatura do ensino médio.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Formada.

Adivinha quem comprou uma câmera profissional?

Sasuke sorriu sozinho. Ela não havia lhe falado o dia de sua formatura e isso o fez pensar que talvez ela não quisesse conhecê-lo pessoalmente. Tudo bem, isso o afetou, mas a empolgação dela falando da nova câmera o deixou empolgado, ela adorava aquilo e era certo que se daria bem quando começasse a fotografar profissionalmente. O Uchiha fechou a mala e encarou o quarto agora bem arrumado, deixaria o console pra Naruto, um presente que o loiro nunca imaginaria, abriu o computador em cima da escrivaninha abrindo o email, alteraria a senha para que o Uzumaki não pudesse mexer em sua correspondência virtual e assim continuaria falando com a Hyu Sama, sorriu digitando sua antiga senha e encarou o espaço para nova senha.

— Hey teme! – Naruto entrou no quarto parando ao lado do amigo. – Vem logo que temos uma coisa pra você.

Sasuke revirou os olhos, porém seguiu o amigo até a garagem da casa da família onde vários colegas estavam reunidos para uma despedida regada a música e sorrisos, o Uchiha acabou emocionado.

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Despedida

Viajo amanhã cedo e mesmo que nunca tenha deixado claro que quer me conhecer, eu gostaria de vê-la.

Se não quiser tudo bem, eu entendo.

Vou enviar o endereço, alguns colegas estão fazendo uma despedida então será fácil me encontrar.

Hinata abriu o email e sentiu o coração disparar, mas é lógico que queria encontrá-lo, sonhava com ele. Só não queria parecer uma idiota apaixonada e assustá-lo, ela parecia uma criança quando comparada com ele e tinha medo de perdê-lo. Abriu a localização verificando que não ficava longe dali, cerca de uns 20 minutos se fosse de carro. Pegaria um táxi pra chegar logo e poderia voltar de ônibus. Abriu um largo sorriso pegando sua carteira e celular e abrindo a porta correndo para a escada, estava com um short jeans e uma regata, mas nunca fora muito ligada às aparências.

— HINA! – O grito de Hanabi a fez para olhando para a irmã.

— Estou saindo. – Hinata respondeu radiante, porém o sorriso morreu em seus lábios ao ver o rosto choroso da irmã.

— Hina o papai...

Sasuke aproveitava a festa, sorria e agradecia a todos brindava e sabia que sentiria saudades, estava partindo mais cedo devido as festividades de fim de ano, voltaria pra casa e no começo do próximo ano iria pra Inglaterra.

— Quem você está esperando? – Naruto parou ao lado do moreno e ele deu de ombros bebendo mais um gole da cerveja. – Qual é teme, você não para de olhar pra rua.

Sasuke sorriu.

— Não importa mais. – Falou baixo e o amigo o encarou. – Ela não vem.

Kushina entrou no quarto que pertencia ao Uchiha, Sasuke havia ido embora pela manhã e a família Uzumaki já sentia sua falta. O Uchiha era como um filho e sabia que Naruto o considerava um irmão também, limpou o lugar e parou no computador onde o cursor piscava pedindo uma senha, a ruiva franziu o cenho, não era boa com tecnologia, mas sabia que aqueles aparelhos estragavam se você não fizesse o que eles solicitavam, Naruto já havia dito uma vez, virou o teclado para si digitando a mesma senha que usava em seu celular e confirmou a mesma senha colocando seu número como meio de recuperação da mesma.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Eu queria ver você

Desculpe por não ter ido a sua despedida, você não imagina como fiquei animada em te conhecer, mas quando estava saindo de casa aconteceu algo. Meu pai sofreu um acidente de carro enquanto voltava pra casa com a mamãe. Eles estavam discutindo por ele nunca estar presente e ela puxou o volante do carro, o que fez com que ele rodasse na pista e capotasse. Minha vida está um caos, mamãe ainda não saiu do coma e meu pai só sabe se culpar, mas não sai do lado dela pelo menos. Eu sinto muito. Muito mesmo. Eu queria ver você. Queria muito.

Espero que me perdoe.

