O Quinto Elemento escrita por Lady Lanai Carano


Capítulo 1
O Quinto Elemento - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hello people!
1. Algumas ideias sobre alquimia são reais (como a troca equivalente, etc.), mas tudo que envolva os cinco elementos da natureza e a ideia de que alquimistas podem controlar os elementos é original.
2. Inspiração em FullMetal Alchemist (principalmente a troca equivalente e o círculo de transmutação)
3. Musiquinha pra ouvir enquanto lê: https://youtu.be/B7uMdmCQabc (é a opening de FMA Brotherhood ♥)
Beijos de Mel ^^



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O Quinto Elemento. Um elemento lendário, cuja existência ainda não foi cem porcento comprovada. Chama-se de Éter, Vazio, Essência, Espírito, Unidade, Equilíbrio, Magia. Mas, também, significa...

Alexia sentiu o vento bagunçar os seus cabelos. Finalmente. Ela finalmente estava ali, na cidade onde todos os indícios apontavam que existia a coisa que estava procurando há quase cinco anos.

A alquimista prosseguiu seguindo a estrada e adentrou na cidade. Era noite uma noite escura, mas ela preferia desse jeito. Quase todas as casas tinham suas luzes apagadas, e ela não cruzou com ninguém no caminho. Mas seus ouvidos foram atraídos pelo som de risadas e vozes que se destacavam no silêncio da noite.

Elas vinham de um bar no fim de uma rua sem saída, único ponto movimentado da cidade àquelas horas. Alexia caminhou até lá, esperando encontrar algum tipo de informação sobre o que procurava. Ela entrou e sentou em uma das mesas. A alquimista não era muito acostumada a ficar entre muitas pessoas, mas faria um sacrifício.

Assim que o seu pedido, uma xícara de chá, chegou, dois homens puxaram suas cadeiras e sentaram na sua mesa.

— Você vem a um bar e pede chá? – Um deles, um senhor baixo e calvo, riu.

— Eu não bebo. – Alexia bebericou o chá e lambeu os lábios. Muito frio.

— E o que uma garotinha que não bebe está fazendo em um bar? – o outro homem, mais alto e tão largo que parecia um armário, perguntou, levando a caneca de cerveja à boca.

Isso não é da sua conta.

— Uau, temos uma forasteira rude aqui! – Eles riram. Alexia estava começando a ficar irritada com todas aquelas risadas. Bando de bêbados inúteis. – Até que você é bonitinha, apesar de esquentada. Ei, por que você não vem até a minha casa e eu te ensino a se comportar?

— Não, obrigada. – Aquilo estava a cansando.

— Vamos, não se faça de difícil! – Ele agarrou seu pulso e puxou-a. Ah. Grande erro.

Alexia girou na cadeira, ficando de frente com o assediador, e espalmou a mão livre no seu peito. Uma força invisível e intensa o fez voar para trás.

Silêncio. Alexia virou para voltar a beber o chá quando viu que o outro, o baixinho, revoltado, partiu para cima dela.

A alquimista revirou os olhos. Ótimo. O plano de passar despercebida foi por água abaixo.

Ela manipulou o ar novamente e fez uma corrente para afastar o punho que desceu sobre ela. Ao mesmo tempo, sua outra mão tocou o chão e as pedras do piso do bar se soltaram recobriram seu braço, e ergueu-o a tempo de bloquear outro golpe vindo da outra mão.

— Maldita! A vadia é uma alquimista! – o homem alto gritou, sentando no chão com uma careta de dor depois de ter sido jogado para longe. Alexia sabia que alquimistas inspiravam certo medo na sociedade. Afinal, eram pessoas que, através de anos de estudo e trabalho árduo, aprendiam a manipular um ou mais dos quatro elementos. Originalmente, alquimistas eram apenas químicos, mas com a descoberta da Teoria dos Quatro Elementos da Natureza, cada vez mais alquimistas foram capazes de controlá-los.

— Agora que já sabem o que eu sou, poderiam fazer o favor de me deixarem em paz? – Alexia tentou sentar novamente, mas foi interrompida pelo cara careca, que aninhava a mão ferida após acertar rocha sólida contra o corpo.

