Bloodline escrita por Nightshade


Capítulo 1
Perigo




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Eu sempre fui uma garota comum; bem, talvez quieta demais para o padrão 'comum', o que fez com que meu pai me levasse ao psicólogo por preocupação de algo realmente estar errado comigo. Mas ele estava apenas sendo exagerado, como todos os pais são. Minha mãe morreu no dia em que nasci. Meu pai quase nunca estava em casa, sempre focado no trabalho, por isso nunca tivemos uma conexão pai-e-filha real. Mas isso não impediu que eu ficasse completamente devastada com sua morte repentina. Acidente de trânsito.

Chorei durante seu funeral, chorei depois de seu funeral e chorei durante a audiência que passava a minha guarda para meu tio James, irmão mais velho de minha mãe. Após chorar tanto, consegui estar de olhos secos na manhã cinzenta do final de setembro em que me vi parada em frente a casa de meu tio.

James Grey era um homem de rosto severo e olhos gentis. A primeira coisa que disse para mim foi que eu me parecia com minha mãe, Anne. Apesar de em todos os meus 17 anos de vida nunca tê-lo visto, gostei dele de primeira; sua presença era reconfortante para mim. Eu não sabia exatamente em que ele trabalhava, mas acredito que era detetive particular. Nunca fui uma pessoa intrometida.

Fui facilmente matriculada em uma nova escola, na qual, me doía admitir, eu estava nervosa a começar. Mas tudo correu bem, ainda mais por conta da amizade que fiz com Katherine Sawyer.

Kate era uma garota de cabelos vermelhos tingidos e olhos grandes de um lindo tom âmbar. Seu estilo era meio gótico, com maquiagem marcando fortemente os olhos e roupas escuras. Ela estudava na mesma escola que eu e morava na mesma rua que tio James. As pessoas estranhavam nossa amizade, mas não comentavam nada. Kate passava a impressão de ser uma típica rebelde sem causa, mas a verdade era que ela era muito acolhedora. Em uma semana se tornou minha melhor amiga.

Duas semanas após eu ter ido morar com tio James, chegou um dia em que ele estava agitado e recebendo telefonemas. Algo com certeza estava errado e naquela sexta-feira, após chegar da escola, o encontrei arrumado para sair e tive minha resposta. Ele precisaria ficar fora da cidade durante o fim de semana para ajudar um amigo em um caso.

Bem, ele estava me considerando responsável o suficiente para não me matar por acidente, e não depressiva o suficiente para me matar de propósito, já que havia decidido que eu poderia ficar esse fim de semana sozinha. Ele deixou números de telefones presos à geladeira e dinheiro para emergência. Me deu permissão para ir para a casa de Kate, se quisesse, mas frisou várias vezes que era para eu tomar cuidado a noite.

Me despedi de tio Jim apoiada no batente da porta, enquanto observava seu carro sumir na rua. Voltei para dentro de casa, suspirando, prevendo que iria passar o resto do fim da tarde comendo pipoca e assistindo qualquer maratona de filmes que estivesse passando na TV.

Não sei exatamente quando peguei no sono, mas acordei ouvindo batidas na porta da frente. Me levantei, um pouco atordoada; o sol estava quase se pondo por completo e na TV passava o filme Nosferatu. Esse era mesmo muito antigo. Mais uma vez soaram batidas na porta e eu fui até ela.

— Nós vamos sair. - disse Kate, entrando assim que abri a porta. Ela vestia uma calça comprida preta de couro que combinava perfeitamente com suas botas de salto e a blusa preta de gola alta. O preto de suas roupas destacavam o vermelho escuro dos cabelos.

— Nós vamos? - franzi o cenho.

— Sim, por que? Você tem algum compromisso? - ergueu uma sobrancelha.

— Acho que tinha, com Nosferatu. - apontei para a televisão e Kate franziu o nariz.

— Vampiros não são assim. - disse, e em seguida me arrastou pelo braço escada acima em direção ao meu quarto - Vamos a um bar, não é muito longe daqui. Bandas costumam tocar lá e raramente acontecem acidentes. Sunset Night Club. É meu favorito.

— Eu não conheço. - murmurei, e era verdade. Na realidade, eu não havia feito nenhum esforço para conhecer as redondezas.

Me sentei na cama, observando minha querida amiga revirar meu guarda-roupa franzindo o nariz. Aparentemente, nenhuma de minhas roupas eram dark o suficiente. Depois de alguns segundos ela parou e olhou para mim, perplexa.

— O que ainda está fazendo aqui? Vai tomar um banho enquanto eu arranjo uma roupa para você.

***

Assim que cheguei no bar, soube instantaneamente que aquele era um lugar do qual eu não iria gostar. Uma banda tocava rock em um palco e as pessoas - garotas, em sua maioria - gritavam e pulavam ao ritmo da música. Nos cantos, algumas outras pessoas conversavam. A área do balcão das bebidas estava vazia, salvo pelo barman que limpava um copo distraidamente.

Foi pra lá que eu fui, sem nem pensar duas vezes e nem olhei para ver se Kate me seguia, mas por sorte me seguiu.

— Não acredito que deixei você me arrastar até esse lugar! - reclamei assim que ela se sentou ao balcão ao meu lado.

— Eu que não acredito que você vai desperdiçar a sua noite aqui. - ela se endireitou no banco - Por que não vai dançar um pouco?

— Eu não quero. Se quiser, pode ir você! - eu iria dizer mais, porém nesse momento o barman se aproximou.

— O que vão querer? - ele perguntou, entediado.

