As luzes se apagam e o projetor é ligado. A tela mostra os créditos iniciais do filme prestes a ser exibido.

Uma parte dos nomes é familiar para Lucas.

As poltronas ocupadas pelo rapaz e pelo Magmar ao seu lado eram umas das poucas em toda a sala. Quase vazia. Uma história talvez tão desinteressante como sua própria.

A primeira cena era construída. Um menino rumo a sua jornada com as criaturas. Black, o personagem principal da película, era nada além de um garoto sonhador iniciando sua jornada, tendo por sua companhia um Snivy um tanto arredio.

Não era difícil para Lucas relacionar a história de Black com sua própria. Apesar da idade avançada para um treinador iniciante, aos vinte e seis anos, sua aparência era extremamente jovem, não era incomum que pensassem ser ele ainda adolescente. Havia sido um dos motivos para ele ter sido escolhido como o ator ideal para interpretá-lo.

Magmar via a semelhança sem qualquer dificuldade; os olhos da criatura acostumados demais ao dono. Este, contudo, se permitia ser enganado, ignorando a si mesmo do outro lado da tela; Lucas e Black como entidades separadas, não como ator e personagem.

O desenvolvimento da narrativa era lento. Aos poucos, Black ia crescendo enquanto treinador, bem como se tornando mais adulto. Um grupo surgia como antagonista na jornada daquele treinador. Uma organização autodenominada Equipe Plasma com o objetivo de separar os pokémon dos humanos, implicando que estes lhes causem mal e que as criaturas devam ser livres, sem o aprisionamento por pokébolas.

Não havia um paralelo disso na jornada de Lucas. Ele, quando mais jovem, também tentou seguir seu caminho como um treinador pokémon, assim como a maioria dos jovens o fazia. Um sonho tão estimulado, porém, para poucos. Os que se destacam possuem algumas características especiais; alguns tem um talento natural para a coisa, outros conseguem construir suas habilidades através de muito treinamento. Havia inclusive escolas especializadas no treinamento dos aspirantes a mestre pokémon, exclusividade dos mais abastados.

Desnecessário dizer que nenhuma das opções acima se enquadrava a ele. O treinador até conseguiu seguir viagem por cerca de um ano, mas se viu incapaz de seguir por esta rota, sendo derrotado nos diversos ginásios em que visitou.

Foi em uma dessas derrotas que conheceu Brycen. O treinador especializado no tipo gelo não deu chances para o Magmar naquela batalha, o que não o impediu de reconhecer o talento do jovem derrotado. Lucas, frustrado com mais uma derrota apesar da aparente vantagem que tinha, relutou em aceitar o conselho. Mas acabou cedendo, tendo como destino seguinte a cidade de Virbank a pedido do homem.

O treinador gélido não tardou a aparecer ao lado de Black, interpretando a si mesmo. Os dois juntavam forças em uma batalha contra um grande dragão negro controlado pelos Plasma. Uma recriação fiel de Zekrom encarava o Vanilluxe de Brycen, inúmeras vezes mais poderoso.

Uma cena que tinha muito menos impacto após Lucas ter participado das gravações. Uma placa esverdeada suspensa por cabos representava o adversário, suas imagens geradas posteriormente por efeitos de edição de vídeo.

O que não tornava o filme menos emocionante. Magmar controlou-se para não gritar ao ver a si mesmo participando do filme. Era o clímax, a cena decisiva que selaria o destino dos Plasma.

Foi também uma cena difícil de ser gravada. O pokémon ígneo foi incapaz de usar efetivamente seu golpe de explosão de chamas como a cena pedia. Foram necessários três dias de treinamento para que as gravações daquele ataque saíssem como deveriam. Mais um motivo pelo qual Lucas se sentia frustrado enquanto treinador. Talvez o mesmo motivo pelo qual ele jamais vencera uma batalha de ginásio.

Mas depois de chegar a Virbank e ser apresentado ao Sr. Wood, responsável pelos estúdios Pokéstar, sua vida mudou. Não foi preciso muito para se adaptar; a intuição de Brycen estava correta. Lucas tinha certo talento para a atuação e, sendo um rosto jovem e de boa aparência, não tardaria a fazer sucesso no ramo do cinema.

A batalha de Black foi finalizada, com sucesso apesar das chances mínimas contra o pokémon lendário. Ele rumava em direção ao trono do castelo imperial de Unova, pronto para assumir o trono como o novo campeão da região quando os créditos finais começam a subir pela tela.

Um arrepio passou pelo treinador sentado em sua poltrona no filme. Tinha uma vida nova e promissora pela frente. Talvez sua atuação não tivesse sido excelente, mas era boa o bastante para seu primeiro filme. Em um ano ou dois, poderia se tornar um grande ator, famoso em toda a região.

Mas naquele momento, o sucesso de Black em sua jornada como treinador era nada mais que um reflexo do fracasso de Lucas em seu sonho inicial.