— Você machucou um dos nossos, não vai sair impune, sua vadia! – Ela suspirou. Bêbados eram irritantemente teimosos.

A alquimista parou um soco com a mão aberta e passou uma rasteira no seu agressor, com uma ajudinha da manipulação do ar. Sentindo-se só um pouquinho vingativa, ela abriu as mãos e todas as bebidas do bar se agitaram dentro dos copos e voaram direto para o seu rosto.

— Vaca! – o homem mais forte, que até o momento estivera caído, rosnou, enquanto o outro sentou, tossindo. – Mas não se ache só porque consegue controlar três elementos!

— M-Mas se ela controla três, isso quer dizer que é uma alquimista de alto nível – o mais baixo gaguejou. – Tem certeza que brigar com ela é uma boa ideia?

— Não seja maricas! Eu conheço o seu tipo, vadia. Esses alquimistas que controlam três elementos se acham os melhores do mundo, mas esquecem que têm um ponto fraco. – Ele deu um sorriso nojento e tirou um isqueiro do bolso. – Você vai me pagar, sua vagabunda.

— Muito engenhoso – Alexia falou, tranquila, enquanto revirava seus bolsos atrás de moedas para pagar os estragos que fizera no bar. – Você assumiu que eu controlo água, terra e ar e pensou no fogo como meu ponto fraco. Pensou tudo isso sozinho? Achava que você era mais burro.

— Cale a boca! – Alexia tirou o casaco e sacudiu-o, até que cinco moedas de ouro caíram dos bolsos. Ótimo, pelos seus cálculos, aquilo pagaria pelas bebidas, pelo piso e pelo seu chá. Quando se abaixou para pegá-las, o homem bêbado correu até ela e jogou o isqueiro.

Sua camisa pegou fogo, e os expectadores, que estiveram assistindo à briga, exclamaram. Alexia pegou as moedas e sorriu.

— Boa tentativa. – Com um movimento do pulso, as chamas voaram até sua mão e dançaram por um instante entre seus dedos antes de fechá-los, extinguindo o fogo.

O incidente deixou apenas as pontas dos seus cabelos chamuscadas e queimou uma parte da gola da sua camisa, expondo seu pescoço e clavícula. Na pele, quatro símbolos foram expostos, marcados em preto, descendo da base do pescoço até o peito.

— Ei, isso não é...

— Impossível... dizem que o máximo de elementos que um alquimista consegue suportar são três...

Alexia pegou as moedas e andou até o balcão. Mas o idiota era persistente, e disparou um soco na sua direção quando passou por ele.

A alquimista, já sem paciência, bloqueou-o com uma mão, e disparou em direção ao queixo do agressor com a outra. Mas uma mão segurou seu pulso antes que pudesse socá-lo.

Alexia olhou para trás e viu uma garota. Ela tinha um aperto surpreendentemente forte para uma pessoa pequena, mas parecia inofensiva. A alquimista desvencilhou a mão.

— Obrigada por compreender, srta. Alquimista. – A menina sorriu sem mostrar os dentes. – Não permitimos brigas no bar. Eu entendo que foi apenas defesa pessoal...

— Tanto faz. – Alexia suspirou, cansada. Agora que havia feito um estrago daqueles, não fazia ideia de como iria encontrar o que procurava discretamente e sair sem ser notada.

Ela depositou as moedas no balcão e voltou para pegar seu chá. A ponta dos seus dedos se aqueceram com o poder do fogo, e a marca que correspondia ao elemento brilhou em seu pescoço. O líquido revirou na xícara até começar a soltar vapor. Alexia experimentou e suspirou em aprovação.

— Ótimo. Bem melhor. Okay, o show acabou! – Deixou a xícara vazia em cima da mesa e saiu. Atrás dela, um vento forte circulou pelo ambiente e todas as coisas que haviam saído do lugar com a confusão se arrumaram. Por último, Alexia manipulou o ar para fazer os dois bêbados que havia vencido se sentarem em suas cadeiras. Quando a porta bateu atrás da alquimista, foi como se absolutamente nada tivesse acontecido.

