O Arauto do Arrebol escrita por Mayhem Noyer


Capítulo 1
Capítulo Único




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Quando pequeno eu aprendi que nunca vou aprender qual é a hora de parar. Sentado nesse balcão de bar eu me pergunto se um dia eu ainda tomo um rumo na vida e paro de fazer merda... Enfim. Não sei se você veio aqui para ler uma história ou para se distrair de uma realidade desgostosa... a verdade é que não importa muito, não é mesmo? Nós fazemos o que devemos fazer exatamente porque devemos fazer e é isso que importa no fim do dia. De fato, passei por algumas dificuldades nos últimos tempos e o fato de segredar-lhe a minha vida, bêbado, sem fazer ideia de quem você é talvez lhe diga um pouco sobre o tipo de homem que sou.

Não se engane, eu sei quando devo parar. Meu limite se encontra no momento em que a cerveja perde o gosto na minha boca, no momento em que o cheiro do cigarro trêmulo nos meus lábios faz o meu corpo se arrepiar em repulsa... O meu limite se encontra no momento exato em que o meu corpo não aguenta mais as drogas com que eu o alimento e chega até considerar que uma noite de sono até que cairia bem.

Mas por enquanto a cerveja é boa e o cigarro acalma os meus pensamentos nervosos, a musica ainda me diverte e os fantasmas continuam a me perseguir. “Fantasmas?”, você me pergunta, “fantasmas do passado?”... mas é claro que não, os homens ainda caminham por essa terra e levam consigo a vontade desesperada de existir. Eu mesmo posso me considerar um fantasma se você tiver uma imaginação bem divertida mas isso é conversa para outro texto, deixa pra lá.

Note que eu sinto frio e uma vontade extrema de sentir qualquer coisa que não este inferno gelado em no qual me encontro, sim... um inferno gelado... o mundo é uma grande ironia. Não me pergunte se sofro por paixão ou se me entreguei à solidão, ora, acredito que a dor a muito deixou de ser apenas por ter sido deixado ou por nunca ter sido acolhido. Em verdade confesso que isso nunca teve tanta importância assim e que a companhia sempre me pareceu nada mais do que obrigatoriamente passageira, o problema não é a companhia, mas sim o significado.

O que dói não é possuir absolutamente nada e sim não significar realmente nada, ou significar tanta coisa de pouco ou nenhum valor que seria melhor mesmo não ser nada e ter em si tudo aquilo que quem nada tem acaba tendo. É claro que de inicio todo esse papo entre ter, não ter e desejar ter parece muito chato e de uma arrogância tremenda... mas não me entenda mal, eu não quero nada de ninguém e essa é puramente uma reflexão sobre o ser, sobre o ter e sobre todo o resto no qual em palavras eu não saberia sintetizar... mas você vai entender.

Talvez seja pela cevada ou pelo tabaco, mas em dias frios como esse não estar acompanhado não dói tanto quanto eu acredito que deveria doer. E naqueles dias ensolarados quando estamos cercados de tanta gente e por vezes até de gente querida, sentimos que não temos nada que realmente importa e que toda aquela felicidade eufórica é uma cortina sobre uma miséria de alma. Você já chegou em casa depois de um dia muito feliz, sentou-se na cama e sentiu-se que, de alguma forma, aquele orbe negro que dia após dia toma parte do seu peito nunca mais vai te deixar?

Por muitas vezes carregamos conosco uma sensação de que nada vale tanto a pena assim, pois o nosso senso de valor é assim tão tolo... corremos atrás de coisas e depois de mais coisas para então morrermos e tudo o que tínhamos é devorado para que outra pessoa possa correr atrás de coisas e mais coisas. Realmente todas essas coisas no mundo parecem perder um pouco o valor... como uma cerveja que perde o sabor e o cigarro que lhe queima o interior.

Em verdade confesso que este bar já foi mais quente, que aqueles poemas já foram mais raros e falavam sobre dores muitíssimo fúteis... eram bastante inofensivos. A minha cerveja acabou e o meu cigarro foi consumido por inteiro... acredito que existem outras coisas para fazer e muita corrida pela frente, mas fico feliz por termos conversados, se é que você realmente está ai e que eu não estou conversando com vultos novamente.

Quando eu era pequeno eu aprendi que nunca vou aprender quando está frio demais até que meus pés congelem sob as cobertas e que minhas mãos fiquem tão dormentes que não mais sou capaz de escrever. As janelas e portas estão fechadas e mesmo assim o frio se esgueira por entre os cantos, abraça as garrafas, lambe o meu corpo e se aquieta, se deita, respira e adormece... com medo de que no meio da noite eu venha assombra-lo com meus versos sombrios como a madrugada e terríveis como o amanhecer.


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