Contos de Aurora escrita por Wi Fi


Capítulo 1
Conto Um: Hyiam-Golias.


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Fico bem feliz que algumas pessoas tenham demonstrado interesse na minha história, então aqui estou eu, postando ela. Esse é o primeiro capítulo, em que conhecemos alguns personagens importantes para os próximos contos.
Divirtam-se!



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— Pirata à vista! Pirata à vista!

Nanna saiu correndo assim que ouviu as notícias. Desceu a estradinha de terra da colina onde ficava sua casa como se sua vida dependesse disso e avançou pela cidade na velocidade de um raio. Orion, seu pai, tentava acompanhá-la.

Quando finalmente chegou na praia, ela parou e observou o navio, impressionada. Sorriu de orelha a orelha. Ela puxou o braço de Orion com empolgação.

— Olha, Dada! É o Bela Dona! – Nanna exclamou.

— É claro que é o Bela Dona, eu já deveria imaginar – Orion disse, rindo. Ele bagunçou os cabelos castanhos de sua filha – O Capitão Egeu não te vê há anos. Ele deve estar com saudades.

O dia estava ensolarado em Ethea, e as águas azuis do mar faziam com que várias pessoas da cidade fossem até a praia, curiosos com o navio que havia acabado de chegar.

— Vamos esperar perto do barco. O Capitão Egeu logo vai sair – Orion disse para Nanna – Só me pergunto o que o traz aqui, além de você, é claro.

— Não sabia que tio Ciço ia vir visitar? – perguntou a menina, finalmente desgrudando os olhos do navio e encarando o pai.

— Não, ele não me avisou. Papa certamente vai ficar surpreso...ele e seu tio costumam gerar confusão quando estão juntos. Confusão para mim, no caso. Narciso gosta de provocar.

Nanna deu risada. Em dias de sol como aquele, sua pele –de um tom de marrom nem claro, nem escuro – deixava suas sardas ainda mais visíveis. O vestido verde - azulado combinava com a água e a menina parecia fazer parte do mar – ele era seu habitat natural.

Pai e filha pararam na beira do mar, esperando que algo acontecesse no navio Bela Dona. E aconteceu – ele se aproximou do píer e uma escada de corda foi lançada. Um homem pulou diretamente para a plataforma de madeira, ignorando a escada. Ele caiu de pé sem grande esforço, porque a altura era pequena. O homem usava um chapéu de capitão, velho e remendado, uma camisa suja e um casaco gasto – suas calças e botas estavam em mesmo estado.

— Ah, Orion! E a pequena Nanna! – exclamou ele. Acenou para os dois.

O homem desceu o píer correndo como um raio, e chegou até Orion e sua filha rapidamente. Assim que ele pôs os pés na areia, uma grande onda se quebrou, molhando Nanna. O pirata sorriu, e outra onda se formou.

— Meu querido irmão de outra mãe! – exclamou o capitão, abrindo os braços.

Literalmente irmão de outra mãe. Bom vê-lo, Narciso -sorriu Orion, abraçando o homem – Que águas te trazem aqui?

— Frias, bem frias. Enfrentamos uma geada no Norte e eu resolvi visitar a família antes de seguir caminho para Agristan.

— Agristan? Você vai para Agristan? – perguntou Nanna, empolgada.

— Olá, sobrinha preferida! Mal te vi aí, é tão baixinha! – Narciso Egeu disse, levantando a menina no ar por alguns segundos e depois a colocando de volta ao chão – Cresceu um bocado desde que te vi. Quantos anos tem agora?

— Treze!

— Treze? Minha nossa, você está velha. E como está o querido Cachos de Mel? Sinto falta da presença dele.

— Eli está em casa – Orion respondeu, reprimindo o riso. Cachos de Mel era o apelido que Narciso usava para se referir a Eli, seu cunhado e marido de Orion – Venha com a gente, podemos te oferecer um café e conversar.

— Eu adoraria, mas terei que deixar para mais tarde. Tenho uns assuntos a resolver com a minha tripulação, e depois vou visitar vocês na colina. Por enquanto, mande um oi ao Cachos de Mel – o pirata respondeu, com uma piscadinha.

Ele deu um abraço de despedida em cada um e voltou para seu navio, seguindo o mesmo caminho de antes, mas sempre na borda do mar, de modo que a água salgada sempre estava aos seus pés.

***

Quando Nanna e Orion voltaram para a casinha na colina, Eli estava tomando chá, sentado no jardim, lendo. Ele desviou o olhar do livro e ergueu uma sobrancelha ao ver sua filha saltitante abrir o portãozinho de madeira. Orion apenas deu de ombros e riu.