►♦◄

— Oi, srta. Alquimista! – Alexia levou um susto e se desequilibrou do corrimão da ponte onde estava sentada. Qualquer pessoa normal teria caído nas águas do rio lá em baixo e sido arrastada pela correnteza, mas ela não era uma pessoa normal. A alquimista fez o ar embaixo de seus pés desacelerar a queda e mandá-la direto para cima. Quando chegou na ponte, agarrou o corrimão de madeira e impulsionou o corpo por cima da barra, caindo do outro lado.

— Você é idiota? Eu não posso abusar do poder dos Quatro Elementos assim. Faz ideia dos efeitos de desequilibrar o yin-yang...

— Desculpa, eu só queria ver você usando-os. – A garota do bar deu de ombros, como se não quisesse realmente se desculpar. Não fazia mais que quinze minutos desde que saíra do bar, e não esperava que a menina a encontrasse tão rápido. Alexia suspirou e olhou para o rio. – Você sabe, é muito legal encontrar com alquimistas. Eles são tipo magos.

— Não somos magos. Magos usam magia, que teoricamente não existe. Nós apenas controlamos nosso espírito e usamos nosso conhecimento sobre a composição química do que nos cerca para entrar em equilíbrio com a natureza e usá-la ao nosso favor.

— Isso soa como magia para mim. – Ela ergueu a sobrancelha, os braços apoiados no corrimão da ponte.

— O princípio básico da alquimia é a troca equivalente. Ou seja, sacrificamos tempo, lazer e conhecimento em troca do controle dos elementos. Não é magia, é pura ciência. – Alexia olhou para ela, irritada. – Calma aí, por que eu estou te ensinando sobre o que é alquimia se eu nem sei quem você é?

— Ops, erro meu. – Ela bateu continência com os dois dedos na testa. – Meu nome é Lynn, e eu ajudo o vovô a cuidar do bar. Claro, não somos parentes, mas, sabe, o nome dele é muito estranho. Teve um dia que...

— Eu não ligo. – Alexia encarou a água correndo lá em baixo. Sua cabeça estava longe. Ela não podia desistir tão fácil assim. Ela tinha um objetivo, que iria cumprir. Só não sabia como.

— Eu vim aqui perguntar uma coisa, srta. Alquimista. – Lynn sentou no corrimão, de costas para o rio.

— Você vai cair.

— Não vou não. E se eu cair, você vai me salvar, não é?

— Não, na verdade.

— Que rude! – Lynn sacudiu a cabeça. Seus cabelos se agitaram, refletindo a luz da lua crescente. Eles eram de uma cor estranha platinada, e iam até a cintura. Alexia, que mal deixava os seus passarem dos ombros, imaginava como ela era capaz de mexer a cabeça assim. – Eu serei direta: você quer o Quinto Elemento, não é?

Por essa ela não esperava. Alexia piscou, surpresa demais para reagir.

— Acertei, não é? – Lynn perguntou, e a alquimista apenas assentiu com a cabeça. – Todos os alquimistas que visitam essa cidade estão atrás dele. Por culpa desses boatos de que o Quinto Elemento da Natureza está, de alguma forma, escondido aqui, a nossa cidade é bem visitada pelos alquimistas. Mas sempre saem de mãos vazias, ou desaparecem no meio da busca.

— Então o Quinto Elemento não está aqui?

— Pode ser que sim, pode ser que não. Nós, moradores, preferimos não nos envolver.

— O que quer dizer que há uma chance – Alexia afirmou, com esperança renovada. – Você sabe de alguma coisa? Qualquer pista que seja?

— Depende. – Lynn olhou para o céu estrelado, como se estivesse pensando. – Por que motivo você deseja o poder do Quinto Elemento? Já não é poderosa o suficiente podendo manipular quatro?

Isso eu não posso responder.

— Então não vou falar nada. – A garota deu um sorriso travesso e Alexia bufou.

— Tanto faz, eu vou procurar sozinha. – Mas na hora que se virou para atravessar a ponte, ela ouviu um gritinho e um splash.

