Escolhas escrita por FranMachado


Capítulo 5
Expectativas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739140/chapter/5

Março de 2005 

Faz um mês e meio que cheguei a Tubarão, estou quase adaptada ao lugar, sempre pensei que o ser humano é adaptável em qualquer situação. Tenho meu próprio quarto numa casa de seis cômodos, que fica próximo a faculdade, tenho meu carro e privacidade. Gosto dos meus companheiros de casa, são super gente boa, dividem as tarefas sem problemas, me acostumei rápido a eles.

Fui a faculdade entregar todos os papeis e me matricular como caloura no curso de Ciências Contábeis, há algumas semanas atrás, é começo de março e as aulas começam na semana que vem, estou ansiosa. Meus colegas de casa, gosto de chama-los assim não chamaria eles de amigos, ainda, não confio nas pessoas com tão pouco tempo para terem esse titulo, já estão em fases mais a frente, sou a única caloura e eles vivem me lembrando disso.

— O caloura, quer ir no bar hoje? – perguntou Rodrigo, o homem da casa, se sentado ao meu lado no sofá, posso sentir o cheiro do perfume dele, é gostoso.

Rodrigo é bem gatinho, alto, bom para quem tem 1,58m como eu qualquer um é alto, com olhos verdes e cabelo queimado de sol, ele está na 4ª fase de Educação Física e é um ano mais velho que eu.  Desde o dia em que cheguei ele foi receptivo e vive me convidando para ir neste tal bar.

— Não sei, tenho algumas coisas pra resolver ainda, e hoje é só quarta-feira. – menti, não tenho mais nada para resolver, só não sei se devo ir a esse bar, que fica em frente à universidade, aliás.

— Michele, a Maya ta se recusando a ir no bar, de novo! Ela não sabe o que perde! – disse ele me abraçando de lado, o que me faz trancar a respiração por um momento, essa intimidade de repente me fez corar.

— Maya, você vai esperar para ir no  bar só depois que estiver estudando com seus amigos nerds? – gritou Michele da cozinha, com tom irônico.

Ela foi quem conversou comigo pelo facebook a respeito da casa, ela e Rodrigo são irmãos e proprietários da casa, vieram morar nesta cidade para fazer a faculdade, Michele estuda enfermagem, está na 4ª fase também, me contou que decidiram dividir a casa com mais duas ou três pessoas pra facilitar nas despesas.  Já moraram outras garotas e rapazes aqui antes de mim, mas eles não ficaram por muito tempo, Michele disse que eles não gostavam de ajudar muito na organização da casa só queriam zoeira, ela mandou eles embora. Depois ela encontrou a Ana Laura a loira peituda, e eu.

— Vocês são engraçadinhos, eu não sei se vou a esse tal bar hoje e também não sei se vou depois, ué. – falei dando um sorriso para não parecer rude.

— Olha, se você ir agora vai conhecer os outros veteranos de vários cursos, e quando começar as aulas já vai estar enturmada, e não vai precisar ficar com seus coleguinhas nerds da contábeis – Falou ele rindo, ele tem um sorriso lindo com dentes brancos perfeitos, como eu não tinha reparado antes?

— Como vocês são insistentes né!? Eu vou a esse tal bar, espero que tenha algo especial nele. – falei com sarcasmo.

— Aee, até que em fim deu o braço a torcer – falou Rodrigo me abraçando de novo, ele tem que parar com isso, pensei.

— Oi gente – disse Ana Laura, chegando com um bolsa de uma loja de grife da cidade em uma das mãos.

—Oi – respondi, e logo me levantei pra sair dali, não gosto desta garota, eu sei que falei que todos são gente boa, mas não vou com a cara dela.

Sabe quando você olha para uma pessoa e percebe de cara que vocês não vão se dar bem? Às vezes isso é só coisa da sua cabeça, mas as vezes não é. Desde o dia em que comecei a morar aqui não gostei da Ana Laura, não é inveja por ela ser alta, loira e peituda, como a minha irmã diz quando quer me irritar.  Por que, modéstia a parte, eu sou bem linda com meus 1,58 m de altura, cabelos encaracolados pretos e minha pele negra, mas essa garota é irritante no quesito de se achar a ultima bolacha do pacote! E ela é minha veterana para a ironia de minha vida, está da 5ª fase de Ciências contábeis, e não parece nada nerd para mim, ela deve ser aquelas exceções que se tem em qualquer regra. Isso dá a ela um motivo para ela falar comigo, achando que somos amigas, só pelo fato de eu ser do mesmo curso que ela.

