Você devia saber, eu te odeio.

Odeio todo o seu ser, sempre odiei, acho que você sempre soube, pois fiz questão de deixar bem claro. Odeio ouvir sua voz arrogante, principalmente quando dissertava sobre suas próprias qualidades, ou sobre as habilidades que insistia em mostrar naquele tatame. Afinal, você sempre foi exibido, não é? Sempre orgulhoso. Adorava encher meus ouvidos sobre os campeonatos de judô que participava, que sempre lhe faziam trazer medalhas para casa. Aposto que ainda se lembra, com detalhes, de todos os oponentes que enfrentou nas finais para que pudesse ser merecedor de cada uma delas.

Odeio sua aparência, seus cabelos castanhos, sua pele alva, seus traços rígidos, seus dedos longos e seus olhos sem cor. Odiava quando invadia o banheiro, parava ao meu lado em frente ao espelho e nos comparava, fazendo poses à medida que enaltecia o fato de que seus cabelos sempre estavam mais longos e bem-cuidados que os meus; que os seus olhos, cujos uma falha genética os faziam serem tão cinzentos ao ponto de tornarem-se brancos, eram muito mais chamativos e especiais que os meus normais e sem-graça castanhos-escuros; que os traços de seu rosto lhe faziam parecer muito mais durão do que realmente era, bem ao contrário dos traços finos do meu, que você dizia não condizir com a minha personalidade, que muitas vezes chamava de assustadora, nem com meu sonho de infância de ser policial.

Odeio seu corpo. Odiava quando seus braços fortes enlaçavam minha cintura, me pegando de surpresa, e também quando eu te flagrava sem camisa, e notava que seu abdômen continuava sendo muito mais definido que o meu, embora eu sempre passasse ao menos uma hora à mais na academia.

Odeio sua personalidade, o jeito que agia tão rígido e calmo, sempre sério, até entre nossos amigos, mas se tornava um bobo apaixonado quando estávamos sozinhos, sempre buscando meios de me fazer rir. Odiava a forma como beijava minha bochecha antes de cada viagem, e pedia para que eu lhe desejasse boa sorte, e sua preocupação exagerada e insistente quando o inverno chegava, que acabava me fazendo vestir quantos casacos coubessem, apenas pelo risco de pegar um resfriado.

Se quer saber, odeio tanto você, tudo em você, que não sei como te explicar. Odeio seu sorriso convencido e sua forma de falar, seu hábito incomum de sempre requentar o café, alegando não ter tempo de fazer um novo pela manhã, mesmo sabendo que tinha. Te odiei desde o dia em que nos conhecemos. Você ainda se lembra como eu estava vestida?  Deve se lembrar, afinal, foi a primeira e última vez que me viu usando um vestido.

Jogamos conversa fora por horas à fio naquela festa, e você me revelou que seu amor e admiração pela liberdade era tão grande que desejava nunca se apaixonar, por medo de se tornar preso a alguém. Quem diria que, anos depois, seria eu a estar presa a você, afinal. Logo eu, a egoísta e individualista Tenten.

Mas, sabe, talvez eu seja mesmo egoísta, Neji, pois agora sei que você está verdadeiramente livre, porém odeio isso. Odeio, acima de tudo, o avião em que você estava naquele dia, o torneio que o fez pegar aquele vôo, a falha no motor, o acidente que tirou você desse mundo. Que te tirou de mim.

E, sinceramente, meu egoísmo me faz te odiar por ter ido embora.

Eu queria que você soubesse, eu te amo.