Alexia olhou para o rio, desesperada, e viu Lynn passando por baixo da ponte e lutando contra a correnteza, até que afundou. A alquimista estendeu a mão e fez a água jogar a menina na margem. Lynn sentou, tossiu, com os cabelos prateados e as roupas pingando, e olhou para ela, rindo.

— Eu disse que você me salvaria. – Alexia soltou um grunhido irritado e andou pela ponte até a margem oposta. Ela precisava era de uma boa noite de sono na estalagem da cidade antes de começar a procurar pelo tão desejado Quinto Elemento.

►♦◄

Pelas próximas três semanas, Lynn não deixou que Alexia andasse sozinha na cidade por mais que cinco minutos. A garota alegava que, se não estivesse do seu lado, aqueles caras de antes voltariam para atacá-la. Mas, na realidade, parecia que ela estava a vigiando.

O boato de que Alexia era uma tetralquimista – termo oficial para alquimistas raros que manipulavam os quatro elementos – se espalharam como fogo num palheiro, e isso fechou ainda mais os moradores. Por isso, ninguém ousou abrir a boca para falar sobre o Quinto Elemento, o que dificultou ainda mais seu trabalho.

Enquanto ela procurava por pistas nos lugares mais remotos da área da cidadela, Lynn a seguia. Para uma garota que trabalhava em um bar, ela parecia ter bastante tempo livre – e, também, era inacreditavelmente desastrada. A cada dez minutos ela se envolvia em uma situação perigosa diferente: tropeçar na beira de um precipício, quase ser atropelada por uma carroça, um tijolo de uma casa em construção cair na sua cabeça, cachorros a perseguirem na rua, até se engasgar com um copo de água. Alexia a salvava todas as vezes, com a paciência cada vez menor. Ela não havia ido até aquela cidade para ser sua babá. Mas alguma coisa dentro dela a impedia de apenas deixá-la morrer.

E, todos os dias, Alexia ensinava a Lynn como funcionava o mundo da alquimia – porque, aparentemente, era a única maneira de fazê-la parar de falar e de se meter em confusões. Ela falava sobre troca equivalente, os quatro elementos, a lenda da Pedra Filosofal, átomos e matéria, equilíbrio e natureza. Coisas que, devido aos seus quinze anos de estudo de alquimia, estavam gravadas no fundo da sua mente, e repeti-las em voz alta teve um efeito agradável, como se ela estivesse tirando um livro empoeirado de uma prateleira e folheado-o.

— Os três objetivos da alquimia, nos velhos tempos, eram transmutar metais de menor valor em ouro, produzir o Elixir da Vida e criar humanos artificiais, os homunculi. Atualmente, existe o quarto objetivo, que é a descoberta do Quinto Elemento – Alexia falava, enquanto as duas caminhavam por uma rua no centro da cidade, onde estava ocorrendo uma feira. Ou melhor, Alexia andava e Lynn saltitava atrás, sorvendo cada uma de suas palavras, como se fosse um cachorrinho muito animado.

— Como seriam os humanos artificiais?

— Eles teriam doze polegadas, e surgiriam da fecundação de um ovo de galinha com... – Alexia sentiu alguma coisa puxar seu casaco, e ela olhou para baixo, confusa. Uma criança estava puxando suas roupas, timidamente.

— Ah... srta. Alquimista? – o menino disse, olhando para ela e para os lados, como se não quisesse que alguém descobrisse o que fazia.

— Sim? – Alexia agachou para ficar na mesma altura que ele. Lynn olhou para ela, surpresa, com cara de “Como assim você é mais gentil com crianças do que comigo?”. A alquimista apenas revirou os olhos.

— Lynn! – alguém gritou, no meio da multidão, e Alexia reconheceu o senhor que administrava o bar onde Lynn trabalhava. Ele lutou para chegar até a garota. – Venha, eu preciso da sua ajuda nas compras desse mês. Vamos, vamos! – E puxou-a pelo pulso. Lynn tropeçou atrás dele, mas não teve escolha a não ser segui-lo.