— O que vocês estavam falando? De mim assim espero. – disse Ana Laura com desdém.

— O mundo não gira em torno de você Ana Laura. – gritou Michele da cozinha, revirando os olhos para mim, fui pra lá para evitar a cara da Ana Laura.

— As vezes eu acho que sim- respondeu, sentada ao lado do Rodrigo, mas ele não estava prestando atenção nela.

Rodrigo está no sofá sentado com uma revista  de esportes na mão, ele olhou para cima e percebeu que eu o estava observando, deu um sorriso que quase derreti, voltei para dentro da cozinha e devo estar vermelha, por que sinto um calor no rosto. Michele estava fazendo um bolo de chocolate que estava com um cheiro gostoso, quando olho para o lado a Loira estava na cozinha também, não posso evita-la ela mora aqui.

— Então caloura, você vai no bar hoje? – perguntou Ana Laura para mim.

— É, parece que sim. - respondi sem olhar pra ela.

— Michele, você tem que embebedar essa garota pra ver se ela fica mais simpática! – disse Ana Laura saindo da cozinha, com seu veneno escorrendo.

— Não liga para o que ela diz que vocês em breve se darão bem, ela se torna legal com o tempo. – disse Michele me cutucando – agora me ajuda a desenformar esse bolo.

***

 Estamos sentados naquelas cadeiras de plástico típicas de bares de esquina, bebendo cerveja e jogando papo fora, não estou nem pensando em como vai virar uma rotina ir para faculdade e trabalhar, comecei a procurar emprego na semana passada, não posso morar aqui e ficar dependendo do dinheiro da minha mãe, e nem devo pensar nisso agora pois essa é a finalidade desse bar, esquecer da rotina. Estou no meu terceiro, ou quarto? , copo de cerveja e me sinto bem, só meus lábios que estão ficando um pouco adormecidos, pedimos duas porções de batatas fritas. Michele e Ana Laura saíram para ir ao banheiro, não quis me juntar a elas, Rodrigo está sentado do meu lado dividindo a porção comigo, ele esta tão próximo de mim que posso sentir o cheiro amadeirado do seu perfume, até que eu posso me acostumar com esse cheiro.

— Então, está gostando do O bar? – perguntou ele, dando aquele sorriso largo que me encanta.

— O bar? É o nome daqui? – perguntei com um sorriso frouxo - que criativo!

— Aham, é bom vir pra cá depois das aulas, a gente ri e relaxa, esquecendo-se de provas e trabalhos, você vai ver, vai ser assídua aqui, - disse ele, pegando mais cerveja e enchendo o meu copo, não o impeço.

— Bom, se você me acompanhar! – falei, sorrindo pra ele e pegando uma batata frita, parecendo distraída.

— Pode contar com isso – ele falou aproximando seu rosto do meu.

— Pediram mais cerveja? Temos uma esponjinha aqui, não sabia que você gostava de beber. – disse Ana Laura sentando-se do lado oposto da mesa.

— Você não sabe muita coisa sobre mim – falei revirando os olhos.

— Meninas, parem de se alfinetar, vamos beber! – disse Michele levantando o copo de cerveja dela, como se fossemos fazer um brinde.

***

Nossa, já são 11horas da manhã, faz muito tempo que não acordo tão tarde no meio da semana. Sinto alguém deitado do meu lado, olho e é Rodrigo só de cueca, de repente alguns acontecidos, como eu dançar em cima da mesa do bar, da noite passada chegam a minha mente, meu Deus eu estava muito bêbada, lembrete: não beber mais! Ele se mexe do meu lado, olha para mim e da um sorriso preguiçoso, sorrio de volta, será que transamos?

— Olá, bom dia flor do dia. – diz ele chegando mais perto de mim, me abraçando, eu me viro para ficar de frente para ele.

— Oi – digo meio sem jeito, não lembro direito do que aconteceu, ou tenho medo de me lembrar.