Sasuke estava chateado, por mais que Itachi o enchesse por seu mau humor o Uchiha não assumia que isso era por conta da Hyu Sama e de seu sumiço. O celular não pegava na fazenda e com sua viagem depois que as festividades de natal acabaram os irmãos decidiram colocar uma antena na propriedade, precisaria dela para falar com os pais agora que estaria em outro país e as ligações não seriam uma maneira fácil de se comunicarem, assim que a antena da internet foi instalada Sasuke abriu o email, ansioso por qualquer notícia que fosse da jovem rebelde. Assim que abriu o email foi solicitado sua senha, ele a colocou porém a senha não foi aceita. Quando fez o procedimento de recuperação de senha havia sempre a mensagem de que o número não era o mesmo inserido anteriormente. A raiva fora imediata. Criou um novo email.

From: exhunter.arq@email.com

To: Hyusama@email.com

Assunto: Perdi o email.

Caso se interesse em saber.

Mas não houve resposta no outro dia, nem nos próximos e nem durante todo o ano seguinte.

Sasuke desceu do carro e encarou a casa do amigo, havia vivido três anos ali. Abriu um sorriso quando o loiro saiu e o abraçou. Conversaram por horas, contou sobre o ano em que passou na Inglaterra, sobre suas experiências profissionais, sobre as pessoas extraordinárias que havia conhecido, os amigos que levaria pra vida toda. Foi nostálgico entrar no quarto em que havia passado tanto tempo e foi impossível não ficar ressentido pela forma como Hyu sama havia desaparecido de sua vida, assim que a hora de voltar chegou ela tomou novamente seus pensamentos, durante todo o ano em que esteve fora o Uchiha nunca se esqueceu, meneou a cabeça ligando o computador na antiga escrivaninha, tudo como ele havia deixado, digitou o site de email e seus dados estavam salvos na tela do PC, assim como o número de Kushina como meio de recuperação, sentiu o coração acelerar e clicou em entrar em sua antiga conta, os dedos tremiam e sua caixa de entrada estava repleta de emails, emails que nunca chegaram, resolveu começar do último para estabelecer uma ordem cronológica.

Ao abrir o último ele soube por que ela não havia ido a sua despedida e se sentiu um idiota culpado, leu o email percebendo que quando enviou o novo um ano atrás, havia deixado de colocar o ponto no meio do email da menina e que ela nunca recebera uma resposta sua.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Feliz Natal

Você deve estar com sua família, desejo a todos um ótimo natal. Sinto sua falta.

Mamãe ainda não acordou.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Responda

Por que não responde? Eu preciso de você.

Tenho tirado fotos dos lugares que vou, tirei algumas de mamãe, quando ela acordar quero mostrar pra ela. Descobri minha paixão: a fotografia e você.

Jeito idiota de se declarar.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Idiota.

Já é um novo ano seu idiota!

Não fui a sua despedida porque estava em um hospital você não consegue entender? Seu egoísta do caralho.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Você morreu?

Se foi isso não responda.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Eu te odeio.

Você é um grande filho da puta.

O outro email havia demorado mais de um mês.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Broken

Ela morreu. Não havia nada que os médicos pudessem fazer o cérebro havia perdido algumas de suas funções e não conseguiu se recuperar, doamos os orgãos, meu pai está trancado desde que ela foi enterrada e não posso sequer chorar porque preciso cuidar da minha irmã enquanto nosso pai não consegue cuidar de si próprio. Não há ninguém com quem eu possa conversar e ser quem realmente sou. Todos me acham forte e elogiam como tenho cuidado de tudo, mas estou quebrada, completamente em pedaços e acho que ninguém percebeu ainda.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Você não existe

Hoje li um texto sobre as pessoas que perdemos em nossa vida e comecei a chorar descontroladamente, não existe nenhuma outra pessoa com quem eu queira dividir meus pensamentos.

Sinto sua falta e esse email é a única prova de que não inventei você pra mim, mas não acho que se importe mais.

From: Hyu.sama@email.com

To: Hunter.arq@email.com

Assunto: Adeus

Preciso te enterrar. Você é a ferida que mais dói.

Não haviam mais emails a serem lidos, as lágrimas desciam pelos olhos do Uchiha. Ela havia sofrido, ele não estava lá pra ela. Deveria ter voltado antes, ter feito alguma coisa. Havia sentido tanta a falta dela, tanto. Percebera o quanto havia se apegado a rebelde sem causa, o quanto havia realmente se apaixonado pela menina que conhecia Niemayer e gostava de dormir. Sasuke limpou o rosto com as costas das mãos abrindo o navegador do computador.