— Ótimo, ela não está mais aqui. – Alexia virou para a criança. – O que ia dizendo?

— Eu... Eu ouvi dizer que você está procurando o Quinto Elemento...

Alexia assentiu. Nervosa, a criança puxou a manga do seu casaco e a conduziu até um beco vazio. Eles encostaram nas paredes do beco, um de frente para o outro.

— Eu preciso falar rápido, porque mamãe tá me procurando. – Ele olhou para a rua mais uma vez antes de voltar sua atenção para Alexia. – Todo mundo tá dizendo que você é do mal pelo que você fez com aqueles caras esses dias, mas um deles... O baixinho... Ele vive perseguindo minha mamãe, querendo casar com ela desde que papai morreu, pouco depois que eu nasci. Eles são caras maus, por isso eu fiquei muito feliz quando você deu uma lição neles, que nem uma super heroína!

Alexia piscou, surpresa. O que ela tinha feito fora mera autodefesa, nunca imaginou que uma criança a confundiria com uma salvadora ou algo assim. Mas ela se impediu de falar isso quando viu seus olhos brilhantes de admiração. Droga.

— Então, pra te agradecer, eu queria te falar sobre o motivo do boato sobre o Quinto Elemento, pra ver se te ajuda. – Ele abaixou o tom de voz, obrigando Alexia a se inclinar para ouvi-lo. – Há muito tempo, diziam que numa caverna que fica nas montanhas pra lá – Ele apontou para o leste. – existe um tipo de teste de sacrifício que, quem passar, consegue o Quinto Elemento, mas até hoje ninguém passou.

Alexia olhou para lá. Ela nunca tinha cogitado as montanhas, mas valia a pena tentar.

— Agora eu tenho que voltar. – O menino sorriu para ela, sem um dos dentes da frente. – Boa sorte, srta. Alquimista!

E saiu correndo. Alexia suspirou. Aquela criança a lembrava da pessoa que deixou pra trás...

— Alexia! – Lynn chamou por ela, abrindo caminho na multidão e carregando várias sacolas. – Ele está me fazendo de escrava, me ajuda! Espera... Que cara estranha é essa? O que eu perdi?

— Nada. – Alexia disfarçou. Lynn pareceu meio desconfiada, mas não disse nada e deu-lhe algumas das compras para carregar. A alquimista, distraída, apenas manipulou o ar para fazê-las flutuarem. Finalmente, ela conseguira uma pista, e tomaria o poder do Quinto Elemento, custe o que custar.

►♦◄

A caverna era de fácil acesso, porque estava quase no mesmo nível do chão. Não tinha nada de especial, exceto por uma marca na parede do fundo, que Alexia já estava cansada de ver nos livros de alquimia: os símbolos dos Elementos cercando o yin-yang, tudo isso sobre o círculo de transmutação. A única diferença é que o símbolo do Quinto Elemento também estava presente.*

A alquimista deslizou os dedos pelos símbolos dos Quatro Elementos que controlava e observou-os se acenderem um por um. Por último, aproximou a mão do Quinto Elemento, mas foi interrompida por uma voz conhecida:

— Você não deveria estar aqui. – Alexia virou de costas e encontrou Lynn na entrada da caverna. Ela parecia verdadeiramente magoada. Aquilo fez seu coração afundar. Aquela expressão não combinava com a sempre tão alegre Lynn.

— Desculpa, Lynn, mas eu preciso disso. Eu preciso do Quinto Elemento mais do que da minha própria vida.

— Você não entende! – Agora Lynn chorava copiosamente. – O teste de sacrifício é uma troca equivalente! O Quinto Elemento também é chamado de Espírito. Você tem ideia do que é abandonar o próprio espírito, a própria humanidade, para conseguir um poder?

— Então é essa a troca – Alexia murmurou. – Certo. Eu faço.

— Você não é diferente de todos os outros alquimistas gananciosos e sedentos por poder que passaram aqui. – Lynn sacudiu a cabeça, incrédula. – Por um instante, eu pensei que você não seria igual a eles. Droga, eu pensei que seria amiga!