— A gente não transou – disse ele – se é isso que você está pensando.

Que alivio, eu ao sou de transar com homens desconhecidos, não que Rodrigo seja um total desconhecido, mas não o conheço suficiente para fazer certas coisas com ele. Com meus antigos namorados demorei cerca de um ou dois meses de namoro, e depois de muita conversa,  para me entregar a eles, na verdade eu fazia isso com medo do que minha mãe iria pensar, como ela sempre diz: a pressa é inimiga da perfeição, então eu esperava com medo que algo desse errado,  tive apenas dois namorados, apresentados a ela, o resto não valia a pena ou talvez minha família não teria a mente aberta e coragem de conhecer.

— Então por que você está dormindo aqui? – indaguei – e só de cueca.

— Por que você deixou ué! – disse ele abrindo aquele sorriso, que me faz pensar que eu deixaria qualquer coisa.

— Deixei? – perguntei.

— Você não lembra muito não é? Foram muitas latas de cerveja e umas duas doses de tequila para você se lembrar de tudo assim logo de manhã. – disse ele mexendo no meu cabelo – sim, você me deixou dormir aqui de cueca, e ainda disse que estava bêbada de mais para contestar isso. – completou ele.

Lembro-me de alguns acontecimentos agora, além de eu dançando em cima da mesa do O bar, que vergonha, lembro de flertar muitas vezes com Rodrigo e de ele retribuir, aproveitador. Estou com uma dor de cabeça horrorosa, quero vomitar. Levanto correndo e vou em direção ao banheiro e ponho tudo para fora. Que nojo, se tem coisa que não suporto é vomitar, eca. Olho para porta e vejo ele em pé só de cueca branca, aliás, o que o deixa mais sexy. Deve estar pensando que sou fraca para bebida, o que não deixa de ser verdade, mas eu não quero que ele me veja neste estado caótico da ressaca. Meu cabelo deve estar horrível e minha maquiagem borrada, bela imagem para se ver pela manhã.

— Você não precisa ficar ai me olhando! – falei com um pouco de vergonha.

— Só vim ver se precisava de ajuda. – disse ele sendo gentil.

— Para vomitar? Não obrigado. – falei – mas, você poderia preparar um café para nós, acho que é a única coisa que consigo comer agora.

— Vá tomar um banho que eu faço um café, para nós dois. – disse ele saindo do banheiro.

Me levanto e olho no espelho, confirmando a minha teoria estou descabelada e parecendo um panda, agora reparo que estou de camisola, quem trocou a minha roupa? Ontem eu estava de shorts jeans rasgado e uma regata indiana, e agora de camisola, vou pensar positivo que foi uma das garotas. Vou tomar uma ducha e melhorar a minha aparência, não sei quem estou querendo enganar, ele já me viu no meu pior estado, de manhã e vomitando.

Passo correndo enrolada em uma toalha para o meu quarto e olho ao redor, nenhuma sinal que realmente transamos, não estava acreditando muito nele, afinal ele estava só de cueca deitado na mesma cama que eu. Coloquei um vestido de verão novo, ele é azul bebe com renda nas pontas, o cheiro de café fresco entra no meu quarto, não é que ele foi fazer um café mesmo?! Mas não adianta eu me “enfeitar” muito por que não estaremos sozinhos, as outras meninas devem estar dormindo ainda e com esse cheiro delicioso logo vão levantar.

Chego na sala e na mesa de centro vejo duas xícaras de café com leite prontas para serem bebidas, alguns biscoitos amanteigados também, que gentil da parte dele. Olho para ele sentado no sofá com uma revista esportiva na mão, o que faz normalmente, olho suas costas nuas bem delineadas, eu simplesmente sou fascinada por costas largas, suspiro e meu coração acelera. Pare coração ridículo, como pode se apaixonar com tão pouco tempo de convívio? Tudo bem que ele foi gentil comigo desde o primeiro dia em que morei aqui e que só agora percebo que ele vem me paparicando a algumas semanas, mas eu não liguei os fatos de que significava mais que gentileza da parte dele, safado. Vou à direção dele e me sento ao seu lado pegando uma xícara de café, ele ainda está só de cueca, como consegue ficar tão a vontade não estando sozinho em casa?