— Calma aí, querida – Eli disse, puxando Nanna pelo braço para que ela se sentasse ao seu lado – O que aconteceu? Está pulando que nem um coelho.

— Tio Ciço está na cidade, Papa! Ouvimos os vizinhos anunciarem a chegada do navio quando você ainda estava dormindo!

— Narciso? Em Ethea? – repetiu Eli, encarando seu marido – Orion, você sabia disso?

— Não. É uma surpresa para mim também. Mas ele me disse que tem negócios para fazer em Agristan.

— Vocês já falaram com ele?

— Sim! Ele vem para tomar café da tarde com a gente! – Nanna disse, empolgada – Eu vou começar a fazer o bolo...

Ela zarpou para dentro da pequena casa com parede de pedras. Eli suspirou e começou a arrumar seus longos cabelos de maneira quase compulsiva. Orion, notando que ele estava incomodado, sentou-se ao lado de Eli e pôs uma mão em sua perna.

— O que foi? – perguntou Orion – Sei que você e meu irmão não se dão bem sempre, mas não é o fim do mundo.

— Eu sei, só queria que ele tivesse avisado antes. Detesto surpresas.

— Sei disso, querido. Mas vai dar tudo certo, eu preparo o café da tarde. Você só vai precisar ser educado e adorável, como sempre.

Eu não sou adorável— resmungou Eli, fazendo biquinho. Orion sorriu e deu um beijo em sua testa – Orion Golias, não se atreva a chegar perto da comida. Você é um total desastre na cozinha.

— Confia mais em uma criança para cozinhar do que em mim?

— Tenho fortes razões para não te deixar perto de um forno ligado. Você é muito distraído.

— Distraído? Quem?

— Seu bobo – Eli revirou os olhos e empurrou de leve o outro homem – Vou atrás de Nanna. Animada como está, ela vai acabar fazendo cinco bolos.

***

Narciso chegou algumas horas depois do almoço. Apesar de serem irmãos apenas por parte de pai, o Capitão Egeu e Orion eram fisicamente semelhantes – pele escura, cabelos negros compridos e um sorriso brilhante. Ele se sentou no sofá da sala de estar e agora usava roupas mais bem-cuidadas.

Nanna sentou ao lado do tio, ouvindo cada palavra de suas histórias sobre as bizarras terras do extremo norte – sua última aventura – onde o sol nunca se punha, mas ainda assim era frio o tempo todo.

Orion ouvia os contos de seu irmão também, como sempre fazia. Eli, esguio e magro como uma serpente, sentava ao seu lado, levemente encostado no marido. Sua ansiedade inicial havia passado e ele estava satisfeito com a refeição que preparara para dar boas-vindas ao cunhado.

Quando Narciso finalmente fez uma pausa em suas histórias para comer mais bolo e beber café, Orion perguntou:

— Então, o que você tem que fazer em Agristan, irmão?

— Sabia que ia me perguntar isso. Bem, eu falei com nossa querida amiga, a feiticeira Yltaris. Ela surgiu em meu navio durante uma tempestade e nos salvou. Vocês sabem que eu tenho trabalhado com ela há anos – Narciso Egeu explicou, ainda mastigando sua comida – Eu perguntei como poderia agradecer, é claro, uma mulher poderosa como ela precisa ser tratada com o máximo de cortesia. Então ela me disse que eu precisava explorar os mares, visitar as ilhas distantes, mas não sozinho com os outros piratas de nascença. Não, eu tinha que recrutar jovens de todas as espécies para navegarem comigo.

— E por que Yltaris pediria isso? – Eli perguntou, curioso – Em doze anos que eu estive na companhia dela ela nunca se interessou em explorar o mar.

— Eu também não sei – Narciso respondeu – Simplesmente me disse que deixar as portas do Refúgio abertas não era mais suficiente.

Eli pareceu confuso e subitamente absorto em pensamentos. Yltaris era praticamente uma mãe para ele, e em tempos seu relacionamento havia sido bem próximo. Agora, entretanto, Eli não fazia ideia do que a grande feiticeira estava fazendo com seu centro de abrigo e ensino para jovens.

— Quando pretende partir, Narciso? – Orion perguntou.

— Ficarei aqui mais três dias, e parto para Agristan em três dias. Já passei por outras cidades ao Sul e Agristan vai ser minha última parada para recrutar jovens destemidos – respondeu o pirata – E então começaremos nossa jornada. Mathilda está no navio agora, com a tripulação toda.