Busca: Acidente carro casal

A primeira busca havia aparecido tantos acidentes diferentes, Sasuke bufou irritado, digitou a data anterior ao dia que foi embora restringindo assim o resultado a busca que havia feito.

Acidente de carro deixa mulher em coma

Um acidente ocorrido na noite dessa quinta feira deixou uma mulher de 48 anos em coma. Hikari Hyuuga voltava de uma viagem com seu marido, Hiashi Hyuuga, quando o carro perdeu o controle e saiu da pista capotando diversas vezes. O homem ficou ferido, porém devido a falta de cinto de segurança sua esposa sofreu grande dano cerebral e se encontra em coma no hospital geral.

Atualização

Hikari Hyuuga faleceu deixando marido e duas filhas.

Sasuke respirava com dificuldade, sentia um formigamento incomum em seu ser. Ela nunca o perdoaria, mas precisava saber o que havia mesmo acontecido e ele realmente era egoísta. Queria vê-la. Queria dar um rosto a menina que ainda ocupava tanto espaço em seus pensamentos e consequentemente em sua vida. Realizou uma nova busca na internet e encontrou o que procurava.

Hinata respirou fundo jogando água em seu próprio rosto, estava naquele escritório a menos de três horas e já se sentia completamente esgotada, as reuniões sobre os investidores, as parcerias comerciais tudo era tão frustrante. Os olhares atravessados devido a pouca idade. Já estava com dezenove e as pessoas ainda não se acostumaram com sua imposição, um ano a frente da empresa e ainda encontrava barreiras em coisas simples. Hanabi assumiria a empresa assim que terminasse o ensino médio, foi uma decisão de comum acordo, a irmã mais nova tinha habilidade para o mundo dos negócios e gostava daquele meio, coisa que Hinata achava impossível. Suspirou voltando para a grande mesa de madeira, o porta retratos com uma foto em que a mãe, ela e a irmã sorriam, passou os dedos pelo vidro sentindo a conhecida dor voltar. Em seu aniversario de dezoito anos havia passado a noite no hospital com sua mãe, falava com ela sem obter nenhuma resposta, pouco tempo depois havia perdido-a e agora assumia o papel de esteio em uma família quebrada. O pai nunca seria o mesmo, no começo havia se afundado em uma culpa sem fim e Hinata precisou ser forte pelos três, hoje ele estava melhor, mas a depressão ainda era uma companheira constante no olhar do pai.

— Senhor Sasuke Uchiha está aí para vê-la. – Mirai, a secretária parou a sua porta a encarando, Hinata franziu o cenho, não conhecia nenhum Sasuke Uchiha, tampouco tinha qualquer negócio da empresa relacionado a esse nome.

— É algo relacionado à empresa? Não me lembro desse nome. – A Hyuuga falou e a secretaria sorriu.

— Ele disse ser pessoal, mas ele é muito bonito, se me permite dizer. – A mulher falou e Hinata sorriu.

— Tudo bem, vamos ver esse bonito que você diz. – A Hyuuga ficou de pé enquanto a secretaria saiu e logo a porta fora aberta novamente, dessa vez um homem de porte atlético passou por ela e de fato, Hinata teve que concordar que ele era extremamente bonito. – Bom dia.

Sasuke a encarava em silêncio. Ela não tinha nada de menina, era uma mulher linda, os olhos tão claros, o rosto suave e cabelos escuros e longos, a voz era baixa e melodiosa.

— Desculpe senhor Uchiha, sua visita se trata de quê?

Sasuke então a encarou, ela não sabia seu nome então obviamente não reconheceria ou qualquer coisa nesse sentido.

— Desculpe. – A voz rouca era baixa e tranquila e Hinata o encarava curiosa, os olhos escuros do Uchiha eram profundos, os cabelos negros eram grandes e rebeldes, porém tudo parecia encaixar perfeitamente no rosto do homem. – Eu precisava falar com você, naquele natal eu ...

— Hina. – A porta foi aberta bruscamente e um homem de cabelos castanhos e longos entrou rapidamente parando já no meio da sala. – Desculpe, não fui informado que estava em reunião.

Sasuke encarou o homem e Hinata ainda olhava para o moreno. Era óbvio que ela havia seguido com a própria vida, provavelmente já estaria noiva ou casada. O moreno soltou o ar passando os dedos entre os fios negros.

