Woo Seung se equilibrou na ponta dos pés e colocou a pasta com os dados dos novos contratados da empresa World, na última prateleira desocupada do escritório. Enquanto executava a ação, durante todo o expediente naquele dia aliás, sua cabeça continuava distante, ponderando a mais nova e esquisita reação de seu namorado quando os dois ficaram sozinhos no apartamento dela no fim de semana.

Eles chegaram do cinema, animados. Hyun Jae ainda deslumbrado pela descoberta da nova tecnologia na hora de ver filmes: as sessões 3D. Ela rindo das exclamações empolgadas dele e relembrando como o rapaz dera um pulo da cadeira e a abraçara no momento que o robô gigante “pulou” da tela na direção das poltronas.

Ao se sentarem na mesa para comer o omurice preparado por ele, Hyun Jae tinha muito mais jeito para cozinhar aquela iguaria da culinária descomplicada constituída de ovo, arroz e ketchup - “Sou o rei do omurice!” vangloriou-se para ela esfregando as mãos e balançando a frigideira –,continuou perguntando a Woo Seung como era possível os objetos saltarem diante de seus olhos com um simples par de óculos.

Ela afundou a colher no seu alimento e ficou olhando para ele apaixonadamente, imaginando quantas coisas aquele homem do passado não conhecia do mundo moderno. Seu desejo, ela sorriu docemente vendo as caretas e os olhos esbugalhados de Tá Bom ao falar como o tagarela que era daquilo que não entendia, era poder estar ao lado dele em cada nova dessas descobertas.

Comidas devoradas, pratos vazios e louças lavadas, os dois se sentaram na cama e, entre uma conversa e outra, trocaram calmos beijos. Ele tinha um jeito único de tocar nos lábios dela, um jeito que a deixava somente mais apaixonada. Era delicado e paciente sem ser prolixo, era contundente e intenso, mas sem ser incisivo. Havia também a quentura do seu corpo e o cheiro reconfortante da sua pele, do seu perfume que impregnava suas roupas… Eram tantos detalhes capazes de balançar Woo Seung que ela, finalmente, percebeu que o queria de uma forma mais íntima naquela noite. Queria dar um novo passo, estava ansiosa na verdade, para que a relação dos dois avançasse por caminhos irreversíveis.

Desgrudando dos beijos dele por um instante, anunciou que tomaria um banho rápido – se a memória não lhe falhava, havia escolhido uma calcinha velha e desbotada para ir no cinema aquela noite – e se enfiou no banheiro por ligeiros dez minutos. Ao retornar para o centro da quitinete, bastante ansiosa por apostar tudo numa camisola com estampas de ursinhos, a coisa mais sexy da sua gaveta de pijamas, encontrou apenas um cômodo vazio e silencioso a sua espera. Mais irritada do que decepcionada, ligou para Tá Bom que claramente mentiu contando que havia um assunto urgente para tratar a pedido de Kwang Jae…

Kwang Jae não havia incumbido o namorado de nenhuma tarefa extraordinária as onze horas da noite de sábado, como Woo Seung descobriu na segunda-feira, ao sondar o chefe pela manhã. E, portanto, esse era o motivo dela estar pensativa, para não dizer inconformada, pelo gesto daquele cantor pop dos anos noventa de ar confiante demais.

Será que ele seria a mais nova versão de Yoon Ki na sua vida e, tão logo chegou ao século vinte e um, já estava de caso com outra mulher? Ela balançou a cabeça em uma negativa ríspida e retornou para sua poltrona de secretária concluindo que nunca mais se relacionaria com nenhum ser do sexo masculino se descobrisse ser traída novamente. Seria muito pior agora, porque havia uma paixão muito maior e uma cumplicidade real entre ela e Hyun Jae…

O telefone na escrivaninha tocou abusivamente alto arrancando a garota das suas conclusões enervantes e, com um suspiro final, decidiu focar apenas no trabalho pelas próximas horas.

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Hyun Jae estava esperando do lado de fora do apartamento de Woo Seung na companhia de duas sacolas com Jjajangmyeon preparadas naquele restaurante suspeito e aconchegante, que ficava próximo a autoestrada. Depois de perceber, não sem revolta, que ela havia mudado a senha sem avisá-lo, largou as quentinhas de lado e se sentou esparramado no corredor, escolhendo um joguinho novo que baixara no celular para se distrair. Na sua época, os jogos eram tão bobos e simples, mas nesse novo tempo até mesmo uma tela que cabia na palma da sua mão proporcionava uma partida mais emocionante que o videogame de última geração que seu dinheiro conseguia comprar no início dos anos 90.

Chocado por ter perdido todas as suas vinte vidas extras numa plataforma móvel estúpida, Tá Bom desligou o celular e deixou o aparelho de escanteio. Percebeu então que estava na completa escuridão do corredor. A tarde terminara e agora já passava das oito horas da noite e… Aonde Meio Período se metera?!