— Gananciosa? Eu? – Alexia gritou, finalmente perdendo as estribeiras. Sabia que era errado ficar tão irritada, mas ela não conseguia evitar. – Eu abandonei minha única família nesse mundo para seguir o sonho de me tornar alquimista, eu não posso abandoná-lo agora!

“Eu fiquei anos longe do meu irmão mais novo para estudar alquimia. Por causa disso, eu não pude cuidar dele como deveria, e ele contraiu uma doença incurável e está internado até hoje. Eu já tentei de tudo, mas nada o cura. Você faz ideia da sensação de ter a única pessoa que ama no mundo tendo sua vida lentamente tragada?

“Eu vou conseguir essa droga de Quinto Elemento e curar o meu irmão, mesmo que seja a última coisa que eu faça!”

Lynn arregalou os olhos, e Alexia pôde reconhecer a culpa em seu olhar. Mas já era tarde. Nunca conseguiria impedi-la.

A alquimista fechou os olhos e pressionou o símbolo do Quinto Elemento. Dor se alastrou pelo seu corpo, e foi tão intenso que ela desmaiou.

►♦◄

Alexia acordou em um lugar completamente branco, sem chão nem paredes. O silêncio era ensurdecedor.

A alquimista andou por um tempo que pareceu interminável, até encontrar uma cabeleira prateada familiar, pertencente a uma figura que estava sentada com as pernas cruzadas, de costas para ela. Alexia sentou ao seu lado.

— Parabéns, Alexia. – Lynn sorriu, com uma expressão sofrida. – Você passou.

— Passei...? Lynn, do que está falando?

— Eu não sou Lynn. Pelo menos não mais.

— Então... quem é você?

— Me chamam de muitas coisas. Éter, Vazio, Essência, Espírito... Mas o meu nome favorito... É Magia. – Ela abriu as mãos e luzes multicoloridas pulsaram entre seus dedos. – Eu sou a Magia, o Quinto Elemento da Natureza.

— Mas... Você é uma garota normal... Não é? – Alexia perguntou, confusa.

— Não, eu sou um mero poder ambulante que usa a própria energia para criar a ilusão de uma garota humana nas mentes das pessoas. Vê? Não sou desprezível? Como eu posso ser capaz de ter sentimentos por alguém quando sequer sou humana? – Ela riu, com a voz trêmula, e tocou seu rosto. Lágrimas escorriam sem parar. – Como eu sou capaz de chorar?

— Eu... – A voz de Alexia falhou. Então o Quinto Elemento estava do seu lado o tempo todo?

— Sabe... Eu inventei o boato do teste de sacrifício. Desde que eu surgi e descobri que sou perigosa, eu me escondi e criei o máximo de obstáculos e provações possíveis para quem quer que me quisesse.

“Primeiro, eu testo sua empatia. Sempre me coloco em situações de risco enquanto a pessoa está por perto, para ver se ela me salva. E você me salvou, todas as vezes.

“Depois, seu poder. Eu sei que o boato da caverna chegaria nos ouvidos da pessoa de alguma forma, então eu a espero lá e observo. Quando ela toca os símbolos, os elementos que ela controla se acendem, e os que não, a atacam de todas as formas possíveis. Se a pessoa não controla água, a caverna vai ficar submersa, e assim por diante. Vários alquimistas já morreram assim, mas eu sabia que você não teria problemas por ser uma tetralquimista.

“Por isso, eu não me desgrudei de você por um segundo. Eu precisava te vigiar para que não fosse para a caverna, mas infelizmente havia duas falhas nesse plano. Um: eu não devia ter sido tão arrogante a ponto de pensar que, só porque eu estava lá, você não descobriria sobre a caverna. E dois: eu não esperava que eu fosse me apegar tanto a você.

“E, quando eu soube que você não desistiu, eu me senti traída e magoada, porque pensei que todo aquele esforço para nos tornarmos amigas e te convencer do contrário foi um desperdício, e que você era apenas como todos os outros alquimistas que só pensam em poder. Emoções muito humanas para mim, não é? Mas, sabe... Alguém que está disposto a abandonar seu espírito por outra pessoa... E ainda é tão poderosa... Creio que seja a merecedora desse poder.”

