Dois Tipos de Obsessão escrita por Golden Boy


Capítulo 5
Persistência




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Assim que consegui o pagamento daquele mês em que derrotei o invasor, me demiti do emprego e foquei minha atenção em pegar o parceiro daquele bandido. Saí de meu apartamento alugado e voltei a morar com meu irmão, Michael, e usei tudo ao meu alcance para conseguir emprego numa agência privada de investigação. Comprei um mural de cortiça, fios de nylon e alfinetes, além de imprimir fotos de silhuetas com interrogações. Era um desejo profundo, uma grande piada, de imitar o que acontecia nos filmes quando alguém queria investigar algo.

Sorri quando terminei o mural, embora só houvesse uma foto impressa que eu escrevi “Christian White”, o nome do bandido que eu derrubei. Michael apareceu atrás de mim, e riu um pouco da cena.

— O que tá fazendo? — disse num único fôlego.

— Nada demais, só… — Michael me interrompeu:

— Não importa. Vou comprar umas cervejas pra gente comemorar a reunião dos Schmidt! — ele sorriu, e jogou o punho ao alto. Ri um pouco com ele, e me joguei no computador para pesquisar sobre Christian White. Quando Michael voltou, ainda não tinha encontrado nada. Não havia nada em toda a internet sobre aquele homem! Sem redes sociais, sem manchetes. Nem mesmo a tentativa de invasão ao museu tinha utilizado o nome dele. Decidi que iria até o departamento de polícia na manhã seguinte, e comemorei com meu irmão naquela noite. Ele insistiu em me chamar de Rob, embora eu prefira Robert, e, por fim, deixei que me chamasse assim. Fui dormir bêbado, e acordei melancólico. Era o começo de outubro.

Estava de ressaca naquela manhã. Peguei meu celular e procurei o endereço do departamento de polícia que investigou o roubo do museu. Chamei um táxi, e estava lá antes das dez. Era um prédio pequeno, com menos de cinco andares, um estacionamento ao redor e grades cercando tudo. Passei pelo portão principal, ensaiando o que eu falaria para o investigador. Teria que ser convincente, para que ele me contasse todo o caso. Ele era um homem alto, de cabelo quase grisalho. Vestia uma jaqueta avelã que cobria até seus joelhos.

Seu nome era Looker.

Me apresentei como Rob Schmidt, e torci para que ele não me reconhecesse sem o uniforme de segurança. Ele apertou minha mão com firmeza, e pedi para que nos sentássemos. Ele negou, mas eu insisti. Bufando, aceitou meu pedido e se jogou na cadeira do próprio escritório.

— O que você quer? — perguntou. Seu olhar era fugaz, não se concentrava em nada por muito tempo. Mesmo assim, tentei fazer contato visual enquanto falava:

— Eu era o segurança daquele museu que foi invadido. — disse, sem rodeios.

— Muitos museus são invadidos, garoto. — rebateu Looker. — Espero que essa conversa tenha um propósito.

— Quero visitar o homem que a invadiu. Preciso falar com ele. Até hoje tenho sonhos com ele invadindo minha casa, o barulho do Tyrantrum desmontando…

— Então você quer investigar por si próprio? Tenho mais a fazer do que ficar escutando mentiras mal contadas.

— É claro, tomar café e murmurar conselhos para seus empregados deve ser bem trabalhoso. — ouvi-me dizer. Nem eu acreditava que tinha dito aquilo. Looker parou os olhos dentro dos meus, e, de súbito, suas pernas pararam de se mover. Ergueu uma sobrancelha, e respondeu-me depois de um silêncio considerável:

— Vai morrer antes mesmo de completar esse seu caso, garoto. — completou. — Este é o endereço da prisão. — Suspirando e me entregando um papel com o endereço. Quando estendi a mão para pegá-lo, percebi que estava tremendo. — Direi ao promotor que você está indo. Ele é um grande amigo meu.

♥ ♠ ♦ ♣

 

Falei com o promotor, que me guiou até uma sala de paredes cinzentas. Havia uma mesa no centro, e portas de grade de ambos os lados. Sentei-me na mesa que ficava no centro, e esperei como fui instruído. Ouvi gritos vindo do final do corredor, e me retraí na cadeira. Logo, dois homens apareceram no corredor. Um deles era alto e tinha cabelo negro. Sua pele era pálida como o pelo de um Beartic. Ele tremia nas mãos do outro, que vestia um uniforme de segurança pálido, como todas as cores daquele lugar.

O homem pálido foi jogado na sala onde eu estava, e trancado aqui comigo. Ele me encarou com seus olhos profundos, e se virou para as barras da grade. Bateu contra elas, balançou-as na base e tentou tirá-la do lugar. Quando se cansou, ficou ereto como um homem formal e ajeitou uma gravata invisível. Estendi a mão:

— Sou Robert Schmidt. — disse. Ele se apresentou como Christian White.

Nossa conversa fora muito produtiva. Contei a ele histórias de minha infância sobre pokémon assim que percebi o súbito interesse dele por tais formas de vida. Contei sobre um Fletchling que ia na minha janela todas as manhãs, e em como ele podia produzir fogo com um bater de asas. Contei sobre meu pai, e me interessei pela sua reação. Christian era um completo lunático, e me surpreendia não ter ido para um manicômio ao invés daquele lugar. Por fim, ele mencionou uma mulher de cabelo curto chamada Jenkins. O promotor disse que eu poderia visitá-lo uma vez por semana, e foi o que fiz. A cada dia, entravamos em mais algum assunto.

No halloween, levei a ele doces. Pareceu feliz, e disse que conseguiria mais espécimes. Não perguntei o que aquilo significava. Precisava ganhar sua confiança cada dia mais, até que pudesse tocar no assunto do museu sem que acabasse com todo o progresso que eu havia feito até agora. Ele não disse muito sobre Jenkins, só que ela tinha um rosto sereno e sempre sorria ao falar. Seu cabelo era curto e escuro, e ele usou o próprio como exemplo. Disse que não deixava crescer por causa dela.


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