Ele tinha certeza de que a agência de Kwang Jae dispensava sua única e dedicada funcionária interna exatamente as dezoito horas. Mesmo se houvesse alguns imprevistos, o prédio era perto do apartamento… Ela já deveria estar ali.

Irritado pela demora, Hyun Jae pegou o celular novamente e ligou para Woo Seung buscando respostas. O número chamou diversas vezes, mas acabou por cair na caixa postal em todas elas. Não importava em que década estava, fosse no page ou celulares, as pessoas continuavam ignorando chamadas.

De repente, o sensor de movimento no início do corredor acionou e as luzes acenderam, a garota surgindo caminhando de encontro a ele. Hyun Jae se levantou de prontidão e esperou Woo Seung com um sorriso presunçoso no rosto. Apesar de estar chateado pela demora, não queria deixar transparecer o irrelevante.

— Humm… Muito trabalho? — indagou mostrando um sorriso sorrateiro. Ela não estava com uma cara muito boa, ele percebeu logo que a viu melhor.

— Estava me esperando há muito tempo? — perguntou, olhando para as sacolas na mão dele.

— Isso quem vai responder são essas duas porções de Jjajangmyeon… Que eu trouxe quentinhas do restaurante…

— Estou sem fome — ela respondeu gelidamente e, terminando de digitar a senha nova, entrou. Ele entrou logo atrás, desconfiado pelo que estivesse acontecendo, o clima era tenso…

— Comeu no trabalho? — insistiu o rapaz colocando o macarrão com soja frio em cima da mesa. Sua voz soou deveras desapontada.

— Não… Só não quero — o estômago de Woo Seung reclamou o contrário, como se estivesse só esperando esse momento para delatar a mentirosa. Os dois se entreolharam rapidamente, ela virando o rosto primeiro e indo para o guarda-roupa tirar o casaco.

Ainda parado no meio do apartamento, o namorado a questionou.

— Você mudou a senha da entrada… Eu esqueci qual era a nova, por isso fiquei do lado de fora esperando…

— Eu não te avisei — ela respondeu acidamente, prendendo o cabelo num rabo de cavalo apertado e procurando a toalha pelo quarto. Se ele sempre ia embora quando ela começava a tomar banho, que fosse de uma vez a acabasse com toda aquela conversinha mole.

— Ei… O que houve? — Hyun Jae parou de tentar descontrair e pegou Woo Seung pelo pulso, fazendo-a parar por um instante e encará-lo.

— Não houve nada. Eu vou tomar banho. Quando sair pode levar o Jjajangmyeon com você.

— Está me mandando embora?

— Estou apenas avisando, já que você tem o habito de ir embora quando entro no banho…

Hyun Jae costumava ser um pouco lento para entender as mulheres, mas daquela vez precisou de apenas três segundos para saber porque a namorada estava arredia e agressiva daquele modo. Não soube exatamente como começaria a se desculpar, contudo não desconversaria ou a enganaria. O popstar do passado normalmente agiria assim, o homem de agora, não. Soltando o ar pela boca pesadamente, respondeu:

— Woo Seung… Eu quero ser diferente com você… Eu quero que seja especial… Quero ser gentil, quero ser único… Sabe, por muito tempo eu tratei as garotas com quem eu ficava como mais uma conquista… E os momentos que vivia com elas era apenas só mais um momento…

“Eu tinha fama e dinheiro… Me achava invencível e inalcançável… Não ligava para os sentimentos dos outros, das pessoas com quem me relacionava… Acho que porque eu nunca me entreguei de verdade para nenhuma delas, não sei… Mas eu não quero estragar tudo entre nós…

“Respeito seu tempo. Não quero te pressionar, mesmo que meu corpo tenha seus próprios impulsos é a minha cabeça quem manda… Ainda estou me acostumando com tudo isso. Viajar no tempo, morrer e não morrer, ter vinte e pouco quando eu deveria ter quarenta e pouco…

“Me esforçar para não imaginar a água caindo no seu corpo enquanto você toma banho há poucos metros de mim… Pode parecer bobo, mas…”

— Eu te proibi de imaginar algo assim, por acaso? — Woo Seung o interrompeu, aproximando-se dele desafiadora. Dentro dela, toda a raiva ia embora e uma sensação de alívio e euforia cresciam e se misturavam.

— Hã… Não se…

Ela ergueu o dedo indicador e tocou em seus lábios, o calando. Hyun Jae ficou observando-a, curioso. Não tinha certeza se confessar seus desejos reprimidos fora uma boa, mas seu coração batia rápido no peito da mesma forma.

— Me beije apenas — ela sorriu docemente e estremeceu diante do olhar intenso que ele mostrou — Me beije e leve para onde quiser… Eu também quero…

E assim Tá Bom fez. Beijando carinhosamente os lábios de Woo Seung, se deixou levar pelo pedido dela e explorou sua pele com a boca e a língua em outros locais. Enquanto as mãos iam escorregando para outras partes do corpo, ele e ela se entregaram completamente as sensações e consolidaram ainda mais aquela nova relação…

… O chuveiro continuou desligado.