— Tilda Coração-Bom e Capitão Narciso, o Louco, juntos novamente – Eli comentou – Clássico, não é?

— Quem seria melhor do que ela para me ajudar a cuidar de crianças? E é “Capitã” Tilda. Ela só aceitou vir se estivesse no comando também.

— Ela realmente te deixa submisso, não é? – Orion provocou.

— Meu caro irmão, se você conhecesse a Tilda como eu conheço, saberia porque eu não tento brigar com ela.

— Quem é Tilda Coração-Bom? – perguntou Nanna, apertando o sofá com sua animação.

— Seu nome é Mathilda Belacqua. Ela é uma antiga amiga, da época em que eu e seus pais éramos aventureiros. Mulher fascinante, sabe navegar como poucos.

— E eles já namoraram – Orion acrescentou. Eli deu risada e Narciso resmungou.

— Foi muito tempo atrás...mas isso não importa. Ori, Cachos de Mel, eu tenho uma proposta para vocês.

Silêncio. O casal se entreolhou, apreensivo. O pirata tinha um brilho nos olhos que só podia ser sinal de encrenca.

— Diga – Eli decidiu, com um suspiro de arrependimento prematuro.

— Eu quero que Nanna vá comigo para os mares. Quero levar minha sobrinha em sua primeira aventura.

— É sério? – gritou a menina, pulando do sofá – Papa, Dada, eu posso? Por favor! Eu tenho que ir!

— Querida, nós temos que conversar sobre isso, não podemos deixar do nada – Orion respondeu, lançando um olhar severo ao seu irmão mais velho – Tio Narciso vai ficar longe por muito tempo...

— Mas eu quero ir! Vai ser uma aventura! Eu sempre quis ir em uma aventura!

— Não sei se é uma boa ideia, Nanna...Papa e eu vamos conversar sobre isso e depois te falamos.

***

— Ela não pode ir, Orion.

Narciso havia voltado para o navio e já passava do horário de Nanna dormir, então a menina estava em seu quarto. Orion e Eli conversavam no quarto do casal, enquanto colocavam seus pijamas.

— Por que não? – perguntou o outro – Nanna está se tornando adolescente, é hora dela viver um pouco.

— Ela ainda tem treze anos, é nova demais.

Você tinha treze anos quando saímos para nossa primeira exploração com Yltaris.

— Eu tinha quatorze. E eu não tinha família nenhuma, ninguém ia se importar se algo acontecesse comigo. Além disso, eu havia passado minha vida toda com Yltaris, eu já tinha mais preparo. Já Nanna nunca teve nenhuma experiência.

— Isso não é verdade.

— Qual parte não é verdade? – retrucou Eli, cruzando os braços.

Os dois se encararam em silêncio. A diferença de altura entre eles era cômica: Orion tinha quase dois metros de altura, enquanto Eli era um pouco mais alto que Nanna. Não podiam ser mais diferentes em aparência, um parecia ser o completo oposto do outro em todos os aspectos da vida.

— Tudo o que você disse não é verdade. Yltaris te acolheu como um filho, tinha muitos amigos no Refúgio, e eles eram sua família – Orion respondeu, sentando-se na beirada da cama – E nós não deixamos Nanna totalmente de fora. Ensinamos pequenas coisas e ela cresceu envolta em nossas histórias de explorações das Terras Altas. Não acha que isso foi importante em seu aprendizado?

— Mas ela estará sozinha em alto-mar.

— Ela estará com Narciso e Tilda, com outros piratas experientes e com outros jovens.

— Não sabemos o que ela vai poder encontrar, Orion, o oceano é mais perigoso...

— Mais perigoso que andar pelo interior do continente sem rumo? Eli, você viveu o que eu vivi. Nós andávamos por dias, perdidos, a mercê de bandidos e assassinos. E mesmo quando as coisas davam errado, nós resolvíamos.

Eli começou a andar pelo quarto, seus passos ressoando no piso de madeira. Ele mexia no cabelo novamente. A luz do cômodo era pouca, e deixava o lado esquerdo de seu rosto, que era deformado por causa de uma cicatriz, com uma aparência fantasmagórica. As chamas das velas brincavam com as sombras, e a cicatriz parecia se mexer.

— Não podemos deixar a nossa filha ir desse jeito, pense em tudo o que pode acontecer com ela.

— Você está exagerando.

