Fragmentos de um coração partido escrita por Andy Sousa


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, há tempos escrevi este conto, mas jamais pensei em postá-lo no Nyah, é relativamente curto, pois foi criado para um concurso de histórias, espero que gostem.

Boa leitura! :)



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O sol tomava conta de tudo.

Entrava pelas janelas e portas abertas iluminando, mas do lado de dentro da casa havia escuridão e tristeza. Ela estava sentada em um canto olhando para todas aquelas cartas e fotos e ouvindo seu coração bater devagar enquanto as lembranças levavam seu fôlego embora.

Outra chance perdida, o amor se distanciava como um barco que seguia seu rumo ao horizonte...

E quando acabaria?

Ela suspirou e se levantou. Não tinha para onde ir, mas não podia mais ficar ali. Andou devagar para fora do quarto enquanto ouvia os ruídos da vida lá fora; toda a humanidade parecia alheia, seguia sem qualquer motivo para esperar aqueles que eram deixados para trás. Talvez fosse mais fácil se houvesse alguém para conversar, mas havia muito ela seguia sozinha e já se conformara.

Aproximou-se da claridade suave que cobria o chão e as paredes e que vinha do céu imponente. O mundo era mágico, ela costumava acreditar. Acreditava que era forte e inatingível, mas sua fé estava desvanecendo. Perdera a conta de quantos dias se passaram desde que não se sentia mais inocente, frágil. A infância fora doce no verão e amarga no inverno, mas acabara.

Quem ela era agora? Quando olhava no espelho via os mesmos olhos, mas a serenidade os abandonara. Fora por isso que ela partira de seu lar há anos atrás: não conseguia sentir-se feliz e culpara sua rotina; ela abandonou família e amigos para perseguir aquele amor e tivera com ele e o que nunca sentira antes.

Paz, alegria e invencibilidade.

Ela se sentira gloriosa por várias primaveras porque ele a fizera ser assim. Todas as perguntas foram respondidas, as cicatrizes quase se apagaram. E agora ele a deixara como ela fizera com os outros. Era assim que seria para sempre?

Ela levou as mãos ao rosto e o esfregou com força como se isso fosse suficiente para eliminar a dor que voltava a morar em seu peito. Não tinha coragem de seguir em frente porque tinha medo de cair, de falhar. Decidiu sair de perto dos raios do sol, pois não tinha mais vontade de sentir sua pele quente, caminhou de volta para o quarto, passando por cima de tudo aquilo que há pouco observava. De cabeça erguida ela tentou juntar um pouco de dignidade e não desabar em cima do que ele deixara na casa que costumava ser dos dois.

O jato de água quente do chuveiro a ajudou a se sentir falsamente confortável. Ao menos enquanto estava ali parecia que nada mais importava. Se chorasse não sentiria as lágrimas, se fechasse os olhos com força quase podia pensar que tudo estava bem, mas as memórias voltavam: ele a acordara como em uma manhã comum, ela sorrira, mas ele não retribuíra, estava partindo porque não a amava mais... Como poderia? Não lhe dissera um milhão de vezes o contrário? Fora tudo mentira? 

Ela cansou de se torturar, saiu do banheiro e viu que o dia já não era mais tão brilhante, a noite se aproximava. Foi até a cômoda e encontrou aquela roupa de que ele mais gostava; vestiu, mas não se sentiu bela como antes. Não pensou em mais nada, jogou-se na cama e abraçou o travesseiro, o cheiro ainda era o mesmo. O perfume dele impregnava os lençóis e ela não conseguira livrar-se deles, sofreria mais um pouco, acreditaria que amanhã talvez estivesse menos morta do que os restos em que se transformara.

Sentiu a brisa de outra manhã levantar levemente seus cabelos e abriu os olhos. Tudo estava como ficara na véspera. Tornou a fechar os olhos e abri-los por diversas vezes. Tudo igual, não importava o quanto tentasse esquecer... Será que era possível morrer por amor? Voltara a precisar de respostas, ele levara tudo consigo e agora ela tinha de recomeçar, era só o que lhe restava...

Havia algumas horas que estava em seu carro, dirigia sem rumo, a estrada era longa em todos os sentidos e sua casa ficara para trás, trancada e vazia como sua alma. Decidira não investir mais em sonhos passados, sentia-se tola por pensar que teria aquela pessoa pela eternidade, agora as coisas não faziam mais sentido.

Enquanto o sol tornava a dominar a terra ela viu a si mesma sentada na grama no dia em que o conhecera, nunca poderia dizer que teria de fugir outra vez, mas ali estava. O mais difícil era ter a certeza de que acreditara que poderia ser diferente, crescera vendo desilusões por toda parte, mas pensava que com ela as coisas não seriam iguais. Agora via o quão saíra do rumo, não tinha mais ninguém além de si mesma.

O sol começava a se pôr ao longe.

Algo chamou sua atenção, um papel preso por um pedacinho de fita no teto do carro. Ela o pegou e o abriu. Sua respiração falhou. Era a letra dele, reconheceria em qualquer lugar. Estacionou a beira da estrada e começou a ler o conteúdo.

A cada palavra um sentimento diferente aparecia: dor, dúvida e por fim compreensão. Ele partira porque a amava demais, sentia que nunca a faria feliz, a vira sofrer e sorrir e se julgou incapaz de compreender tudo o que ela era. Não dissera antes porque deixá-la seria a coisa mais difícil que teria de fazer.

Ela dobrou o papel e o jogou no banco do carona, abriu a porta e saiu devagar, levantando a cabeça para o céu.

Era infinito.

Esquecera-se do que realmente gostava, abandonara o amor tantas vezes que ficara insensível; tivera o que queria: alguém que amava com tanta intensidade que fora capaz de sacrificar a própria felicidade pela do outro.

Sorriu quando o vento soprou em sua direção, a dor e a dúvida desaparecendo. Não era o rosto dele que lhe fazia falta, mas sim o seu próprio. Havia ficado cega, não sabia mais como era falhar porque ele nunca permitia que se machucasse e ela gostava de sangrar às vezes, assim não se sentia tão vulnerável.

Agora só havia tranqüilidade a seu redor.

Estava livre. Poderia não estar inteira por dentro, mas fora isto que a fizera ir até ali: a procura por sua felicidade.

Ligou o motor do carro e acelerou. Toda velocidade à frente, ela encontraria outro amor, enfrentaria o que fosse preciso.

Ele a tornara invencível e ela não pararia até conseguir fazer alguém sentir o mesmo. O vazio lhe parecia melhor que tudo, ela preencheria cada espaço, sem se lembrar do passado...


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Notas finais do capítulo

A você que leu até aqui, meu muito obrigado :)



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