— Tudo bem. – Sasuke falou ainda sob o olhar atento da Hyuuga. – Desculpe, eu já estava de saída.

O Uchiha saiu apressado enquanto Neji olhava para prima sem entender.

— Quem era ele? – Perguntou vendo a Hyuuga dar de ombros e sorrir intrigada. – Ino quer confirmar o almoço de noivado.

Hinata sorriu para o primo.

— Nunca pensei que justo você fosse casar com a Ino. – Hinata falou para o primo que sorriu. Não queria falar sobre o homem que havia ido anteriormente. O modo como ele a encarava e ia falar algo sobre o natal. Tanta coisa havia acontecido nos últimos dois anos.

Quando Neji saiu de sua sala a morena enfim sentou e respirou fundo pensando em Sasuke Uchiha. Ele realmente era muito bonito como Mei havia falado, mas ele a olhava de um jeito profundo demais, como se a conhecesse, no decorrer do ano a Hyuuga aprendeu a disfarçar muito bem suas emoções e devido a isso parecia não ser afetada por praticamente nada, aprendera quando o Hunter sumiu.

Seu coração se acelerou de imediato.

Não. Não seria possível.

Não havia motivo pra ele aparecer.

Focou em seu trabalho no restante do dia tentando inutilmente esquecer de Sasuke. Precisava saber o que aquele homem queria consigo, mas tinha medo. Havia levado tanto tempo pra conseguir lidar com os próprios sentimentos em relação a Hunter e se fosse ele. Já em casa a morena passou um tempo com sua irmã e depois jantaram junto ao pai, algo que se tornara rotina, a inquietação em seu ser dominava todos os seus pensamentos e pela primeira vez em muito tempo, abriu seu antigo email.

From: Hunter.arq@email.com

To: Hyu.sama@email.com

Assunto: Hinata.

Não sei como posso começar esse email, mas acho justo que seja pelo começo.

Naquele dia fiquei te esperando por toda a noite e não é segredo o quão desapontado fiquei quando percebi que você não iria, mas não foi por isso que não respondi. Minha tia mudou a senha do meu email, quando viajei não consegui acessá-lo mais, sim eu sei que poderia ter te enviado um email e eu o fiz de uma nova conta, mas não coloquei o ponto que há no meio do seu endereço, enquanto você me enviava emails eu acreditava que era você que não queria falar comigo, que era você que não queria me conhecer e durante todo o ano em que estive na Inglaterra repeti mesma coisa todos os dias justificando a mágoa que sentia.

Eu sinto muito pequena. Muito mesmo, se eu soubesse o que você estava enfrentando eu teria voltado, eu estaria aqui pra você porque eu também estava apaixonado por você, eu sentia tanto medo de que você sumisse e jurava que havia te esquecido.

Ontem voltei pra cidade, quando voltei da Inglaterra fui primeiro pra fazenda dos meus pais, passei alguns meses e vim agora visitar essa tia que mudou a senha do meu email, era com eles que eu morava quando estava aqui, enfim, cheguei ontem e quando abri o computador na casa dela meu email e senha alterados estavam salvos e só então fui ler seus emails. Aquilo acabou comigo. Eu queria ter estado aí, ter segurado sua mão e acalentado sua dor. Eu sinto muito Hinata.

É, nada como a internet pra encontrar as pessoas. Após ler seus emails tive que te encontrar, li sobre o acidente, sobre sua mãe e sobre você. Que agora assumiu a empresa de sua família, eu tinha tanta coisa pra te falar, pra perguntar e pra te contar, mas parece que nossa vida é feita de situações inesperadas. Conheci você por uma frase em um ônibus, me apaixonei por você através de conversas pelo email e quando jurei a mim mesmo que não sentia mais nada eu te vi. Já havia te imaginado muitas vezes, mas nada que possa ser comparado a como você é e o que você causa em mim. Quando olhei pra você e escutei sua voz foi como quando você reapareceu depois que seu avô faleceu e você sumiu por três dias, tudo voltou ao lugar e você voltou pro meu coração. Não é culpa sua, mas entenda que também não foi minha. Tantos desencontros por situações que não poderíamos controlar e entendo que você hoje pertença à outra pessoa, mas não é fácil aceitar ainda assim. Não agora que finalmente te vi.

Espero que me entenda e que me perdoe.