— Você ainda está só de cueca, não vai colocar uma bermuda não? isso pode ser atentado ao pudor. – falei rindo.

— Estamos apenas você e eu aqui, e como eu já dormi com você só de cueca não vi o porquê de me vestir. – disse ele dando um sorriso bem sedutor.

— Onde elas foram? Saíram cedo, então – perguntei.

— Elas não vieram na verdade, foram para a casa do namorado de Michele e Ana foi junto por que ele tinha um amigo, se é que entende. – falou ele me cutucando – você o conheceu, o namorado da Michele!

— Me lembro dele, o Carlos? Ele parecia ser bem legal. – falei tomando um gole do café, que estava gostoso, para não ter que dar mais descrições, lembro dele mas não se realmente era legal, só não queria parecer uma bêbada esquecida.

— É mesmo, mas Carlos é o amigo do Léo, que é o namorado de Michele – disse ele com uma gargalhada – sua bebinha.

— Ata – respondi com vergonha, sinto meu rosto ruborizar.

Realmente sou fraca para beber, fazia bastante tempo que não bebia até me embriagar e pelo visto ontem tirei o meu atraso, quem eu queria impressionar bebendo assim? Acho que a todos, queria ser sociável e mostrar que gostei do O bar. Rodrigo está sentando se chegando bem próximo de mim, sinto a sua perna encostar na minha e meus pelos ouriçarem.

— Ei, não fica com vergonha, a gente ter que rir das nossas gafes, e é bom beber pra extravasar, você é bem reservada, as outras meninas que já moraram conosco eram todas escandalosas e bêbadas – disse ele depositando a xícara de café já vazia na mesa de centro – gosto de pessoas como você, difícil.

Fico observando ele ler sua revista diária, ele se encosta no braço do sofá e coloca as pernas por cima das minhas, sinto que meu coração vai sair pela boca, meu pelos da nuca se arrepiando. Fico quita ali, terminando o meu café, estou um pouco nauseada, mas não quero sair de onde estou gosto do toque de sua pele na minha. Eu não o espantei com a minha eu bêbada e nem com a minha eu de ressaca, será que ele faz isso com todas as garotas? Bom, não sei, mas gosto do rumo em que as coisas estão tomando. Gostei de acordar e perceber que as meninas não estão em casa, só eu e ele. Só eu e ele? Então foi ele quem colocou a camisola em mim.

—Foi você quem trocou a minha roupa?! – perguntei saindo do devaneio. Ele largou a revista em cima da mesa e olhou para mim com aquele sorriso encantados, que me fez esquecer por um momento o que eu tinha perguntado.

— E não olhei nada, prometo – disse ele com um tom safado – tá, talvez só um pouquinho.

Fiz menção de levantar, estou um pouco envergonhada por ter bebido tanto que não pude trocar as minhas roupas sozinha. Ele segurou o meu braço de leve, me puxou para perto de modo que eu ficasse deitada com a cabeça no peito dele, fico sentindo a sua respiração e seu cheiro gostoso, ele mexe no meu cabelo fazendo com que eu me arrepie da cabeça aos pés. Sua mão passa dos meus cabelos para o ombro, me apertando de leve e me puxa para um pouco mais para perto e fico bem próxima de sua boca, não sei se devo ir em frente ou se espero o próximo passo dele.

Meu coração fica acelerado e sinto que o coração dele também.  Não percebi, mas nossas bocas se encostam e sinto sua língua deslizando lentamente para dentro da minha, retribuo. Que beijo doce com gosto de café fresco, o sinto me abraçando com um pouco mais de força, vacilo um pouco e olho para ele, que sorri e eu não resisto a esse sorriso.  Ele me segura com uma das mãos e a outra segura meus cabelos, estamos aos beijos e percebo que já estou em cima dele, posso sentir seu membro ficando rígido,  o que eu estou fazendo? Me entregando assim? Mas, quer saber? Dane-se não preciso mais mostrar que demorei a transar com alguém só por uma aceitação social.

— Não precisamos fazer nada, se você não quer. – disse ele segurando meus cabelos carinhosamente.

Respondo com um beijo, e ele sorri.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Escolhas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.