— Eu só estou sendo um pai responsável! – esbravejou o mais baixo. Silêncio. Orion esfregou as têmporas com a ponta dos dedos e suspirou.

— Então quer dizer que eu não sou responsável?

— Não foi o que eu disse.

Eles ficaram em silêncio novamente. Suspiraram em sincronia e desviaram o olhar.

— Pense na felicidade dela – Orion disse – Não viu o quão empolgada ela estava? Nós não fazemos de tudo para deixar nossa filha feliz?

— É claro que eu quero ela feliz. Mas quero que ela volte para casa sã e salva. Orion, eu não conseguiria dormir uma noite enquanto ela estivesse fora...

A conversa foi interrompida por uma batida na porta. Eli abriu e ali estava Nanna, de camisola, bisbilhotando a conversa dos pais.

— Nanna, o que está fazendo? Vai dormir – disse Orion, esticando o pescoço para vê-la.

— Vocês estão brigando por causa de mim – a menina respondeu.

— Não estamos brigando, querida. Estamos conversando, como adultos – Eli explicou.

— Bem, eu conseguia ouvir a voz de vocês dois. Estão gritando e nem perceberam. Papa, por favor, me deixe ir.

— Nanna, é perigoso.

— Não, não é! Vou estar com o Capitão Egeu! Por que você sempre tem que ficar paranoico com tudo? Eu não vou deixar de ir na primeira aventura da minha vida só porque você é um maluco exagerado!

Nanna, já chega. Está de castigo. Volta para o seu quarto agora, você não vai poder sair de casa amanhã – Eli repreendeu, ríspido.

— Dada! – a menina se virou para o outro pai.

— Obedeça a ele, Nanna. Conversamos pela manhã.

Orion se levantou e foi levar a filha até o quarto, fechando a porta e deixando Eli para trás.

***

Orion estava deitado no sofá da sala, e observava o céu pela janela. Ele sempre gostou das estrelas. Quando ele, Eli e outros amigos saíam para explorar as montanhas, as estrelas serviam como referência de direção, como companheiras fiéis e silenciosas espectadoras de sua vida. Afinal, elas sempre estariam lá.

O homem tomou um gole do seu chá. Por mais bruto que parecesse fisicamente, Orion amava a delicadeza do chá. Era seu remédio para todos os problemas da vida.

Depois de cerca de uma hora em silêncio, ele ouviu passos vindos da escada e imediatamente reconheceu que eram os passos de Eli. Seu marido logo surgiu em seu campo de visão, de cabeça baixa.

— Sente-se, eu quero conversar.

— Consigo conversar deitado.

Eli ergueu uma sobrancelha. Orion deu de ombros e obedeceu, para que o outro pudesse sentar ao seu lado.

— Só estava brincando. O que foi?

— Eu me acalmei um pouco, eu acho.

— Isso é ótimo.

— Você realmente acha que a Nanna vai ficar bem sozinha?

— É claro que acho. me preocupo com ela, Eli, é óbvio que me preocupo. Vocês dois são as coisas mais importantes da minha vida – Orion respondeu - Mas eu sei que nós dois criamos Nanna bem, e que é hora de termos confiança na nossa filha, mesmo que isso pareça assustador.

Eli cobriu o rosto com as mãos por alguns segundos e depois abriu os braços, em um gesto de desistência.

— Você está certo – disse ele – E Nanna está certa. Eu fui tomado pelo medo e a ansiedade, como sempre faço. Patético.

— Não, você não é patético. Você não controla seus pensamentos, é normal ficar com medo. Mas estamos lidando com isso, e essa é a parte importante.

Orion puxou Eli para perto de si com um único movimento brusco, o que fez o homem mais baixo dar risada.

— Obrigado – disse Eli – Eu te amo.

— Eu te amo também, tonto.

— Quando vamos contar para a Nanna?

— Pela tarde, eu acho. Ela ainda está de castigo, foi muito grosseira com você.

— Ela nunca foi assim – murmurou Eli, preocupado.

— Treze anos, ela é adolescente. As coisas só ficam piores, você não lembra de quando tinha treze anos?

— Foi muito tempo atrás.

— E você não cresceu muito desde então.

Como resposta, Orion recebeu apenas uma almofada no rosto.

***

Dois dias depois, Nanna Hyiam-Golias estava a bordo do Bela Dona, malas em mão, casaco e chapéu. Acenou para o pais enquanto o navio se distanciava da praia. Havia prometido escrever para eles toda vez que chegassem em uma cidade nova.

