A Luz que Te Cega, Me Faz Enxergar escrita por Pat Black
Notas iniciais do capítulo
Se não quer saber sobre o final da 5ª temporada, não leia. Está avisado o caro leitor.
A luz que te cega, me faz enxergar
Um soco e Dean se agarrou ao capô do Impala para não cair.
Meu irmão me chama. Ouço sua voz, escuto sua pergunta, mas a resposta não é minha. A resposta que eu queria dar, fica presa dentro da minha mente, aprisionada como eu.
Outro soco e Dean cai.
Lúcifer o ergue e continua a maltratar seu rosto. Como se ali, na face de Dean, residisse realmente tudo o que o anjo caído odeia nesse humano. E destruir a imagem, literalmente, de meu irmão diante de meus olhos, é seu intento, um prazer a que se entrega.
Outro soco, mais outro e outro.
Sinto seus ossos racharem contra os nós dos meus dedos. Ele permite que eu o sinta. Lúcifer, em sua raiva cega contra o que chama de pequeno verme a sua frente, consente-se essa pequena brecha de liberdade.
E como isso dói... Deus! Dói demais!
A cada golpe grito por Dean. Luto para usar aquela pequena abertura ao meu favor. Mas o ser que me prende naquela escuridão, onde pouco de quase nada posso ver e possuir, além daquela sensação de impotência, é tão poderoso que nada mais posso fazer a não ser continuar lutando com tudo que tenho, usando o poder do sangue de demônio a meu favor.
Contudo, esta força que me preenche e ainda não abandonou meu corpo e minha mente, não é o bastante.
Sinto a energia, mas ela não me pertence mais. Experimento o poder, mas ele não me auxilia. Tenho coragem, determinação, estou repleto de tudo de bom que trouxe comigo para esta prisão, no entanto, isso não é nada em comparação às barras que me prendem e me sufocam.
Estou cercado apenas por sombras. Estar com Lúcifer não é como ser arrastado por um cometa. Aqui dentro tudo é calmaria. Vejo e percebo as coisas em câmera lenta. Sinto frio e muito medo. Ele me golpeia o tempo todo também, sufoca-me, paralisa-me.
Lúcifer é como uma grande caixa repleta de interrogações, onde os sentimentos parecem estar guardados a sete chaves. Nada pode ser retirado de seu interior a menos que ele o permita. E ele o faz. Sua arrogância abre fendas, vãos, ínfimos momentos de lúcida consciência e oportunidades.
Ele deixou e pude sentir sua dor ao ver Michael, aliada a um grande orgulho e vaidade.
Ele nunca admitiria que possivelmente fosse derrotado.
Permitiu-me também sentir seu ódio por Dean, assim que a música se ouviu ao longe e a visão do Impala e meu irmão se tornaram algo absurdo...
Deixou-me conhecer sua profunda raiva por Castiel, seu desprezo pelo Bobby e tudo que estes representavam.
E, por fim, o prazer que estava a se proporcionar ao ver meu irmão sofrer, doer, sangrar em minha frente e por minhas mãos.
"Estou aqui e não vou te abandonar." Ouço Dean dizer e repetir.
A força dessas palavras é mais poderosa do que Lúcifer poderia imaginar. Ela confirmam que meu irmão está inteiro outra vez. Mesmo, e até mais, ao ser aos poucos despedaçado.
Dean está comigo, ao meu lado, como sempre esteve e sempre estará.
Soube então que estava buscando forças e poder nas coisas erradas.
Sangue de demônio, determinação, coragem, nada disso iria me fazer mais poderoso do que o sentimento que me tomou por completo no instante em que as palavras escaparam dos lábios de meu irmão mais velho, penetraram a casca corrompida ocupada por Lúcifer e foram acertar minha essência aprisionada.
Foi quando vi a luz... Seu reflexo.
Lúcifer viu muito mais... Ele viu sua Fonte.
E esta, desviou a atenção de meu carcereiro por um momento. Aquele brilho pequeno, mas intenso, na lataria do Impala, fez aquele ser poderoso vacilar e tremer.
Foi o que eu precisava.
Enquanto seus olhos, e seus pensamentos, fixavam-se em algo além de mim e Dean. Em alguma coisa a mais que todo o seu ódio pela humanidade. Enquanto Lúcifer ficou cego a tudo, pude enxergar com clareza.
Deixei que as memórias me invadissem. Permite me engolfar e preencher com todas as lembranças e sentimentos que me definiam e a toda minha vida.
Tudo: Dean, alegria... Dean, família... Dean, amor... Dean, vida... Dean, Dean, Dean... Eu e Dean... Dean e eu... Nós.
Tomar o controle, abrir a cela, a minha e escapar, a de Lúcifer e me prender, foi algo possível.
Liberdade e Prisão se mesclaram em minha despedida.
Não conseguia falar, mas disse adeus com toda a força de meu olhar, e Dean retribuiu com toda a força de sua dor.
Não estava feliz, mas sentia uma indescritível felicidade.
Porque, naquele campo de morte e redenção, pude, pela primeira vez, entender completamente como Dean me amava tão livre de egoísmos, em uma entrega total e sem limites.
E, ao me sacrificar, por ele, apenas por ele, uma paz imensa me invadiu.
***
— Você está com raiva.
— Isso é pouco — Dean respondeu.
— Deus ajudou — Castiel retrucou, convicto. — Talvez mais do que possamos imaginar.
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