Sasuke Uchiha

Hinata sentia as lágrimas descerem pelo rosto, então todos os sentimentos pareciam fortes demais e sufocantes demais, sentia o corpo quente, os soluços vieram altos e foi impossível que Hanabi não escutasse e viesse desesperada ver o que estava acontecendo, Hinata sentiu o corpo ser abraçado e se permitiu chorar, permitiu que o desespero saísse em suas lágrimas, chorou por sua mãe, por seu pai e por Sasuke, pelo tempo que passou sozinha e por toda raiva que havia sentido dele, todo ódio que se convencia a sentir, uma fachada pra dor que ainda carregava por acreditar ter sido abandonada e era um acúmulo de enganos. Hanabi permaneceu mesmo quando o choro passou, acalentou a irmã mais velha como ela havia feito em um tempo tão distante e tão recente para as duas e então Hinata contou sobre ele. Contou sobre como Sasuke a fez superar Toneri quando era uma adolescente machucada e assustada e contou sobre como ela ainda o amava.

— Então você sabe o que tem que fazer. – Hanabi falou olhando para a Hyuuga que a encarou. – Precisa lutar pelo que ama Hinata, precisa lutar pelas coisas que você quer e não apenas pelos outros. Nós ficaremos bem irmã.

Hinata sorriu para a irmã e se levantou dando um abraço e um beijo na pequena que riu retribuindo o beijo da irmã mais velha, Hanabi se levantou enxugando as lágrimas do rosto enquanto Hinata saía do quarto em uma pequena corrida.

Sasuke estava deitado há horas, mas não conseguia dormir. Sua cabeça estava um turbilhão, tudo o que acreditava estava errado. Havia guardado tanta mágoa de Hinata.

E que nome lindo. Ela toda era linda e baixinha. Sasuke sorriu olhando para o teto, tudo poderia ter sido diferente se houvessem se encontrado antes, se a conhecesse e reconhecesse os próprios sentimentos na época eles estariam juntos ou ainda que não tivessem dado certo não ficaria esse sentimento de incapacidade diante os fatos. Aquele rapaz de cabelos grandes parecia ser bem íntimo dela, não só por ter entrado naquela sala sem ser anunciado, mas pelo apelido tão íntimo ao qual se referiu a ela. Hina.

— Teme. – Naruto entrou no quarto encarando o moreno. – Têm algo acontecendo.

Sasuke sentou na cama e encarou o amigo.

— O que tá acontecendo? Cadê seus pais?

— Não tebayo! – Naruto riu – Eles estão bem. Na verdade têm uma coisa na garagem.

— O carro? – Sasuke olhava para o loiro sem entender.

Naruto era péssimo em ajudar as pessoas.

— Só vai pra garagem. – O loiro falou por fim. – E muda essa cara de demônio. Ah é! É sua única cara.

O loiro saiu rindo enquanto Sasuke o encarava sem entender. Certo, saiu da casa para a garagem que era um anexo da construção, a luz dentro do cômodo estava acessa e o Uchiha deu a volta indo a frente que estava aberta, parou encarando a figura que tinha a cabeça baixa e andava de um lado para o outro.

— Hinata. – Sua voz saíra rouca e baixa, mas ela o havia escutado e ergueu o olhar o encarando.

— Eu li seu email. – Ela falou baixo e ele percebeu os olhos vermelhos, indício de que havia chorado a pouco tempo, caminhou em silêncio se aproximando da Hyuuga que sentia o coração descompassado, a morena sentiu os dedos de Sasuke em seu rosto e instintivamente fechou os olhos com o toque, a pele era grossa e quente.

— Por que chorou? – Ele perguntou, tão íntimo.

— Por que disse que entendia que eu pertencia a outra pessoa? – Ela perguntou baixo e ele se afastou pensando no que havia presenciado mais cedo.

— O seu namorado. – Ele respondeu secamente e ela abriu os olhos claramente sem entender. – O que te chamou de Hina.

— Neji é meu primo. – Hinata respondeu entendendo sobre quem ele falava. – Noivo da Ino, minha amiga. - Sasuke a encarava parecia surpreso – Não tenho namorado.

O moreno sentiu o coração falhar, como se fossem o centro do universo naquele momento, voltou a se aproximar de Hinata e dessa vez ela o encarou nos olhos e não desviou o olhar mesmo quando ele estava tão próximo a ponto de sentir a respiração do moreno contra sua pele.