— Muito bem, Nanna – Capitão Egeu disse, dando um tapinha no ombro da sobrinha – Bem-vinda ao mar.

O navio estava ocupado por homens e mulheres da idade do Capitão, que já eram membros da tripulação do Bela Dona há anos. Mas agora, adolescentes e jovens adultos se juntavam a eles. Como Ethea era um povoado humano, a maioria dos recém-acolhidos eram dessa raça. Alguns eram mestiços – misturas de humanos com druidas, como era o caso de Orion e Narciso, ou meio humanos e meio anões, meio humano e meio elfos, era difícil dizer apenas olhando. As diferenças físicas eram poucas para os povos humanoides, e a verdadeira natureza de um indivíduo só era revelada através de conversa.

— Você é a famosa filha de Orion e Eli? – uma voz feminina disse, vinda de trás de Nanna.

A menina se virou e viu uma mulher que acreditou ser Capitã Tilda Coração-Bom. Ela era baixa e gorducha, tinha pele bronzeada pelos dias no navio, embaixo do sol. Seu cabelo mal era visível por baixo do chapéu de Capitã. Seus olhos eram verdes e castanhos como uma tartaruga.

— Sou eu mesma, senhora – respondeu Nanna, prontamente.

— Eu conheci seus pais há muitos anos. Eli é um gênio – disse Tilda – E Orion é um bom homem, tenho orgulho de poder dizer que sou sua amiga. Embora ele pareça demais com Narciso, de vez em quando.

— Muito engraçado, capitã – resmungou o pirata, que se aproximava – Nanna, desça para as habitações. O quarto da esquerda é para as mulheres. Encontre uma rede para você e deixe suas bolsas dentro dela.

— Sim, senhor!

Nanna atravessou o convés e abriu a porta que levava às escadas. O lugar era escuro, pois nenhuma janela o iluminava, e a menina desceu degrau por degrau, para não cair. No final da escada, viu três portas. Seguiu pela da esquerda e se deparou com um quarto grande, iluminado por algumas tochas, cheio de pilares com redes presas neles.

Algumas garotas já estavam lá, conversando e arrumando seus pertences. Nanna seguiu até o fundo do quarto, perto da parede, e colocou sua mala dentro da rede.

Sua vizinha, uma menina que parecia ser alguns anos mais velha, a observava, em silêncio. Nanna só a notou por causa de seus olhos: eles brilhavam na penumbra, como fogo, só que branco.

— Está procurando alguma coisa? – perguntou Nanna.

— N-não, desculpe, eu estava distraída. Como você se chama? – respondeu a garota. Seus olhos se apagaram, e voltaram a um tom normal de verde.

— Nanna. Nanna Hyiam-Golias. Sou sobrinha do Capitão Egeu.

— Uau, que incrível! Sou Alma Cassandra, prazer – as duas trocaram um breve aperto de mãos – É de Ethea?

— Sim, moro na colina, com meus pais. Nunca te vi por aqui.

— Eu sou de Auano, no sul.

— Nunca saí das Terras Médias – Nanna disse, interessada na garota – Como é o Sul?

— Depende de onde você vai. Auano é cheio de pântanos, é úmido, temos muitos sapos. Moro com minhas mães numa palafita, elas amam viver no meio do nada.

— Deve ser bonito, pelo menos.

— É, é sim – Alma deu de ombros – Acho que eu acabei me acostumando demais com o lugar.

Capitã Tilda Coração-Bom apareceu no quarto, batendo nas paredes de madeira a anunciando que o almoço estava servido.

Nanna e Alma subiram juntas e ao chegar novamente ao convés, foram tomadas por uma lufada de vento, que fez com que as duas tivessem os rostos cobertos por seus cabelos. Rindo, elas deram as mãos e correram até a grande mesa colocada no centro do piso, com uma mistura de carnes e frutas, prontas para serem devoradas.

Sentada, entre uma mordida e outra, uma conversa e outra, esperando sua vez de falar, Nanna olhou ao seu redor. Ethea era uma sombra ao fundo. Seus pais, seus amigos, tudo que ela conhecia, muito longe. Ao lado e à frente, o oceano, frio, azul, misterioso e emocionante.

Seu futuro estava ali.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o primeiro "conto" pessoal! E aí, o que acharam? Vivo de comentários, então mesmo que seja um "Gostei, continua!" eu fico felizinha. Quero saber o que acharam dos personagens!
(OBS: Eu amo demais o Orion e o Eli então já se preparem para umas cenas bem bonitinhas entre eles)



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