Lamento das Trevas escrita por Bruna


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura!



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Tacitus sentia o frio penetrando em seu corpo até os ossos. Ele se esforçava para continuar andando, para que pudesse se afastar cada vez mais do cenário de destruição e das ameaças que haviam na antiga morada dos Abutres de Fogo. O corpo maltratado se arrastava com decadência. Tacitus conseguiu escapar dos atacantes, mas não sem antes ser espancado como se não houvesse amanhã. Um grosso manto negro cobria os novos hematomas e também as grandes asas da cor da noite encolhidas, como era típico daquela espécie.
Um longo grito agonizante foi ouvido. Mais um. Tacitus tentou se concentrar para continuar o seu caminho montanha abaixo. As vozes lamentando se tornaram insuportáveis e ele teve que olhar para trás.
Fumaça subia pelo céu. Onde normalmente haviam enormes fogueiras, que eram agradáveis aos Abutres, agora só haviam cinzas. Os exércitos dos diferentes reinos que haviam formado uma aliança se misturavam com os camponeses, que mesmo sem treinamento, faziam fila para agredir os inimigos, encarar sua derrota e ver que a vingança estava feita.
A fonte de parte dos gritos era um dos conhecidos de Tacitus, que havia sido desarmado. Sem a sua poderosa espada, não tinha como se defender. Estava sendo desmembrado vivo, mas como era esperado, os gritos pararam depois de algum tempo.
Tacitus segurou sua espada mais firmemente, perturbado. Não iria voltar para lá em nenhuma circunstância, nem mesmo para defender aqueles com quem passou toda a vida. Não estava disposto a morrer por um ideal que nem sabia mais se apoiava, em uma batalha que já estava perdida. Por fugir, podia ser chamado de covarde, de traidor, porém não era o único e estava vivo. Sem um pingo de honra, - se é que alguma vez ele já a teve - ele prosseguiu. Ia virar a cabeça e tentar ignorar a matança atrás de si quando um vulto ao longe chamou a sua atenção.
Era uma moça que usava um manto cinza escuro e que também andava com dificuldade. Ela pareceu familiar, e logo Tacitus concluiu que ela era pequena demais para ser uma Abutre de Fogo.
Era Tadala, ele reconheceu, uma das escrevas que eram utilizadas em encantamentos com magia das trevas e para dar mais força aos seus senhores. Eram completamente humanas e foram capturadas nos ataques aos vilarejos e cidades. A maior parte nem sobrevivia, mas as que restavam viram aquele ataque como uma chance de ter liberdade. Tacitus verdadeiramente torceu para que aquela jovem conseguisse se afastar em segurança. Sabia que as autoridades consideravam Abutres de Fogo e aqueles que eram obrigados a viver com eles e serví-los todos parecidos: adoradores do terror que deveriam ser eliminados. Ambos os tipos seriam caçados sem quase nenhuma distinção. Os ex-escravos pelo menos não tinham asas e podiam se disfarçar dentre os humanos.
Tacitus e Tadala haviam conversado algumas vezes, uns tempos antes do ataque. Tinha sido ela a plantar aquela dúvida cruel em sua cabeça: "O que diabos eu estou fazendo aqui?". Claro que Tacitus sabia que o que os Abutres de Fogo faziam não era correto, mas ela lhe passou a idéia de que algo precisava ser feito a respeito disso. Ela tinha um bom coração, isso era certeza. Tacitus lamentou que ele nunca tivesse tomado uma atitude para melhorar a situação. Por um instante, considerou a possibilidade de ir atrás dela para fugirem juntos. Entretanto, receava que ela pensasse mal dele e entregasse a sua localização para os atacantes para depois fugir. Além disso, Tadala não era uma Abutre de Fogo e teria chances um pouco melhores de sobreviver sem a companhia dele.
Os soldados agora já tinham acabado com o ninho dos monstros e começavam a se espalhar para pegar os que tentavam fugir. A sombra robusta que descia a montanha tremeu de medo e frio e retomou seu caminho depois da distração. Após alguns minutos, já em terreno plano, Tacitus optou por ir por uma floresta. As árvores eram densas e ali seria difícil realizar uma perseguição.
Por um período de tempo que ele não conseguiu determinar devido ao seu estado de euforia e dor, Tacitus andou. O céu estava escurecido pela fumaça e chuva caía do céu, o que dificultava a vida de quem estava acostumado a viver em uma secura flamejante. Quando achou que fosse desistir e se jogar no chão barrento, Tacitus percebeu que as árvores se afastavam. Haviam algumas pequenas construções por ali: era um vilarejo. Reuniu forças e continuou.
O fugitivo se certificou de que suas asas e espada estavam bem escondidas e prosseguiu. Grande parte dos moradores tinham se recolhido para as suas casas devido à tempestade que se iniciava. Tacitus não chamou atenção.
Ele não sabia ao certo para onde ir, mas depois de andar sem rumo por alguns becos, encontrou uma cabana sem porta ou mobília, parcialmente apodrecida e com metade das madeiras que deveriam servir como paredes caídas no chão.
Tacitus quase chorou de alívio por pelo menos saber onde dormiria aquela noite, porque todo o resto da sua vida parecia repentinamente indefinida. Ele se deixou cair no chão, tomando consciência de que todo o seu corpo doía mais do que ele imaginava ser possível. Exausto, agarrou-se à espada - que era o último bem que lhe restava - e fechou os olhos. Sem demora, adormeceu.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo foi mais uma introdução, os próximos vão ser maiores.
Então, o que acharam? Deixem comentários!
:)



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