Harry levantou-se da cama ainda coçando os olhos, soltou um suspiro pesado e deu alguns passos até estar em frente ao espelho. Encarou seu reflexo por dez segundos até ter uma clara, e embaçada, visão de seus cabelos castanhos desalinhados, seu rosto marcado e a camiseta amarrotada. Balançou a cabeça lentamente de um lado para o ouro e voltou para perto da cama, abaixando-se um pouco para pegar os óculos que estavam no criado-mudo, em cima de um livro trouxa qualquer.

Aquela era sua rotina desde que salvara o mundo bruxo anos atrás e não sabia o que lhe poderia surpreender mais: o fato de ele e Ginny serem somente melhores amigos ou o fato de Draco Malfoy ter ido embora há dois anos com uma caixa cheia de seus pertences, levando consigo o cheiro favorito de Potter.

A sobrancelha grossa levantou-se ao que escutou um estrondo na cozinha e com passos rápidos e um pouco desajeitados, por ter acordado a pouco, o homem chegou a cozinha notando a presença de cabelos compridos e louros indo de um lado para o outro enquanto a dona dos fios claros tentava fazer algo no fogão.

— O que você está fazendo, Luna? – perguntou curioso ao aproximar-se mais e sentar-se em um banco que dava para o balcão da cozinha, onde ele conseguia observar as costas da amiga e vizinha.

— É seu aniversário. – falou como se fosse o óbvio e virou seu corpo, sorrindo para ele. – Não tenho outro lugar para estar há não ser tomando café com meu vizinho que celebra seus 30 anos hoje.

— Vinte e nove. – Harry corrigiu ao levar a mão até a garrafa de café e servir-se na caneca que ficava ali. – E obrigado pelo café da manhã.

— Não precisa me agradecer, Harry. – Lovegood comentou ao servir algo em um prato e então colocar a louça em frente ao moreno fazendo-o sorrir ao ver panquecas com chocolate em sua frente. – Feliz aniversário. – completou ao dar a volta pelo balcão e ficar ao lado de Potter, dando-lhe um beijo suave na bochecha.

A vizinha daquele que derrota Voldemort sentou-se ao seu lado e  ficou encarando-o enquanto ele comia, por curiosidade o homem olhou-a e ela lhe deu um pequeno sorriso tirando o óculos dele do rosto masculino e então colocando-o em seu próprio rosto.

— Ugh, Harry, sua visão é realmente horrível. – reclamou, fazendo-o rir.

— Você fala como se fosse possível enxergar qualquer coisa com o Spectrespecs. – ele murmurou sarcástico fazendo-a revirar os olhos atrás das lentes redondas.

Luna pegou seus óculos dentro do bolso do casaco e passou-os para o amigo, viu-o usar e soltou uma risada quando ele a encarou sem muito humor. – Eu não vejo nada demais. – a voz masculina murmurou, fazendo-a soltar um suspiro.

— Você não vê porque não sabe o que procurar. – exclamou com simplicidade e deu os ombros. – Lembre-se de ir à casa de Hermione, ela queria lhe passar algo sobre uma missão. – comentou e trocou os óculos, encarando-o docemente. – E faça a barba.

Ele murmurou um “Sim, mamãe” e a loira lhe deu um tapa na cabeça ao suspirar frustrada.

— Harry Potter, trate de fazer o que eu falo. Eu só quero o seu bem. – deu um sorriso doce para ele que foi respondido com um sorriso curto.

— Obrigado, Luna.

Lovegood deu os ombros e beijou os cabelos castanhos e bagunçados do amigo e antes de sair pela porta, alegando ter algo para resolver com Ginny, desejou-lhe feliz aniversário novamente.

Minutos depois ele estava sozinho novamente. Levou a última garfada das panquecas até a boca e mastigou-a com vontade, a sua mão direita foi até a caneca, levando-a até a boca e tomando o último gole de café. Sorriu um pouco satisfeito e pegou sua varinha apontando para a louça, em alguns segundos tudo estava limpo e organizado. Hoje ele não tinha tempo para cuidar minuciosamente das coisas, havia dado a si mesmo o dia de seu aniversário como o dia que Harry Potter poderia usar magia até mesmo para as pequenas coisas que gostava de fazer.

[...]