— Tem certeza? – Alexia perguntou e segurou suas mãos. – Eu não devo ser apropriada. Não percebi que você estava ali do meu lado o tempo inteiro, e com certeza não sou a melhor pessoa desse mundo, porque não reparei que você se sentia assim. Só pensei no meu próprio objetivo.

— O Quinto Elemento merece ter seu descanso final junto com seus outro quatro companheiros, não acha? – Lynn sorriu. Alexia sacudiu a cabeça, incrédula. Isso estava errado. Ela sentiu sua cabeça girar. – Agora você irá acordar. Não se preocupe, seu espírito continua o mesmo.

— E você?

— Lembra? Nada vem sem um sacrifício. Essa é a base da alquimia. Lembre-se disso quando acordar.

A consciência de Alexia começou a oscilar cada vez mais, mas não soltava as mãos dela.

— Eu me diverti muito sabendo sobre alquimia. Obrigada por dar a esse mero poder aqui um pouco das emoções humanas. E, não importa o que você veja quando acordar, nunca se esqueça de que eu estarei sempre com você. Afinal, somos amigas, não somos?

Com o sorriso de Lynn na mente, Alexia acordou, ofegante. O lado esquerdo do seu peito queimava. Ela abaixou a gola da camisa e viu o símbolo do Quinto Elemento marcado na pele, logo acima do coração, e um pouco abaixo de Fogo.

— Lynn, eu consegui! Eu consegui o Quinto Elemento!

Apenas o eco da sua voz a respondeu.

A ausência daquela garota irritante, cuja presença foi tão intensa outrora, doía como um buraco escavado diretamente em seu coração.

A alquimista estava completamente sozinha.

►♦◄

Alexia tocou a testa do irmão adormecido. Ela tinha certeza de que invadir um hospital à noite era crime, mas ela não se importava. A alquimista respirou fundo e pensou: Por favor, Lynn.

As pontas dos seus dedos formigaram, e logo seu irmão, antes pálido e queimando em febre, ficou com suas bochechas coradas e temperatura reduzida. O Quinto Elemento ainda era um mistério para ela, mas com certeza funcionava.

De repente, os olhos do menino abriram, e ele piscou.

— Mana...? É você...?

— Sim. Eu voltei. Desculpa. Eu consegui, Noah. Eu consegui dominar os Cinco Elementos. – Falar aquilo em voz alta era estranho, e lhe dava uma misteriosa sensação de satisfação. – Agora, você nunca mais vai precisar se preocupar com nada, porque a sua mana vai te proteger, pra sempre.

— De verdade? – Noah perguntou, movendo as mãos e braços, só para ter certeza de que estava realmente curado. Então, se jogou nos braços da irmã e afundou o rosto em seu peito. Alexia o abraçou com força, à beira das lágrimas. – Mana! Você tá doente?

— O quê? – a alquimista perguntou, confusa. Noah se afastou e arregalou os olhos.

— Aqui. Seu coração. Ele não tá fazendo tum, tum, tum. Ele tá tipo tum tum, tum tum, tum tum. Como se tivesse outro coração ali dentro! Você tá doente, mana?

Alexia colocou a mão sobre o peito, em cima da marca do Quinto Elemento. Era verdade. Seu coração batia normalmente mas, por cima, a marca pulsava, como se tivesse batimento cardíaco próprio.

— Não, a mana não tá doente. – Ela bagunçou seus cabelos. – Ela só ganhou um novo coração para cuidar. De alguém importante.

O Quinto Elemento. Um elemento lendário, cuja existência ainda não foi cem porcento comprovada. Chama-se de Éter, Vazio, Essência, Espírito, Unidade, Equilíbrio, Magia. Mas, também, significa Coração – que, na alquimia, significa “o conjunto de emoções que fazem um ser humano”


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Notas finais do capítulo

*Os símbolos dos elementos que aparecem na parede da caverna são as imagens da capa~~
E aí? Gostaram? Me acharam doida? Comentem!
Beijos de Mel ^^



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