— Eu sinto muito. – Ele falou baixo e uma lágrima desceu do rosto da Hyuuga, havia conseguido ficar tanto tempo sem chorar e agora se tornaria um hábito? Ela então deu um pequeno sorriso subindo os dedos para o rosto do Uchiha em um carinho mudo, a pele dela era macia e quente.

— Eu também sinto muito. – Ela respondeu baixo antes de sentir os lábios de Sasuke contra os seus.

Hinata olhava para os dedos entrelaçados aos de Sasuke, as mãos estavam para o alto enquanto os dois estavam deitados na cama dele.

— Então você procurou até achar a localização? – Ele perguntou com a boca contra a pele do pescoço alvo e ela se encolheu sentido a pele se arrepiar antes de voltar a olhar para o moreno, os dedos ainda brincando uns com os outros.

— Havia sido o último que recebi de você. – Ela falou e ele assentiu selando novamente os lábios contra os dela.

— Sua irmã sabe que está aqui? – Ele perguntou ainda a encarando, o pequeno corpo junto ao seu, quente. – Já está amanhecendo.

Ela assentiu, haviam passado a noite conversando, deitados na cama de solteiro do moreno, todos os momentos longe, as dúvidas e lágrimas que Sasuke finalmente pôde secar enquanto acalentava a Hyuuga, não houve sexo ou carícias ousadas, havia saudade e contemplação.

— Sasuke. – Hinata chamou baixo. Sussurrando.

— Hm. – Ele respondeu rouco e respirou fundo.

— Você ainda está apaixonado? – Ela perguntou com receio e ele deu um pequeno sorriso.

— Mais que isso. – Respondeu baixo fazendo a Hyuuga sorrir.

Hinata retirou o último quadro da caixa, a moldura negra era de uma aparência rústica, pendurou na parede ao lado dos outros cinco.

— Está muito bom. – A voz grave a fez sorrir e logo Sasuke a abraçava por trás beijando o pescoço exposto da morena.

— Você acha mesmo? – Ela perguntou sorrindo enquanto o moreno a abraçava pousando a cabeça no ombro da Hyuuga.

— Está perfeito amor. – Ele falou baixo e ela sorriu pra si mesma, um choro baixo chamou a atenção dos dois e logo Sasuke já desaparecia pelo corredor voltando pouco tempo depois com o pequeno no colo, o bebê apenas soluçava fazendo manha para o pai. – Alguém está manhoso igual à mãe.

Hinata abriu um largo sorriso se aproximando do marido e do filho que logo faria um ano, os últimos cinco anos haviam virado sua vida de cabeça pra baixo e no final tudo estava bem, Hanabi assumira a empresa ainda no ano em que Sasuke decidiu morar em Kyoto de vez, seu pai havia conhecido uma mulher e engatado um namoro que estava sendo saudável para ele, as filhas entendiam e apoiavam. Sasuke abrira sua empresa e era excelente no que fazia, tinham uma vida tranquila e Hinata era uma boa fotógrafa, realizava eventos e trabalhos externos, porem parara no último ano quando descobrira estar grávida. O que apenas fez com que seu casamento melhorasse ainda mais. Sasuke não fora passageiro, namoraram por dois anos e logo se casaram, conheciam um ao outro tão profundamente. Não poderia imaginar nada diferente, a família caminhou para a cozinha onde a Hyuuga prepararia a mamadeira do pequeno Hiro e Sasuke o alimentaria enquanto a esposa faria o jantar.

Na sala do casal um conjunto com cinco quadros em preto e branco que Hinata acabara de pendurar, todas tiradas pela Hyuuga.

Uma foto de Sasuke olhando para o horizonte em meio aos girassóis da fazenda de seus pais que Hinata tirou quando fora conhecer os sogros e o cunhado.

Uma foto de Hanabi sorrindo enquanto Hiashi segurava o neto recém-nascido ao lado de Mikoto e Fugaku com um Itachi emburrado por não ter o sobrinho no colo.

Uma selfie dos dois sorridentes no dia em que se casaram.

Uma foto que mostrava a mão de Sasuke por baixo da de Hinata e do filho.

No centro de todas havia uma foto com apenas uma folha de papel com uma frase escrita com caneta permanente preta.

“A vida é um sopro.”