Ficara o dia todo fora de seu pequeno e calmo apartamento. Ele conseguiu resolver umas coisas com Hermione, ir a um PUB com Ronald e até mesmo visitar Molly e conversar com a senhora Weasley sobre como as coisas iam com todos os sobreviventes da família de ruivos. Pouco depois do almoço fora até a casa de Andromeda onde tomou chá com a mãe de Nymphadora e brincou com o afilhado, Teddy, durante boa parte de sua tarde.

Para Harry sempre fora difícil gostar de seus aniversários, sempre os passava sozinho na casa dos Dursley e depois que completou seus dezessete anos tentava ao máximo ficar com aqueles que faziam seu dia valer a pena. Mas ainda faltava uma pessoa.

O suspirou pesado saiu de seus lábios novamente ao subir a última leva de degraus, olhou para a porta de seu apartamento levemente aberta e a sua respiração falhou. Ele só queria paz.

Com passos cuidadosos andou até a entrada de sua casa, olhou para seu sofá com inúmeras roupas reviradas e fechou os olhos mordendo internamente sua bochecha.

Outro barulho na direção dos quartos.

O coração de Potter bateu descompassado, mesmo que parte de seu corpo lhe dissesse que não era nada demais... A parte de si que havia morrido, lutado e visto tantas coisas horríveis não parara de pensar que ele poderia não existir mais antes de seus trinta anos.

A mão direita foi até sua varinha, trazendo-a junto ao corpo e andando em passos leves até o quarto. Encostou a ponta da varinha na maçaneta da porta de seu próprio quarto e murmurou o feitiço para que ela se abrisse. O homem encarou o interior do quarto, estava tão bagunçado quanto a sala, mas ele reconhecia aquele cheiro em qualquer lugar. Um arrepio em sua nuca formou-se ao sentiu a presença de alguém atrás de si.

— Está com medo, Potter? – a voz de Malfoy se fez presente, fazendo o moreno virar seu corpo e ficar frente a frente ao ex-namorado e colega de quarto.

— Você gostaria, Malfoy. – respondeu sem gentileza e Draco sorriu, um sorriso doce, o sorriso de Harry.

O loiro encarou-o por cinco minutos até perceber que o moreno estava na defensiva, arqueou sua sobrancelha loura como se pedisse para que lhe fosse dito algo. – O que você está fazendo aqui? Pensei que tivesse ido embora e nunca mais voltaria.

O outro sorriu debochadamente antes de tomar os lábios de Harry em um beijo calmo e apaixonado. As línguas não brigaram para descobrir quem mandava mais, não, daquela vez eles estavam sincronizados. Alguns minutos depois o ar fez-se necessário e Malfoy encostou suas testas enquanto fazia um leve carinho nas bochechas do outro.

— É aniversário do meu namorado, Potter, e eu só queria comemorar com ele. Sabe onde ele está?

Harry soltou uma risada antes de puxar Draco para mais um beijo e tempos depois joga-lo na cama, onde comemoraram algumas horas do dia trinta e um de julho e o retorno do loiro aquele apartamento.

[...]

O homem de cabelos morenos observou a respiração do companheiro e soltou um sorriso ao ver os olhos de Malfoy encarando-o.

— O que foi, doce? – o loiro perguntou em um tom de voz calmo.

— Você voltou de vez?

— Eu nunca deveria ter ido, cicatriz.... – murmurou amargo ao lembrar-se do quão ridículo fora o motivo de ir embora. – E agora que eu voltei eu nunca mais vou lhe deixar.

Sorrisos foram trocados de forma serena e Draco selou seus lábios com os de Harry, levemente.

— Feliz aniversário cicatriz, agora levante e se arrume. – murmurou risonho ao ver um brilho de dúvida pairar sobre os olhos do outro. – Você realmente achou que seus amigos irritantes não lhe fariam uma festa surpresa?

O moreno soltou uma risada baixa e balançou a cabeça ao levantar-se da cama para se arrumar.

Ele nunca mais estaria sozinho, e pela primeira conseguia se sentir completo por ter ao seu lado tudo o que ele precisava. E naquela noite tudo e todos o que o haviam tornado mais forte e corajoso nos últimos anos estavam ali, comemorando e rindo.

E todas as vezes que Draco aparecia ao lado de Harry conversando animadamente com Ron e até mesmo com Ginny, faziam Potter ver que naquele momento ele tinha tudo o que precisava. Tinha uma família e um lar.