— Vodka, sem gelo. - Kate nem ao menos hesitou.

Franzi o cenho para todas as opções de bebida que tinha.

— Um copo de água, por favor. - falei, recebendo um olhar incrédulo do barman e de Kate.

— Água? - ela guinchou, quando o barman foi buscar nossas bebidas - É sério?

— Sim. - falei - É sério.

Quando nossas bebidas foram entregues, Kate virou a dela de uma vez só. Eu apenas encarei minha água de forma carrancuda.

— Eu vou dançar. - ela apontou para algum lugar que eu não olhei - Tome cuidado.

"Tome cuidado"! Como se eu fosse uma criança! O pior foi que uma nova música começou e o pessoal gritou mais alto. Fiz uma careta e abaixei a cabeça no balcão.

Que inferno!

Senti dedos frios correrem levemente por minha nuca, fazendo com que eu me arrepiasse. Ergui lentamente a cabeça e encarei o homem ao meu lado no balcão.

— Olá, lindinha. - sua voz é envolvente. Ele não parece muito mais velho do que eu, tem cabelos escuros e olhos frios. Normal em aparência, apesar de muito bonitos, mas algo nele me deixava desconfortável - Qual o seu nome?

— Alexandra Ashwood. - me forcei a falar.

— Bem, Alexandra Ashwood, você gostaria de dançar? - ele perguntou, seus dedos frios abaixaram a gola alta de meu vestido.

— Sinto muito. - tentei manter minha voz estável - Eu já estava de saída.

Não me importei em parecer rude e nem em estar saindo do bar sem Kate; eu confiava em minha noção de direção o suficiente para lembrar o caminho que fizemos para vir para esse lugar. Andando apressadamente pelas ruas, agradeci mentalmente por minhas botas não terem saltos. A rua estava deserta.

E então eu fui jogada fortemente na parede de um beco. Gritei e encarei a pessoa que me mantinha presa fortemente. O cara do bar! Eu estava certa em não ter ido com a cara dele! Mas ele de tão pálido quase brilhava a luz da lua e presas afiadas desciam de sua gengiva. Não, não, não! Vampiros não existem! Eu estava sonhando... Era um pesadelo.

Ele inspirou enquanto me segurava contra a parede;  suas mãos eram fortes, gélidas e agressivas.

— O seu aroma é tão maravilhoso quanto o seu rosto. - ele aproximou as presas de meu pescoço - Fique parada e prometo que não irá doer tanto.

Senti lágrimas subirem aos meus olhos, mas então subitamente o vampiro psicopata foi lançado longe de mim. Caí no chão, tremendo. Ouvi alguns barulhos estranhos e então tudo ficou quieto. Suspirei e abri os olhos.

Nada. Não havia ninguém na minha frente. Sentia meu corpo doer e voltei a apertar os olhos.

— Deixe eu te ajudar. - uma voz masculina disse.

Abri os olhos pela segunda vez e vi um cara alto, de cabelos ondulados e loiros, estendendo a mão para mim. Ainda tremendo, a segurei, e em um segundo me vi de pé. Suas mãos também eram gélidas, como as do psicopata. Arregalei os olhos, enquanto ele estreitava os dele.

— Obrigada por ter me salvado. - soltei.

— Quanta presunção. - sua voz era seca, enquanto ele me rodeava - Achar que eu salvei a sua vida. - ele parou em minha frente, e se aproximou lentamente, dando um sorriso maldoso.

— Você também é? - perguntei, mal escondendo meu pânico, enquanto andava para trás.

— Eu também sou o que? - ele perguntou, parando em minha frente enquanto eu batia com as costas na parede.

— Como aquele cara. - sussurrei, o observando enquanto ele tomava minha mão com a sua, gélida, e forçava meu dedo contra a ponta de um ferro solto do beco - Ah! - senti dor.

— Diga. - ele ergueu meu dedo ensanguentado e o olhou, como se fosse uma coisa digna de atenção - O que eu sou?

— Um-Um... - eu olhei enquanto ele levava meu dedo até seus lábios e sugava o sangue dali. Um arrepio percorreu minha espinha - Vampiro...

Ele soltou lentamente a minha mão, ainda sorrindo, e se aproximou mais de mim. Segurou meu cabelo delicadamente e correu seu nariz por meu pescoço. Fiquei estática, sem me mover e tremendo.

— Riley estava certo, seu aroma é tão agradável quanto seu rosto. - ele murmurou ao meu ouvido, e eu prendi a respiração. Ele deu uma risada - Mas não se preocupe, Alexandra Ashwood, o seu sangue não é o suficiente para saciar a minha cede. - desdenhou, e em seguida se afastou de mim - Você, de todas as pessoas, não deveria estar aqui. Achei que soubesse disso. - eu honestamente não sabia do que ele estava falando, e nem como ele sabia meu nome - Mas como ia saber? - ele continuou - Aparentemente, não sabe nem se manter viva.

Ele se afastou por completo de mim e se virou para ir embora, com o casaco preto e longo farfalhando atrás de si. Apertei minhas mãos nos tijolos atrás de mim.

— Parece que temos isso em comum, não? - exclamei, em uma tentativa de reaver meu orgulho.

Ele se virou para mim mas uma vez, seus olhos pareciam completamente negros na escuridão.

— Vá para casa, Ashwood. - ele disse e avançou em minha direção.

Gritei e ergui os braços para me proteger, mas ele havia desaparecido em névoa antes de chegar até mim.

Não precisei de mais nenhum incentivo, disparei em uma corrida insana e não parei até chegar em casa.


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